Pronunciamento do presidente Lula durante lançamento do Plano Safra para a Agricultura Familiar 2025/2026
Meu querido companheiro Geraldo Alckmin, vice-presidente da República; companheiros ministros e ministras aqui presentes; companheiros deputados; senadores aqui presentes; deputadas; companheiros e companheiras do movimento social que lutam para tentar melhorar esse país.
Hoje é um dia de alegria. Tem um ditado que diz que o Brasil é um país em que “tudo que se planta, dá”.
E esse governo é um governo em que tudo que é reivindicado acontece. Mais cedo ou mais tarde, as coisas acontecem, porque nós somos o resultado do aumento do grau de consciência política da sociedade brasileira. E, a cada conquista, a sociedade vai aprendendo que é possível novas conquistas, vai aprendendo a reivindicar mais.
E a gente não tem que ficar reclamando com as reivindicações. A gente tem que saber que as reivindicações são novas descobertas que as pessoas fazem de coisas que eles querem que seja feito para eles. É como um cientista que a cada dia faz uma pesquisa e encontra alguma coisa nova. Reivindicar é exatamente isso.
Portanto, esse Plano Safra anunciado agora pelo Paulo Teixeira [ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar] é o resultado daquilo que vocês adquiriram de consciência nesse período todo. Vocês aprenderam como é lidar com um governo democrático e aprenderam como é lidar com um governo que não é democrático.
Se eu perguntasse para vocês, nos últimos dez anos, vocês só voltaram a entrar neste Palácio do Planalto, para discutir a reivindicação de vocês, quando eu voltei à presidência da República. Porque, normalmente, a agricultura familiar é composta por um contingente muito grande de homens e mulheres nesse país. Nós temos quase 5 milhões de pequenos proprietários e pequenas proprietárias que têm, no máximo, até 100 hectares.
E, desses quase 5 milhões que têm até 100 hectares, nós temos, pelo menos, mais de 2 milhões e meio de pessoas que têm, no máximo, até 10 hectares. E, se a gente for continuar abaixando, a gente vai ver que tem muita gente que tem 2, 3 hectares. E é essa gente que mais necessita que cada vez mais a gente faça inovação para encontrar um jeito de transformá-los em uma pessoa mais produtiva.
Mais produtiva para si, mais produtiva para a sua cidade, para o seu estado e para o seu país. Eu lembro, Paulo Teixeira, que quando nós criamos o programa Mais Alimentos, em 2008, a gente conseguiu, naquele período, um sucesso extraordinário, porque foi o programa Mais Alimentos que fez com que sobrevivesse a indústria automobilística naquele instante que estava vivendo uma crise e que nós conseguimos vender 80 mil tratores de até 80 cavalos [de potência].
E a mesma coisa está acontecendo agora.
Ou seja, se a gente não criar as condições, se a gente não provocar o empresário para que ele possa produzir máquinas de acordo com o tamanho da terra, porque um cidadão que tem 10 hectares, ele não pode comprar uma máquina daquela que tem 50 metros de largura, que corre um campo de futebol cada vez que liga o motor. Não. Ele precisa de uma máquina do tamanho da terra dele para ser uma máquina para colher, limpar, capinar o tamanho da terra dele.
E aí, quando ele tem essa máquina, ele aumenta a sua produtividade e essa produtividade aumenta a qualidade de vida dele, da família, e aumenta a possibilidade de melhorar o conjunto da sociedade naquela comunidade. Esse é o objetivo final: é fazer com que as pessoas melhorem de vida a partir das possibilidades que o governo pode compartilhar com eles e oferecer.
Uma coisa, Haddad [Fernando, ministro da Fazenda], que você precisa falar mais e nós precisamos falar mais, porque aqui a gente fala muito na taxa de juros. Taxa de juros, taxa de juros. Todo mundo fala na taxa de juros. Todo mundo fica olhando o aumento da Selic para dizer que o mundo está uma desgraça por causa da taxa Selic.
Eu vi a apresentação do Paulo Teixeira e eu vi lá uma quantidade de juros de 3%. Juros 2,5%. Aliás, acho que a taxa mais alta que eu vi aí foi 5%.
