Pronunciamento do Presidente Lula no 60º CONUNE – Congresso da União Nacional dos Estudantes
Eu tenho dois pequenos problemas. Eu tenho dificuldade de falar quando eu como. Quando eu como, eu tenho muita dificuldade de falar, porque a minha força toda está digerindo, está fazendo um sacrifício enorme para eu digerir a comida. E outra dificuldade é quando eu estou com fome, que é agora. Porque já são duas horas da tarde, uma e meia, e eu já deveria estar viajando para Juazeiro da Bahia e depois Juazeiro do Ceará.
Eu fiquei aqui ouvindo os discursos dos companheiros e das companheiras e eu queria começar parabenizando a direção da UNE [União Nacional dos Estudantes] em nome da sua presidenta Manuella [Mirella]. Eu digo todo dia que eu sou muito grato a todo o papel que a UNE teve nos meus dois primeiros mandatos como presidente, nos mandatos da Dilma Rousseff [ex-presidenta da República] e, agora, nesse terceiro mandato. Porque a UNE é responsável pelo fato da gente ter conquistado tantas coisas no ensino deste país.
E eu sei que, muitas vezes, não foi fácil a UNE estar do nosso lado. Tinha oposição dentro da UNE e no movimento estudantil. E muita gente achava que algumas coisas que a gente queria fazer nas universidades, e eu lembro do Reuni [Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais], tinha um certo tipo de estudante, certamente nenhum está aqui, que achava que a gente aumentar de 12 para 18 alunos em média numa classe, nós íamos piorar a qualidade de ensino.
E a UNE enfrentou esse debate!
Também quando nós criamos o Prouni [Programa Universidade para Todos], muita gente dizia que a gente ia ajudar as universidades particulares, que a gente iria ajudar a burguesia brasileira que cuidava da educação.
A UNE também enfrentou esse debate!
Enfrentou e fez com que as pessoas compreendessem que, enquanto a gente não podia fazer as universidades, a gente estava dando oportunidade cobrando uma parcela da dívida que as particulares tinham com o governo e transformando em bolsa de estudos.
Eu tenho muito orgulho, mas muito orgulho, que em cada lugar que eu vou a coisa que as pessoas mais me agradecem é pai e mãe dizendo “obrigado, presidente, porque meu filho fez universidade”, é estudante dizendo “obrigado, porque eu consegui”. A UNE também me ajudou muito quando nós resolvemos fazer com que o Fies [Fundo de Financiamento Estudantil] funcionasse de verdade. O Fies não foi criado no meu governo. O Fies já existia.
Qual era o problema do Fies? É que quando o estudante ia na Caixa Econômica Federal pedir um crédito para ele estudar, a Caixa Econômica pedia um fiador. E quem é que quer ser fiador de estudantes? Quem quer?
Na fábrica, quando a gente vai precisar de um fiador, você chega num amigo teu: “Companheiro, eu estou mudando de casa, eu fui despejado de outra casa, você não quer ser meu fiador?”. O cara nunca diz “não”. Ele fala pra você: “Pode deixar, que eu vou conversar com a minha mulher”. No dia seguinte, ele chega e fala: “Minha mulher não deixou”. E como a gente sabia que nem pai quer ser fiador de um estudante – porque o pai não tem dinheiro – nós resolvemos que o Estado iria ser o fiador dos estudantes brasileiros que fossem pegar crédito do Fies.
Essas coisas não foram pequenas, porque em poucos anos nós dobramos o número de estudantes nas universidades brasileiras. De 3,5 milhões, hoje com quase 9 milhões de estudantes na universidade. É pouco, Manuella, proporcionalmente à nossa população, ainda é pouco, se a gente comparar o Chile, se a gente comparar à Argentina. Mas é muito diante daquilo que a elite brasileira não fez durante 400 anos.
