Pronunciamento do Presidente Lula no evento O Combustível do Futuro Chegou
Transmissão: Lula Oficial
Eu não ia falar por causa da minha garganta rouca. E não é de participar da festa de São João. Acho que é de excesso de discursos.
Mas eu resolvi dar umas palavras nesse encontro. Porque eu pedi uma foto nesse encontro e quero fazer um quadro dessa reunião.
Para todos vocês aqui, essa reunião é [sobre] o acréscimo de etanol na gasolina e o acréscimo de óleo de biodiesel no óleo diesel. O que é verdade. Mas, para mim, essa reunião tem um outro significado.
Um significado que me fez pensar na fotografia. Essa reunião, essa composição que está aqui, ela pode ser a fotografia do país que a gente precisa construir.
Eu, se fosse ouvir apenas um lado das opiniões públicas, nós não teríamos feito o programa Biodiesel.
Porque naquela época havia aumento [do preço] dos alimentos no mundo. Alguns, na época, culpavam a China. E nós fomos descobrir que o problema não era a China; era o mercado futuro que estava inflacionando os alimentos do presente.
E muita gente dizia que se a gente fosse fazer biodiesel, a gente iria fazer com que faltasse alimento no mundo inteiro. E que o Brasil não poderia ter essa responsabilidade.
Eu, companheiro Alexandre [Silveira, ministro de Minas e Energia], em Mar del Plata, tive uma discussão com uma das pessoas que eu mais admirava, que era o Fidel Castro [ex-presidente de Cuba]. Ele era contra a gente transformar soja ou qualquer outro [grão], palmeira, em óleo, sobretudo por conta da falta de alimento. Se fosse analisar a situação do país dele, o tamanho do país dele, a capacidade produtiva do país dele, certamente ele tinha razão.
Mas eu tinha que pensar no meu país, no tamanho do meu país, na quantidade de terra que tinha no meu país, na capacidade tecnológica de um país que teve, em 1973, a ideia de criar uma Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], que é um exemplo de que o Brasil não deve nada a ninguém em se tratando de avanços tecnológicos e genéticos no campo. E, mais importante, eu tinha consciência de que era necessário a gente criar uma outra consciência nos nossos produtores.
O Brasil não precisa desmatar para crescer!
Os números têm provado. A gente pode crescer 50%, aumentando apenas 5% de terra. Os avanços tecnológicos nos permitiram fazer com que a gente possa plantar mais, colher mais, em menos terra.
E, sobretudo, um país que tem por volta de 40 milhões de hectares de terra degradada, que pode ser recuperada, para a gente plantar o que quiser. E é plantando que a gente vai sequestrar o carbono. Então, não tem nenhuma possibilidade de alguém fazer discurso de que o biocombustível compete com o alimento.
Não tem nenhuma possibilidade!
Se um dia acontecer isso, vocês serão os primeiros a pedir para parar, porque vocês sabem que vocês precisam comer mais do que produzir óleo diesel. Então, todo mundo vai sentir na pele a situação se houver alguma coisa que eu não acredito que haja.
E nesse mundo conturbado, um mundo em que você tem presidente de uma nação do tamanho dos Estados Unidos, que deveria primar pelo discurso, deveria pensar o que falar, deveria ser menos internet e ser mais chefe de Estado, deveria pensar mais em livre comércio, deveria pensar mais no multilateralismo, deveria pensar muito mais na paz, o que é que a gente vê todo santo dia na imprensa?
A necessidade de uma desgraçada de uma manchete.
Nós já tivemos presidente assim, e vocês sabem que já tivemos assim. Ou seja, o que menos interessa é a verdade.
O que menos interessa é o interesse do país. O que mais interessa são interesses escusos, pequenos, porque toda vez que a gente tem uma divergência entre vários setores que estão disputando uma determinada coisa nesse país, a gente não vai atender nem aqueles que estão na extrema-direita, nem aqueles que estão na extrema-esquerda. A gente vai atender o caminho do meio, que é sempre aquilo que é possível fazer.
E é essa história que fez essa política dar certo.
É triste, é triste que depois de 15 anos seja eu a voltar a aumentar o percentual de biodiesel no óleo diesel. E poderia ter sido feito antes.
