Presidente Lula fala durante entrega simultânea de unidades do Programa Minha Casa, Minha Vida
Eu já estava agraciado com a fala das pessoas que receberam as casas e dos nossos representantes, ministros e governadores. Eu quero cumprimentar os companheiros Jerônimo [Rodrigues, governador da Bahia] e Rui [Costa, ministro da Casa Civil] e o prefeito de Paulo Afonso [Mário Galinho] e as pessoas que ganharam as casas em Paulo Afonso.
Eu quero cumprimentar os companheiros de Pojuca, cumprimentar o companheiro Rui, cumprimentar o Jerônimo [Rodrigues, governador da Bahia], cumprimentar o companheiro de Horizonte, o Fufuca [ministro do Esporte] que foi entregar as casas em Açailândia.
Quero cumprimentar o companheiro André de Paula [ministro da Pesca e Aquicultura] quero cumprimentar o Rafael [Fonteles], o governador do Piauí, e o Wellington [Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome]. E, Wellington, dar os parabéns para você, porque foi com muito orgulho que eu recebi a notícia de que a FAO reconhecia o Brasil saindo da fome pela segunda vez.
É importante as pessoas saberem que, quando nós tomamos posse, como presidente da República em 2003, o Brasil tinha 54 milhões de pessoas passando fome e nós criamos o programa Fome Zero.
A primeira cidade que nós criamos o programa foi no Piauí e, quando o Wellington anuncia, o Wellington era governador do estado, quando ele foi agora a Adis Abeba na Etiópia e a FAO comunicou que o Brasil saiu fora do Mapa da Fome, é um movimento nacional que nós estamos criando para ver se a gente recupera a dignidade de 733 milhões de seres humanos que passam fome no mundo.
E é importante que vocês saibam que o problema da fome não é por falta de alimento, o problema da fome não é por falta de produção de alimento. O mundo já produz alimento para todo mundo.
Acontece que tem milhões e milhões de pessoas que não têm recurso para comprar o alimento. E se não tem condições de comprar, não tem terra para plantar, essas pessoas vão passar fome mesmo. Nós assumimos um compromisso, em 2014 nós acabamos com a fome no Brasil, a Dilma [Rousseff, ex-presidenta da República] depois foi impichada, deram um golpe na Dilma e 15 anos depois, quando eu voltei, já tinha 33 milhões de famílias passando fome outra vez.
Ou seja, significa que o esforço que nós fizemos foi praticamente jogado fora pelos governos que entraram depois da Dilma. Nós assumimos o compromisso de acabar com a fome outra vez e em apenas dois anos e meio a gente foi premiado com o resultado do trabalho de todas as pessoas no Brasil que estão comprometidas em acabar com a fome nesse país.
E aí eu tenho que parabenizar o Wellington, tenho que parabenizar as pessoas que participam da Aliança Global contra a Fome, que é um movimento que nós fizemos, que eu conversei com o Papa Francisco sobre esse movimento. Eu fui ao Conselho Mundial de Igrejas e nós conseguimos aprovar a reunião de mais de 30 países aqui no Brasil, [para] a gente tentar fazer um movimento para acabar com a fome. Então parabéns a você, Wellington, parabéns à tua equipe e parabéns ao povo que nos ajudou a acabar com a fome outra vez.
E quero dar o parabéns ao companheiro Jader [Filho, ministro das Cidades], porque o Ministério das Cidades é um ministério que foi criado por mim em 2003 e eu achava que era preciso a gente ter um ministério específico para cuidar das cidades, porque as pessoas moram nas cidades, as pessoas trabalham nas cidades, as pessoas precisam de ônibus na cidade, as pessoas precisam de médicos na cidade, as pessoas precisam de tudo na cidade.
Não é aqui em Brasília que elas precisam, não é na capital do estado, é na cidade. Então era preciso que a gente tivesse um ministério específico para cuidar das coisas que as cidades precisam, e sobretudo a questão da habitação.