Eu faço questão de repetir pra vocês, para vocês saberem o tipo de elite que dirigiu esse país em 500 anos. É importante vocês saberem: Santo Domingo, onde o navio de Colombo [Cristovão, explorador] chegou em 1492, na República Dominicana, teve a sua primeira universidade feita pelo Rei da Espanha em 1532. 40 anos depois que foi descoberta, a República Dominicana já tinha universidade federal.
Você sabe a nossa quanto foi criada? A nossa primeira universidade foi criada em 1920. 420 anos depois da descoberta.
Me parece que fica clara a diferença do avanço de outros países com relação ao Brasil, o que me parece que a elite brasileira achava que índio não precisava estudar, que escravo não precisava estudar e que os brancos pobres tinham que cortar cana também.
E eles não perceberam que isso levava o Brasil a um atraso que nós somos vítimas até hoje. Vocês pensam que eu tenho orgulho? Eu não tenho orgulho de dizer pra ninguém que eu não tenho diploma universitário. Isso não é motivo de orgulho para alguém dizer, mas eu não tenho diploma universitário.
Mas fui o presidente que mais fez universidade na história desse país, mais fizemos escolas técnicas e mais investimos na educação. Por uma razão simples. Quando eu cheguei na Presidência da República, eu tinha na minha imagem o fracasso do Wałęsa [Lech, ex-presidente e líder sindical da Polônia] na Polônia. O Wałęsa fez greve nos mesmos anos 80 que eu fiz, enquanto a gente fazia greve na Volkswagen, na Mercedes, na Ford, ele fazia greve no estaleiro de Gdansk.
Pois bem. Wałęsa foi eleito presidente da Polônia, apoiado pela elite internacional, aqueles que queriam derrubar o comunismo. Ele foi eleito, quatro anos depois ele foi candidato à reeleição. Teve 0,5% de votos. E eu tinha medo. “Será que a gente vai conseguir governar esse país? Será que a gente vai conseguir fazer aquilo que a gente mesmo reivindica?” Porque o desafio para nós da esquerda, para nós progressistas, pra nós democratas, o nosso papel não é atender aos outros, é atender à nossa própria reivindicação, é saber se a gente é capaz de fazer aquilo que nós reivindicamos dos outros. Esse era o meu desafio.
E é por isso que eu comecei a fazer universidade, fazer extensões universitárias, e é por isso que nós começamos a fazer Institutos Federais. Agora, quando terminar o meu mandato em 2026, nós vamos ter 782 institutos federais espalhados por esse país e ainda é pouco.
Em cem anos, a elite brasileira fez 140 e nós, em pouco mais de 15 anos, vamos fazer três vezes o que eles fizeram num século e ainda é pouco. Por isso que eu queria dizer pra vocês, uma coisa que vocês tem que ter claro, eu fico ouvindo os discursos, mas eu quero que nós pensemos estrategicamente o que a gente quer desse país.
Vocês precisam lembrar que, a esquerda toda que está aqui, não tem mais que 140 deputados no Congresso Nacional de 513 deputados. Vocês têm que lembrar disso. Vocês têm que lembrar que nós devemos ter 12 senadores em 81. E para gente aprovar alguma coisa, você tem que ter pelo menos metade.
Por que eu estou dizendo isso? Porque é preciso a gente transformar o nosso sonho, os nossos desejos, em ação. É preciso o PT [Partido dos Trabalhadores] se perguntar por que que o PT é capaz de eleger um presidente da República cinco vezes. Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República] e Dilma, e só fez 70 deputados federais.
Por que o PCdoB [Partido Comunista do Brasil] fez tão poucos deputados federais? por que o PSB [Partido Socialista Brasileiro] fez tão poucos deputados federais? Nós achamos que o nosso discurso é o verdadeiro. Será que o povo está nos compreendendo? Será que o povo está nos entendendo? Porque uma estratégia pra gente poder aprovar tudo o que a gente quer, é a gente ter uma maioria no Congresso Nacional.
