Discurso do Presidente Lula na 5ª Reunião do Conselhão
Eu confesso a vocês que, na última vez que eu vim ao Conselhão, eu fiz um discurso muito inflamado sobre uma situação econômica que nós estávamos vivendo naquele momento. E hoje, pela seriedade do momento político que estamos vivendo, resolvi fazer um discurso lido, para medir cada palavra. Entretanto, nós não testamos o teleprompter e quando ele foi montado aqui, ele foi montado de forma que eu não conseguia ler o que estava escrito.
Então, eu peço desculpas a todos vocês, peço desculpas ao Stuckert [Ricardo, secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual], é culpa minha ser muito exigente, mas eu queria dizer para vocês que seria extremamente importante que o mundo conhecesse o que significa o Conselhão. Eu lembro que quando o Conselhão foi criado, em 2003, companheiros do meu partido, na Câmara e no Senado, achavam que eu estava querendo criar alguma coisa para diminuir o poder do Congresso Nacional.
Porque era tão novo esse país ter um presidente da República que ousasse criar um mecanismo, quase como se fosse uma ouvidoria, para que a sociedade pudesse se manifestar, que ela pudesse criar, que ela pudesse fazer proposta e que ela pudesse cobrar do governo as coisas que a sociedade entende que faltam serem feitas no país.
E eu sei que esse país perdeu muito quando vocês deixaram de funcionar de 2019 a 2023. E por isso, quando retornamos ao governo, resolvemos criar o Conselho para fazer exatamente o que vocês fazem: se reunir, dar palpite, fazer sugestão, elaborar projetos de lei, projetos de decreto, mandar para que os ministros se atentem se aquilo é possível até que os ministros cheguem a mim com a proposta de mudança. Isso chama-se levar a democracia ao nível pouco conhecido no mundo de hoje.
Tem muita gente que fala muito em democracia, achando que democracia é apenas o direito de votar. Mas a democracia não é apenas o direito de votar. A democracia é também o direito de votar, mas é também o direito de você corrigir o erro que você cometeu na votação. É você fiscalizar, é você saber o que faz um deputado, é você acompanhar a votação, é você saber o que faz um senador, o que faz um governador, o que faz um prefeito, o que faz um vereador. Porque se a sociedade não tomar conta disso, a tendência natural é a política ficar cada dia pior, cada dia mais desacreditada – a ponto de a gente ver acontecer num mundo, que até ontem vivia na base do multilateralismo, que foi a melhor coisa criada depois da Segunda Guerra Mundial, [ser] destruído – para que se pudesse fazer a negociação individual entre país com país.
Não é possível, um mundo dar certo se a gente perder o mínimo de senso de responsabilidade do respeito à soberania, à integridade territorial, à Suprema Corte dos países, ao Poder Judiciário como um todo, ao funcionamento do Congresso Nacional. Ou seja, se nós passarmos a dar palpite sobre as coisas que acontecem nos outros países, nós estamos ferindo uma palavra mágica chamada soberania, que é o que faz a gente lutar e defender o nosso país.
Então, se o Trump [Donald, presidente dos Estados Unidos] pudesse ouvir o que o Isaac [Sidney Menezes Ferreira, presidente da Federação Brasileira de Bancos, Febraban] falou, se ele pudesse ouvir o que disse o Alckmin [Geraldo, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], seria tão importante que a gente trabalhasse baseado na verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade.
O dia que a gente adotar essa postura de governança, sabendo que todo mundo tem o mesmo direito, sabendo que uma ilha, por menor que ela seja, ela tem o mesmo voto que tem o maior país do mundo, que é a Índia, com 1 bilhão e 400 milhões de habitantes, quando vai votar na ONU ou numa instituição multilateral.
É esse país que nós estamos querendo construir e é esse país que eu quero entregar ao povo brasileiro com muitas coisas feitas por vocês, companheiros e companheiras, companheiros dirigentes sindicais, que trabalham gratuitamente, voluntariamente nesse Conselhão.
Eu posso dizer para vocês que vocês representam a cara da mais verdadeira economia vigente no planeta Terra no dia de hoje, e que vocês sirvam de exemplo.
Eu nunca pedi a nenhum ministro que fosse convencer o Conselhão a fazer alguma coisa que eu queria que fizesse. Nenhum de vocês nunca ouviu a gente tentar se intrometer numa decisão que o Conselho tem que tomar.
Depois, se a gente vai adotar, é uma questão de governo, mas eu penso que vocês dão uma demonstração viva de que é possível construir uma democracia participativa envolvendo a sociedade brasileira. Por isso, muito obrigado ao Conselhão e muito obrigado pela lição que vocês dão a tão combalida democracia existente no planeta Terra.
Que bom que vocês existem. Eu espero que o Stuckert, ao invés de tirar uma fotografia só de quem está ali, tire uma fotografia de lá para cá para pegar o Conselhão e a gente poder mostrar para os outros a existência do Conselhão.
Eu quero agradecer os nossos queridos governadores Jerônimo Rodrigues, da Bahia, Carlos Brandão, do Maranhão, nossa querida companheira Raquel Lira, de Pernambuco, Rafael Fonteles, do Piauí, Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, Ronaldo Lessa, o governador em exercício de Alagoas. Quero cumprimentar os nossos queridos senadores Beto Faro e Eliziane Gama, quero cumprimentar os deputados estaduais, quero cumprimentar minha querida companheira Janja [primeira-dama do Brasil], meu querido companheiro Alckmin e cumprimentar todos os ministros aqui da mesa e os companheiros que estão aí.
