Pronunciamento do presidente Lula no lançamento do Programa Solo Vivo
Queridas companheiras e queridos companheiros, eu não vou precisar ler a nominata porque todo mundo já falou o nome de todo mundo aqui e eu determinei que a gente só ia ter cinco minutos para falar e eu tenho que cumprir o tempo que eu determinei. Mas olha, eu já tive muitas experiências gratificantes na minha vida e hoje, quando a gente pensa que não tem mais nada para orgulhar a gente, eu queria dizer para vocês que é um dia em que eu volto para Brasília muito mais orgulhoso do que cheguei aqui.
Primeiro, porque a gente, sempre que pode, sempre que a gente pode, a gente tenta passar para a sociedade a ideia de uma governança civilizada. Essa governança civilizada faz com que pessoas de diferentes posições ideológicas se encontrem, participem de atos juntos, se confraternizem e depois cada um volta para a sua atividade, volta para a sua vida normal e, quando chega na campanha, cada um escolhe o partido que quiser e é candidato. Assim é a vida democrática.
Mas esse país, durante muito tempo, ele foi governado por gente que, se um prefeito fosse inimigo, não tinha nem empréstimo. Se um governador fosse inimigo, e nós temos agora, governador, a experiência dos nove estados do Nordeste brasileiro em que, durante todo o governo passado, não receberam uma agulha para dar uma injeção em ninguém porque não havia predisposição.
O BNDES, que hoje é um banco exemplar no mundo inteiro, porque a inadimplência do BNDES é 00001, passaram quatro anos dizendo que tinha corrupção no BNDES, que precisava descobrir a caixa preta do BNDES, primeiro não teve coragem de fazer o que ele falou e foi obrigado a reconhecer, através das pessoas que ele mandou, que o BNDES era uma das coisas mais extraordinárias que esse país tinha criado no sistema financeiro brasileiro.
Todo mundo sabe que o Aloizio Mercadante [presidente do BNDES] é do PT. Todo mundo sabe que ele já foi deputado federal, já foi senador, já foi assessor da CUT, já foi ministro da Dilma [Rousseff, ex-presidenta do Brasil], da Educação, Ciência e Tecnologia, da Casa Civil e agora é o meu presidente do BNDES. E a primeira coisa que eu disse para o Aloizio: “Aloizio, não existe veto a nenhum político que precise de empréstimo e que tenha projeto consistente”. Essa BR-163 começou no meu segundo mandato, em 2006.
Vocês não têm noção da briga, vocês não têm noção da discussão para a gente conseguir licenciamento ambiental para fazer essa BR-163. E essa BR anda, anda, acaba o dinheiro, volta, não faz, volta, não faz, se resolveu fazer um acordo com o governo do estado para que ele tocasse a obra. E o que é que nós estamos fazendo? Porque também a gente não pode fazer convênio, pedir para o governador fazer e não colocar dinheiro.
Então, o que é que nós estamos fazendo? O BNDES, nessa demonstração de civilidade, veio aqui anunciar um investimento de quase R$ 5 bilhões para construir a BR-163, que vai ser construída pelo governo do estado aqui do Mato Grosso. E eu peço a Deus, governador Mauro [Mendes, governador de Mato Grosso], que você termine essa estrada para que um dia eu possa trafegar nela, porque em 1989 eu tive uma briga com o povo de Santarém, porque os meus companheiros do PT queriam que eu fosse no Marco Zero declarar que eu ia fazer a BR-163 em 1989.
Eu não conhecia a BR-163, não conhecia o projeto, eu falei: “Eu não vou mentir. Se vocês quiserem votar em mim, vocês votam, mas eu não vou prometer fazer uma estrada que eu não conheço, que eu não tenho projeto. Se eu ganhar, eu vou estudar”.
Bom, não ganhei, mas também o que ganhou não fez. Então, esperaram eu ganhar as eleições 12 anos depois para que a gente começasse a fazer a BR-163. Pois bem, então, a vida do companheiro Aloizio Mercadante, além disso, a gente tem feito com que o BNDES volte a ser um banco de investimento para ajudar no desenvolvimento da indústria, ajudar no desenvolvimento do agronegócio, ajudar nas exportações brasileiras, porque é para isso que o BNDES existe e é por isso que o BNDES é grande e respeitado no mundo.
