Pronunciamento do presidente Lula durante entrega de 400 Unidades Odontológicas Móveis em Sorocaba (SP)
Queridos companheiros e companheiras de Sorocaba. Meus amigos, minhas amigas. Companheiro Padilha [Alexandre], ministro da Saúde; Paulo Teixeira, [ministro] do Desenvolvimento Agrário; senador Giordano [Alexandre Luiz], do MDB de São Paulo.
Companheiros deputados federais: Jilmar Tatto, Juliana Cardoso e Nilo Tatto. Companheira Ana Luiza Caldas, secretária de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde. Deputados estaduais, Antônio Donato e Márcia Lia. Meu caro amigo Claudio Miyake, presidente do Conselho Federal de Odontologia. Hélio Marcelo Olenka, prefeito de Calmon. José dos Santos Barros, prefeito de Cantanhede. Vilmar Kalunga, prefeito de Cavalcante. Luiz Paulo Guimarães, prefeito de Curvelo. Janaína [Farias], prefeita de Crateús. Companheiro Leandro [Soares], presidente do Sindicato dos Metalúrgicos [de Sorocaba e Região].
Companheiros e companheiras,
Uma coisa que é importante falar para que os mais jovens saibam: o Brasil sempre teve um problema crônico de falta de atenção às necessidades básicas do povo brasileiro. É muito fácil você ser governante para fazer um viaduto. É muito fácil você ser governante para fazer uma ponte. Agora, é muito difícil você ser governante para fazer aquilo que o povo tem necessidade prática, rápida e muito necessária. E a questão odontológica é uma delas.
Eu fui presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, de 1975 a 1980. E o sindicato tinha um departamento médico, que tinha médico e dentista. E, naquele tempo, as pessoas iam ao dentista e a gente só obturava e arrancava. Não tinha tratamento de canal, não tinha mais nada. E, muitas vezes, Leandro, o peão, no sábado e domingo, ele exagerava no “mé” e ele queria faltar na segunda-feira, e, naquele tempo, a fábrica pagava se o cara arrancasse um dente. O cara ia no sindicato e pedia para arrancar um dente. Pedia. Escolha aí, doutora Nébia. Escolha aí. E ainda pedia para o cara arrancar.
Eu achava aquilo, querida Iara [Bernardi, vereadora de Sorocaba], bom te ver aqui, Iara, eu achava aquilo um dano à saúde. E eu fui descobrir que as indústrias automobilísticas, mesmo sendo as indústrias mais avançadas do nosso país, no plano de saúde que ela oferecia aos trabalhadores, não tinha dentista.
E eu fui, uma vez, meu caro doutor Cláudio, fazer uma palestra na Academia Paulista de Medicina e eu horrorizei os cientistas que estavam lá, porque eu disse: “nós temos um problema crônico no Brasil, por onde entra comida não é tratado como uma questão de saúde pública, e por onde sai os dejetos feito pela comida é tratado como uma questão de saúde pública.”
Eu não estou querendo ter prioridade, os dois têm que ser tratados como saúde pública. E eles ficaram horrorizados, porque eles não sabiam que as pessoas pobres, naquele tempo… Eu sou de um tempo, doutor Cláudio, em que a gente “embezedou” para tratar do dente. Você levantava com dor de dente, você procurava um benzedor, e, muitas vezes, ele fazia uma reza. Às vezes, ele mandava você amassar um dente de alho e colocar dentro do buraco do dente. Às vezes, ele mandava você molhar um algodão dentro do álcool e colocar o algodão dentro do dente. E você passava o dia colocando álcool dentro do buraco do dente e não sarava. Você tinha que ir ao dentista.
E como o dentista era uma coisa rara, era caro, os pobres não iam e ficavam sem dente. Eu lembro, doutor Cláudio, e eu posso dizer isso de cara: não tem lugar nenhum do mundo que tenha a qualidade dos dentistas que tem no Brasil. Lugar nenhum do mundo. Nem os Estados Unidos da América, com a arrogância deles, tem a qualidade de dentista que nós temos.
