Pronunciamento do presidente Lula durante cerimônia de entregas do Ministério da Educação na Ilha do Marajó (PA)
Eu acho que quanto mais a gente vive mais a gente aprende que tem coisa que a gente ainda não sabia. Eu queria dizer para vocês que hoje a minha vinda a Marajó é uma aula de história, uma aula de política e uma aula de administração pública. Porque não é possível o que eu ouvi aqui, ou seja, as obras começadas em 2014, obras começadas em 2012, obras que o Ministério da Educação tinha colocado recurso junto com os prefeitos e essas obras estão sendo inauguradas 15 anos depois.
Eu, sinceramente, acho que muitos administradores públicos deveriam ser presos por irresponsabilidade. Porque quando você deixa uma obra paralisada, porque foi o seu adversário que começou a fazer a obra, você não está tendo nenhum respeito pelo povo da sua cidade. Porque a obra não é para o prefeito, a obra é para as mulheres, para as crianças, para os homens, para os adolescentes e para os adultos. Ou seja, a obra é para o povo brasileiro.
Imagina vocês uma creche que começou a ser feita há 14 anos atrás e as crianças, que na época tinham 4 anos e deveriam ter entrado na creche, hoje são crianças que estão com 16 anos e não tiveram a oportunidade de frequentar uma creche. Ou seja, qual é a responsabilidade desse tipo de gente que tem coragem de ir para a rua pedir voto para vocês e, na hora que são eleitos, viram as costas para vocês e só pensam em resolver os seus problemas e não os problemas do povo.
Eu estou aqui e quero dizer para os prefeitos aqui presentes: aqui já veio meu ministro da Educação [Camilo Santana], já veio meu ministro da Saúde [Alexandre Padilha], já veio meu ministro de Minas e Energia [Alexandre Silveira], já veio minha ministra dos Direitos Humanos [e da Cidadania, Macaé Evaristo], o ministro das Cidades [Jader Filho] já mora aqui mesmo e eu acabei de dizer ao ministro de Minas e Energia: “Eu quero acabar com [o problema de] qualquer casa que não tenha energia elétrica, porque nós temos que colocar energia em todas as casas.” Não é possível que as pessoas ainda vivam sob a luz de um candeeiro. Não é possível.
Então eu queria pedir aos prefeitos, por favor, façam levantamento nas cidades de vocês. Veja o que ainda tem de casa que não tem energia elétrica. E vamos levar energia para que o povo possa ter acesso aos direitos elementares que todo mundo tem que ter.
Outra coisa, Helder [Barbalho, governador do Pará], que me agrada muito é quando eu chego em uma cidade e as pessoas começam a pedir educação. Se tem uma coisa que me faz acreditar no futuro desse país é quando as pessoas começam a desejar mais escolas. E vocês fizeram a reivindicação de uma universidade no Marajó. O companheiro Camilo tem os ouvidos muito bons. E nós sabemos que tem dois projetos, de um deputado e de um senador.
E eu queria dizer para vocês que, se eu soubesse que vocês tinham um projeto, essa coisa já poderia ter andado mais rápido. Porque se um projeto é feito, é apresentado, e ele entra no corredor da burocracia, às vezes termina um mandato de um senador, de um deputado, e esse projeto não é aprovado.
Eu queria falar para o Camilo: companheiro Camilo, se você como ministro da Educação, conversando com o companheiro Helder, chegar à conclusão que a gente precisa fazer uma universidade federal aqui no Marajó, nós vamos fazer a universidade no Marajó. Era importante pegar o projeto do senador Jader [Barbalho, senador da República pelo estado do Pará] com o projeto que você fez e a gente tentar, Beto [Faro, ex-senador da República pelo estado do Pará], você pode ajudar a coordenar isso, a gente tentar resolver esse problema.
Da mesma forma que eu estou vendo lá no barco o pessoal reivindicando um hospital que faça hemodiálise aqui. Que é para ampliar o hospital. Veja, nós acabamos de lançar um programa chamado Agora Tem Especialistas. Qual era o problema nosso nesse país? Uma companheira aqui em Marajó, ela ia a uma UBS, ela ia um pronto-socorro, ela fazia a primeira consulta e o médico dava uma receita. E aí essa mulher ia para casa com o filho ou com o marido e não tinha dinheiro para comprar o remédio. Às vezes ela guardava o dinheiro dentro de um copo, dentro de uma xícara, no criado [móvel de cabeceira], e morria sem ter o remédio.