A gente poderia estar discutindo aqui 20%. Poderia estar discutindo mais. Mas, muitas vezes, as pessoas pensam com o fígado, pensam com o intestino, não pensam com a cabeça e faz prevalecer a ideia de uma pessoa.
“Eu sou o ministro tal, eu não quero que faça e não faz”. No meu governo, ministro não decide o que faz; ministro decide o que vai apresentar para mim.
E quem decide se vai fazer ou não, sou eu, ouvindo muitas outras pessoas.
Porque esse país tem que dar um salto de qualidade. Eu vou completar, dia 27 de outubro, 80 anos de idade.
Esse país nunca teve a chance de ser um país de classe média. Um país, no mínimo, que a gente não veja pessoas dormindo na rua, que a gente não veja pessoas mendigando o favor do governo. Esse país pode isso, tem condições disso, mas esse país nunca acreditou nisso.
Porque entre o governo faz uma coisa, entre o outro desmancha. Entra o governo faz uma coisa, entra o outro desmancha. E, muitas vezes, sem nenhum interesse coletivo.
As pessoas precisam pensar um pouco nesse país, que país nós queremos para daqui a 10 anos. Ou seja, eu fiquei 15 anos fora da presidência, quando eu voltei, nós tivemos que reconstruir muitas coisas que estavam funcionando.
Eu fico pensando, eu herdei 87 mil casas começadas a fazer pela Dilma [Rousseff, ex-presidenta da República], que estavam paralisadas. Num país que tem um déficit habitacional de 7 milhões de casas.
Esse país, que tinha 3 mil creches paralisadas. Esse país, que tinha Ministério totalmente desestruturado. Totalmente desestruturado!
Como é que a gente imagina um país não ter Ministério da Cultura? O que significa a Cultura na evolução da Humanidade? Mas tem gente que acha que não precisa. Porque artista é progressista. Artista é avançado. Artista faz coisas num palco que determinado pessoal não gosta.
Ou seja, quando, na verdade, a cultura retrata a cara da sociedade que a gente é. E todo mundo gosta. Mas esse país jogou fora Ministério da Mulher, Ministério dos Direitos Humanos, Ministério da Igualdade Social, Ministério do Trabalho, jogou fora Ministério da Cultura, desmontou todo o ministério.
Esse aqui sabe quantas pessoas que ele teve que contratar. Essa daqui sabe que é o Ministério da Gestão. Essa aqui sabe como é que teve que contratar. Essa aqui sabe. Essa aqui que está feliz da vida. Porque o Brasil vai chegar no final do ano com 10 milhões de turistas estrangeiros visitando o Brasil.
Se tem uma coisa que me deixa feliz, é quando eu encontro alguém que começa a dizer, “o aeroporto dá uma droga”. Por que tá uma droga? “Porque virou uma rodoviária, tem muita gente”. Pois, para mim é prazeroso saber que o povo brasileiro voltou a viajar. A viajar internamente. Para conhecer o seu país. E eu queria dizer pra vocês que essa política de biocombustível é, para nós, um modelo que ninguém vai conseguir competir com o Brasil.
O Brasil tem uma chance. Nós temos a COP30.
A COP30, ela é uma coisa muito marcante. Porque nessa COP30, eu quero transformar essa COP, na COP da verdade. Os países ricos vão ter que dizer se eles falam sério quando falam da questão climática, ou se acreditam ou não nos cientistas.
Porque todo mundo sabe que o mundo está virado de ponta cabeça. O mundo e a Humanidade. Todo mundo sabe a confusão que está acontecendo no mundo.
Quando o mundo gasta 2 trilhões e 700 bilhões de dólares de armas no ano passado. 2 trilhões e 700 bilhões de dólares para fazer guerra. Quando nós temos 733 milhões de seres humanos que vão dormir sem ter o que comer.
É de se perguntar que políticos nós temos no mundo?
Qual é o humanismo que tem dentro de cada chefe de Estado nesse mundo? Que prefere pensar na morte e na destruição, do que pensar na paz e na construção? Que prazer eu tenho de destruir uma ponte que já está feita, que custou dinheiro para depois ter que fazê-la outra vez? Que prazer eu tenho de matar uma pessoa que não é possível recuperar?
