Pronunciamento do presidente Lula no Dia do Meio Ambiente
Eu, primeiro, quero dizer aos deputados e senadores que ajudaram a aprovar a Lei de Cotas, que a gente nunca pode perder a esperança de que a gente pode conquistar as coisas.
Por mais difícil que seja, essa é a história da Humanidade. Ninguém nunca ganhou tudo de uma vez. E as coisas são ganhas aos pedacinhos, aos pedacinhos, aos pedacinhos, até que um dia a gente consegue concluir o todo desse mundo que nós queremos ter para melhorar a vida de todo mundo.
É muito significativo que o Brasil caminha a passos largos e só caminha quando a gente chega ao governo. É importante ter clareza disso, de permitir que esse país, um dia, possa ter uma sociedade com a cara da própria sociedade nas repartições públicas brasileiras, no Ministério Público, no Itamaraty, na Procuradoria-Geral, na Fazenda, na Receita, em tudo quanto é lugar é preciso que tenha a cara da sociedade.
E ainda nós temos poucas mulheres, ainda temos poucos negros, ainda temos quase que nenhum indígena. Isso é resultado de uma briga que nós precisamos travar todo santo dia. Não tem trégua. A luta da Humanidade, ela é infinita, ela nunca termina. Nunca.
Ou seja, é mais ou menos como a Muralha da China, mas ela um dia terminou porque eles pararam de fazer. E a Humanidade não para de lutar. Essa é uma coisa importante, por isso eu quero dar os parabéns a todos vocês que trabalharam muito, muito, muito, para que isso fosse aprovado.
Outra coisa é a questão do financiamento. Eu, ali, represento os 56 centavos que o Aloizio Mercadante [presidente do BNDES] falou. São R$ 825 milhões, 732 mil, 460 reais, 56 centavos e mais o quê? Não tem mais nada. Isso aqui é resultado, sabe do quê? Da seriedade da luta contra o desmatamento.
Na medida que a gente vai fazendo as coisas que a gente promete, na medida que a gente vai fazendo as coisas certas a fazer, há gente que reconhece o que a gente está fazendo e as pessoas começam a aportar recursos para que a gente faça mais.
Eu não tenho dúvida nenhuma, que poucos países do mundo têm trabalhado de forma incansável para atingir não a meta que alguém nos impôs, a meta que nós nos impusemos.
Porque nós somos um governo que acredita que existe uma crise climática de verdade, não é fantasia de academia, não é fantasia de ninguém, é a pura realidade que está acontecendo no mundo nesse momento. Porque o ser humano é o único animal existente no planeta Terra capaz de trabalhar para destruir a mesa que ele come, a casa que ele mora e a família que ele tem. Não existe outro animal como o ser humano.
Então é importante a gente saber que a gente está dando uma demonstração de civilidade ao mundo. Nós vamos fazer aquilo que nós achamos que é importante para o Brasil. Nós queremos preservar a Amazônia por nossa conta, mas se alguém de fora quiser nos ajudar, nós iremos receber com muito carinho toda e qualquer ajuda do mundo.
Porque as pessoas aos poucos vão compreendendo que nos anos 80 eu viajava o mundo, Marina [Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima], e as pessoas falavam que a Amazônia era o coração do planeta. E eu dizia: “mas a nossa dívida externa é a pneumonia. Então vocês têm que ajudar a gente com a nossa dívida para a gente poder cuidar da Amazônia”.
Hoje, as pessoas estão compreendendo que é muito bonito a gente defender a Amazônia, mas tem que saber que embaixo de cada copa daquelas árvores tem uma necessidade humana ou uma necessidade animal. A gente precisa de uma ajuda para poder preservar. Ali tem indígena, ali tem seringueiro, ali tem extrativista, ali tem pescador, ali tem trabalhador rural. Ali está a camada mais pobre da população brasileira, e possivelmente a menos assistida no campo da educação, no campo da saúde.