Eu peço permissão para não citar o nome de vocês porque, senão, ao terminar o Conselhão, eu tenho que fazer uma reunião de ministro, porque estão todos aqui e eu estou precisando fazer uma reunião com vocês.
Eu acho que hoje é um dia de dar boas notícias, eu vim para cá comprometido a não perder muito tempo falando na taxação, falar o mínimo possível, porque também se eu não falar vocês vão... "Por que o Lula não falou? Ele está com medo do Trump?". E eu não quero que vocês saiam com essa imagem e também não quero falar do que aconteceu hoje, com o outro cidadão brasileiro que tentou dar um golpe.
Eu queria falar do nosso país, eu quero ter uma chance de falar do Brasil, porque o pessoal que trabalha na comunicação comigo, eu tenho dito para as pessoas que nós temos uma dificuldade, deve ter muita gente de comunicação aqui no meio.
Quando a gente vai em um restaurante, sabe aqueles botecos que a gente vai e só tem um comercial e a gente já chega e já pede um comercial? Então você já sabe o que vem. Então, um ano depois, você lembra: "Eu fui naquele bar e comi um comercial".
O que era? Feijão, arroz, um bife, uma salada de cebola, um pézinho de alface e tudo mais. Mas quando você vai em um restaurante que tem um bife enorme, com cinquenta tipos de comida, cinquenta tipos de sobremesa, você começa a ter dificuldade de se servir, porque você não sabe o que você vai pegar. Com o olho você quer pegar tudo, mas o estômago só aceita aquilo que é o essencial.
E você sai do restaurante sem saber o que tinha lá para comer. E, muitas vezes, você escolhe o que você não gosta. O que acontece no nosso governo, eu digo isso com experiência do meu terceiro mandato, é que nós temos dificuldade, muitas vezes, de falar tudo o que está sendo feito.
Nós temos muita dificuldade de falar. É muita coisa que acontece todo santo dia. E o Sidônio [Palmeira, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social] tem comido o pão que o diabo amassou, porque recebe informação de todos os lados e nem há dinheiro para comunicação de tudo e é preciso discutir comigo a priorização das coisas que são mais importantes.
Mas já naquele dia que eu vim aqui, na última vez que eu participei, eu estava vendo o Haddad [Fernando, ministro da Fazenda] fazer um discurso. E o Haddad falou tantas notícias boas, o Haddad anunciou tantas coisas boas, quando no dia seguinte olhei a imprensa, tinha uma matéria dizendo que era preciso ter mais rigor na questão fiscal.
Ou seja, é porque quem olha de fora, pensando no dinheiro que tem que sobrar para a gente poder pagar os juros, tem um olhar mais pesado do que os outros milhões que estão de fora e que nem olham, ficam apenas esperando que a gente faça alguma coisa por eles.
E eles não são notícia. Veja que engraçado, a melhor notícia que eu poderia receber, eu vou lembrar a vocês o que eu falei em 2003, eu disse: “se ao terminar o meu governo, cada brasileiro ou brasileira estiver tomando café da manhã, almoçando e jantando, eu já terei cumprido a missão da minha vida.” O problema é que comer para uns não é problema, mas para muitos é um dilema.
E eu dizia, desde que eu cheguei à Presidência, que só sabe o que é a fome quem já passou fome. Se você nunca passou, você pode pensar que sabe, mas você não sabe.
Então, eu pensei de fazer dessa semana uma verdadeira festa, quando o Wellington [Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome] estava em Addis Abeba [capital da Etiópia] e o secretário-geral da ONU, o diretor-geral [Qu Dongyu, diretor- geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)], comunicou que outra vez o Brasil estava riscado do Mapa da Fome da ONU, 29 milhões e meio de pessoas voltaram a comer decentemente nesse país.
Não é pouca coisa, é um trabalho insano, que envolve todo o governo, que envolve muita gente da sociedade civil, que envolve muita gente na área rural, na área urbana, muitas pessoas dedicadas à questão de nutrição, muitas pessoas preocupadas com a primeira infância, muitas pessoas preocupadas com a quantidade de mães solo que nós temos nesse país. E eu pensei que a gente ia fazer uma festa. Mas em função da taxação, a gente não fez festa. Mal e porcamente, saiu um comunicado e comentou a questão do Mapa da Fome.
Quantos países do mundo gostariam de ter conseguido o que nós conseguimos?
Quando era dirigente sindical, companheiros sindicalistas, eu dizia que eu representava uma parte privilegiada da sociedade. Eu representava aqueles que trabalhavam, que tinham a carteira assinada, aqueles que tinham o décimo terceiro salário, aqueles que tinham férias, aqueles que tinham participação no lucro.
Eram trabalhadores, mas eram trabalhadores, sabe, de uma maneira privilegiada, diante do exército de invisíveis que nós temos nesse país, que só são enxergados na época das eleições. Na época das eleições, Isaac, pode ter certeza que esse exército de invisível fica mais conhecido do que toda a Faria Lima. Passadas as eleições, essa gente passa a ser esquecida.
E por que eu tenho essa obsessão, essa inquietação? É porque tem muita gente que governa esse país e quando deixa a presidência, ele vai morar em Paris um tempo, ou ele vai morar em Miami um tempo, ou ele vai para Nova Iorque um tempo, ou ele vai para Londres.
Eu tenho que voltar para a casa que eu estava quando eu vim para cá e tenho que olhar na cara das pessoas que eu conversava antes de vir para cá, porque eu sei de onde eu vim e sei para onde eu vou, e por isso eu tenho que fazer as coisas corretas.
