Transcrição do discurso do presidente Lula durante a formalização da solução habitacional para a Favela do Moinho, em São Paulo
Transmissão: Canal Gov
Queridas companheiras e queridos companheiros, esse é um dia muito importante, não para mim ou para o governo, mas é um dia importante para o povo brasileiro. E por que é um dia importante para o povo brasileiro? Porque a gente resolveu fazer reparação e justiça com vocês.
O que mais me incomodou foi quando a Miriam Belchior [secretária-executiva da Casa Civil], junto com a Esther [Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos], me procuraram para dizer que tinha matéria nos jornais de São Paulo dizendo que o Governo Federal estava protegendo gente do crime organizado. Porque na cabeça de muita gente da elite brasileira, pobre, e gente que mora em favela, é sempre considerado bandido.
Eles não tratam vocês como homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras que, como todo mundo, querem ter o desejo de ser felizes, querem ter o direito de construir família, querem ter o direito de morar bem, de trabalhar, de ter uma casa razoável para morar e de poder viver com a cabeça erguida neste país.
Quando a Miriam e a Esther me procuraram, eu disse que era preciso a gente tentar encontrar uma solução muito rápida, porque há muito tempo eu sei como o povo pobre é tratado neste país.
Vocês viram aqui que foi assinada uma portaria pela ministra Esther. Essa portaria não está fazendo ainda a cessão do terreno para o governo do Estado. Porque a minha preocupação é que se a gente fizer a cessão e eles tiverem que ocupar isso aqui amanhã, eles vão utilizar outra vez a polícia e vão tentar enxotar vocês, sem vocês conseguirem o que vocês queriam.
O que foi assinado aqui foi uma portaria, dando a esse moço aqui, que é o companheiro Jader [Barbalho Filho], ministro das Cidades, e a esse companheiro da Caixa Econômica Federal [Carlos Vieira, presidente da Caixa Econômica Federal], e ao SPU aqui em São Paulo [Superintendência do Patrimônio da União em São Paulo (SPU/SP)], para cuidar de trabalhar todo o acordo possível. Quando tiver pronto o acordo, a gente faz a cessão definitiva ao governo do Estado. Mas isso depois de provar que vocês foram tratados com decência, com respeito e que respeitaram a dignidade de cada um de vocês.
É por isso que a gente já não fez a cessão agora. O Jader vai ter que negociar, a Caixa Econômica, o SPU, negociar. Quando estiver tudo pronto,[quando] estiver certa a casa que vocês vão comprar, [quando] estiver certo o aluguel que vocês têm que pagar, antes do apartamento de vocês sair, aí a gente faz a cessão definitiva para o governo do Estado.
O governo do Estado disse que quer fazer uma praça aqui, um parque. Por mais que seja bonito um parque, ele não pode ser feito às custas do sofrimento de um ser humano. É importante que as pessoas que querem visitar esse parque, brincar nesse parque e passar domingo nesse parque, não venham pisotear sangue dos pobres que aqui foram agredidos para que eles fizessem. Vamos fazer com decência e com muita dignidade.
Eu queria só dizer para vocês que nós estamos aqui com uma equipe de gente que gosta de vocês. O ministro Fernando Haddad [Fazenda] foi prefeito de São Paulo. Ele tentou resolver isso aqui, mas na época que ele tentou resolver, esse terreno não tinha dono, não se sabia de quem ele era, por isso não foi possível a prefeitura resolver.
Nós estamos aqui com o ministro Márcio [França], do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, que é o ministro da Pequena e Média Empresa Brasileira, que já foi governador de São Paulo, substituindo o Alckmin [Geraldo, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] e que agora é ministro. Nós estamos com o companheiro Márcio [Macêdo], que é o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Nós estamos com o Carlos, que vocês já sabem, com a nossa Esther, que já falaram. Mas nós estamos aqui também com companheiros muito importantes. Nós temos aqui o senador Alexandre Giordano, que está aqui junto conosco. Nós temos aqui o deputado federal Alfredinho, o deputado federal Carlos Zarattini, que também já esteve aqui muitas vezes. O companheiro Guilherme Boulos [deputado federal], que também já esteve aqui muitas vezes. O nosso companheiro Jilmar Tatto [deputado federal], que também está aqui, e o Kiko Celeguim [deputado federal] também.