E eu falo isso com muito orgulho, porque eu fui a Portugal defender os dentistas brasileiros. Em Portugal, o cara não faz um curso de dentista, ele faz um curso de medicina. E ele faz a especialidade dele em odontologia, um ano só. E ele então vira dentista, um dentista meio mequetrefe, porque só [se especializam durante] um ano. E os brasileiros que estavam lá, que eram bons dentistas, trabalhavam de bagrinho para eles. Eles contratavam, terceirizavam o brasileiro e o brasileiro fazia o trabalho que nem bagrinho no porto. Sabe aqueles caras que não são do porto, ficam lá na espera que chegue o navio para carregar. Quando chega o navio para carregar, eles são chamados, ganham muito pouco. Os dentistas nossos eram assim.
Eu fui, no meu primeiro mandato, com o presidente de Portugal, e nós conseguimos fazer um acerto para que os dentistas brasileiros adquirissem o direito de serem cidadãos dentistas e eles passaram a trabalhar, então, com consultório próprio. E, assim, eu fui adquirindo experiência com a questão da saúde odontológica nesse país.
Uma vez, eu tinha um ministro da Agricultura, ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo, que foi participar de um congresso de propriedade rural de pequenos [produtores] na Alemanha. E ele fez uma revista maravilhosa, bonita. E, no meio da revista, tinha uma capa com uma senhora bonitona, devia ser filha de italiana ou de alemão no Rio Grande do Sul ou Santa Catarina, com a bochecha bem vermelha, sorrindo, e perto dela um monte de planta, de coisa que ela tinha colhido: alface, pepino e cenoura. E, do lado dela, um senhor negro, alto, sorrindo, sem nem um dente aqui na boca.
Eu chamei o ministro e perguntei: “escuta aqui, por que você colocou essa fotografia desse senhor negro sem dente? Você acha isso bonito? Você acha isso bonito, cara? Isso é fotografia para você colocar representando o Brasil no exterior, um cara sem dente e ainda negro? Você não acha que isso é preconceito?”. Eu lembrei do Joãosinho Trinta [artista plástico e carnavalesco maranhense]: “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de coisa boa.” Eu falei para ele: “você pode anular essa revista, jogue essa página fora e faça uma foto de um cara com dente”.
E, aí, eu resolvi criar o Brasil Sorridente. A ideia de criar o Brasil Sorridente era fazer com que essas ambulâncias fossem ao local mais longínquo, onde as pessoas não têm dentista e mesmo na periferia das grandes cidades. Porque, às vezes, a gente pensa que a miséria está só longe. Às vezes, ela está vizinha à gente e a gente não enxerga. Não é todo mundo que mora na cidade que tem dinheiro para pagar um dentista. Não é todo mundo.
Então, se você procurar na periferia de Sorocaba, você vai encontrar gente morando aqui no centro de Sorocaba, que tem problema odontológico, tem problema de dente e não tem dinheiro para tratar. É para isso que serve o nosso serviço: é para tratar de todas as pessoas, mas, preferencialmente, a gente pegar aquelas pessoas que não podem gastar, uma pessoa que ganha pouco, que está aposentado, que precisa fazer uma prótese nova, é para isso que a gente serve.
Porque nesse país os mais jovens têm que aprender uma lição. Teve ano aqui, nesse país, nos anos 80, nos anos 70, em que, em muitos lugares desse país, os candidatos a prefeitos, a governadores, levavam uma cesta de dentadura pronta. Uma cesta. Chegava numa região, chamava as pessoas que não tinham dente, ia pedindo para as pessoas experimentar como se fosse um sapato, 38, 39, 40, 44, está apertado, está folgado.
Ora, não era possível a gente permitir que uma pessoa escolhesse uma prótese como se fosse uma coisa trivial. Ou seja, para você usar uma prótese, você tem que ter um molde, aquilo é delicado, você tem que experimentar uma vez, duas vezes, morder, experimentar, morder. Às vezes, muita gente não acostuma, dorme colocando a dentadura dentro de um copo d'água. Vocês que têm pai, mãe e avó sabem disso.