Então, esse mundo tem que ser repensado. E por isso eu mandei tirar essa fotografia.
Essa fotografia, para mim, é simbólica. Porque teve um dia que só eu e o Roberto Rodrigues [ex-ministro da Agricultura] acreditávamos nessa coisa de biodiesel. Teve um dia, que eu cansei de discutir com a Embrapa a questão da mamona.
Teve um tempo que eu andava com o caroço de pião-manso. Pião-manso que era uma fruta muito parecida com a mamona, que eu achava que ia ser feito. Porque eu achava que, como a mamona não precisa de muita água, ela tinha dado em Cabo Verde, e em outra região. Eu queria encher o nordeste de pião-manso. Não deu certo. Mas era um pouco de ignorância minha.
Porque a gente tinha soja. A gente tem a palma. A gente tem o dendê. A gente tem outras oleaginosas fantásticas. Ou seja, é como fazer renovação de frota. Teve uma vez que eu queria fazer renovação de frota de geladeira.
Aí apareceu um cidadão que falou assim para mim. “Ô, presidente, é preciso saber quem vai comprar a velha”. Eu passei um ano, cara, discutindo quem é que ia comprar a geladeira velha.
Ninguém queria comprar. Eu fui atrás do Gerdau. Porra, você compra a geladeira velha.
Aí depois “eu compro, mas onde vai armazenar?” Não tem. Aí eu falei, sabe de uma coisa? Eu não estou preocupado com a geladeira velha. Eu quero comprar a nova.
Então, vamos deixar o povo comprar nova. Ele se vira com a velha e resolveu o problema.
Caminhão é a mesma coisa. Você sabe da discussão. Mesma coisa. “Vamos renovar a frota de caminhão.” “Ah, e o caminhão velho?” Rapaz, é eu que tenho que me preocupar com o caminhão velho. Com o caminhão velho se preocupa o dono dele. Eu quero me preocupar é com o novo que eu quero vender, quero fabricar.
Então, essa é a história do biodiesel, nós temos que saber que nós temos adversários. Eu acabei de saber agora que os Estados Unidos da América do Norte não reconhecem a nossa “safrinha” de milho.
Quando ela era “safrinha”, eles até queriam reconhecer. Mas agora que a tal da “safrinha” é maior do que a safra normal, eles não querem reconhecer. Da mesma forma que eles nunca reconheceram que quem inventou o avião foi o Santos Dumont.
E nós vamos ficar quietos? Nós vamos aceitar, ô Mauro, você que é o meu chefe da diplomacia? Eles têm que saber que nós plantamos milho, temos duas safras, nós temos duas safras e meia de uva por ano e que nós queremos que seja respeitada a grandeza e a soberania desse país.
Eu achei fantástico a gente fazer etanol de milho. Agora, o dia que faltar milho para as galinhas, a gente não faz mais.
Mas, por enquanto, a gente tem capacidade de produzir o etanol, o farelo para alimentação e a ração animal, e o milho ainda para fazer pipoca. E assar o milho na Festa de São Pedro, Santo Antônio e São João. É esse país que eu queria que vocês compreendessem que a gente pode construir.
É esse país, por isso eu fico pensando, sabe, como é que funciona a cabeça de algumas pessoas. É a primeira vez em 12 anos que eu sou presidente. É bom você saber, eu sou o mais longevo presidente desse país.
Só ganhou de mim o Getúlio Vargas, porque teve 15 anos de ditador, e o Dom Pedro, que era o imperador. Mas, veja, quero te dizer uma coisa aos empresários. É a primeira vez que eu participo de um encontro e que os empresários têm coragem de elogiar a política pública que está sendo anunciada pelo governo.
É a primeira vez!
É o depoimento de um presidente da República!
É a primeira vez, em 12 anos, que empresários pegam o microfone para elogiar a política pública. Porque, vocês sabem, que além dessa política interessar a vocês, ela interessa, sobretudo, ao Brasil. Esse país merece uma chance.
Nós cansamos de ser um “país em desenvolvimento”. Nós cansamos de ser um país com um complexo de vira-lata, de que a gente não pode nada. Eu lembro de uma reunião, eu e José Alencar [ex-vice-presidente da República], na casa do Josué [Josué Gomes Silva, presidente da Fiesp], lá perto da Avenida Paulista.