É importante registrar que uma taxa de juros a 5%, em uma inflação de 5%, é taxa de juros zero. É importante lembrar que uma taxa de juros a 3% em um país com uma inflação de 5% significa menos 2%. É menos que juros zero. E isso está permeado por toda a agricultura familiar.
Se você for olhar a agricultura empresarial, também as pessoas se queixam. “Mas a taxa de juros está muito cara”. Pois bem, se você pegar um juro a 14% ao ano e você descontar 5% de inflação, esse juro vai ser 9%. Está longe de ser a taxa Selic.
Então, é importante que a gente aprenda a falar essas coisas para as pessoas se darem conta de que os nossos bancos estão fazendo aquilo que historicamente não se fazia nesse país.
É por isso que o programa ganhou densidade nacional. Porque, quando eu fui presidente, da primeira vez, 90% do Pronaf era para Rio Grande do Sul, que era um estado mais especialista, as pessoas tinham mais preparação para receber o Pronaf.
Depois um pouco Santa Catarina, um pouco Paraná, um pouco São Paulo e parava por aí. Hoje, pelo quadro que o Paulo Teixeira mostrou, nós chegamos a 100% do território nacional. A 100% do território nacional, porque o Pronaf é exatamente para isso: é para ajudar as pessoas que trabalham no campo, mas entre as pessoas, a gente precisa fazer com que o dinheiro chegue aos que mais precisam. Essa é a lógica do programa e essa é a lógica do sucesso.
E o Mais Alimento vai ter um monte de máquina ali que eu não vou poder ver, Paulinho, se ficar aí, mais tarde, eu posso até voltar para ver. Mas o nosso objetivo é fazer com que se produza máquinas nesse país que atendam às necessidades do pequeno produtor. O grande já tem. O grande tem máquina que a máquina sozinha é maior do que a propriedade de vocês.
E que bom que ele tenha. E que o governo também financia. E financia a taxa de juros mais barata.
Eu gostaria que todos os juros fossem zero. Mas ainda não depende da nossa política econômica que não tem muito a ver com a taxação de juros. O Banco Central é independente, o Galípolo [Gabriel, presidente do Banco Central] é um presidente muito sério e eu tenho certeza que as coisas vão ser corrigidas com o passar do tempo.
Nós sabemos o que nós herdamos e nós não queremos ficar chorando o que nós herdamos. Nós queremos mostrar o que vai vir pela frente. E o que vai vir pela frente é mais produção de alimento.
O Paulo falou de uma vaquinha que ele vai fazer inseminação com embrião e que a vaquinha de três litros vai passar a produzir 25 litros de leite. Eu, Paulo, vou contar para você. Quero ser convidado para ir colocar um embrião desse. E vou esperar essa bezerrinha nascer. Vou esperar essa vaca crescer para saber se ela vai dar os 25 litros de leite que você está falando. Se essa vaca der os 25 litros de leite, eu vou comprar essa vaca sua, Paulinho. Eu vou comprar.
Pois bem, companheiros. Eu só queria que vocês tivessem certeza de que o trabalho é muito árduo. O trabalho é muito duro para a gente fazer com que os benefícios cheguem ao conjunto da população brasileira.
Eu tenho tentado convencer os empresários de que é importante, é muito importante, que eles torçam para que os mais pobres cresçam. Porque, quando os mais pobres crescerem, vão virar mais consumidores, vão comprar mais coisas, mais comida, mais roupa, mais máquinas, mais televisão, mais computador, vão viajar, vão comprar carro novo.
Ou seja, quando os pobres melhoram, o país melhora. Esse é um dado concreto que nós temos que ter consciência.
Você viu aquela companheira bonita que está ali com aquele chapéu? Até pensei que ela ia me dar o chapéu, mas ela foi só para mostrar o chapéu. Pois bem, aquela moça foi chorando ali porque ela conseguiu uma coisa que há 30 anos, há vinte, a gente não conseguia.
Ou seja, fazer com que um filho de um pequeno produtor rural pudesse cursar uma universidade federal, pudesse cursar um Instituto Federal, pudesse ter uma profissão. É para isso que a gente ganhou as eleições. Nós queremos fazer com que esse país se transforme num país justo.