Vamos pegar o México agora como exemplo. No México, eles fizeram uma vitória tão grande que até decidiram que o poder judiciário tem votação direta, é o povo que escolhe um juiz de primeira instância, de segunda instância e da Suprema Corte. Eu estou dizendo isso pra gente pensar.
Logo, logo a gente vai entrar no ano eleitoral e é preciso a gente saber com quantos deputados e senadores a gente quer sair a hora que abrir a urna. É preciso a gente saber porquê o povo que a gente pensa que tem desejo naquilo que a gente fala não vota nos deputados de esquerda, não vota nos senadores de esquerda.
Esse é um desafio para a UNE estudar, esse é um desafio para a juventude pensar. Porque se a gente não montar uma estratégia de como a gente vai fazer maioria nas prefeituras, nos governos do estado, a gente vai continuar reivindicando e a gente vai ter sempre dificuldades.
Isso é importante. Eu não estou falando apenas para os partidos de esquerda, não. Eu estou falando para aquele que não tem partido. Eu aprendi muito cedo que não tem nada mais ignorante do que você dizer que não é político. Não tem nada mais pobre do que você dizer, “eu não sou político”.
Porque nós somos políticos no dia que nascemos. Quando você chora, você está fazendo política. Quando você quer comer, você está fazendo política. E é importante que a gente transforme essa coisa que é da natureza, em coisas estrategicamente pensadas. Então, é importante, companheiros, vocês terem consciência. Vocês tiveram no governo do Lula e no governo da Dilma uma coisa que nenhum outro estudante teve na história desse país. Nenhum outro estudante. Porque, veja, não era possível.
Eu disse para o Camilo [Santana, ministro da Educação], “quantos ministros da educação vieram falar no Congresso da UNE? Quantos presidentes vieram ao Congresso da UNE? Eles não vão, porque têm medo e não atendem sequer os reitores”. A reitora sabe que nem ministro da Educação e nem Presidente, se não somos nós, não recebe reitor com medo de reivindicação. Pois eu queria dizer para vocês: reivindiquem enquanto é tempo de reivindicar, porque a gente pode fazer com que as coisas aconteçam nesse país.
Eu estava no final do meu primeiro mandato, em 2010, em Caruaru, inaugurando a faculdade de medicina e estava lá o companheiro da UNE, o ex-presidente da UNE. E ele falou assim para mim “ô Lula, eu não tenho mais do que reivindicar, você já atendeu tudo”. E eu falei: “Pelo amor de Deus, não diga isso publicamente. Prepara uma nova pauta de reivindicação, porque enquanto a gente estiver lá, é a chance que a gente tem de transformar as coisas que a gente acha que é bom, em realidade”. E a gente só pode transformar se a gente for governo, se a gente não for governo, a gente não consegue transformar.
Então, é importante que vocês, ao saírem daqui, comecem a pensar que Brasil vocês querem a partir de 2026, que Brasil vocês querem. E não adianta, a gente tem que conversar muito com a juventude, porque a juventude é muito vulnerável à chamada máquina das empresas digitais. Ela é muito vulnerável.
E é importante que ela consiga aprender a distinguir a mentira da verdade. Porque tem muito mais mentira do que verdade. E se a juventude não estiver ligada nessa luta, se a juventude não estiver disposta a não repassar bobagem e a tentar fazer com que as pessoas recebam apenas coisas que sejam importantes, a gente vai fazer uma eleição com base numa guerra da inteligência artificial e a gente sabe que o resultado pode ser nefasto. Pode acontecer no Brasil o que aconteceu nos Estados Unidos, o que aconteceu na Argentina.
E nós não queremos eleger ninguém via inteligência artificial, nós queremos eleger via inteligência humana, via compromisso de luta.