Nós criamos o Farmácia Popular e garantimos que 41 remédios de uso continuado sejam distribuídos de graça para as pessoas desse país que mais necessitam. Mas, mesmo assim, nós temos um problema, Helder. A pessoa vai ao médico, o médico faz a consulta, e o médico pede para a pessoa procurar um especialista. Um especialista de coração [cardiologista]. Aí a pessoa sai do médico, vai no balcão e fala para a secretária: “Está aqui o pedido do doutor. Ele pediu para eu fazer uma consulta com um especialista.” Aí a moça fala: “Olha, esse especialista, chamado cardiologista, só tem vaga para daqui a 10 meses.” Aí a pessoa vai para casa. A pessoa vai para casa na expectativa de que Deus tenha piedade da gente e a gente não morra antes do especialista [atender]. Aí a pessoa, depois de 10 meses, vai no especialista.
Aí chega no doutor do especialista, ele examina e fala: “Minha senhora, a senhora precisa fazer uma ressonância magnética.” Que é uma máquina chique, ou fazer um PET scan. Aí a pessoa pega o cartãozinho, sai do médico e vai no balcão e fala para a secretária: “Menina, o doutor pediu para eu fazer uma ressonância magnética ou uma outra fotografia qualquer.” Aí a moça fala: “Querida senhora, só vai ter vaga daqui a 10 meses ou 11 meses.” Aí a senhora volta para casa e espera.
Então a gente resolveu, era uma angústia que eu carrego na minha cabeça desde 2012, desde 2012 eu carrego isso na minha cabeça. Não é possível que as pessoas tenham que esperar o médico 4, 5 ou 6 meses e uma máquina 4 ou 5 ou 6 meses. Nós precisamos garantir que o povo mais humilde desse país, que o povo trabalhador, tenha acesso às coisas mais rápido, mais ligeiro, para as pessoas poderem sobreviver.
E nós criamos o Agora Tem Especialista. O nosso objetivo é que nenhuma consulta demore mais que 30 dias. O nosso objetivo é, inclusive, até chegar à cirurgia. Do hospital à Universidade Federal, com o companheiro Camilo, [com o] Padilha, a gente fez uma pequena revolução, já fizemos duas experiências.
Em um único sábado, todos os 45 hospitais universitários do país foram atender o sábado o dia inteiro. Para fazer consulta com especialistas, para fazer cirurgia e para fazer fotografia, máquina, raio-x, negócio de câncer de mama, ou seja, foi um sucesso extraordinário. E eu disse para o Camilo que daqui para frente a gente vai ter que começar a preparar para fazer todo sábado, para que as pessoas não precisem esperar 6 meses, 7 meses, 8 meses, 10 meses para fazer uma cirurgia.
Veja, eu queria dizer para vocês mais uma coisa importante. Aqui na cidade de Breves, todo mundo está brigando por água. Gente, vocês sabem que quando vocês estavam gritando ‘água’, eu fiquei imaginando que vocês estavam olhando para o rio. Porque eu nunca fiz um ato na minha vida com tanta gente e com tanta água.
E eu queria dizer para vocês que o Helder já tinha me falado que a concessionária já assumiu e ela vai resolver o problema da água. É importante vocês saberem que o Helder deixa o governo dia 31 de dezembro, dia 1º de janeiro. E que meu mandato também termina dia 31 de dezembro do ano que vem. Então, Helder, eu estou assumindo aqui um compromisso com você. E com você que é o ministro responsável por isso. É que nós temos que falar com essa concessionária, porque quem tem sede tem pressa.
Água para a sobrevivência humana é mais importante que a comida. Você consegue viver um mês sem comer. Está cheio de gente que faz greve de fome e fica até 34 dias sem comer. Mas água, você não consegue ficar muito tempo sem beber. Então é o seguinte: o Rui Costa, que é o [ministro] chefe da Casa Civil, nós temos que ajudar o Helder a cobrar da concessionária. Que é o seguinte, participou da licitação, ganhou e agora tem que ter pressa para fazer. Não é o tempo econômico, não é o tempo econômico que deve prevalecer. É a necessidade de sobrevivência e da qualidade de água que tem que chegar na casa das pessoas.
