Pronunciamento do presidente Lula durante lançamento do Programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais
Antes de falar, eu quero cumprimentar a Tanara [Lauschner, reitora da Universidade Federal do Amazonas], a nossa magnífica reitora. Quero cumprimentar o companheiro Egydio [Schwade, filósofo e indigenista], aquele jovem de 90 anos que falou aqui. E pedir desculpas a vocês e a vocês, porque é o seguinte: eu vim hoje ao estado do Amazonas para anunciar o centro de combate ao narcotráfico, ao crime organizado da Polícia Federal.
É um centro que vai ter envolvimento dos nove, de todos os estados da Amazônia e de todos os países da América do Sul que fazem parte da Amazônia, com representação nesse centro especial de combate ao narcotráfico. Era a minha única agenda aqui no estado do Amazonas. Aí surgiu uma segunda agenda, porque o ministro das Comunicações [Frederico Siqueira] queria que eu fosse na balsa que está lançando os cabos, que vai percorrer 12 mil quilômetros de cabo para levar internet de muita competência para todo o pessoal da Amazônia, que vai poder ter as mesmas informações que tem a informação de qualquer pessoa de qualquer parte do mundo.
E isso levou muito tempo. Eu nem queria almoçar, porque eu pedi que o almoço fosse na balsa para que a gente ganhasse tempo. Aí marcaram o almoço na Marinha, e aí demorou um pouco mais do que o previsto. Eu que tinha que ir embora às 6 horas da tarde, aqui já são, em Brasília já são quase 20 para as 8h, eu ainda nem saí daqui.
E aqui era para ser feito um ato separado do Aloizio [Mercadante, presidente do BNDES] e da Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima], porque eu não queria misturar esse ato dos benefícios climáticos junto com o ato da Polícia Federal. E depois a Marina me convenceu que era preciso eu passar aqui, porque tinha um grupo de jovens ambientalistas esperando que eu viesse aqui, tinha prefeitos e tinha trabalhadores rurais e indígenas. É importante que a gente saiba o que está acontecendo aqui hoje.
Durante muito tempo, a Amazônia era tratada como se fosse o pulmão da humanidade. E durante muito tempo, eu e Aloizio viajávamos no mundo, ora como dirigentes sindicais, ora como dirigentes do PT, dizendo que era verdade que a Amazônia era o pulmão do mundo, mas a dívida externa era a pneumonia do nosso pulmão. Porque a gente tinha uma dívida quase impagável e o Brasil teve um dos piores momentos da sua história, que foi a década perdida.
Pois bem, quando nós assumimos o governo, pela segunda vez, a gente assumiu tratar com mais responsabilidade essa questão da Amazônia. Não só porque a gente vai ter a COP30, mas porque a gente acredita na ciência e a gente acredita que o ser humano é o único animal tão irresponsável que é capaz de destruir o seu habitat natural, mesmo sabendo que ele está destruindo. Porque nós somos o único animal que mata sem precisar, que rouba sem precisar. E nós estamos tendo conta que nós estamos destruindo o planeta.
As mudanças climáticas que estão acontecendo no mundo, não são mais uma coisa "eu acho que vai acontecer". Não, já aconteceu. E vai acontecer cada vez mais.
Se a gente permitir que o mundo tenha um clima aumentando acima de 1,5ºC, muita coisa vai acontecer, sobretudo nos países que têm beira-mar, muitas ilhas vão ser cobertas por água. Então, enquanto é tempo, nós estamos tentando discutir como é que a gente faz para a gente salvar esse planeta.
Vocês veem na televisão, já tem gente inventando foguete, tentando procurar outro lugar para morar.Já tem gente voando não sei para onde, e eles retornam à terra. Porque é o único lugar que até agora nós sabemos que o ser humano pode sobreviver.
Pois bem, o que é que nós estamos fazendo aqui hoje? Era muito cômodo a gente ficar em Brasília xingando prefeito. Até em desmatamento a culpa é do prefeito, que é irresponsável. A culpa é do latifundiário que derruba não sei o quê, que queima não sei o quê. A culpa é de eu não sei de quem. Aí ficava o prefeito xingando o presidente, o presidente xingando o prefeito, xingava o governador.
