Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia Participação Social e Saúde – Mais Avanços do Novo Acordo do Rio Doce
Eu tinha dito aos companheiros que eu não precisaria falar depois do discurso dos companheiros do Conselho, do companheiro Márcio [Macêdo, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República], do Rui [Costa, ministro da Casa Civil], do companheiro Padilha [Alexandre, ministro da Saúde]. Eu queria apenas agradecer. Agradecer ao companheiro Messias [Jorge, Advogado-geral da União], ao companheiro Rui Costa, que tiveram um trabalho imenso para que a gente pudesse fazer um acordo com uma empresa que tinha um presidente que não queria negociar e que tinha criado uma fundação possivelmente para enganar o povo da região, que era a Renova [Fundação].
E também porque já fazia praticamente oito anos, quando nós chegamos na Presidência da República, que o povo estava sendo enganado e o povo tinha perdido um pouco a fé e a esperança de que as coisas fossem acontecer. E também porque tinha gente prometendo coisas que não existiam. E nessa hora é que a gente é conduzido a tomar decisões e, às vezes, a gente pode errar e pode acertar.
Eu tinha que tomar uma decisão, orientado pelo Messias e pelo Rui, de que tinha uma parte de prefeitos, e uma parte do movimento, que não estava de acordo com o acordo que a gente estava propondo, porque tinha gente dizendo que tinha um outro processo que ocorria em Londres e que ia dar muito mais dinheiro. E, obviamente, que para alguém que recebe a notícia de que não poderia a gente aceitar um acordo de R$170 bilhões, porque tinha um possível acordo que ia dar muito mais, era normal que as pessoas dissessem “bom, eu vou aguardar o que vai dar mais".
Mas a gente, quando aprende a negociar e a gente tem responsabilidade, tem hora que a gente tem que decidir. Tem hora que você tem que escolher. Ou eu fico com o passarinho que estou na mão, ou tento pegar dois e fico sem nenhum. E nós entendíamos que o acordo era um acordo, se não um acordo extraordinário do ponto de vista do merecimento de vocês, era um acordo excepcional, porque ele foi um acordo feito com muitas brigas e muitas reuniões e muitas contestações.
E a minha solução foi dizer para o Rui e para o Messias que eles dissessem aos prefeitos. Inclusive, quando eu fui a Mariana, disseram: “Lula, não vai a Mariana porque o prefeito foi contra o acordo”. Eu falei “não tem problema, porque o acordo foi feito para todo mundo. O prefeito que concordou, que não concordou, a pessoa que não concordou vai receber o seu dinheirinho”. E ainda disse “é importante a gente pedir para que ninguém abandone o outro processo”. Eu disse “não é preciso ninguém abandonar o processo que vai dar mais para ficar com esse que vai dar menos. Pega esse e depois vai ver se vai dar mais”.
O que acontece é que o que ia dar mais não deu em nada. Esse é o dado concreto, porque não era factível. O acordo que nós fizemos foi um acordo muito difícil, porque a Vale [Samarco Mineração] naquela ocasião tinha um presidente que eu não tive o prazer de conhecê-lo, porque nunca quis conversar com a gente, que não queria fazer o acordo e não queria tratar os trabalhadores.
Então, meus agradecimentos, Messias e Rui Costa, pelo acordo que vocês apresentaram ao governo para que a gente pudesse chegar ao dia de hoje. A segunda coisa, agradecer a 18 ministros que fazem parte desse Conselho e ao companheiro Márcio, que é o secretário-geral da Presidência da República. Porque era importante a gente não repetir os erros do passado. Não sei se vocês perceberam, nós temos um conselho com 36 titulares, 36 suplentes. Nós temos um conselho em que participam 18 ministérios e nós temos o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], que é o banco que vai controlar praticamente os recursos.
E é importante que vocês tenham também o controle digital de cada ação do governo, de cada ação de cada prefeito, de cada ação de cada ministro, de cada ação do BNDES, porque agora não é mais a Vale que foi responsável quando permitiu que acontecesse o desastre. Agora somos nós, governo, e vocês, moradores da região, que estamos tomando conta dos recursos e nós precisamos aplicá-los da melhor forma possível, sem permitir que haja qualquer desvio ou qualquer atraso desse dinheiro. É importante ter em conta que isso chama-se governar.
Mais do que governar, é cuidar. Cuidar para que o dinheiro do povo seja administrado pelo próprio povo e que os pescadores, os trabalhadores rurais, os indígenas, os quilombolas, todas as pessoas possam dizer “eu quero que faça assim, eu quero que faça assado”, para que a gente possa reconquistar neste país a credibilidade que a sociedade brasileira tem perdido junto aos políticos brasileiros. E o que nós estamos fazendo é dizendo a vocês: é possível fazer as coisas diferente do que vinha sendo feito até então. É possível a gente voltar a fazer com que as pessoas voltem a sonhar, a viver dignamente.
E é isso que a gente está cuidando. É muito dinheiro, é muito volume. A minha boca nem consegue falar 170 bilhões, é tanto bilhão que eu não consigo falar. Possivelmente seja pouco diante daquilo que é a necessidade acumulada durante séculos de sofrimento do povo brasileiro. Mas o dado concreto que eu posso garantir para vocês é que a gente fez, como diria um jogador de bola, a gente fez o nosso melhor.
A gente fez o nosso melhor, a gente fez aquilo que era possível. E eu acho que valeu a pena, mas só valeu a pena e a gente só conquistou porque vocês tiveram muita resiliência. Vocês, como brasileiros que são, nunca desistiram e nunca deixaram de acreditar que somente a luta de vocês seria capaz de permitir que no dia de hoje vocês estivessem assumindo a dura e boa responsabilidade de que a bola está com vocês. Ganhem o jogo.
Um abraço e que Deus abençoe todos vocês.