Você sabe, Helder, que eu tenho esse problema no [Rio] São Francisco. Nós fizemos talvez o maior programa hídrico da história do planeta, está acontecendo no Brasil. Nós estamos levando água para milhares de quilômetros. A água está passando e tem cidade que está reclamando: “a água não chegou na minha casa ainda.” Então, para que a gente fez a transposição? A transposição tem como prioridade levar a água para a casa das pessoas. Fazer comida e dar um certo conforto para as pessoas.
Então eu quero que vocês saibam que eu agora estou junto com o Helder, solidário, para que a gente resolva esse problema da água. Ô, empresário da concessionária, vamos fazer rápido aí!
Bem, a outra coisa que eu queria falar com vocês é o seguinte: eu, quando voltei a ser candidato a presidente da República, eu tinha uma obsessão. Escola para mim e educação são uma obsessão. Eu quero só contar [falha na transmissão] com 1 ano de idade, de fome, eu só fui comer pão na minha vida com 7 anos de idade.
Eu não tenho diploma universitário, tenho inveja de quem tem, mas eu não pude ter. Então a minha obsessão de fazer a educação ser cada vez mais primorosa é porque eu tenho certeza que as mães que estão aqui, os pais, a única coisa que eles querem para o filho não é deixar riqueza, é deixar educação. É formar os seus filhos.
E eu, Helder, eu digo para todo mundo que eu fui o primeiro filho da minha mãe a ter um diploma primário. Eu fui o primeiro filho da minha mãe a ganhar mais que o salário mínimo. Eu fui o primeiro filho da minha mãe a ter um televisor, a ter uma geladeira, a ter um carro, a ter uma casa. Tudo isso por conta de uma profissão. Eu aprendi uma profissão, eu passei a ganhar melhor e viver melhor que meus irmãos.
Então, quando eu vejo uma menina, quando eu vejo um menino, de 17, 18, 19, 20 anos, eu fico perguntando como a vida dessa pessoa seria melhor se ela tivesse educação, se ela tivesse se formado, se ela tivesse uma profissão. É por isso que nós criamos o Prouni, é por isso que nós criamos o Reuni, é por isso que nós fizemos o Fies funcionar. É por isso que agora a gente fez a Escola de Tempo Integral, é por isso que a gente fez o Pé-de-Meia.
E é importante Helder, nós fizemos o Pé-de-Meia também para professores. Porque o que acontece? Como o salário de professor é baixo, como o salário de professor não é muito atrativo, a meninada que se escreve no Enem não quer fazer pedagogia, eles não querem. Então só quer fazer pedagogia aqueles que têm nota mais baixa.
Nós criamos um programa de incentivo para os alunos que tiverem nota mais alta, se eles quiserem fazer pedagogia para ser professor, a gente dá uma bolsa, uma poupança para ele, para poder incentivar que os melhores sejam professores. Então é por isso que eu falo que eu não governo o país, eu cuido do país, eu cuido. Porque o meu problema é cuidar das crianças, o meu problema é cuidar das mulheres e o meu problema não é esquecer ninguém.
Eu gosto de todo mundo, eu gosto dos ricos, dos pobres, dos de classe média, mas o governo tem que saber quem é que precisa do governo. Os pescadores, por exemplo, já está no Congresso Nacional a medida provisória para resolver o problema dos pescadores de Marajó e dos pescadores do Pará, porque nós temos que tratar com respeito as pessoas que dedicam sua vida a pescar, para trazer comida e proteína para as nossas pessoas na cidade. Então a gente não vai deixar que nada seja esquecido nesse país.
Tem muita coisa para fazer e eu quero dizer para vocês que o meu compromisso é olhar na cara de vocês, de cada mulher, de cada criança. Eu não quero saber se é católico ou evangélico, se torce para o Remo ou para o Paysandu, não quero saber, não quero saber. A única coisa que eu quero saber é se vocês têm direito ao que vocês estão pedindo. E, se vocês têm direito, a gente vai fazer.
