Pronunciamento do Presidente Lula no lançamento do Defesa Civil Alerta para o Nordeste
Olha, eu queria, gente, dizer para vocês que... vocês veem que as coisas, às vezes, demoram mais do que a gente imagina [para acontecerem]. Quando nós criamos o Centro Nacional [da Defesa Civil], em 2005, nós estamos praticamente há 20 anos para inaugurar essa etapa extraordinária que é a gente tirando lições do avanço tecnológico que o mundo passa.
Eu acho que é extremamente importante porque muita gente acha que o Brasil é despreparado, que o Brasil não sabe fazer as coisas. E eu acho que a gente, criando um centro que coloca o Brasil com a política pública de defesa da vida, tão importante quanto qualquer outro país, ou mais importante que qualquer outro país, nos coloca na vanguarda de tentarmos ajudar outros países a fazerem o mesmo que nós estamos fazendo. Foi uma tarefa muito grande até chegar aqui.
Perdemos muitas vidas. Eu lembro que aquela nuvem da chuva que deu entre Pernambuco e Alagoas, eu lembro que tinha uma divergência entre a pessoa que estava na universidade, fazendo avaliação, viu uma nuvem negra no oceano, mas não sabia da dimensão daquela nuvem, e ela conseguiu destruir boa parte dos pobres lá em Alagoas e Pernambuco. Eu acho que agora a gente pode, com isso aqui, evitar os desastres. Eu acho que quanto mais vida a gente salvar, mais importante.
Essas coisas comigo vêm sempre da minha experiência de vida. Quando eu cheguei de Pernambuco a São Paulo, eu fui morar num bairro chamado Vila Carioca.
Era um bairro que tem uma avenida muito importante, a Presidente Wilson, que é muita indústria, tinha uma linha de ferro que ia até Jundiaí, e tinha muitos galpões para café, algodão e dava enchente. E nessas enchentes eu aproveitava, eu tinha 10 anos de idade, eu aproveitava para ganhar um dinheirinho.
Eu fazia umas pontes de madeira, os caras para sair, não queriam sujar o sapato, eu ia lá, “olha, quer atravessar a minha ponte aqui, dá um trocadinho aqui”. E assim, se o cara não der, eu não deixava ele atravessar. Foi uma coisa muito importante.
Depois eu morei em outro lugar, morei num lugar chamado Ponte Preta, divisa com a cidade de São Caetano, que tinha um riozinho chamado Rio dos Meninos. Eu mudei para uma casa nova, a casa cheirava a tinta nova, cara. Eu mudei, acho que em novembro.
Quando chegou em janeiro, deu uma chuva, entrou um metro e meio de água dentro da minha casa. Pela primeira vez eu tive a experiência de uma enchente dentro de casa. E o pior é que quando dá a primeira, a segunda é pior. Nunca diminui, é sempre aumentando. Eu era tão azarado naquele tempo que eu saí dessa casa, nós mudamos para uma vila chamada Vila São José, em São Caetano do Sul. Eu fui morar na tal da Rua Padre Mororó, era a rua da igreja.
E meu irmão tinha ganho numa quermesse em Pernambuco, ele e meu primo, ganharam um jipe. E esse jipe foi vendido e a gente comprou um terreno e começou a fazer uma casinha. E era um lugar alto.
Era em frente ao lugar que eu tinha morado que dava enchente. E era um lugar alto. Você acredita que quando eu mudei para casa, a chuva conseguiu atravessar para o lado da rua e encheu a minha casa outra vez de água.
Então, eu tenho uma convivência com essas coisas. E eu acho que, muitas vezes, as pessoas, sem nenhuma informação, a gente fica totalmente perdido. A gente não sabe para onde vai. A gente não sabe para onde levar as coisas da gente. Não tem ninguém, todo mundo está fugindo. Por isso que a orientação é boa.
Porque se tem um desespero e as pessoas saem sem orientação, a saída de forma desordenada complica mais do que ajuda. Então, eu acho que é muito importante a gente formar uma Defesa Civil profissional nesse país, em todas as cidades, todo prefeito adquirir consciência de que, mais dia, menos dia, ele vai precisar da Defesa Civil.
Então, é preciso ter um quadro de pessoas preparadas no município para eventuais problemas. Por isso, querido Waldez [Góes ministro da Integração e Desenvolvimento Regional], eu quero agradecer a você, a Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima], a Luciana [Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações], ao pessoal da Anatel, ao nosso companheiro do Ministério das Comunicações [Frederico de Siqueira Filho], aos nossos companheiros da Defesa Civil, de que é um trabalho inestimável que vocês estão prestando ao Brasil.
Eu espero que a gente venha aqui nesse mesmo lugar quando a gente for anunciar definitivamente o Centro-Oeste e o Norte do país, porque assim, quando o cara estiver do Oiapoque ao Chuí, de Natal até Boa Vista, a gente vai poder comunicar às pessoas que tem problema e a gente pode orientá-lo.