Eu tive a minha primeira casa em 1975, a minha primeira casa era menor do que as casas que vocês receberam hoje. Eu morava numa casa com mulher, cinco filhos, dois cachorros e uma sogra, e a casa só tinha 35 metros quadrados, na verdade 33 metros quadrados.
Então, quando eu chamei o Jader para participar, mas era um outro governo com a Dilma, a gente começou a discutir que era preciso criar a casa que tivesse o mínimo de respeito. Eu, quando ia num bloco de apartamento, que eu via que não tinha uma varandinha, eu ficava muito irritado que custa fazer uma varandinha, uma sacadinha de dois metros, de um metro, para a pessoa poder sair na janela, respirar, ver alguma coisa.
Não custa muita coisa, custa apenas respeito ao povo, custa muito pouco dinheiro. Aí começamos a fazer casa no campo. Uma casa no campo sem uma varandinha, não é casa de campo, ou seja, casa para o pessoal que trabalha na área rural.
Depois nós começamos a pensar, por que não uma biblioteca nos conjuntos habitacionais? Se a gente quer que as crianças aprendam a ler, aprendam a ter acesso à cultura, nós temos que criar a biblioteca. Então, todos os conjuntos novos daqui para frente, todos eles terão uma biblioteca, todos eles, para que as crianças possam ter acesso àquilo que muitas vezes os pais não tiveram, os avós não tiveram.
E assim está sendo feito. Acontece que criar um programa novo exige muito tempo de discussão. Aqui a Inês [Magalhães, vice-presidente de Habitação da Caixa Econômica Federal], que já trabalhou no outro governo nosso, comigo e com a Dilma, a Caixa Econômica, que é uma parceira extraordinária, tem trabalhado para que a gente possa conseguir contratar, até o final deste ano, dois milhões de casas para entregar essas casas até terminar o nosso mandato.
Porque a coisa mais extraordinária que toda mulher deseja é uma casa. É como o passarinho que quer um ninho, nós queremos o nosso ninho. Quando a gente tem uma casa, a criança faz amizade na rua, faz amizade no bairro. Quando a gente não tem casa, as crianças não fazem nem amizade, porque todo ano está mudando, todo ano está mudando, todo ano está mudando, as crianças não têm sequer como parar na escola.
Então, quando a gente tem uma casa própria, é uma tranquilidade extraordinária para a gente. Eu sei o que vocês estão sentindo, porque quando eu comprei minha primeira casa em 75, quando eu fui ver a casa, minha casa estava invadida. Um companheiro pior do que eu, numa situação pior do que eu, com a mulher grávida e dois filhos, invadiu a minha casa. Aí eu fui ver a minha casa, o cara está lá dentro, e ele falava assim: “Eu não vou sair”.
Eu falava: “cara, como é que você não vai sair? Eu pago aluguel. Eu comprei isso aqui para parar de pagar aluguel, meu filho, você vai ter que sair”. Depois de muita pendenga, o cara saiu da casa.
Quando eu entrei na minha casa, já tinha muita coisa estragada, eu tive que recuperar, mas foi os 33 metros que me deu a tranquilidade de ter o meu ninho próprio. Foi a primeira vez na vida que eu tive uma casa. Então, eu sei o que vocês estão sentindo.
Eu sei o que cada homem, o que cada mulher, e vocês percebem que a gente prefere dar a casa para a mulher. Não é nada contra o homem, mas é muita coisa a favor da mulher. A mulher é a pessoa que tem mais responsabilidade no trato da família.
Eu fico preocupado em a gente dar a casa para o homem, de repente o homem briga com a mulher, separa, vai embora, ou vende a casa, e a gente quer que a casa fique no nome da mulher, porque a mulher está preocupada com as crianças, e a casa vai ficar para as crianças.
É isso que a gente espera, que as crianças de vocês cresçam numa vila, com uma relação de amizade, num monte de casa que tem uma biblioteca, que tem escola perto, porque essa é uma preocupação que nós temos. O Jader veio me mostrar uma vila no Maranhão que tinha 3 mil casas.