E a minha obsessão é fazer com que o povo pobre seja tratado e respeitado como cidadãos de primeira classe neste país. E ele só quer comer, ele só quer trabalhar, ele só quer morar, ele só quer estudar. É preciso que a gente tenha certeza de que ninguém é pobre porque quer.
Ninguém falou: "Eu quero nascer pobre, eu quero ficar pobre, eu quero nascer num bueiro". Não, se todo mundo pudesse, escolhia uma clínica chique, qual é a Josué [Alencar, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp] a clínica mais chique que tem? Sei lá, no seu tempo de nascer acho que não tinha muitas clínicas chiques.
Mas vamos ser francos, gente, vamos ser francos, um país do tamanho do Brasil pode dar ao seu povo uma qualidade de vida muito maior do que o nosso povo tem.
A gente tinha acabado com essa maldita fome em 2014, voltamos 15 [9] anos depois e já tinha 33 milhões de pessoas passando fome outra vez. E a gente não vê porque essas pessoas que estão passando fome, eles dificilmente vão para o centro da cidade, os teatros são feitos pra quem tem dinheiro, o cinema é feito pra quem pode pagar.
Tem tantas pessoas que eu chamo de invisíveis, ele tem que pegar duas horas de ônibus para ir a um teatro em São Paulo e ele não vai. Sorte dele se no bairro dele tiver um shopping que tem um cineminha para 50 pessoas, e ele ainda não vai porque é caro.
Então, a gente para governar tem que fazer opção. Seria muito fácil o Haddad ser ministro da Fazenda de um país que a gente se preocupasse em governar para 35% da população. Seria muito fácil. Mas quando você resolve colocar todo mundo na mesma mesa, para todo mundo ter o essencial igual, você tem que tomar decisões. E por isso eu comecei agradecendo a vocês, porque vocês ajudaram a gente a tomar posição.
Meus amigos e minhas amigas, nas eleições de 2003... Tô meio nervoso, Alckmin, porque você não me convidou pra inaugurar a placa do Zé Alencar [José Alencar, ex-vice-presidente da República]. Em 2003, o Zé Alencar foi meu vice, e é importante que vocês saibam dessa história. Eu estava perto das eleições, eu não tinha vice, eu já estava cansado de ter 30% dos votos, já tinha perdido 3 eleições, e eu falei: "Meu, eu preciso arrumar 20%". E esse 20% não tá na esquerda, esse 20% tá do outro lado, tá do outro lado, tem aí um centro-direita, centro-esquerda, ou seja, que tá ali.
E eu fui ver o discurso do Zé Alencar, na festa dos 50 anos de vida empresarial do Zé Alencar. Eu te confesso, Josué, que eu não queria ir. Eu já ficava hospedado no hotel Wembley, que era um hotelzinho do teu pai, hotelzinho 3 estrelas, tratamento 5 estrelas, eu ficava lá e o Zé Dirceu [José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil] me convenceu: "Você tem que ir, cara, você tem que conhecer o Zé Alencar, ele é do PMDB, é bom você ouvir ele".
E o Zé Alencar estava disputando a presidência do Senado, você tá lembrado? Ele só teve o voto dele. Mas eu fui na festa do Zé Alencar e ele fez um discurso, ele contou a vida dele, e quando ele termina de contar a vida dele, eu falei pro Zé Dirceu: "Acabei de encontrar o meu vice".
Vim a Brasília, conversei com o Zé Alencar, pedi pra ele sair do PMDB, na verdade naquela época ele entrou no PL, e foi o meu vice-presidente da República.
E posso dizer pra vocês: uma história fantástica. Eis que o Olavo Setúbal [ex-ministro das Relações Exteriores], o pai todo poderoso do Itaú, pediu uma conversa comigo, e eu fui na casa do Zé Alencar. Estava o Zé Alencar, eu, o Roberto Setúbal, filho do Olavo Setúbal, e o Josué. E começamos a conversar, e o Olavo Setúbal me fazia a pergunta assim:
"Ô candidato, o que é que você vai fazer na agricultura?".
Aí eu falava o que eu ia fazer, ele falava: "O império não vai deixar”.
“Ô candidato, o que é que você vai fazer na indústria?"
Eu começava a falar, ele falava: "O império não vai deixar".
"Candidato, o que é que você vai fazer para melhorar o salário?" “Eu vou fazer isso, aquilo”. "Candidato, o império não vai deixar".
Na quarta vez que ele falou que “o império não vai deixar”, o Zé Alencar deu um murro na mesa, e perguntou: "Doutor Setúbal, que diabo que é esse império, doutor Setúbal? Porque se tem um império tão inimigo do Brasil assim, eu vou vender a minha fábrica e vou lutar contra esse império".
Isso é uma coisa que marcou a minha vida, porque o Zé Alencar era possivelmente... Hoje tem pouco nacionalista no Brasil, você não tem mais aqueles empresários nacionalistas como você tinha nos anos 1970, nos anos 1980, nos anos 1960, você não tem. Hoje você tem mais mercantilista do que nacionalista.
Então, defender o Brasil de hoje ficou muito mais complicado, porque tem gente que acha que a gente é vira-lata, tem gente que não gosta de se respeitar, e ninguém pode dizer, ninguém, ninguém neste mundo, pode dizer que tem um governo que gosta mais de negociar do que nós. Duvido!