E estava o Olavo Setúbal [ex-ministro das Relações Exteriores] e o Roberto Setúbal [executivo do Banco Itaú]. E eu era candidato a presidente, o José Alencar era meu vice. E o Olavo Setúbal falava assim para mim, “ô candidato, o que você vai fazer em tal coisa?” Eu falava, eu vou fazer isso e isso.
“Ah, o império não deixa. O império não vai deixar. O que você vai fazer com o agronegócio?” Eu vou fazer isso e fazer isso.
“O império não deixa. O que você vai fazer, sabe, na reforma agrária?” Eu vou fazer isso e fazer isso. “O império não deixa.”
O José Alencar levantou e perguntou pro Olavo Setúbal, “doutor Olavo, com todo respeito, quem é essa desgraça desse império? Porque se ele é tão contra o Brasil assim, não vai deixar a gente fazer nada? Eu vou vender minha fábrica, vou comprar arma e vou enfrentar esse império. Por favor.” Porque é assim que pensa uma parte da elite econômica brasileira.
As pessoas não aprenderam a serem grandes. As pessoas não aprenderam a se respeitarem.
Eu já participei de muito debate em Nova York. Hoje eu não tenho, mas esse interesse, mas já participei muito. Muitas vezes o que eu encontrava em Nova York era de ex-empresário brasileiro aposentado, falando mal do Brasil. Porque muitas vezes você faz uma reunião com o empresário, você atende 99,9% [do que ele pediu], ele elogia. Quando ele sai, a imprensa pergunta, “Tudo bem?”, [ele diz] "Não, foi suficiente”.
A gente tem uma hora que a gente tem que deixar os nossos interesses individuais de lado e pensar um pouco nesse país.
Vocês sabem da seriedade com que o Haddad [Fernando, ministro da Fazenda] trata a economia. Você sabe que nós estamos há quase três anos tentando consertar a economia. Primeiro foi a PEC da transição, depois o arcabouço fiscal, que nós tivemos coragem de dizer que por mais que a gente arrecadasse, a gente não poderia gastar mais que dois e meio. Vocês estão lembrados disso? E depois a reforma tributária.
Uma coisa feita a 513 mãos na Câmara e a 81 mãos no Senado. Não é o que nenhum de vocês queria, nem o que eu queria. Foi o possível.
Então, eu queria que vocês compreendessem, que nós estamos tentando fazer o possível para esse país mudar de patamar. E você sabe que é difícil.
Você sabe as cobranças que são feitas todo dia. Agora mesmo, sabe, todo dia se fala de déficit fiscal, déficit fiscal. Olha, quem é que se preocupou com déficit fiscal no governo passado?
Qual é o empresário que foi para a imprensa dizer que o Guedes estava desrespeitando o déficit fiscal? Eu fui presidente de 2003 a 2010, o único país do mundo que fez superávit primário durante todo o governo, fui eu.
A China não fez, Estados Unidos não fez, a Suécia não fez, a Itália não fez, o Japão não fez, nós fizemos.
Porque ter seriedade com a economia não é fazer mágica, é a gente saber que se a gente errar, o tombo pode ser pior. E eu sei o que é um tombo, porque eu quebrei minha cabeça num tombo.
Por isso que eu parei de jogar bola, porque senão o técnico ia me convidar para a seleção. Então, vejam, eu estou dizendo para vocês, eu estou com 80 anos de idade, faço política há 50 anos.
Esse país nunca se deu uma chance!
Nunca! A cada ano está pior. Eu poderia perguntar para os empresários aqui, nesses últimos 15 anos, qual foi o melhor momento da economia brasileira? Quem aqui lembra? O melhor momento da economia brasileira é exatamente na minha volta em 2023, 2024 e vai ser em 2025.
Qual é o momento em que cresceu mais a rentabilidade de vocês? Qual é o momento em que cresceu mais a mata salarial? Qual é o momento em que a inflação está tão bem controlada? Qual é o nosso déficit? Muitas vezes, o que falta é déficit de compreensão e de acreditar nesse país. Eu não preciso de nenhum técnico do FMI [Fundo Monetário Internacional] para dizer para mim o que é responsabilidade fiscal.