E nós chegamos à conclusão de que se a mudança climática, que é uma coisa que envolve todos nós, porque todos nós estamos no mesmo barco, ao invés de a gente ficar achando culpado, a gente tem que dizer como é que a gente faz para fazer com que as coisas aconteçam da melhor forma possível. E qual é a melhor forma de a gente fazer? É a gente repassar recursos para ajudar os prefeitos a terem acesso às condições básicas para que eles possam cuidar do jeito que têm que cuidar.
Dar recursos para os pequenos trabalhadores, para os indígenas cuidarem das coisas que eles sabem cuidar. Porque se a gente não der o incentivo e se a gente não construir parceria, o prefeito fala: "não é comigo". O fazendeiro fala: "é só a minha terra que eu vou queimar". O outro fala: "não vou queimar, porque a minha terra é pouquinho". E a gente vai se automutilando. Então a assinatura de hoje é a seguinte: a gente quer parar com isso.
O prefeito não é nosso inimigo, o prefeito é o nosso principal soldado numa cidade para que a gente possa evitar os desmazelos e os erros que têm acontecido. É isso que a gente está fazendo, que o trabalhador rural e que o indígena tenham noção de que o papel deles de ficar no seu cantinho, plantando as suas coisas, fazendo o extrativismo, pescando, também estão contribuindo para que a gente mantenha o máximo possível de floresta em pé, sem precisar degradar a nossa floresta, acabar com a nossa fauna e acabar com as nascentes dos rios que tem por aqui.
É simples e todos nós poderemos fazer, todos nós. Então, o que nós estamos fazendo é o seguinte, nós vamos utilizar recursos do governo, do Fundo Amazônia, administrado pelo BNDES e tem 70 prefeitos que entraram, que concordaram em participar disso. Esses prefeitos vão ser premiados com dinheiro, para que eles possam ter os equipamentos necessários.
É preciso drone, é preciso barco, é preciso caminhão. O que for necessário nós temos que ir fornecendo para que as pessoas tenham condições de ajudar o mundo a preservar a Floresta Amazônica. Nós não somos daqueles que achamos que a Floresta Amazônica é um santuário da humanidade que não pode mexer numa folha, não. Nós achamos que ela tem que ser explorada de forma correta, responsável, tirando aquilo que a gente pode tirar, repondo aquilo que a gente tem que repor. Mas garantir que a floresta continue sendo essa coisa importante na sobrevivência do nosso querido planeta Terra.
Eu não tenho como saber se tem outro planeta. Eu estou tão pessimista que eu não quero nem ir para o céu. Eu quero viver 120 anos, então se alguém quiser ir para o céu no meu lugar, eu estou dando minha vaga. Eu estou aqui esperando, porque eu quero ajudar a construir esse mundo que somente nós poderemos construir.
Então isso é uma discussão que eu tive com a Marina há algum tempo atrás. Então a gente não vai mais ficar culpando ninguém. Se estiver em um lugar que teve incêndio demais, nós vamos descer lá, conversar com as pessoas. Por que aconteceu incêndio, o que foi que aconteceu, foi o fogo ou não foi, foi o calor ou não foi, foi alguém irresponsável que tocou fogo? Porque é muito fácil também jogar culpa. Então é melhor a gente investigar.
A Marina tem uma frase que eu gosto muito, que é a seguinte: o nosso problema não é proibir de fazer as coisas. É decidir como fazer as coisas bem feitas para que ninguém sofra prejuízo. Então nós viemos aqui para isso, viemos aqui para anunciar investimentos nas pessoas que estão cuidando e naquelas pessoas que nós acreditamos que a partir de agora, com a participação do ministério, com a participação do BNDES, com a participação do Fundo Amazônia, as pessoas vão ajudar a cuidar das coisas que somente vocês podem cuidar.
Não é de Brasília que a gente vai cuidar e nem tampouco é de Manaus que vai cuidar da cidade do interior. São vocês na cidade que sabem onde é que o calo aperta. São vocês que sabem onde estão derrubando. São vocês que sabem onde está queimando. São vocês que sabem onde está secando. Então nós só temos que ajudar. Esse é o nosso papel, por isso nós viemos aqui.
E eu comecei pedindo desculpa, porque é o seguinte, eu ainda tenho duas horas e quarenta minutos para chegar em casa e, se eu não tomar cuidado, até uma surra eu tomo quando chegar em casa. Então, vocês tratem de mandar um recado para a Janja [Lula da Silva, primeira-dama do Brasil] para cuidar de mim direitinho quando eu chegar em casa, não dar bronca para ela saber que eu estou aqui.
