Declaração do presidente Lula à imprensa em Bogotá, na Colômbia
Quero iniciar essa declaração à imprensa expressando minha solidariedade ao governo do presidente [da Colômbia, Gustavo] Petro e ao povo colombiano pelos ataques perpetrados ontem em Cali e Antióquia e que deixaram dezenas de mortos e feridos.
Nossas orações estão com as vítimas e seus familiares.
O governo brasileiro rechaça essas ações, que atentam contra a segurança pública e a estabilidade política e social do país.
Minhas amigas e meus amigos,
Em 2023, na Cúpula de Belém, revitalizamos a cooperação regional em prol de um modelo de desenvolvimento que combine proteção da floresta e inclusão social.
Hoje, fizemos um balanço dos compromissos assumidos na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e adotamos a Declaração de Bogotá, que traz novos chamados à ação.
Sabemos que é preciso dar respostas coletivas aos desafios compartilhados pelos 8 países amazônicos.
Nos últimos dois anos, estabelecemos redes intergovernamentais de ação em áreas como gestão florestal, manejo do fogo, monitoramento das águas e serviços de saúde.
Inauguramos o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, que vai intensificar o combate ao crime organizado e aos ilícitos ambientais.
Estruturamos na OTCA o Mecanismo Amazônico dos Povos Indígenas.
Com a nova edição dos Diálogos da Amazônia, aprofundamos a participação da sociedade civil e amplificamos as vozes dos povos indígenas e comunidades tradicionais e locais da região.
Chegaremos juntos à COP30, trazendo soluções amazônicas para a mudança do clima e a transição para um novo modelo de desenvolvimento sustentável.
É possível fazer com que a floresta valha mais em pé do que derrubada.
Aprovamos, hoje, Comunicado Conjunto sobre o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, o TFFF, iniciativa que pretendemos lançar em Belém.
Em um arranjo inovador, o TFFF poderá remunerar 73 países em desenvolvimento detentores de florestas tropicais pela redução do desmatamento.
Como parte do Balanço Ético Global em preparação à COP30, Bogotá foi palco, ontem, do Diálogo Regional da América do Sul e Central e Caribe.
Parabenizei o Equador pela apresentação de sua NDC e incentivei os demais países amazônicos a fazerem o mesmo.
Sabemos da enorme responsabilidade que temos como países amazônicos.
Seguiremos trabalhando juntos para evitar que a Amazônia atinja o ponto de não retorno, combater o crime organizado e garantir dignidade para as milhões de pessoas que vivem aqui.
Agradeço ao presidente Petro pela organização da Cúpula e ao povo colombiano pela calorosa recepção.
E dizer mais uma última coisa, companheiro Petro. Eu espero que os presidentes dos países amazônicos da OTCA estejam, em setembro, na Amazônia, no estado do Amazonas, dia 9 de setembro, quando nós vamos inaugurar o nosso Centro de Combate ao Crime Organizado, que pretendemos contar não apenas com a nossa Polícia Federal, mas com a polícia dos estados amazônicos.
A segunda coisa é dizer para vocês que é muito importante que todos os países estejam presentes, o tempo inteiro, na COP30. Eu estou fazendo um convite a cada chefe de Estado, de todos os países do mundo. Estou mandando uma carta pessoal, porque essa COP30 vai ser a COP da verdade. Vai ser a COP em que as pessoas vão ter que assumir a responsabilidade de dizer se acreditam ou não no que a ciência está nos dizendo. Se acreditam ou não na mudança de intempéries que nós estamos vendo, todo dia, em cada país, em cada estado nosso.
E vai ser o momento de a gente dizer aos países ricos que está na hora de eles cumprirem os compromissos firmados ao longo de várias COPs. Porque nós pretendemos, enquanto país amazônico, assumir a responsabilidade de cuidar da Amazônia. Nós vamos cuidar. Eu tenho um compromisso no Brasil de que, até 2030, a gente vai zerar o desmatamento na Amazônia.
Eu tenho o compromisso de acabar com o garimpo ilegal no Brasil, isso independentemente de COP. Mas é importante que os países ricos saibam, mesmo aqueles que não querem assinar o Protocolo de Quioto, o Acordo de Paris e tantos acordos que têm. Mesmo aqueles, nós precisamos cobrar deles e deixar claro que nós vamos fazer a nossa parte. Nós vamos cumprir cada coisa que nós nos comprometemos, porque a Amazônia não é só o pulmão do mundo, ela é o coração do mundo, ela é não sei o que do mundo.
A Amazônia é uma propriedade dos países amazônicos. Nós temos milhões de pessoas que moram, temos indígenas, temos pescadores, temos extrativistas, temos colonos, temos pequenos produtores rurais. E é da nossa responsabilidade cuidar da nossa gente. É da nossa responsabilidade. Se os países ricos não querem ajudar a manter a floresta em pé, a gente vai manter a floresta em pé. E vamos mostrar para eles que nós estamos agindo como gente adulta, como país sério, porque nós queremos preservar a espécie humana. Nós não queremos procurar outro planeta para morar.
Por isso, queria pedir para vocês. Se eu não vir nenhum de vocês até novembro, eu queria pedir que todos vocês fizessem um esforço incomensurável e comparecessem à COP, porque é a hora da verdade sobre a questão climática do mundo.
Muito obrigado.