Eu falei: “Jader, a gente não pode inaugurar essas casas do jeito que está, porque são 3 mil casas, não tinha escola perto, não tinha um campo de futebol, não tinha nada. Se você fizer e entregar daquele jeito, aquele conjunto vai virar uma grande favela, desordenada, sem nenhuma organização. Vamos parar e vamos tentar arrumar, fazer algumas escolas, fazer uma quadrinha para a molecada chutar uma bola, fazer mais que uma biblioteca, sei lá”.
O que nós temos é que dar um pouco de decência. O que a gente quer é apenas um pouco de respeito, de dignidade. Não é porque a pessoa é pobre que ela tem que ser tratada como se não valesse nada. Ela é pobre porque não teve a oportunidade de não ser pobre.
A gente não escolhe ser pobre, a gente, às vezes, nasce pobre e não consegue ter oportunidade. Então, quando eu entrei na Presidência, a minha ideia é dar oportunidade para provar que se todo mundo tem oportunidade, todo mundo é igual. Não tem criança pobre [que seja] burra, não tem criança pobre que não é inteligente, ou seja, o que falta para ele é ter oportunidade de competir.
Por isso nós criamos o Prouni [Programa Universidade para Todos], para dar a garantia que as pessoas da periferia pudessem entrar na universidade. E hoje, todas as vezes que eu encontro, as pessoas falam “presidente, graças ao Prouni eu me formei, eu sou médico, eu sou enfermeiro, eu sou assistente social, eu sou psicóloga, eu sou advogada”. É isso que eleva o padrão de decência de uma sociedade.
A gente só vai ser uma nação forte e soberana de verdade quando o nosso povo for soberano, quando ele tiver estabilidade, quando ele tiver emprego, quando ele tiver um salário, quando ele tiver uma casa, a família constituída de forma muito digna e respeitada pelo poder público.
Então esse é um compromisso que eu assumi desde 2003, quando cheguei à Presidência. Nós ainda sabemos que tem muita coisa para fazer. Vocês não sabem como é que eu estou feliz de saber que ontem o Brasil atingiu o menor nível de desemprego da História do Brasil, o menor nível de desemprego da História do Brasil.
Eu, que já fiquei desempregado uma vez um ano e meio e saia todo dia de manhã para procurar emprego. Uma crise muito forte. E a gente voltava para casa todo dia com o pé quente. Às vezes, eu tirava o sapato para o pé descansar, o pé inchava e não cabia mais dentro do sapato e eu voltava para casa com dois sapatos na mão.
E a gente, graças a Deus, sabe que o emprego dá uma coisa chamada estabilidade emocional ao ser humano. Porque quando a pessoa trabalha, que reserva o seu salário e que pode cumprir com os seus deveres, com o bar, com a padaria, com o seu filho, não tem nada que dê mais dignidade ao ser humano. Então, o cidadão tendo uma casa, tendo um emprego, tendo condições de estudar, a vida está realizada.
O resto Deus ajuda a gente a fazer e a gente vai em frente. Por isso é que eu tenho um compromisso com esse Minha Casa, Minha Vida. É um compromisso, não é nem um programa de governo, é quase que uma profissão de fé.
Todo mundo tem o direito de ter uma casa, isso está na Constituição, não é invenção do Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República], isso está na Constituição. O problema é que, muitas vezes, o povo não lê a Constituição, muitas vezes os políticos não falam que o povo tem direito a casa e aí ninguém faz, ninguém faz, o prefeito não faz, o governador não faz, o presidente não faz, o povo vai ficando abandonado.
É por isso que vocês veem a quantidade de favelas nesse país. O companheiro Rui Costa morou em favela em Salvador, então ele sabe do que eu estou falando. Esses dias eu fui num bairro em São Paulo, em Osasco, e fui num, eu não chamo de favela porque tem casa de alvenaria, eu aprendi que favela era só barraco, mas agora não é mais não, e o povo tem mais orgulho de favela, o povo já não tem mais vergonha de morar em favela.