Nós temos aqui os deputados estaduais Antônio Donato, Ediane Maria, Eduardo Suplicy, Guilherme Cortez. Estamos aqui também, e a Paula [Nunes dos Santos], da bancada feminista do PSOL. Estamos aqui também com os vereadores Alessandro Guedes, Dheison Silva, Eliseu Gabriel, Hélio Rodrigues, João Ananias, Keit Lima, Luna Zarattini, Nabil Bonduki, que está aqui sentado aqui na frente, e a companheira Silvia [Ferraro], da bancada feminista do PSOL.
Além de todo esse pessoal, está aqui o companheiro Moisés [Selerges], que é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, do ABC e Diadema, e está aqui o Lula e a Janja [Lula da Silva, primeira-dama do Brasil]. Gente, olha, eu só queria dizer para vocês o seguinte: gente, muita atenção para que ninguém tente enganar vocês. Muita atenção.
Eu falei para o ministro Jader que ele tem que deixar o telefone dele com a liderança da comunidade, a ministra Esther, o Márcio, da Secretaria-Geral, e o telefone do meu companheiro Moraes [Valmir Moraes da Silva, chefe da Ajudância de Ordens], que trabalha comigo, para qualquer tentativa de engodo com vocês, qualquer tentativa de enganar, a gente tem que saber, e está ali no movimento também, que está aqui organizado, a gente tem que saber para a gente poder não permitir que vocês sejam maltratados nesse momento histórico em que vocês estão próximos de conseguir a casa, que é o sonho de todo ser humano ter uma casinha para morar e cuidar da sua família.
Vocês podem ter certeza que isso que nós estamos fazendo.
O governador foi convidado para vir aqui! Se ele não veio, parece que ele tem um compromisso em São Bernardo, mas ele foi convidado para vir aqui. Porque em todo lugar que eu vou, eu convido o governador. Eu só quero que vocês saibam: agora, vocês estão sob os cuidados do Governo Federal, e nós vamos respeitar vocês.
Eu só queria, Carlos, fazer um aviso para você, que é uma inquietação do pessoal. Você sabe que tem gente que gosta de tirar proveito da desgraça. Tem gente que gosta de tirar proveito da situação. A companheira estava contando que eles foram ver casas outro dia. A casa custava R$ 260 mil. Depois que saiu a notícia de que eles tinham dinheiro para comprar casa, teve casa que subiu para R$ 400 mil.
Então, é importante, é importante que a gente acompanhe isso com carinho, porque a gente não pode permitir que quem já foi explorado a vida inteira, quem já sofreu a vida inteira, seja explorado no momento mais delicado, em que a pessoa está prestes a acordar e realizar o seu sonho. A Caixa tem expertise nisso, a Caixa conhece muito bem isso, e a Caixa vai assumir o compromisso de acompanhar com vocês, porque a gente não quer que ninguém, ninguém, explore vocês mais do que vocês já foram explorados a vida inteira nesse país.
Portanto, gente, estejam com a benção de Deus, e podem ficar certos que nós estamos juntos. Um abraço e um beijo no coração.
Eu queria dizer mais uma coisinha. Tinha gente que defendia que a gente fosse fazer um ato público, e eu fui contra fazer ato público. Eu fui contra porque eu queria vir aqui dentro, eu queria visitar alguma casa, queria visitar a creche, e eu visitei.
Quando vocês tiverem, todo mundo, conquistado a casinha de vocês, aí sim nós vamos fazer uma festa com todo o povo do Moinho. Um abraço.
Tem uma reivindicação aqui, Carlos e Jader. Tem uma reivindicação aqui que é importante levar a sério. Tem uma torre, onde é que é a torre? Tem uma torre famosa aqui, e essa torre seria importante que não fosse derrubada. Essa torre... Essa torre do Moinho poderia ser transformada num memorial para que a gente possa contar para o povo brasileiro o heroísmo do povo do Moinho, que resistiu tanto tempo pelo direito à moradia.