Porque eu nasci na vida política negociando. Eu nasci xingando empresário na porta de fábrica e almoçando coelho numa mesa dum bar pra fazer o acordo. Então, nesse mundo, ninguém me dá lição de negociação. Eu já lidei muito com muitos magnatas do mundo, e eu respeito todos. Eu duvido que alguém tenha sido tratado com desrespeito por mim. Mesmo os caras que me xingam.
A única coisa que eu quero é ser tratado com respeito. E esse país merece respeito. E o presidente norte-americano não tinha o direito de anunciar as taxações como ele anunciou para o Brasil. Não tinha. Poderia ter pegado o telefone, poderia ter ligado para mim, poderia ter mandado ligar para o Alckmin, qualquer um. Estaríamos aptos a conversar.
E depois do pretexto da carta e o pretexto da taxação, não é nem político, é eleitoral.
E eu acho que nós brasileiros estamos à prova. Os números que o Haddad deu aqui são muito significativos. O Brasil hoje não pode ficar dependendo de um único país. Nós queremos negociar desde o Uruguai, Paraguai, Argentina, Equador, Bolívia, com a China, com a Rússia, com os Estados Unidos, com a Índia, com os países da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático]. Nós queremos negociar, nós queremos vender, nós queremos comprar, nós queremos crescer, nós queremos compartilhar as coisas nesse mundo.
Nós estamos cansados de ser um país do terceiro mundo, cansados de ser um país em vias de desenvolvimento. Por isso, companheiros e companheiras, vocês são extremamente importantes. Por favor, nos ensinem a fazer o que vocês sabem, e que a gente não sabe. Cobrem da gente, proponham da gente, porque o nosso mandato é passageiro, mas o país é definitivo, porque não vai cair aqui nenhum meteorito, nenhum.
O Brasil vai durar muito tempo e o povo brasileiro merece uma chance, uma chance de se transformar num povo com padrão educacional, cultural, alimentar, salarial decente. É só isso que nós queremos.
Por isso, queridos companheiros e companheiras, se vocês permitem, eu vou ler o meu discurso. Que vai ter muita coisa que eu já falei, mas é que eu preciso ler o meu discurso.
Entre a última reunião deste Conselho em dezembro passado e o nosso encontro de hoje, vivemos uma situação paradoxal. O Brasil nunca esteve tão bem, enquanto o mundo poucas vezes enfrentou situações tão delicadas. Nosso país celebra sucessivos recordes em matéria social e econômica. É com muito orgulho, mas pode ter certeza que é com muito orgulho, que eu comunico a vocês o que já foi comunicado dez vezes aqui, que a ONU, outra vez, disse que o Brasil estava fora do Mapa da Fome.
Posso dizer para vocês, nada me deixaria mais alegre, nada, do que esta notícia. Porque eu sou um cidadão que vim comer pão pela primeira vez com sete anos de idade, em São Paulo. Até então quem é nordestino sabe o que é o café do pobre. O café do rico tem carne de sol, tem cará, tem inhame, tem macaxeira, tem um monte de coisa. O do pobre, às vezes, é uma cuia de farinha com café preto, se tiver café preto. E nós, graças a Deus, conseguimos acabar com isso.
Daí porque a minha alegria de saber que, no dia de hoje, tem menos gente passando privações. E você, Wellington, tem a obrigação de saber que ainda tem gente que não foi cadastrada. Que a culpa nem é sua, nós temos que cadastrar, [também] é o prefeito que cadastra, é a cidade que cadastra, mas nós temos que fiscalizar, porque nós só vamos para o céu no dia em que não tiver nenhuma criança, nenhuma mesmo, passando fome por falta de comida.
Porque no Brasil, não há nenhuma, nenhuma razão. A gente produz comida para todo mundo, a gente tem programa social, se as pessoas não estão alcançando ainda [a alimentação] é porque tem alguma falha nossa, de que não chegamos nessa gente. Então, essa gente, nós temos que procurar. Pode comprar lupa, quantas lupas forem necessárias. No outro governo eles não compraram Viagra? Compre lupa para enxergar o que está faltando para a gente não ter nenhuma criança morrendo de desnutrição nesse país. E isso, Wellington, isso só foi possível porque implementamos políticas públicas que colocam as pessoas no centro da ação do nosso governo.
Estamos inserindo os pobres no orçamento e cada vez mais colocando os ricos no imposto de renda.
Porque é uma aberração. O Haddad é tão humilde que a gente fez a proposta para isentar quem ganha R$ 5 mil. R$ 5 mil. E colocamos para pagar essa diferença um grupo seleto que ganha acima de um milhão de reais por ano. Não é que essa gente acha ruim? Você nem tem o direito de achar ruim, você paga 27,5% do imposto de renda porque é descontado na fonte.
Quando você vê, já foi. Mas você não tem nem o direito de sonegar. Eu sei como é que são as coisas.
Então, Clemente [Ganz Lúcio, Fórum das Centrais sindicais, membro do Conselhão], nós estamos apenas querendo começar a fazer um pouco de justiça. A política tributária é um pouco isso. É tentar fazer justiça tributária. Não pode a pessoa que vai comprar as coisas de comer pagar o mesmo imposto de renda que paga o Lula. Meu salário não é muito não, viu, Josué? Salário de presidente acho que é 46 mil reais, paga 27% do imposto de renda, o PT me cobra 4% na fonte, pago 4 mil reais, me sobra 21 mil reais. Sabe? Não é fácil a vida [brincando].