Quando nós aceitamos o pedido do companheiro Helder, eu estava no Egito quando o Helder me pediu para defender o estado do Pará e a cidade de Belém para sediar o movimento climático mais importante do mundo, conhecido por COP30. Porque eu sabia que Belém era uma cidade com problemas. Não é a primeira vez que eu venho a Belém.
Eu sou amigo desses meninos há 30 anos. Eu sei os problemas de Belém, sei os problemas de drenagem, sei os problemas da pobreza. Mas veja, por que nós aceitamos o desafio de fazer a COP lá? É porque é preciso mostrar para o mundo o que é a Amazônia e o que é o Pará. Não vai ser a COP do luxo, é a COP da verdade.
E que nós queremos saber se os presidentes do mundo estão preocupados com a questão climática. Eu quero saber se o presidente Trump [Donald, presidente dos Estados Unidos da América], se o presidente Xi Jinping [presidente da China], se o presidente Macron [Emmanuel, presidente da França] estão preocupados em resolver o problema da situação climática.
Porque para que a gente mantenha nossas florestas em pé, é preciso que eles, que poluíram o mundo há muito mais tempo do que nós, resolvam pagar para que a gente possa dar qualidade de vida para o povo que mora na Amazônia.
E vou dizer para você, Helder, dizer uma coisa para você: eu estou antecipando para dizer para você, nós vamos fazer, nós já fizemos o melhor G20 da história do G20, nós já fizemos o melhor BRICS da história do BRICS, e posso te dizer uma coisa: nós vamos fazer a melhor COP da história da COP nesse país. A melhor COP. Com todos os problemas que a gente tem. Até com um carapanã picando um gringo, não tem problema. Não tem problema, eles têm que saber como é que a gente vive.
Eu falei para a Janja [Lula da Silva, primeira-dama do Brasil]: eu não vou nem para hotel, eu vou dormir num barco. Eu vou dormir num barco, porque enquanto os gringos estiverem dormindo, eu vou estar pescando, quem sabe eu consiga pegar um filhote, quem sabe eu consiga pegar um pirarucu. E aí você não precisa mais me dar de presente um filhote.
Portanto, gente, eu queria dizer para vocês. Olha, presta atenção em uma coisa: eu vou completar 80 anos de idade dia 27 de outubro. Quando vocês olham para mim, vocês falam: “esse jovem bonitão já vai fazer 80 anos? Parece que ele tem 30.” Eu vou contar uma coisa para vocês: quem tem uma causa não fica velho. Porque os anos passam, a gente não consegue parar a rotação da Terra, mas, quando a gente tem uma causa, o cérebro não envelhece e as pernas não envelhecem. Então eu quero que vocês saibam o seguinte: eu estou me preparando para entregar, outra vez, o melhor governo que esse país já teve.
Estou preparando todos os meus adversários para dizer. O pessoal lá, o pessoal da raiva, o pessoal do ódio, o pessoal da fake news, o pessoal que deixou mais de 400 mil pessoas morrerem da Covid-19 por irresponsabilidade. Eu quero dizer para essa gente o seguinte: se prepare para lutar, porque nós vamos derrotar vocês outra vez e não vamos permitir que vocês voltem a governar este país. Este país não suporta mais mentira, este país não suporta mais ódio, este país não suporta mais canalhice. Este país quer educação, este país quer emprego, este país quer salário, este país quer voltar a sorrir. Voltar a sorrir, como sorri o povo de Marajó.
Um beijo no coração de vocês e obrigado a todos vocês pelo carinho. Até outro dia.
Prefeito, por favor, me cobre, prefeito. Faça com que a demanda do Luz para Todos chegue, porque eu quero acabar com [o problema de] qualquer cidadão que não tem energia elétrica. Nós temos que dar um fim ao apagão neste país.
E a saúde, Helder, você pode contar com o companheiro Padilha, porque o Padilha está determinado a ser o melhor ministro da Saúde da história do Brasil.
E aí, eu, a única coisa que eu quero ser é o melhor amigo do povo de Marajó. Um abraço, gente, e até outro dia.