Eu não quero uma sociedade de algoritmos. Eu quero uma sociedade humanista. Eu não quero que a pessoa pense com o dedo, eu quero que a pessoa pense com a cabeça, eu quero que a pessoa pense com o coração, porque nós precisamos recuperar o humanismo para o ser humano, nós precisamos recuperar a fraternidade, nós precisamos recuperar o companheirismo, nós precisamos recuperar a solidariedade, nós precisamos aprender a voltar a viver em comunidade e sair do isolamento que a gente fica com o nosso celular.
O celular é o amigo da cabeceira da cama de muita gente. O celular é o amigo da cabeceira quando você acorda e quando você deita, quando você está almoçando, quando você vai no banheiro. É importante a gente aprender a construir companheiro de verdade de carne e osso.
É importante a gente saber que tem muita gente precisando de vocês. Eu tenho saudade do projeto Rondon [Projeto de Inclusão e Integração], Manuella. Eu tenho saudade do projeto Rondon. Eu tive o prazer de, no meu primeiro mandato, a UNE ainda fazer o projeto Rondon.
E eu acho que vocês da UNE poderiam fazer um “projeto periferia”. Eu acho que a UNE deveria montar equipes de estudantes para visitar as periferias para conversar com a juventude que não teve chance de estudar para tentar mostrar que vocês estão do lado deles, que vocês não são uma coisa alheia a eles.
É preciso a gente acreditar que a gente tem chance de mudar de verdade. Eu estava pensando o que ia falar para vocês e como todo mundo falou de soberania eu falei: mais um falar de soberania. Mas eu vou falar. Não pense que eu não vou falar, que eu vou falar.
Eu só queria chamar a atenção da forma mais carinhosa possível. Nós, se quisermos mudar o Brasil para colocar em prática aquilo que a gente pensa, nós vamos ter que mudar de atitudes. É preciso a gente trabalhar um pouco mais. É preciso a gente se dedicar a saber o que a gente vai querer.
O debate não pode ser só dentro da universidade.
O debate tem que sair da universidade e ir para a rua. Então, eu fico imaginando o papel que milhares de jovens como vocês, com muito conhecimento com muita cultura, pode fazer tentando ajudar a politizar a sociedade brasileira um pouco mais, porque senão ela será enganada pelos mentirosos.
Essa era a primeira coisa que eu queria dizer para vocês. Enquanto eu for presidente, Manuella, não tenha medo de fazer pauta de reivindicação, não tenha medo de cobrar, não tenha medo de nos convidar, que nós não deixaremos de visitar os congressos de vocês.
A segunda coisa é a questão da soberania desse país. Todo mundo aqui sabe que eu nasci na política fazendo greve. E, quando a gente faz greve, a gente faz acordo. Você faz uma greve para conquistar uma coisa. Se você não tem força para conquistar tudo que você quer, você é obrigado a fazer negociação.
Às vezes, você pede 100 e é obrigado a aceitar 50. Às vezes, você pede 50 e é obrigado a aceitar 30. Aquele cara que é covarde, aquele sindicalista covarde, ele começa uma greve, mas ele não tem coragem de parar, ele não tem coragem de reconhecer quando a coisa está ruim, ele não tem coragem de dizer, porque como ele falou muita bobagem ao começar a greve, ele não tem coragem de voltar atrás.
E eu, e aqui tem o Wagner [Jaques, senador da República] que foi dirigente sindical, nós somos de uma espécie de dirigente sindical, que a mesma coragem que a gente tem de dizer “vamos entrar de greve” a gente tem de “vamos parar a greve”. Esse é o líder, é aquele que comanda nos maus e nos bons momentos.
Então, eu queria dizer para vocês uma coisa: eu nasci aprendendo a fazer negociação, eu tenho certeza que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida. Jamais. Se tem uma coisa que eu sei na vida é negociar.
E é por isso que o Brasil é o defensor do multilateralismo, porque depois da Segunda Guerra Mundial o multilateralismo permitiu que os estados pudessem viver mais ou menos em harmonia, com respeito à soberania de cada estado. Nada é conseguido na marra, mas tudo é conseguido com a boa conversa, com a boa disputa de conhecimento.