Ninguém me dá aumento, eu tenho que pedir para mim mesmo. Então, eu levanto de manhã, me olho no espelho e falo: "Ô Lula, eu quero aumento". Eu falo: "Você não vai ter". Então não dá. A Esther [Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos] não determina quanto eu tenho que ter de aumento, só determina para o funcionário público.
Bem, temos hoje o menor índice de extrema pobreza e desemprego da nossa história.
Xixo [Wilson Ramos Filho, advogado e professor], é até uma coisa para você falar no Paraná. Eu vou repetir. Temos o menor índice de extrema pobreza e desemprego na nossa história. Parece até a Suécia. A massa salarial é a maior da série histórica. A economia não crescia acima de 3% desde 2011, Clemente. Ela só voltou a crescer porque um cara de sorte voltou para o governo. Se eu tivesse azar, ia continuar crescendo 1%, que é o que eles tiveram.
Aprovamos uma Reforma Tributária que vai simplificar processos, reduzir custos e oferecer maior previsibilidade e eficiência no negócio. A inflação de alimentos é menos da metade do que a que foi no mesmo período do governo anterior. Aliás, é importante lembrar, Josué, que o óleo diesel hoje, o litro do óleo diesel, está quase 30 e pouco por cento mais barato do que em dezembro de 2022. É importante lembrar que a gasolina está 12% mais barata do que estava em 2012.
É muito importante lembrar que o gás de cozinha está mais barato e nós queremos baratear mais. É importante o Conselho saber que o gás de cozinha, o botijão de 13 litros, sai da Petrobras por R$ 37 e chega nas cidades a R$ 140. Tem explicação? Se a gente tivesse a BR, Haddad ou Alckmin, a gente poderia, nos postos da BR, distribuir o gás, mas venderam a BR, porque eles queriam privatizar a Petrobras.
Não conseguiram, foram fatiando. E agora a gente não tem uma distribuidora para a gente garantir gás para as pessoas mais pobres. Mas pode ficar certo que a gente vai garantir que 17 milhões de pessoas que estão no CadÚnico vão receber gás gratuitamente nesse país.
A mesma coisa na energia. Nós agora acabamos de isentar quem consome até 80 quilowatts, vai pagar zero. Quem ganha de per capita entre 1 e 1,5, um salário mínimo, vai ser isento até 120 quilowatts. Vai pagar somente a diferença entre 80 e 40.
Que é para ver se a gente dá um fôlego. Você imagina, o cara ganhar R$ 1.900 e ele ter que gastar R$ 140 de gás e R$ 140 de energia. Ou seja, vai metade do salário dele para pagar duas coisas. Que não sobra dinheiro para comer. Quem é que pode cuidar disso? Como nós ainda não temos nenhum empresário socialista, o governo tem que ser pelo menos judicialista. Só isso.
A agricultura brasileira se supera a cada ano. A safra atual ultrapassará 330 milhões de toneladas de grãos. O investimento público e privado em infraestrutura atingiu a marca inédita de R$ 260 bilhões. Presta atenção, Silvio Costa [Filho, ministro de Portos e Aeroportos], nossos portos movimentaram 1 bilhão e 300 milhões de toneladas, o maior volume de todos os tempos na história dos portos brasileiros.
Em dois anos e meio, as vendas de veículos automotivos atingiram o recorde de 14 milhões e 200 mil unidades. Eu não sei se eu já falei para o Conselhão, mas se eu não falei, eu vou falar.
Quando nós deixamos a presidência em 2010, 2011, esse país vendia 3 milhões e 600 mil carros por ano. Quando eu voltei 15 [13] anos depois, esse país vendia 1 milhão e 600 mil carros por ano. Alguém precisava me dizer onde foram os outros 1 milhão e 600 mil.
Por que a economia caiu tanto? Por que esse país retrocedeu tanto? Tantas perguntas e nenhuma resposta, Xixo, como diria Brecht [Bertolt Brecht, dramaturgo alemão]. Depois de tantos anos de desindustrialização, a Nova Indústria Brasil, organizada pelo companheiro Alckmin, produziu ou ajudou a produzir o maior crescimento do setor dos últimos 14 anos.
Quem não sabe quantas campanhas foram feitas e “o Brasil está se industrializando, o Brasil está se industrializando”. Quantas vezes os presidentes das confederações chegavam para mim e: "Lula, estamos discutindo inovação, inovação". Qual é a proposta? Ninguém tem.
Vou contar um caso para vocês. Eu estava sem ministro da Indústria e Comércio. Eu queria um especialista, eu queria um empresário, como eu tive o Furlan [Luiz Fernando Furlan]. E aí eu começo a ouvir muita gente, convida fulano, convida fulano e tal, quem é bom, quem é que dá palpite, quem é que é intelectual, eu chamei.
Aí, chamei um cidadão. Não vou dizer o nome, porque todo mundo aqui conhece. Aí, eu perguntava para o cara, o cara começava a falar: "Não, mas é preciso fazer isso, é preciso fazer isso, é preciso fazer aquilo". Depois de 40 minutos de fazer, “é preciso fazer, tem que fazer, pode fazer, não sei tantas coisas”. Eu falei: "Me diga uma coisa, companheiro. Você já fez alguma dessas coisas que você está me falando?" "Não."
Falei, “porra”. Falei, “sabe de uma coisa? Eu vou trazer o meu vice para ser ministro da Indústria e Comércio, porque certamente ele será melhor do que um palpiteiro, sabe?” E posso dizer, Alckmin. É um motivo de orgulho desse país ter você no Ministério da Indústria, Desenvolvimento, Comércio [e Serviços].