E ele começa a ser justo pela tributação. E depois ele continua a ser justo pela repartição.
E é por isso que nós estamos fazendo o imposto de renda até R$ 5 mil de isenção.
É por isso que a gente vai fazer que quem consome até 80 quilowatts de energia não pague energia. E quem consome até 120 quilowatts pague menos.
É por isso que a gente vai fazer com que o gás chegue mais barato na casa das pessoas.
E isso para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Ninguém quer que as pessoas vivam a vida inteira de Bolsa Família. Ninguém quer.
O que nós queremos é que a pessoa viva tranquilamente, às custas da sua capacidade profissional, às custas da sua capacidade produtiva. E o papel do Estado é fazer com que essas pessoas tenham a oportunidade de chegar lá.
Eu digo sempre para as pessoas, companheiros, o seguinte: se um pernambucano, que saiu de Caetés, em 1952, com sete anos de idade, para não morrer de fome, chegou a ser presidente da República, o que é que vocês não podem? O que é que vocês não podem?
A gente pode o que a gente quiser. É só a gente querer. É a gente não desistir!
Se uma coisa está difícil hoje, amanhã ela poderá não estar difícil, a depender do trabalho que a gente faz. Nós é que temos que ter consciência que nós somos a mola propulsora desse crescimento, das coisas boas que vão acontecer no país.
E nós temos muitas coisas boas para acontecer no país. E vocês sabem que nós vamos continuar teimando, nós vamos continuar fazendo, nós vamos continuar dando preferência para que as mulheres tenham mais crédito. Nós vamos continuar lutando para terminar a violência contra a mulher, nós vamos continuar lutando para terminar o feminicídio, nós vamos continuar lutando para que vocês possam trabalhar mais, ganhar mais, viver mais, comer mais, e ter muito mais alegria, muito prazer na vida.
Eu fico muito feliz quando vejo alguém se queixar: “ô, Lula, o aeroporto está voltando a ser uma rodoviária”. E é rodoviária porque vocês estão conseguindo, outra vez, viajar de avião. É isso que incomoda, incomoda algumas pessoas. A mim, quanto mais gente tiver no aeroporto, melhor. Quanto mais vocês puderem viajar, melhor.
Aliás, Haddad, uma notícia boa, só para você ter ideia. Nós vamos, pela primeira vez, chegar a 10 milhões de turistas estrangeiros visitando o Brasil esse ano. A primeira vez!
Não é que o Brasil está ficando mais bonito e melhor. Não. É que as pessoas estão conhecendo mais.
Você tinha um presidente da República que nunca recebeu um outro presidente, porque disse que a mulher do presidente era velha. Você imagina quem é que teria prazer de vir nesse país. Agora, não. Agora, quem quiser vir aqui, tem um presidente para receber as pessoas de braços abertos e dizer “que o melhor do Brasil é o povo brasileiro”. Conheça o nosso povo para você perceber que vale a pena conhecer o Brasil.
Portanto, eu quero, Paulo Teixeira, parabenizar você e a tua equipe. Quero parabenizar, Haddad, você e a sua equipe. Quero parabenizar as pessoas que trabalharam nesse plano, porque esse plano, ele é muito bom, mas está longe de ser aquilo que é o plano perfeito que nós buscamos.
Eu tenho certeza que o ano que vem, vocês vão vir com muito mais novidade, com muito mais coisinha, com muito mais coisa, porque é assim a vida. É assim. Quanto mais a comida está gostosa, mais a gente quer repetir. Quanto mais a gente conquista uma coisa, mais a gente quer melhorar aquela coisa que a gente conquista.
Portanto, queridas amigas e queridos amigos, não parem de reivindicar. A reivindicação de vocês é a certeza de que nós não vamos deixar de fazer aquilo que vocês acreditaram.
Parabéns a vocês. Parabéns, Paulo Teixeira. Parabéns, Haddad.
E parabéns ao povo trabalhador do campo. Um abraço!
Eu vou pedir desculpas, porque eu não vou poder descer lá para ver as máquinas. Vou ver se eu vejo depois as máquinas, porque eu tenho um compromisso urgente agora.