Eu tenho muita responsabilidade, porque eu não morri de fome antes dos 5 anos de idade na terra em que eu nasci. Eu tenho muita responsabilidade, porque eu sou o único que não tem um diploma universitário, mas sou o que mais acredita que é preciso investir em educação, senão a gente não dá um salto de qualidade.
Um país analfabeto não vai pra frente. Um país analfabeto não vai pra frente! Não tem a experiência mundial. E quem é que investiu em educação nesse país?
Eu fiquei sabendo ontem. Cristóvão Colombo chegou em Santo Domingo em 1492. Em 1532 já tinha a primeira universidade na América Latina, em Santo Domingo. Quarenta anos depois da descoberta, já tinha uma universidade. Vocês que são estudados, vocês sabem quando é que o Brasil teve a sua primeira universidade? Em 1920!
Numa demonstração de que investir em educação nesse país não era necessário, porque o povo pobre tinha que ser cortador de cana, colhedor de algodão, trabalhador da roça ou trabalhar de pedreiro. Essa era a imagem que se criava do povo. Quando, na verdade, nenhum país vai pra frente, se pensa assim.
Eu, agora, aprendi o seguinte, quando o empresário achar que ele paga muito para o seu trabalhador, deixe de olhar ele como trabalhador. Olhe ele como seu consumidor. É ele que vai utilizar o biodiesel que vocês estão produzindo.
E tem que ter dinheiro para encher o tanque do carro. Senão, vocês não vão vender. Quanto mais pobre, menos lucro vocês terão.
Vocês sabem disso. Então, eu digo, olhe sempre o cara como consumidor.
O consumidor é ótimo. É a pessoa que todo mundo adora, é o cliente. Então, olhe o trabalhador como seu cliente. Não olhe como um peso. “Porra, eu tenho que pagar o salário no final do mês para esse cara”. Não, olhe para o cara, “não, esse cara vai receber o salário e vai comprar o que ele está produzindo aqui”.
Aí, vocês vão ver que vocês vão ficar mais aliviados. Vai ter um efeito psicológico extraordinário. Vocês estão vendo os consumidores de vocês receberem o holerite deles. Não tem mais holerite. Receber o depósito na conta dele. E fazer um Pix comprando as coisas que vocês produzem.
É isso que nós precisamos. Está aqui o representante da indústria automobilística. O pessoal da Única [União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia].
Eu digo, eu vou dizer para vocês, vou terminar.
[Quando] eu deixei a presidência. O Brasil produzia 3 milhões e 600 mil carros. Quando eu voltei, 15 anos depois, o Brasil só produzia 1 milhão e 600. Aonde é que foi? A outra metade?
Esse país tinha a Vale como a primeira ou segunda empresa do mundo na questão de minério. A Vale era a modelo do planeta. Aí criaram uma tal de corporation. Um monte de dono que ninguém é dono. A Vale hoje é a décima quarta. Andando para ser a décima quinta.
Cadê a competência? A Vale cresceu quando a China estava comprando tudo o que a gente produzia. E eu tive o prazer de participar desse momento histórico, de ligar para a China para comprar minério nosso e não comprar da Austrália.
Então, companheiros e companheiras, não existe milagre.
Nós vimos o que aconteceu com o Botafogo e com o Paris Saint-Germain. Nós vimos que o Paris Saint-Germain tinha três jogadores. Mbappé, Messi e Neymar.
Esses três jogadores foram contratados, eles ganhavam mais do que todo o time atual do Paris Saint-Germain, que foi campeão da Champions League e os três não foram. E perderam para o Botafogo!
Por quê? Porque o Botafogo mostrou que futebol não é individualismo; é conjunto; é grupo; é comunidade. E nós, para vermos esse país crescer, nós temos que pensar assim. Nós somos passageiros no planeta Terra, mas a empresa de vocês não é. Vocês podem morrer, se Deus quiser que vocês morram, porque eu estou querendo viver até 120 anos.
Tá? Eu vou morrer, mas o Brasil continua. Agora é importante a gente saber que a gente precisa cuidar desse país. Não é jogar responsabilidade no Congresso Nacional ou jogar no Presidente da República, é jogar em nós.