Você veja que coisa, como é a humanidade. Quanto tempo eu e o Alckmin fomos adversários? Eu nem conhecia ele, ele nem me conhecia, só pela televisão, pelo rádio. Ele certamente ouvia falar mal de mim nas convenções do PSDB, eu ouvia falar dele nas convenções do PT. A gente não conhecia.
Quando nós fomos adversários, ele tentou ser bravo comigo uma vez, eu até falei: "Ô, você não é assim, cara. Pô, você é tão simpático, como é que você vai me agredir assim?". Bem, graças a um palpite do Haddad, está aqui a parceria. Que eu estou agradecido a ele, ao partido que ele pertence e a Deus, por provar que na política não existe nada impossível. Quando a gente quer, a gente faz.
Vejam outro dado importante. Pela primeira vez, 94% dos formandos do ensino médio na rede pública se inscreveram no Enem. Sabe o que é isso, Josué? Isso é graças ao Pé-de-Meia. Nós descobrimos que 480 mil de jovens do ensino médio desistiam da escola para ajudar a família. E nós achamos que era um crime um país perder 480 mil jovens por ano.
Criamos o Pé-de-Meia. Estamos investindo quase R$ 10 bilhões. Tem muita gente que diz que é gasto. E eu não acho gasto. Gasto é se eu estivesse gastando em um prisioneiro. Num estudante eu estou investindo no futuro desse país e eu tenho certeza que esse país será muito melhor.
Porque a gente ainda não tem gente pobre no Ministério Público, juiz, essas coisas. O [os formados pelo] PROUNI não chegou [em cargos decisórios] ainda, sabe? Vai demorar um pouco para a gente poder começar a mostrar a cara da sociedade. Não sei se vocês têm ido na USP. Não sei se vocês têm. A USP era a universidade de branco, não é Alckmin? Era universidade de branco. O mais moreno, o mais negro era o Alckmin.
Hoje você vai na USP metade ou mais da metade é como você, Jerônimo. E o que é mais engraçado é que o povo negro não fala "mas eu sou moreno, moreno", não. Ele fala: "Eu sou negro". Ou seja, ser negro virou uma coisa bonita, charmosa. E a pessoa se autodefine como negro. Essa é uma conquista do povo brasileiro. Uma conquista que não tem volta.
Veja que engraçado. Batemos recorde de transplante de cirurgia no SUS [Sistema Único de Saúde]. Essa conquista nos credencia a enfrentar, sabe, as turbulências muito mais sérias. Mas eu queria que vocês percebessem uma coisa importante. Eu li uma matéria no jornal O Globo que contava a história de um americano, jornalista, que está há seis anos morando no Brasil, no Rio de Janeiro.
Ele foi para Ilhabela, em São Paulo, e o filho dele teve um problema. Ele foi no carro buscar uma sacola ou bolsa, sabe, o cara quando vai com o filho leva uma sacola com tudo que é coisa dentro. Caiu o porta-malas do carro e feriu a cabeça dele. Ele começou a sangrar muito. Ele estava sangrando. Quando ele viu, já estava chegando uma ambulância do SAMU [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência]. E o SAMU levou ele para o hospital.
Ele ficou pensando: "Puta merda, quanto é que vai custar esse tratamento?" Foi ao hospital, a ambulância levou ele. A ambulância consultou o filho dele, deu remédio, tratou da cabeça dele, sete pontos na cabeça dele, um pacote de remédio para ele tomar. E ele pensando: "Como é que eu vou pagar? Se fosse nos Estados Unidos, uma ambulância ia me cobrar quase US$ 10 mil. Como é que eu vou pagar?"
Quando ele perguntou para a moça, “Quanto é?”, a moça falou: "É de graça".
Esse é o SUS, que muita gente ainda não aprendeu, de que é o mais importante plano de saúde universal do mundo.
Bem, meus queridos, eu quero dizer para vocês que nós estamos vivendo um momento muito delicado. O multilateralismo e o livre comércio passam por um dos períodos mais críticos em décadas. O dia 30 de julho de 2025 passará para a história das relações entre Brasil e Estados Unidos como um marco lastimável. Não há precedente nos mais de 200 anos de relações bilaterais de uma ação arbitrária como esta que sofremos.
Nossa democracia está sendo questionada.
Nossa soberania está sendo atacada.
Nossa economia está sendo agredida.
Este é um desafio que nós não pedimos e que nós não desejamos. Em nenhum tarifaço aplicado a outros países, houve tentativa de ingerência sobre a independência dos poderes do país. Esta interferência em temas internos contou com o auxílio de verdadeiros traidores da pátria, que arquitetaram e defenderam publicamente ações contra o Brasil lá nos Estados Unidos.
Vários setores da economia são afetados pela covardia dos que se associaram a interesses alheios ao da nossa nação. Proteger a nossa soberania é um objetivo que está acima de todos os partidos e de todas as tendências. O governo não transigirá e não vacilará em seu dever de preservá-la.
Não há justificativa para as medidas unilaterais contra o nosso país. O superávit dos Estados Unidos é robusto. Foram US$ 410 bilhões ao longo dos últimos 15 anos. 74% das importações originárias dos Estados Unidos entram no Brasil sem pagar imposto. O Alckmin já falou: oito dos dez principais produtos importados dos Estados Unidos pelo Brasil tem tarifa zero, incluindo petróleo, aeronaves, gás natural e carvão. A alíquota média efetivamente cobrada dos produtos norte-americanos no Brasil é de apenas 2,7%.