Mas além dos R$ 5 bilhões da 163, a gente também, governador, eu devia ter explicado antes, o senador Renan [Filho, ministro dos Transportes] ia vir aqui para a gente dar ordem de serviço para a BR-158, ontem morreu o sogro dele, eu não consegui falar com ele, ele não pode vir, mas certamente ele virá aqui na semana que vem, porque para nós é interessante que essa rodovia também termine o mais rápido possível.
Além disso, além disso, nós estamos colocando R$ 600 milhões para o Rodoanel de Cuiabá, o que é uma coisa importante para Cuiabá, e também nós estamos trabalhando para o Contorno Leste de Cuiabá. Isso não é nenhum favor do Governo Federal para o estadual, isso é obrigação dos entes federados trabalharem juntos para que a gente possa oferecer ao povo brasileiro melhor qualidade de vida.
Bem, dito essa coisa do BNDES, eu queria dizer para vocês o gesto que foi feito hoje aqui entregando essas máquinas para poder melhorar a capacidade produtiva de vocês e melhorar a qualidade da terra. O que essas máquinas vão provar, uma coisa que eu sei há muito tempo, é que não é que o pequeno agricultor é incompetente e o grande produtor é competente. É preciso acabar com essa falácia.
O que o pequeno produtor não tem são as mesmas condições de comprar os equipamentos que tem o grande produtor. Mas na hora que você permite que a tecnologia que os grandes usam chegue aos pequenos, os pequenos terão chance de produzir a mesma quantidade e com muito mais amor, porque não estão pensando só em vender, estão pensando em coisas para comer também. Isso é um dado diferente.
Portanto, essa entrega de títulos e essa entrega de máquinas é um novo começo das coisas que vão acontecer no Brasil. Eu digo todo dia para vocês: eu tenho consciência de que nunca antes na história do Brasil, e eu peço para os meus ministros falarem isso em qualquer estado, em qualquer estado que eles forem, eles podem dizer em alto e bom som, nunca nesse país houve um governo que fosse republicano e que colocasse tanto dinheiro nos estados como nós temos colocado.
Nunca. Nunca. Não apenas o Lula, a Dilma. Eu brinco sempre o seguinte, tem presidente que passou por esse país, não apenas o último, muitos outros que não deixaram uma obra de infraestrutura. Uma obra de infraestrutura. Então, não é possível. Eu aprendi, governador, no meu segundo mandato, em janeiro de 2007, que nenhum ministro ia ficar inventando coisa para fazer, por isso resolvi construir o PAC e definir claramente o que a gente quer fazer até dia 31 de dezembro de 2010. E ainda disse na reunião: “é proibido ter novas ideias, nós temos que fazer o que está acontecendo”. E eu tenho muita coisa para entregar até o dia 30 de julho, muita coisa.
Eu tenho muita política social. Ontem, nós assinamos a medida provisória, reduzindo o preço da energia elétrica para o povo brasileiro mais pobre. Porque o rico compra energia no mercado aberto, mais barata, e quem paga cara a energia é o povo pobre que compra no mercado regulado. Então, nós estamos fazendo uma medida provisória, foi mandada ontem para o Congresso Nacional, reduzindo o preço da energia para o povo mais pobre, para que ele não pague o absurdo que ele está pagando hoje.
A segunda coisa que nós fizemos foi mandar para o Congresso Nacional a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil nesse país não pagará mais imposto de renda. E a outra coisa que nós vamos fazer, ainda neste mês, é a gente garantir uma linha de crédito para reforma de casa, porque o trabalhador, ou ele não tem, e se ele não tiver, ele vai querer comprar uma casa, mas muitos trabalhadores têm uma casinha, nasce uma criança, o neto vem morar com ele, ele precisa fazer um quarto, ele quer fazer uma garagem porque comprou um carrinho, ele quer fazer uma cozinha maior, ele quer fazer um banheiro. Então, nós vamos abrir linha de crédito, quem quiser fazer reforma na sua casa vai ter condição de fazer.