Então o que faltava na verdade era tratar as pessoas apenas com respeito, porque as pessoas mais humildes deste país não querem ser tratadas com luxo, a gente quer ser tratado com respeito. E ter dente na boca.
Uma vez, eu recebi uma delegação de trabalhadores sem terra, que tinha um acampamento no porto de Suape, em Pernambuco. E nós sentamos numa mesa para conversar e eu coloquei uma tigelinha de castanha de caju e todo mundo comia. E um cara não pegava. Eu perguntei para o cara: “você não gosta de castanha?” Ele falou: “senhor presidente, eu gosto, mas olha a minha boca, não tinha um dente, eu não posso mastigar.” E o cara que não tem um dente ele não mastiga carne, não mastiga castanha, não come amendoim, não sorri, tem medo de mostrar a boca.
Ou seja, para garantir que essas pessoas tenham acesso ao mínimo necessário, é preciso que a gente saiba mais do que fazer ponte ou viaduto. É preciso que a gente saiba fazer aquilo que o povo necessita: carinho, aconchego e tratá-lo com o amor que é preciso tratar.
Porque tem muita gente que não sabe o que é necessidade, tem muita gente que não se dá conta que não faz falta. Até acha bonito. “Nossa, que moça bonita sem dente.” . Ora, alguém pode ser bonito sem dentes? Ora, não é possível, não é bonito, não é moral, não é decente. Não para a pessoa, mas para o Estado que deixa a pessoa ser daquele jeito. Para o Estado.
Então, o que nós queremos é provar que é possível tratar esse povo com o mínimo de decência, com o mínimo de respeito. Mas tem gente que não gosta que a gente faça isso. Tem gente que não gosta, porque, quando um governo como o meu investe R$ 400 bilhões para fazer política de inclusão social, tem gente que não gosta, tem gente que acha que esse dinheiro deveria estar na especulação. Os banqueiros: “para que gastar dinheiro com pobre, esse Lula é um babaca, pobre, pobre que quer dentista, pobre querer.”
Agora, o Mais Especialistas, que nós estamos fazendo, agora tem especialidade. A minha agonia, e o Padilha sabe disso, desde 2012, é que as pessoas mais humildes aqui de Sorocaba conseguem ir a uma UPA, eles conseguem ir a uma UBS, eles conseguem fazer a primeira consulta. Aí, quando ele faz a primeira consulta, o médico fala: “olha, o coração seu está batendo fora de ritmo, então você precisa procurar um cardiologista.” Aí a mulher sai do consultório do médico, vai na secretaria da UBS e diz: “olha, o doutor disse que é para marcar um cardiologista”. Aí a moça olha a ficha, hoje vai no computador, olha e diz: “olha, só daqui 10 meses.”
Aí a pessoa volta para casa com problema no coração para esperar 10 meses. Aí, depois de 10 meses, ela vai, chega lá, é atendida, até com um sorrisinho da atendente, e ela fala: “eu vou ao cardiologista”. Vai ao cardiologista e ele fala: “puxa vida, você tem que fazer um ecocardiograma, você tem que fazer uma ressonância magnética, cintilografia, essas coisas todas”. Aí a moça sai do consultório do especialista, doente, vai lá e fala para a mocinha do balcão: “ele pediu que eu fizesse uma ressonância magnética”. Aí ela vai no computador: “olha, só daqui a 10 meses, um ano”. Aí a pessoa volta para casa na expectativa de que a doença vai melhorar e ela vai estar viva daqui um ano, dois anos, três anos.
Então, eu sou obsessivo: nós precisamos garantir a segunda consulta e a máquina, imediatamente, para que as pessoas não morram na expectativa. Antes, as pessoas morriam porque não tinha remédio. Quantas pessoas pegavam a receita, não tinham dinheiro para comprar na farmácia, colocavam a receita no criado-mudo, colocava a receita embaixo do travesseiro ou no guarda-louça e morria sem poder comprar o remédio.