As alegações sobre o PIX, a regulação de plataformas digitais e o desmatamento são descabidas. O PIX é um patrimônio nacional e referência internacional de infraestrutura pública digital. E aqui eu gostaria que o presidente Trump fizesse uma experiência com o PIX nos Estados Unidos.
Não sei se você é amigo dele, Josué. Porque você presidiu um grupo empresarial que nós criamos no governo Bush [George W, ex-presidente dos Estados Unidos], que funcionou, não tem se funciona ainda. Você poderia levar um PIX para ele, para ele pagar uma conta. Ele ia ver que é uma coisa moderna. E qual é a preocupação deles? É que se o PIX tomar conta do mundo, os cartões de crédito irão desaparecer. E é isso que está por detrás dessa loucura contra o Brasil.
Por isso, nós não podemos ser penalizados por desenvolver um sistema gratuito, como disse o companheiro Haddad aqui, “gratuito e eficiente”. No Brasil, a liberdade de expressão não é carta branca para a criminalidade. Sejam nacionais ou estrangeiras, todas as empresas precisam respeitar a lei brasileira.
É nosso dever proteger famílias e crianças contra aqueles que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, explorar a pornografia infantil ou espalhar o ódio e a desinformação. Também combatemos de forma incisiva os ilícitos ambientais. Nos primeiros dois anos de mandato, reduzimos pela metade o desmatamento na Amazônia e 32% em todo o país. Estamos comprometidos a zerar o desmatamento até 2030.
Nosso compromisso com o multilateralismo, o meio ambiente e o planeta se reflete na realização da COP30 em Belém, etapa fundamental no enfrentamento à mudança do clima.
Queridas companheiras do Conselhão, eu viajei muito nos anos 1980. Naquele tempo, a gente tinha uma dívida externa crônica no Brasil e o mundo apelidou isso, os economistas nossos aqui no Brasil, como a “Década Perdida”. Então, quando eu viajava muito, o pessoal lá fora, todo mundo defende muito a Amazônia. Eu nunca vi gostar tanto da Amazônia.
A Amazônia é como aquele filho que você gosta, mas como não é teu, você não precisa dar dinheiro para sustentar, então você fala muito dele. Ou seja, as pessoas: "Não, porque a Amazônia tem que ser preservada, porque eu comprei um terreno na Amazônia" e eu falava: "Gente, tudo bem, vocês dizem que a Amazônia é o pulmão do mundo, mas a nossa dívida externa é a pneumonia. Então, nos ajude a cuidar desse pulmão com cuidado".
E por isso nós decidimos fazer a COP em Belém, para que as pessoas vejam o que é a Amazônia de verdade. Para que as pessoas saibam que embaixo de cada copa de árvore bonita, que todo mundo acha maravilhoso, tem um indígena, tem um seringueiro, tem um pescador, tem um trabalhador rural, que precisa viver. E se a gente não oferecer condições, ele não tem como sobreviver.
E o mundo rico prometeu em 2009, na COP de Copenhague, que lá estava eu, lá estava a Dilma [Housseff, ex-presidenta da República]. Prometeu US$ 100 bilhões por ano para ajudar a combater a questão climática. Hoje a dívida já é 1 trilhão e 700 bilhões de dólares e ninguém quer pagar. Não cumpre o Acordo de Paris, não cumpre o Protocolo de Quioto. Então, eu não vou ligar para o Trump para o comercial não, porque ele não quer falar. Mas pode ficar certa, Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima]: eu vou ligar para o Trump, para convidá-lo para vir para a COP, porque eu quero saber o que ele pensa da questão climática.
Vou ter a gentileza de ligar. Vou ligar para ele, vou ligar para o Xi Jinping [presidente da República Popular da China], vou ligar para o primeiro-ministro Modi [Narendra Modi, Índia], vou ligar. Só não vou ligar para o Putin [Vladimir Putin, presidente da Rússia], porque o Putin não está podendo viajar. Mas vou ligar para muitos presidentes. "Ô cara, vem aqui, cara. Vem ver, você não está preocupado com o planeta Terra? Não tem outro lugar para a gente morar, nós temos que colher aqui, pelo amor de Deus”. Se ele não vier, é porque não quer. Mas não vai ter por falta de delicadeza, charme e democracia. Eu vou convidar.
Queridos companheiros e companheiras, o Brasil nunca saiu da mesa do diálogo. A única explicação que eu tenho é que interesses políticos, especialmente políticos-eleitorais, não podem contaminar as relações comerciais.
Desde 6 de março, quando o meu querido vice-presidente manteve sua primeira reunião com o representante comercial e o secretário de Comércio dos Estados Unidos, demonstramos repetidamente, interesse em dialogar sobre as barreiras comerciais tarifárias e não tarifárias. Isso quando houve a taxação de 10%. A gente já estava tentando conversar.
Foram mais de 10 reuniões em diferentes níveis, envolvendo inclusive o companheiro Fernando Haddad e o companheiro Mauro Vieira [ministro das Relações Exteriores]. Pois bem, nós não podemos aceitar que o povo brasileiro seja punido. Diante do tarifaço, o compromisso do governo é com os brasileiros.
Vamos colocar em execução um plano de contingência para mitigar esse ataque injusto e aliviar seus prejuízos econômicos e sociais. Vamos proteger os trabalhadores e as empresas brasileiras que foram afetadas pelas emendas.