Porque essa é uma coisa que é necessária. Quanto é que chega um botijão de gás aqui no estado do Mato Grosso? Olha, só uma pessoa, fala aí para eu ouvir. R$ 130? R$ 120? Então, veja.
Olha, aqui, governador, estão dizendo que um botijão de gás chega na casa das pessoas a R$ 120, uns gritaram R$ 130, mas bem, deixa eu lhe contar uma coisa: você sabe quanto sai o botijão de gás GLP da Petrobras? O botijão de gás é vendido pela Petrobras, para as empresas, a R$ 37. Não tem explicação ele chegar para o povo a 120, a 130, a 140 reais.
Alguém está ganhando muito dinheiro. Eu, no meu primeiro mandato, comprei uma empresa que era Liquigás, para que a gente pudesse regular o preço. A primeira coisa que eles fizeram foi vender Liquigás. Hoje nós temos quatro empresas distribuidoras de gás, que controlam 90% da distribuição de gás nesse país, e temos 10% de pequenas, e nós resolvemos tomar uma decisão.
Nós vamos fazer com que o gás chegue bem mais barato para todas as famílias que estão no CadÚnico. O Aloizio foi meu candidato a vice-presidente em 94, foi candidato a vice-presidente. E o Aloizio, tudo o que ele via na rua, ele queria colocar na cesta básica. Eu cheguei em uma reunião com os artistas, eles já tinham colocado computador, lápis, sabe, compasso, régua, e eu resolvi colocar gás na cesta básica. E nós vamos fazer com que o gás chegue barato. As pessoas que vão estar no CadÚnico não vão precisar nem pagar.
Vão ser aproximadamente 22 milhões de famílias que vão ser beneficiadas, porque as pessoas precisam. E tudo isso vai ser anunciado este mês, porque no mês que vem eu vou fazer política nesse país. No mês que vem eu vou começar a andar esse país, porque acho que chegou a hora de a gente assumir a responsabilidade de não permitir que a mentira, que a canalhice, que a fake news ganhe espaço, e que a verdade seja soterrada nesse país.
Nós fazemos parte daquele tipo de político, que pelo menos não quer perder o direito de andar na rua de cabeça erguida. Eu fui criado por uma mãe analfabeta, que a coisa que ela mais exigia da gente era que a gente não mentisse, era que a gente respeitasse os outros, era dizer que eu tinha direito naquilo que era meu, aquilo que não era meu eu não tinha direito. E nós estamos vendo a política ganhar uma dimensão de mentira, de gente maldosa, de gente agressiva, de gente que não respeita adversário, de gente que não sabe viver democraticamente.
É importante que a gente… Eu estou convencido que nós, nós aqui, temos a obrigação moral de fazer com que a verdade derrote a mentira nesse país. Não é possível. Nós já tomamos uma decisão de não deixar entrar telefone nas escolas do ensino fundamental e ensino médio, porque senão ninguém presta atenção na aula, ninguém presta atenção na aula. E nós sabemos o malefício que faz, a violência, o bullying que se faz, quantas meninas… Esses dias, eu vi, uma menina se matou porque ela foi acusada, foi quase que torturada pelos amiguinhos pela internet, não era pessoalmente não, era pela internet.
Vocês sabem quantas ofensas vocês recebem, vocês sabem quantas provocações vocês recebem e é preciso que a gente discuta com o Congresso Nacional a responsabilidade da gente regular o uso das empresas nesse país. Não é possível que tudo tenha controle, menos as empresas de aplicativos. É importante que a gente comece a cuidar do povo brasileiro com um pouco mais de carinho.
O país que nós queremos é um país de gente que estuda, de gente que produz, de gente que respeita, de gente que ama, de gente que tem fraternidade e solidariedade. É esse o país que eu quero construir para os meus filhos, para os meus netos e para os meus bisnetos. Ninguém quer criar um país de mentira. Portanto, gente, portanto, eu quero que vocês saibam, as pessoas que trabalham nesse país, nós só temos uma missão: cuidar de vocês. Cuidar.