Nós criamos o Farmácia Popular. E, hoje, nós entregamos 41 remédios dos mais delicados, de graça, para as pessoas. Então, isso é construir um país chamado soberano. Eu vou ao médico, ele pede um cardiologista, eu tenho que ter lá uma semana, 10 dias, mas eu tenho que ter rapidez. O médico pede uma máquina, eu tenho que ter rapidez, se eu quiser salvar vidas. Se eu quiser apenas enterrar, deixa pra lá, faz que nem o benzedor: mandava eu colocar algodão com algo no dente, meu dente ia ficar bêbado e eu não ia curar meu dente, o dente ficava dançando na boca.
Então, essas coisas é que fazem a diferença entre governar e cuidar. Porque a palavra correta não é governar, é cuidar. Eu quero cuidar desse país, por isso que o presidente americano não dê palpite aqui, porque aqui cuidamos nós. Aqui cuidamos nós.
E é por isso que muita gente fica implicando, porque a gente cuida das pessoas que mais necessitam. Porque é assim na vida. Eu digo sempre: governar é como uma mãe. Não tem nada que pareça mais com o governo do que uma mãe, uma mãe cuidadosa. Uma mãe pode ter 10 filhos, os 10 podem ser os galeguinhos mais bonitos dela, mas ela vai dar sempre um chamego maior para aquele que tiver um probleminha de saúde, aquele que tiver mais fragilizado. É aquele que vai ter um denguinho. É aquele que vai ter um pedacinho de bife a mais, é aquele que vai ter um danoninho a mais. É naquele que ela vai fazer um chamego maior. É assim que a gente tem que governar.
O rico não precisa de mim. Quando ele precisa é para pegar muito dinheiro emprestado. Quem precisa de mim é o pobre desse país. É para essa pessoa que a gente tem que governar. Então, eu tenho muito orgulho, porque eu aprendi tudo isso numa coisa chamada escola da vida. Eu aprendi.
Leandro, eu gosto de Sorocaba, porque eu venho aqui há muito tempo, há muito tempo, e eu tinha um grande amigo meu, metalúrgico, ferramenteiro, que trabalhava numa empresa que hoje não existe mais, a Brastemp, era uma fábrica de geladeira, de fogão. E o meu companheiro Bolinha, ele, inclusive, sofria, na verdade, ele sofria de epilepsia. Então, muitas vezes, a gente ia em casa, tomar uns goles, que ninguém era de ferro, terminava uma assembleia no sindicato, a gente ia para casa conversar. Ele era muito bom de política, muito competente, a gente tomava os goles, e, às vezes, Padilha, ele tinha um ataque de epilepsia. E eu tinha que levar ele na Vila Baeta [Vila Baeta Neves, bairro tradicional de São Bernardo do Campo], às vezes, meia noite, uma hora da manhã, eu levava o Bolinha para casa.
E nós fizemos uma amizade extraordinária. Até que ele veio para Sorocaba e, aqui em Sorocaba, para minha surpresa, ele falou: “Lula, eu vou ganhar aquele sindicato”. E, pouco tempo depois, ele virou presidente do sindicato, e era uma figura excepcional. Eu era presidente, eu vim aqui no enterro dele, no meu segundo mandato. Então, a minha relação com Sorocaba, além dessa relação com o sindicato, a relação com o Hamilton [Pereira, ex-deputado estadual de Sorocaba], com a Iara [Bernardi, vereadora], que são fundadores do PT. Vereadores, deputados federais, deputados estaduais. Então, eu acho essa cidade uma cidade bonita, é uma cidade bonita, é uma cidade que tem um padrão de vida acima da média de outras cidades. E eu fico feliz com isso, porque os trabalhadores morando bem, as pessoas querem morar bem. Ninguém, ninguém, ninguém faz opção por ser pobre. Ninguém.