Pois bem, o Brasil tem 201 anos de relações diplomáticas com os Estados Unidos. Não são 200 dias, são 201 anos.
O Brasil tem um déficit comercial de serviço e de comércio de US$ 410 bilhões em 15 anos. Portanto, os Estados Unidos é muito superavitário com relação ao Brasil. É por isso que a gente não aceita a ideia do presidente mandar uma carta via o e-mail dele dizendo que, “a partir do dia 1º, se não libertar o Bolsonaro [Jair, ex-presidente da República], vai taxar em 50%”. Nós vamos responder da forma mais civilizada possível e da forma que um democrata responde.
A primeira coisa é que nós não aceitamos que ninguém, ninguém, de nenhum país fora do Brasil, se meta nos nossos problemas internos, que é dos brasileiros.
É a primeira vez na história desse país que nós temos três generais de quatro estrelas presos. É a primeira vez na história desse país! E não estão presos à toa, estão presos porque tentaram dar um golpe. Inclusive com insinuações de que era preciso matar o Lula, matar o Alexandre Moraes [ministro do Supremo Tribunal Federal] e matar o meu vice [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços]. Não tiveram coragem de fazer, possivelmente porque no dia da posse tinha muita gente.
Então, essa gente vai ser julgada. Não vai ser julgada porque o Lula quer que ele seja julgado. Eu não sou juiz.
Vai ser julgada porque eles mesmos se autodelataram e quem está julgando eles são os ministros da Suprema Corte, com base nos autos do processo. E eu disse ontem para a imprensa: “se o Trump [Donald, presidente dos Estados Unidos] morasse no Brasil e ele tentasse fazer aqui no Brasil o que ele fez no Capitólio, certamente ele também seria julgado e poderia ser preso. Certamente”.
A segunda coisa, além de pedir de forma desrespeitosa que a gente não mexesse com o Bolsonaro, que ele não é amigo do Bolsonaro, ele disse na televisão ontem: “Não sou amigo dele, mas ele é boa gente, ele fez o bem para o Brasil”. Ele fez o bem para o Brasil e todo mundo aqui sabe qual foi o bem que ele fez para o Brasil, todo mundo sabe. Ele ainda vai ser processado pela covid-19, pela quantidade de gente que morreu sob a responsabilidade da irresponsabilidade dele.
Agora, manda o filho dele para os Estados Unidos. “Vai lá, vai lá pedir para o Trump me absolver. Vai lá, vai lá pedir, vai”. E fica abraçado na bandeira americana, esse patriota falso. Nós vamos tomar a bandeira verde e amarela. A bandeira verde e amarela vai voltar a ser do povo brasileiro. O Bolsonaro se abraça na bandeira americana. Transfira seu título para lá e vai votar lá, porque aqui quem manda somos nós brasileiros.
Uma outra coisa grave que ele falou, primeiro ele não tinha informação da questão comercial, eles são superavitários. Segundo, ele disse “eu não quero que as empresas americanas, as empresas de plataforma sejam cobradas no Brasil”. Dizer uma coisa. O mundo tem que saber o seguinte: esse país só é soberano porque o povo brasileiro tem orgulho desse país. E eu queria dizer para vocês que a gente vai julgar e vai cobrar imposto das empresas americanas digitais.
Nós não aceitamos que, em nome da liberdade de expressão, você fique utilizando para fazer agressão, para fazer mentira, para prejudicar, [para gerar] violência contra a criança, ódio entre as crianças, violência contra as mulheres, violência contra os negros, violência contra LGBTQIA+. Ou seja, tudo que é tipo de violência, aqui a gente não vai permitir, porque o dono do Brasil é o povo brasileiro e nós não vamos permitir que as nossas crianças sejam vítimas de coisas que não estão sob nosso controle.