Nós temos que cuidar das pessoas mais necessitadas, as pessoas que não tiverem chance na vida, nós temos que dar uma chance. Hoje eu assumi o compromisso de voltar, depois da primeira colada, nesses companheiros do Projeto Solo Vivo. Assim que chover, que começar a brotar as coisas que eles plantaram, eu quero voltar aqui para tirar fotografia e mostrar o que acontecerá nesse país se a gente investir igualmente em todos.
É por isso que nós estamos criando mais escolas de tempo integral. É por isso que a gente fez parceria com governadores e com prefeitos para a gente alfabetizar pelo menos 80% da população brasileira no ensino fundamental até o segundo ano de escolaridade. É por isso que nós criamos o programa Pé-de-Meia, para evitar que 500 mil jovens desistam da escola todo ano, porque têm que ajudar o orçamento familiar.
É por isso que nós criamos uma bolsa para os meninos do Enem que tiveram as melhores notas sejam professor, porque as pessoas não querem mais ser professor, porque muitas vezes o salário não compensa. Então, nós precisamos cuidar disso. E aqui, companheiros e companheiras, eu vou voltar mais umas duas vezes aqui, porque tem coisa para anunciar neste estado. Nós temos que ajudar a fazer casa e casa e mais casa. É por isso que nós temos o compromisso de fazer, até 2026, 2 milhões de casas.
Mas posso dizer para vocês, nós vamos chegar a mais 3 milhões de casas nesse país para que o povo possa ter a dignidade de morar em uma casa saudável. Por isso, companheiros e companheiras, eu volto para Brasília agora, feliz. Primeiro porque eu estou vendo a Ceres [Hadichaqui, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)] na minha frente. A Ceres me abandonou, nunca me ligou, a Ceres. Nunca me ligou, a Ceres. Oito anos que você sumiu da nossa vida.
Olha, outra coisa muito importante, gente, que eu queria dizer para vocês. Nós vamos fazer, eu vou fazer uma reunião com os reitores segunda-feira. Não sei se é segunda, nós estamos convocando todos os reitores, porque eu quero discutir quais os problemas que vocês estão tendo nas universidades para a gente poder resolver isso por vocês. Você sabe que nenhum presidente da República gostava de receber reitor. Nenhum presidente. Eu não sei porque, mas nem ministro da Educação, que tinha sido reitor, gostava de receber reitor.
Pois todo ano eu faço uma reunião com os reitores para ouvir a reivindicação de vocês. Todo ano eu faço reivindicação com os Sem-Terra, todo ano eu faço reunião com a Contag. Todo mundo tem o direito de apresentar reivindicações. Na hora que a gente puder atender, a gente atende. Na hora que a gente não puder atender, a gente não atende. E eu queria dizer para vocês que eu vou terminar de falar e vou descer ali para dar um abraço naquelas pessoas que estão numa cadeira de rodas, os nossos companheiros que têm uma deficiência.
Gente, eu vou descer lá, mas eu queria antes dizer para vocês que não percam nunca a esperança. Vocês nunca permitam que alguma coisa ruim desanime vocês. Vocês têm sempre que botar na cabeça a minha vida. Eu nasci numa região em que, muitas vezes, as crianças morriam, antes de completar cinco anos de idade, de fome. Eu não morri. Eu queria dizer para vocês que eu não tenho diploma universitário. Todo mundo sabe. E eu sou o presidente que mais fui eleito na história desse país.
Olha, se eu consegui isso, não há por que nenhum de vocês desanimar da vida. Não há por que ninguém desanimar da vida. O que eu estou provando é que para a gente cuidar do povo, a gente não aprende na universidade. Na universidade, a gente aprende muitas coisas importantes, mas cuidar de povo, você não pode pensar só com a cabeça. Você tem que pensar com o coração, porque cuidar do povo é preciso ter muita paixão, é preciso ter muito amor e é preciso ter muito compromisso.
É por isso que muita gente não gosta de mim, porque eu poderia estar hoje em algum campo de golfe, jogando golfe com alguém, mas eu prefiro estar com vocês, porque vocês é que me levaram para a Presidência e é a vocês que eu tenho que agradecer esse carinho extraordinário.
Um abraço e um beijo no coração de todos vocês.