Todo mundo quer ter o melhor, todo mundo quer se vestir bem, todo mundo quer morar bem, todo mundo quer educar bem os seus filhos. É para isso que a gente nasce, fica adulto, se casa, constrói família. O maior sonho de uma mãe é ver a filha formada, é ver um filho formado. Não tem nada mais sagrado, não é dinheiro que ela tem para dar para o filho, é educação que faz a diferença na vida das pessoas. É educação.
É por isso que, aqui em Sorocaba, eu fiz a primeira universidade federal desta cidade e fui eu quem fiz. Porque tem uma história, tem uma história para os prefeitos de outros estados saberem. O seguinte: aqui, em São Paulo, houve uma revolução em 32, uma tentativa de golpe contra o Getúlio Vargas [ex-presidente da República], em 1932, e o Governo Federal, o Getúlio derrotou os paulistas, que é essa chamada revolução de 32. Tem nada de revolução, foi uma tentativa de golpe dos paulistas, da elite paulista, para não deixar Getúlio governar esse país. O Getúlio ganhou. Então, os paulistas, muito espertos que eram… Vocês querem saber a esperteza de paulista? É só conhecer a história dos bandeirantes. É só conhecer.
Aí, o que acontece? Os paulistas falaram: “bom, o Getúlio ganhou o poder, mas a inteligência vai ser nossa”. E criaram a USP, em 1932. E a USP é, efetivamente, é o maior centro de inteligência desse país, porque é a única universidade brasileira que está entre as 100 melhores do mundo.
E é verdade que São Paulo produziu grandes quadros para governar esse país. Então, a influência de São Paulo é muito grande, é muito grande. E não tinha universidade federal em Sorocaba, não tinha em São Bernardo, não tinha em Santo André, não tinha em Osasco, não tinha em Guarulhos, não tinha em Santos.
E eu, então, que era o único presidente da República que não tem o diploma universitário, eu falei: “eu vou fazer as universidades federais nessa cidade”. E sinto orgulho de ser o presidente que mais fez universidade na história desse país. E sinto orgulho de ser o presidente que mais vou entregar Institutos Federais.
Eu, quando peguei o governo, em 2003, o Brasil tinha 140 Institutos Federais. E o primeiro deles foi feito em 1909, na cidade de Campo de Cataguases, pelo presidente Nilo Peçanha. Em 100 anos, foram feitos 140 Institutos Federais. Pois eu, em 12 anos, vou entregar 782 Institutos Federais nesse país, para formar as nossas meninas e os nossos meninos. Para formar as nossas meninas e os nossos meninos.
Eu quero, Leandro, que todo menino possa ter uma profissão, porque a pessoa com uma profissão, ela fica muito, muito, muito, muito melhor de vida. Eu, graças a uma profissão… Minha mãe é analfabeta, eu fui o primeiro filho da minha mãe a ter um curso primário, eu fui o primeiro a ter um curso técnico. Por conta disso, eu fui o primeiro a ter um carro, o primeiro a ter uma geladeira, o primeiro a ter uma televisão, o primeiro a ter uma casa e o único a ser presidente da República. Por causa de uma profissão.
Então, eu quero que os jovens, os homens aprendam. Vocês, homens que estão aqui, sabem o que é procurar emprego com profissão e sem profissão. E, sobretudo, para as mulheres. O estudo para as mulheres tem um significado maior. Eu sou de uma geração em que as mulheres faziam curso de corte e costura. Tinha dois cursos que as mulheres faziam: corte de costura e culinária, que era para aprender a cozinhar e costurar para a família. Eu acho maravilhoso o corte e costura. Acho maravilhoso quem quer fazer, mas não é essa a obrigação da mulher. A obrigação da mulher é estar onde ela quiser e fazer o que ela quiser. A mulher já aprendeu a ir para o mercado de trabalho. Hoje, se você chegar num ponto de ônibus, seis horas da manhã, tem mais mulher no ponto de ônibus do que homem. Então, a mulher já aprendeu a ir para o mercado de trabalho, mas nós, homens, ainda não aprendemos a ir para a cozinha. É, essa é uma coisa que nós não aprendemos.
