Discurso do presidente Lula na sessão ampliada da Cúpula do G7, no Canadá (segunda intervenção)
A transição energética já é uma realidade, mas há muito a fazer para que seja justa.
Segundo a Agência Internacional de Energia, dois bilhões de pessoas não dispõem de combustíveis limpos para cozinhar alimentos.
Cerca de 700 milhões não têm acesso à eletricidade.
É como se as populações de Brasil, Estados Unidos, Canadá, México e França somadas vivessem às escuras.
Não é possível reverter esse quadro sem cooperação.
Uma transição energética inclusiva depende sobretudo de recursos.
Mas enfrentamos um cenário desolador de escassez de financiamento.
Às promessas não cumpridas somam-se cortes e retrocessos deliberados.
O Protocolo de Quioto foi um símbolo do nosso fracasso coletivo.
Os cem bilhões anuais previstos na COP15 de Copenhague jamais foram atingidos.
Em 2024, países ricos reduziram em 7,1% sua Ajuda Oficial ao Desenvolvimento.
No ano passado, saímos da COP de Baku com resultados decepcionantes.
Por meio do mapa do caminho Baku-Belém, a presidência brasileira da COP30 e o Azerbaijão estão trabalhando para reverter esse quadro.
Esperamos que os esforços do governo espanhol obtenham desfecho mais animador na Conferência de Sevilha sobre Financiamento para o Desenvolvimento no final deste mês.
As despesas militares aumentaram 9,4% no ano passado.
Isso mostra que é vontade política – e não dinheiro – o que está em falta.
A cooperação tributária internacional é outra frente crucial para reduzir desigualdades.
Taxar 2% sobre o patrimônio de indivíduos super-ricos poderia gerar 250 bilhões de dólares ao ano para enfrentar os desafios sociais e ambientais do nosso tempo.
Os membros do G7 detêm mais de 40% do poder de voto no Banco Mundial e no FMI.
Tornar essas instituições mais representativas é crucial para aproximá-las das necessidades do Sul Global.
Países endividados não dispõem de meios para transformar suas matrizes energéticas.
Instrumentos como a troca de dívida por desenvolvimento e a emissão de direitos especiais de saque podem mobilizar recursos valiosos.
É urgente desburocratizar o acesso a fundos climáticos e investir em mecanismos inovadores.
Ao longo de anos, os países ricos, maiores responsáveis pela mudança do clima, demandaram ação dos países em desenvolvimento na preservação de nossas florestas.
Estamos desenvolvendo uma ferramenta que nos permitirá proteger esses biomas por meio de incentivos positivos, sem recorrer a medidas punitivas.
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que lançaremos em Belém, vai remunerar os serviços ecossistêmicos que prestamos ao planeta.
O mundo precisará de novas fontes para suprir a demanda energética da revolução digital.
Novas tecnologias estão concentradas, de forma sem precedentes, nas mãos de um pequeno número de pessoas e de empresas, sediadas em um número ainda menor de países.
O BRICS está unido em defesa da governança multilateral da Inteligência Artificial, necessária para que seu avanço ocorra em favor de toda a humanidade e do meio ambiente.
É impossível seguir indefinidamente com um modelo de crescimento baseado nos combustíveis fósseis.
As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) são imprescindíveis para forjar novos paradigmas de desenvolvimento.
Sem metas ambiciosas não impediremos que o aquecimento global supere um grau e meio.
Poucos países estão em dia com essa obrigação.
O Brasil reduzirá suas emissões entre 59 e 67% até 2035 em todos os setores econômicos, abrangendo todos os gases de efeito estufa.
Conto com a participação de todos os presentes na COP30 em pleno coração da Amazônia.
Belém será um teste para os líderes globais mostrarem a seriedade de seu compromisso com o futuro das pessoas e do planeta.
Obrigado.