Antes de eu perguntar “o que o Lula fez?”, eu tenho que perguntar “o que eu estou fazendo? Qual é a minha contribuição?” Esse país, a nossa carga tributária hoje aumenta. Ela é menor do que a que era em 2011.
Mesmo assim, eu estou cansado de ver empresários falarem da carga tributária. Só não fala de R$ 860 bilhões de desoneração fiscal. Mas fica olhando para o dinheiro da Educação para a gente cortar. Não é possível. Não vai dar certo.
Uns sempre muito ricos e a maioria sempre muito pobre. Qual é o prazer que a gente tem na vida?
Então, companheiros e companheiras, eu queria que vocês anotassem, sobretudo a imprensa, o que o Alexandre Silveira falou aqui.
Hoje, a gasolina brasileira é mais barata do que era vendida em 2022. Quanto?
[inaudível]
O óleo diesel hoje é mais barato do que há três anos atrás, apesar da inflação. E é possível a gente ir melhorando, sem bravata? Eu não quero brigar com ninguém.
Eu quero passar longe da guerra, sabe, de Israel e do Irã. Quero passar longe.
Eu não quero encrenca na minha vida. Minha mãe dizia para mim, “ô Lula, quando um não quer, dois não brigam”. E eu sou da paz.
Eu não quero guerra.
Agora, eu quero fazer esse país se transformar num país respeitado.
Vocês podem ajudar. E, para ajudar, a gente quer elevar o pessoal que está mais lá embaixo.
A gente não pode se conformar. A gente tem que ter o direito de se imaginar como é que o mundo gasta três trilhões [de dólares] de armas e não gasta três trilhões [de dólares] de comida. Como é que é possível? Onde é que está o espírito cristão desses empresários, desses dirigentes, desses políticos? Onde é que está a nossa compreensão de fraternidade?
E vou dizer para vocês, para terminar, a coisa mais barata no mundo é cuidar de pobres.
Vocês sabem o que é. Sabe, feliz é o empresário que, quando a empresa cresce, ele reconhece que foram os trabalhadores que fizeram ela crescer. Ganancioso é aquele que, quando a empresa cresce, ele acha “fui eu”. E não dá um mérito para aqueles que realmente fizeram ela crescer.
Todo mundo sabe. Eu gosto de todo mundo.
Eu chamo vocês de “companheiros” sem me preocupar se vocês gostam ou não. Eu chamo, porque é assim que eu aprendi na vida, a gostar de todo mundo.
Alexandre, você está comprometido a convocar uma reunião, em novembro ou dezembro, porque eu quero mostrar como esse país está. Esse país vai crescer em 2025. Vai crescer em 2026.
Vai gerar mais emprego. Vai gerar mais salário. E a gente vai tentar se transformar num país respeitado politicamente no mundo inteiro.
Eu tenho orgulho de ser o presidente mais respeitado que esse país já teve.
Quem viaja para o exterior sabe o respeito que o Brasil tem. Tenho muito orgulho de ter sido no meu governo, que fomos à França, para receber um certificado de um país de 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, de 260 milhões cabeças de gado.
O Brasil recebeu o certificado de um país livre de febre aftosa sem vacinação. Poderia ter sido outro, mas fui eu. E assim vai ser.
Na transição energética, vocês são parceiros fundamentais para a gente entrar nessa COP de cabeça erguida.
Ninguém vai me dizer, não vai explorar petróleo na margem equatorial. A gente vai tratar com muita seriedade.
A gente quer pesquisar, a gente quer ver se tem e, se tem, vamos tratar. Porque será o uso do petróleo que vai garantir o financiamento para esse país e para o mundo fazer a transição ecológica definitivamente e abrir mão do combustível fóssil – quando a gente estiver pronto para respirar do outro lado. Por isso, parabéns a vocês.
Parabéns, Alexandre, pelo trabalho feito. E eu espero que vocês continuem, espero que vocês continuem ajudando e incentivando o companheiro Alexandre, porque a pressão não é fácil.
Vocês sabem que têm interesses antagônicos, sempre, e é importante que vocês estejam alerta para ajudar as coisas a darem certo nesse país.
Um abraço e até outro dia. Se Deus quiser.