E é por isso que a gente tem que exigir dinheiro, porque a contrapartida de preservar tem que ser mais remunerada do que a conta de destituir. Se o madeireiro ganha dinheiro para destruir, nós precisamos pagar dinheiro para quem não quiser destruir.
Essa é a lógica nossa. Porque ainda hoje a gente vê o debate, Marina, de que os indígenas já têm 13% do território nacional, 14% do território nacional. As pessoas são tão medíocres, que esquecem que eles já tiveram 100%. Eles não conquistaram 14%. Na verdade, nós que tomamos 86% do território, que até então era só indígena.
Então, ao invés de reclamar, nós precisamos dar sinais de que a gente quer ajudar, não apenas a preservar os indígenas, mas fazer com que a comunidade indígena volte a crescer com qualidade de vida, crescer com educação, crescer com oportunidade, crescer com saúde, crescer com comida.
Porque também não é só largá-los no meio do mato e achar que estamos preservando. Se a gente os largar, a gente não está preservando. A gente está permitindo que eles sejam destruídos.
Então, esse é o mundo que a gente está vivendo hoje. E é importante que na COP30 a gente, mais uma vez, dê uma demonstração: nós não somos os mais ricos do mundo, mas nós não queremos destruir. Nós queremos construir. Esse país não é exportador de bomba atômica. Esse país não é exportador de muitos dos gases que causam mal ao planeta.
O que nós queremos é trabalhar com seriedade e que todo mundo faça aquilo que a gente está fazendo. Nós não tivemos medo de apresentar nossas NDCs [Contribuições Nacionalmente Determinadas]. Ela é corajosa, como foi corajosa a decisão de que a gente vai acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030.
Não foi ninguém que pediu para a gente fazer.
Nós é que decidimos que era possível fazer.
E aí nós temos que conversar com prefeitos, com governadores, com todo mundo da sociedade que possa dar uma chance de contribuição. Porque essa é uma coisa que a gente vai ter que começar a colocar no currículo escolar.
É preciso que a gente aprenda que o currículo escolar não pode continuar sendo o mesmo sem levar em conta a evolução da Humanidade, as necessidades da Humanidade e as coisas novas que acontecem na vida da Humanidade.
Muitas vezes, uma lei não tem a capacidade de influenciar o que uma criança pode fazer dentro da sua casa com o seu pai ou com a sua mãe. E aí vale para muitas outras coisas. E eu acho que é isso que nós temos que fazer, colocar essa questão ambiental com muita força no currículo escolar para que as nossas crianças consigam ensinar aos pais a lição que eles não tiveram dos pais deles. É assim que caminha a Humanidade e é assim que vai ser.
A segunda coisa é essa quantidade de decreto que nós estamos assinando aqui. De vez em quando, a gente vê pessoas reclamarem e reclamarem porque “é difícil fazer tal coisa, é difícil fazer tal coisa”. É difícil fazer tal coisa. Eu estou querendo fazer a praça aqui, consertar essa praça aqui, Marina, desde a tentativa de golpe de 8 de janeiro. E é difícil porque tem uma burocracia complicada. Todo mundo sabe o que tem de burocracia.
Eu disse hoje na entrevista que as pessoas se esquecem que as cobranças que a gente faz ao Ibama, muitas delas com razão, mas também sem compreensão, é que nós voltamos a governar esse país em 2023. O Ibama tinha 700 funcionários a menos do que tinha em 2010.
Então não é possível você exigir, sem fazer concurso público, que também passou 13 anos sem ter concurso público, que a gente possa consertar esse país.
Mas nós estamos consertando.
Vocês podem ter certeza que a gente vai entregar socialmente, ambientalmente, salarialmente, tudo o que a gente quiser, esse país melhor do que nós encontramos – infinitamente melhor. De qualquer ponto de vista que a gente quiser analisar.
Não vamos fazer tudo. Mas vamos fazer o que está ao nosso alcance.
Parabéns a todos vocês.