Nós não aprendemos quando a gente tá com o microfone na mão, a gente fala que é socialista, a gente fala que é de esquerda, mas a gente ainda não aprendeu a ir para a cozinha, a lavar louça. A gente não aprendeu a dar banho nas crianças, a lavar o que tem que lavar. Hoje, fralda não lava mais, porque joga fora, tudo descartável. Mas eu cheguei a lavar cueiro. Quem é mais velho aqui sabe o que é cueiro.
Então, eu quero que a mulher estude, porque a mulher, além da profissão dar mais qualidade no salário, a profissão dá independência. A independência é uma coisa sagrada. Uma mulher não pode morar com outra pessoa por causa de um prato de comida. A mulher tem que morar com uma pessoa, se ela quiser morar, se ela gostar da pessoa. E se a pessoa tratar ela bem, porque, se não tratar, mete o pé no fundilho dele e deixa ele procurar outra. Porque, senão, a gente não vai criar um mundo saudável, um mundo que todo mundo sonha, a família viver em harmonia. É para isso que a gente faz as coisas nesse país. E é por isso que a gente vai continuar fazendo.
Ontem, eu aprovei, Padilha, aprovei para mandar para o Congresso Nacional uma lei que vai distribuir gás de cozinha de graça para 15 milhões e 500 mil famílias. Vocês sabem que, desde o mês passado, quem consome até 80 quilowatts de energia, não vai pagar mais energia. E quem consome até 120, vai pagar apenas a diferença entre 80 e 40, porque a energia está muito cara. E, no Brasil, só para vocês terem ideia, o pobre usa energia no mercado regulado, que é a energia regulada pelo governo. O rico usa energia no mercado livre. Sabe qual é o resultado disso? O rico paga mais barato do que os pobres. É isso. É por isso que eles privatizaram a Eletrobras. O benefício para quem? Quem é que ganhou? Quem é que ganhou com a privatização da BR Distribuidora da Petrobras? O que sobrou para nós? Nada. Então, eles têm que saber que comigo é assim. Ou seja, o Estado tem que ter finalidade e a finalidade do Estado é cuidar de todos. É cuidar de todos.
Eu não quero privatizar a empresa pública, eu quero que a empresa pública sirva o público, que nem o Banco do Brasil faz, que nem a Caixa Econômica Federal faz. E aquela que der prejuízo vai ter que dar lucro, porque, senão, a gente não consegue fazer as coisas que o povo necessita.
Então, Padilha, é o seguinte, eu quero te dar os parabéns, porque eu acho que, mesmo na área da saúde nossa, mesmo junto ao Ministério da Saúde, na área da saúde do Brasil, tem gente que acha que saúde bucal não é prioridade. Ele não é dentista, ele não considera dentista como médico. Então, para que cuidar disso? Então, a gente tem que teimar, a gente tem que insistir, a gente tem que provocar. Aquilo que é bom, nem sempre as pessoas tentam.
Outro dia, eu tive uma discussão com o Padilha, discutindo com ele como fazer para chegar a dignidade menstrual. Ou seja, nós estamos distribuindo de graça. Onde distribuir? Na escola? Nos Correios? Porque, muitas vezes, as pessoas não têm dinheiro para comprar. Então, precisamos garantir que as pessoas tenham o mínimo de decência. Até um dia, a pessoa melhora de vida e vai comprar. Fralda geriátrica. Quantas pessoas idosas passam necessidade e não têm dinheiro para comprar? Quem tem que cuidar? É o Estado.