E eu vi as pessoas morando num lugar tão fedido, um córrego tão fedido, eu fiquei me perguntando por que que acontece isso? A cidade não tem prefeito, o estado não tem governador, não tem um monte de deputados, por que que ninguém vai lá dar uma olhada e saber que não é possível, não é humano, cuidar de alguém daquele jeito, uma criança nascer ali, não tem lugar pra brincar, não tem um espaço pra jogar uma bola, não tem uma esquina, porque é tudo mal organizado?
Então, essa é a minha preocupação e por isso que nós vamos continuar fazendo casa.
Eu acho que é preciso a gente ter consciência. Nós temos um programa para anunciar, o Carlos [Vieira] da Caixa Econômica sabe que ele me deve uma explicação, o ministro das Cidades me deve uma explicação, a Inês me deve uma explicação, porque nós fizemos uma reunião há dois meses atrás, em junho, fizemos uma reunião, e nós decidimos apresentar o maior programa habitacional da história desse país, não só casa para os pobres, mas casa para classe média, casa para um cidadão que trabalha, que ganha oito mil, nove mil, dez mil, onze mil, doze mil. Esse cara também tem direito a casa, né?
Então, nós vamos fazer o maior programa. Nós fizemos a reunião dia vinte e quatro de junho, me pediram trinta dias para apresentar a proposta definitiva, de vinte e quatro de junho, já estamos em vinte e quatro de julho, já estamos no mês de agosto, então tanto você, Jader, quanto o Carlos, quanto a Inês, quanto o Rui Costa, que está ouvindo aqui, e quanto o presidente do Banco Central [Gabriel Galípolo] me deve uma resposta, que já dobrou a data.
Porque é o que importa para o povo. O povo brasileiro não quer muita coisa não. O povo só quer respeito, o povo só quer ser tratado com dignidade. Então, se o cidadão tiver uma casa, perto da casa tiver uma escola, perto da escola tiver um comércio para ele comprar as coisas dele, se tiver um ponto de ônibus para ele poder ir para a cidade, e se tiver o poder público com saúde lá, com creche. Como é que as companheiras mulheres vão trabalhar se não tiver uma creche para as crianças ficarem?
Nós estamos agora tentando fazer um programa imenso de escola em tempo integral, porque em uma escola em tempo integral a mulher vai poder colocar o filho na escola e ela vai poder trabalhar, sabendo que o filho dela está cuidado, não está na rua jogado à mercê de muitas desgraças que a gente teve na televisão.
Por isso, minhas queridas companheiras que receberam a casa hoje, eu posso dizer para vocês que eu estou sentindo dentro do meu peito a mesma emoção que vocês sentiram. Eu sei o que é o valor dessa casa. Um cara que nunca precisou de casa, um cara rico que mora onde quer, compra o que quer, vende o que quer, não tem o menor sentido da emoção ser tão sentida, não tem. O valor da casa para um pobre é muito grande, é muito grande, é a segurança que a gente quer na vida.
E é por isso que nós temos esse compromisso de fazer casa, é por isso que a Caixa tem que colocar tudo que for dinheiro possível para a gente fazer, é por isso que o Jader vai ter que trabalhar mais, mais, mais. Você operou a perna que nem eu, cara, você está saudável, você viu a nossa companheira baiana, você viu que ela tem uma prótese ali, uma órtese, é isso? Não é nem prótese, é órtese, porque quando é por fora, isso que é órtese.
E você vê o sorriso dela e a capacidade de trabalho dela, ela cuida da casa, ela trabalha fora na Prefeitura, ainda ajuda a mãe, a mãe ajuda ela, é assim que eu quero que você faça, me ajude que eu te ajudo, e você vai ser o ministro que mais fez casa na história desse país.
Muito obrigado, companheiros prefeitos das cidades que participaram, obrigado a Paulo Afonso, aos companheiros que estão lá, obrigado a Pojuca, obrigado a Horizonte/Ceará, obrigado a Açailândia, Teresina e Chapada de Areia. E obrigado a todas as pessoas que receberam as suas casas, que Deus abençoe vocês e que vocês possam viver com a dignidade que um ser humano merece nesse país.
Muito obrigado, gente.