Vamos recorrer a todas as medidas cabíveis, a começar pela OMC [Organização Mundial do Comércio], para defender os nossos interesses. Aliás, o governo já vinha atuando para fortalecer nosso comércio exterior e gerar novas oportunidades para empresas nacionais, desde antes da mudança de governo nos Estados Unidos.
Desde 2023, o Brasil voltou ao mundo, um mundo que sentia sua falta. Resgatamos uma política externa consistente, com as melhores tradições de nossa diplomacia universalista, que refez laços com países e povos de todas as regiões, credos e origens. Investimos em promoção comercial para levar nossos bens e serviços para os quatro cantos do mundo.
Participei de 15 seminários empresariais realizados no exterior, à margem de visitas que fiz a países europeus, asiáticos, africanos e latino-americanos. Abrimos 398 novos mercados para os nossos produtos agrícolas. Assinamos o Acordo do MERCOSUL-Singapura, o primeiro acordo de livre comércio do bloco em mais de 10 anos.
Concluímos com a União Europeia as negociações do primeiro acordo birregional do mundo, que reúne um PIB conjunto de US$ 22 trilhões, além de 718 milhões de pessoas. Estamos empenhados para que este acordo seja assinado neste ano e entre em vigor o quanto antes.
Aqui é um compromisso meu que eu vou fazer com o Conselhão. Quando eu tomei posse, na Argentina do MERCOSUL, por seis meses, eu disse: "Entregarei o acordo com a União Europeia antes de deixar a presidência do MERCOSUL em dezembro deste ano". E que não venha agora, viu, companheiro Mauro Vieira, a União Europeia engrossar conosco, a Von der Leyen [Ursula, presidente da Comissão Europeia], que é nossa amiga, porque depois do acordo que eles fizeram com os Estados Unidos, assinar conosco é uma glória, porque tem respeito e cidadania nas propostas que nós fizemos.
Em 2025, concluímos as negociações do Mercosul e a EFTA [Associação Europeia de Livre Comércio], grupo que reúne países de renda per capita elevada, como o Suíça e Noruega. Na condição de presidência de turno do MERCOSUL neste semestre, vamos avançar em negociações com os Emirados Árabes Unidos, México e Canadá.
Aqui é importante lembrar, agora dia 24 de agosto, o companheiro Alckmin, com uma delegação de empresários e alguns ministros, vai visitar a nossa companheira Cláudia [Sheinbaum], presidenta do México, que foi também taxada em 35% e o déficit que os Estados Unidos tem com o México é US$ 270 bilhões. Então, ela está querendo fazer negócio com o Brasil, então você pega o que a gente tem de mais esperto, de mais capaz e leve junto, e volte de lá com novas indústrias, deixe lá algumas e com mais dinheiro para o nosso comércio.
Em outubro, retornarei à Ásia para participar da Cúpula do ASEAN, bloco de 10 países, 680 milhões de habitantes e um PIB agregado de 4 trilhões de dólares. Depois de ter ido ao Japão, ao Vietnã e à China, visitarei ainda este ano a Malásia e a Indonésia.
Minhas amigas e meus amigos, estou terminando aqui. Parcerias sólidas se constroem com base em benefícios mútuos. Durante séculos, a exploração mineral gerou riqueza para poucos e deixou rastro de destruição e miséria para muitos. A transição para uma economia de baixo carbono depende de minerais estratégicos utilizados na produção de baterias elétricas, turbinas eólicas e painéis solares.
Contamos com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda de níquel, grafita e terras raras, e a terceira de manganês e bauxita. Estamos construindo uma política nacional que vai garantir que a exploração desses recursos traga ganhos ao povo brasileiro. Aliás, é importante dizer para vocês, nós temos um Conselho criado, um Conselho de Política Mineral, que eu vou trazê-lo para a Presidência da República. Ele vai funcionar ligado ao meu umbigo para que a gente não veja ninguém vendendo as coisas que a gente tem sem passar por uma discussão nesse país.
Se essas terras raras e esses minerais críticos existem de verdade aqui no Brasil, ele é nosso e a gente não vai permitir que ele seja explorado como foram outros minérios durante tanto tempo. Por isso estamos construindo uma política nacional que vai garantir que a exploração desses recursos traga ganhos para o povo brasileiro.
Queridas amigas e queridos amigos, seguiremos mantendo relações econômicas, políticas e culturais com todos os países. Não seremos dependentes de ninguém. Nem tomaremos parte em outra Guerra Fria. É importante saber que a gente não quer Guerra Fria e que a gente não quer ser dependente de ninguém. Nós queremos ter liberdade para negociar com todos. E é essa política que será vencedora porque o multilateralismo precisa disso.
Esse Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, eu já disse isso, é a cara do povo brasileiro que constrói a nossa prosperidade. A prosperidade verdadeira só existe se for compartilhada e só se fará com ampla e efetiva participação de organizações da sociedade civil, com a participação de trabalhadores e de empresários, das mulheres, dos povos indígenas e comunidades tradicionais, do povo negro, governadores, prefeitos e da academia. Nosso horizonte é o de seguir batendo recorde de indicadores de bem-estar e desenvolvimento.
Criando um país justo, inclusivo, sustentável, criativo, democrático e soberano para todos os brasileiros e brasileiras. Um país que quer contribuir com voz ativa e construtiva para a solução dos grandes problemas que afetam a humanidade; que defenda um mundo de paz, mais solidário e menos desigual, livre da pobreza, da fome e da crise climática.
Muito obrigado e viva o povo brasileiro e que Deus nos abençoe.