E a emoção, Egydio, de encontrar um companheiro que esteve junto comigo tanto tempo atrás. Essa é uma coisa boa de a gente viver muito, é que a gente constrói história. A gente tem coisa para contar, as amizades da gente são mais longas e eu tenho o prazer de encontrar um companheiro que fez a primeira viagem que eu fiz no Amazonas, que fez a caravana das águas comigo, que foi uma das coisas mais extraordinárias que eu fiz.
E por que eu decidi fazer as caravanas, Egydio? Porque eu disputei a campanha de 1989 e eu descobri que um presidente da República, quando ele sai do palanque, desce do palanque e vai para o palanque, ele termina a campanha sem conhecer o Brasil. Ele só conhece o caminho do aeroporto, do aeroporto para o palanque, do palanque para o aeroporto, do aeroporto para casa.
Então, eu resolvi fazer caravanas, foram quase 91 mil quilômetros andados de trem, de barco, de ônibus, para conhecer as entranhas do Brasil.
Então eu fico feliz de ter te encontrado aqui, saber que você fez essa peregrinação comigo. Vocês viram o Egydio, 90 anos, ele depois vai me contar o segredo de viver 90 anos inteiraço como ele está. Eu vou completar 80 anos dia 27 de outubro, quem quiser me dar presente, pode mandar, que eu recebo pelo Correio.
Mas eu tenho uma frase que é a seguinte: a gente não consegue evitar a passagem dos anos. A lua cheia vem todo dia, a minguante vem, a gente não consegue evitar. O que a gente precisa é não permitir que necessariamente a passagem dos anos envelheçam a gente. Porque se a gente tiver uma causa, se a gente tiver uma missão, se a gente tiver uma coisa nobre para fazer, não há tempo de envelhecer.
Eu digo para os meus companheiros, eu vou fazer 80 anos e eu me considero hoje mais saudável do que quando eu tinha 65 anos de idade. Muito mais saudável. Levanto todo dia às 5h30 da manhã, faço 2h de ginástica todo dia, faço perna, faço musculação, faço esteira. Porque eu quero viver muito, eu gosto da vida. E eu quero mostrar que esse país tem jeito.
Não é possível, não é possível. A gente pegou esse país destruído, parece que passou uma praga de gafanhoto nesse país. Nós não encontramos esse país com o Ministério da Integração, não encontramos com o Ministério da Cultura, com o Ministério do Trabalho, com o Ministério da Previdência, com o Ministério da Mulher, com o Ministério dos Direitos Humanos. Nós tivemos que reconstruir tudo, tudo. Nós encontramos mais de 6 mil obras paradas em creches e obras hospitalares.
Nós encontramos 147 mil casas começadas a ser feitas pela Dilma [Rousseff, ex-presidenta do Brasil], que estavam paralisadas. Eu não consigo entender, eu não consigo entender. Eu estou desafiando aqui. Vocês conhecem alguma obra feita pelo governo passado no estado do Amazonas? Não, eu vou começar a dar um prêmio para quem conhecer uma obra em qualquer estado que eu for. Eu não encontro uma obra.
Ou seja, porque esse país teve um período em que não foi feito nada nesse país, tiraram a Dilma para quê? Tiraram a Dilma para quê? Uma mulher decente, digna. Inventaram uma mentira contra ela para tirar ela do governo, para fazer o quê? Então, eu quero dizer para vocês o seguinte: olhe bem para esse jovem de 80 anos que está falando com vocês, olhe bem. Eu, enquanto esse corpo jovem tiver capacidade de resistência, a extrema direita não voltará a governar mais esse país.
Não é possível, não é possível. Olhe, deixa eu dizer uma coisa para vocês, nós estamos vivendo um momento delicado no Brasil. Você está vendo brasileiro que foi candidato eleito pelo povo brasileiro, que cometeu as burrices que cometeu, que sabe que cometeu, que está sendo julgado e que mandou o filho para os Estados Unidos pedir para o governo Trump taxar o Brasil.