E nós, agora, vamos estabelecer uma política de cuidado nesse país. Porque a sociedade brasileira está ficando velha. E a gente só conta o trabalho que a gente faz na fábrica, o trabalho que a gente faz no escritório e não é levado em conta o trabalho que a gente faz dentro de casa. Às vezes, dentro de casa, a mulher cuida de um filho com problema de saúde, cuida de um marido com problema de saúde e não é levado em conta, não é tido como trabalho. Ela não ganha nada, não tem direito a nenhum benefício. Então, nós precisamos começar a mudar essa lógica de governar o país para a gente poder fazer esse país ser grande, ser um país bem… Soberania é isso.
Soberania não é apenas cuidar da nossa fronteira, do nosso mar, da nossa floresta, é cuidar do povo. Cuidar do povo, isso sim é soberania de um país. É por isso que nós não temos medo de ninguém gritar com a gente. Aliás, nós somos educados, eu não grito com ninguém. E, educação, a gente não aprende na faculdade, a gente aprende no berço, a gente aprende dentro de casa. E, dignidade, a gente não compra no shopping. Dignidade, a gente não compra no free shop também. Dignidade, a gente aprende dentro de casa, com o pai e com a mãe. É por isso que nós precisamos criar uma sociedade diferente.
E é por isso que vocês têm que prestar atenção nessa questão dessa loucura da rede digital. É preciso que a gente aprenda a separar o joio do trigo, o que é mentira e o que é verdade. Porque a minha mãe dizia quando eu era pequeno: “a mentira voa, a verdade engatinha”. E é assim mesmo. E vocês sabem que, nesse país, tem uma fábrica de mentiras. Todo dia vocês vêem a quantidade de mentiras.
Por exemplo, tem uma mentira que diz que eu já morri, que eu sou um clone. Você viu que esse dia eu subi uma rampa correndo? “Aí, não, isso não é o Lula, esse é um clone, o Lula já foi”. Eu já sou o quinto Lula. Eu sou o quinto Lula. Deus queira que eu seja o sétimo, oitavo, décimo Lula, porque eu quero viver até 120 anos. Eu tenho direito. Dizem que o céu é muito bom. Quem quiser minha vaga, pode pedir que eu dou. Eu quero viver aqui na Terra mais um pouco. Eu quero viver aqui na Terra. Então, eu vou precisar que vocês também tenham esse desejo: viver muito. Viver muito, se cuidar.
Quem é que levanta de manhã e anda uma hora? Quem é que faz alongamento? Sobretudo, a gente tem que cuidar das pernas, porque essa barriga da perna aqui é o segundo coração da gente. Se a gente não fizer exercício com a perna, ficar sentado no sofá, vendo a novela, ou no computador, só mexendo assim, a gente vai durar pouco, cara.
Eu vou fazer 80 anos no dia 27 de outubro. Oitenta anos. Eu digo pra todo mundo aqui: eu, hoje, tenho mais resistência física do que quando eu tinha 65 anos de idade. Hoje, eu consigo correr. Hoje, eu consigo andar seis quilômetros, 30 minutos a seis quilômetros por hora e 30 minutos a oito quilômetros por hora. Sem cansar. Eu consigo fazer isso porque eu me cuido, eu quero viver muito. E eu queria que vocês fizessem isso.
Levanta e anda de manhã, vai comprar pão a pé, não vá de carro, vai comprar pão a pé. Pegue sua mulher, no domingo, seu marido, e dê uma voltinha com ele, anda um pouquinho. Estica as pernas, faça um alongamento, cuide-se. Porque daqui a pouco você tá entrevado numa cama. Para que a gente serve entrevado? Pra nada. Então eu não quero me entrevar.
Eu, qualquer dia, vou subir a rampa do Palácio do Planalto correndo, para ver quem é que vai me acompanhar. Então, gente, é o seguinte. Preparem-se para a seguinte questão: um mandato do Lula incomodou muita gente; dois mandatos incomodaram muito mais; três mandatos, muito, muito mais. Imagina se tiver o quarto mandato, como é que vão ficar incomodados?
Então, se prepare, se prepare que tem coisa aí para frente. Um abraço, viva o Brasil Sorridente e viva os dentistas brasileiros!