Então, é importante, companheiros, ter em conta que eu sou um cara que gosta de negociar. Nesses dois anos, eu já tive reunião com 54 países da União Africana, eu já tive reunião com todos os países da União Europeia, eu já tive reunião com a China, com o Japão, com o Vietnã, já me reuni com toda a América Latina, já me reuni com todo o Caribe, vou em outubro para a ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático], já fizemos o melhor G20 do mundo, já fizemos o melhor BRICS do mundo, vamos fazer a melhor COP30 do mundo e vamos testar se os dirigentes atuais acreditam ou não na ciência de que o mundo está com um problema sério de sobrevivência.
Vamos ver se eles acreditam, ou não na ciência, porque essa COP que o Brasil vai fazer, vai ser feita no coração da Amazônia. Porque tem muita gente que fala da Amazônia no exterior, mas eles não levam em conta que embaixo de cada copa de árvore tem um seringueiro, tem um extrativista, tem um indígena, tem um pescador, tem um pequeno trabalhador rural que precisa sobreviver. Eles que paguem para a gente poder manter a nossa floresta em pé, porque a deles, eles já derrubaram; a deles, eles já queimaram.
Então, nós não aceitamos que ninguém venha nos dar lição. Conselho a gente até aceita, mas lição nós não aceitamos.
Por último, eu queria dizer para vocês que nós estamos com muita tranquilidade. O meu vice-presidente e o ministro das Relações Exteriores [Mauro Vieira] estão negociando há mais de dois meses, desde aquela primeira taxação de 10%, nós temos uma equipe de negociação: Alckmin e Mauro Vieira.
Dia 16 de maio, a gente mandou uma carta para a equipe dos Estados Unidos, uma carta com as coisas que nós achávamos que poderiam ser feito acordos. Não recebemos nenhuma resposta. A resposta que nós recebemos foi a matéria publicada no jornal, no e-mail dele, na rede dele, no portal dele, porque ele não se dignou sequer a mandar uma carta como a gente manda para outro presidente da República.
E nos intimando. A carta não fala em negociação, a carta é a seguinte: “ou dá ou desce”.
É essa a lógica da carta. Ou libera o Bolsonaro, porque o filho dele está aqui me enchendo o saco: “liberta meu pai, liberta meu pai, liberta meu pai”. Eles, na verdade, agora têm que ser tratados por nós como os traidores do século XX e do século XXI da história desse país. Ele que não venha mais falar da bandeira verde e amarela, ele que tem a vergonha, se esconde na sua covardia e deixe esse país viver em paz, porque eles não tiveram nenhuma preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer ao povo brasileiro, que vai trazer à indústria, à agricultura, aos serviços, aos salários do povo. Nenhuma preocupação.
Então, eu estou muito tranquilo. Eu sou jogador de truco. Quando o cara truca, a gente tem que escolher: eu corro ou eu grito “seis” na orelha dele. Então, eu estou jogando. O Brasil gosta de negociação, o Brasil respeita a negociação, o Brasil respeita o diálogo, o Brasil não tem contencioso com nenhum país do mundo.
Mas um cara que nasceu em Caetés, chegou em São Paulo com sete anos de idade, comeu pão pela primeira vez com sete anos, sobreviveu criado por uma mãe com oito filhos, chegou à Presidência da República, não é um gringo que vai dar uma ordem a esse Presidente da República. Não é.
Eu tenho um patrono nesse país. Eu sei a quem eu devo respeitar nesse país, eu sei quem é que manda nesse país, eu sei quem faz esse país ser o que é. O nome dessa pessoa só tem quatro letras, chama-se povo brasileiro. É a ele que nós respeitaremos e é por conta dele que a gente vai lutar para que o Brasil seja respeitado nos Estados Unidos e no mundo inteiro, como já é.
Um abraço, bom congresso e até o próximo congresso da UNE.