É a primeira vez na história desse país, é a primeira vez na história desse país. Quando Joaquim Silvério dos Reis traiu Tiradentes, ele não foi para a França, ele não foi para a Europa, ele traiu Tiradentes aqui dentro do Brasil. Esses caras tiveram a pachorra de mandar gente para os Estados Unidos para falar mal do Brasil e para condenar o Brasil, tentando dizer que o pai dele é inocente.
O pai dele não é inocente. O pai dele tentou dar um golpe de Estado. O pai dele estava aqui tentando matar o Lula, matar o Alckmin [Geraldo, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], matar o Alexandre de Moraes [ministro do Supremo Tribunal Federal]. O pai dele não trouxe sequer oxigênio para Manaus quando essa cidade estava vendo muita gente morrer.
Então, essa gente está sendo julgada pelos desmazelos que fez. Não adianta ficar pedindo anistia, ele nem foi condenado ainda. Ao invés de estar se defendendo e dizendo que é inocente, já estão pedindo anistia. Ora gente, quando me prenderam, eu poderia ter saído do Brasil. Eu preferi ir para a Polícia Federal que eu tinha vontade de desmascarar o Moro [Sérgio, senador e ex-juiz federal] e o Dellagnol [Deltan, ex-procurador da República], e eu fiz isso.
Então, esse país precisa passar por esse momento histórico de cabeça erguida. Esse país é soberano. Esse país já fez a sua independência. Esse país tem mulheres, homens e crianças que têm orgulho de serem brasileiros. Não precisamos de ninguém metendo o bedelho no nosso país. Cada um cuida do seu nariz, do nosso terreno cuidamos nós, do nosso quintal cuidamos nós.
E nós estamos fazendo a COP na Amazônia, porque todo mundo é metido a conhecer a Amazônia. Todo mundo é metido a dar palpite na Amazônia. Pois bem, nós vamos fazer a COP na Amazônia. Não tem o luxo que tem em Paris, não tem a beleza arquitetônica que tem em Paris, que tem em Londres. Tem a nossa beleza, a nossa cara, o nosso povo, os nossos negros, os nossos indígenas, as nossas mulheres, os nossos mosquitos carapanã para mostrar quem não se preparar.
Então, eu quero que os prefeitos participem dessa COP, porque essa COP será a COP da verdade. Essa COP será a COP da verdade. A gente vai ver quem é que acredita na ciência ou quem quer continuar mentindo. Nessa COP a gente vai saber. E a gente tem que saber o seguinte, esse Fundo da Amazônia que está sendo ajudando a gente, isso não é favor, não. Estão pagando por nós, porque a gente está preservando o que eles não preservaram.
O Brasil ainda é o país que tem a maior quantidade de floresta do mundo. Então, esse país tem que ser respeitado. E a gente tem que saber que embaixo de cada árvore mora um extrativista, mora um indígena, mora um trabalhador rural, mora um pescador. E nós somos donos do nosso terreiro.
É isso aqui. Ninguém quer que ninguém meta o bedelho, não. Cada um cuida da sua vida, nós cuidamos da nossa. Quem engorda o porco é o olho do dono e nós somos os donos dos nossos porcos, então, por isso, nós vamos cuidar desse país.
Portanto, eu quero agradecer a vocês, pedir desculpa pela tarde que nós chegamos aqui, por fazer vocês esperarem tanto tempo, mas eu quero dizer para vocês que a alegria tomou conta de mim quando eu cheguei.
Eu estava muito nervoso quando eu cheguei. Eu estava muito irritado com a agenda, muito irritado com a agenda. Porque pegamos um trânsito desgraçado nessa avenida aí. Falam que São Paulo tem trânsito ruim. Falam que o Rio de Janeiro tem trânsito ruim. Para vir da Base Naval até aqui, a quantidade de tempo que nós demoramos até aqui… Mas de qualquer forma, vocês me deixaram feliz.
Obrigado, prefeitos. Obrigado, estudantes. Obrigado, professores. Obrigado, indígenas, pela presença de vocês e até outro dia, se Deus quiser. Eu estarei aqui em outubro outra vez. Eu estarei em outubro aqui para inaugurar Minha Casa, Minha Vida, para inaugurar uma ponte que caiu, que nós reerguemos. E outra vez eu virei aqui, porque nós vamos ajudar a fazer com que esse estado viva melhor.
Um beijo no coração de vocês.