Pronunciamento do presidente Lula na 29ª Feicon e no 100º Encontro Internacional da Indústria da Construção
Eu queria dizer para vocês da minha alegria de participar mais uma vez do encontro da construção civil brasileira, setor da indústria. Porque a gente descobre quando um país está crescendo economicamente, quando a gente desce no aeroporto e vai para a cidade e a gente vê uma quantidade enorme de gruas, levantando material para o crescimento do país.
E com o crescimento do conhecimento científico e tecnológico, hoje, vocês estão dando uma demonstração de que esse setor continua e, por muito tempo, será um setor de ponta nesse país. Até porque falta muita coisa para a gente fazer.
Eu queria, cumprimentando o companheiro Renato Correia, presidente da CBIC [Câmara Brasileira da Indústria da Construção], cumprimentar todos os empresários aqui presentes. Cumprimentar o presidente da Suprema Corte, Luís Roberto Barroso, cumprimentar os meus ministros que falaram aqui, cumprimentar os deputados, e dizer pra vocês que eu estou decidido a abolir a nominata. Porque a nominata leva muito tempo e o cara quer controlar o tempo em 5 minutos. E eu, na verdade, adotei esse critério de 5 minutos pelo seguinte: normalmente, no Brasil, a gente fala de improviso, e a gente fala o quanto quer. E, muitas vezes, a gente fala “e para terminar, e para concluir, e para terminar” e nunca termina e nunca conclui. E às vezes a gente se alonga demais.
Eu, quando presidente, comecei a viajar para participar do G7, para participar do G20, para participar dos BRICS, e em todas as reuniões, ninguém, por mais importante que seja, o presidente ou da China ou dos Estados Unidos, ninguém fala mais que 5 minutos. É de 4 a 5 minutos.
Então, você escreve um textinho, coloca só o essencial, partindo do pressuposto do que o importante é o principal, o resto é secundário. A gente consegue fazer as coisas bem feitas e dizer aquilo que a gente quer dizer. E hoje eu estou prejudicado.
Prejudicado, porque já falou, primeiro, o presidente de vocês. Depois falaram os ministros das Cidades [Jader Barbalho Filho] , o ministro da Casa Civil [Rui Costa], o ministro da Fazenda [Fernando Haddad], o presidente da Caixa [Carlos Antônio Vieira Fernandes], todos falando o que está escrito aqui no meu discurso. Então, eu, na verdade, ô companheiro Renato, eu poderia falar “eu fico com o discurso do Renato e está bom assim”.
Mas eu queria só lembrar vocês de uma coisa. Muito claro, e eu queria marcar isso aqui com vocês. Vocês estão lembrados que há pouco tempo, a gente tinha um processo eleitoral neste país, e eu cansei de dizer para vocês que tinham algumas coisas que precisariam ser colocadas em prática nesse país, para que esse país pudesse dar certo.
Esse país, ninguém consegue governá-lo com bravata. Já não deu certo durante muito tempo. Esse país, ninguém consegue governá-lo com mentiras, porque já não deu certo também. E é preciso que a gente encontre homens e mulheres, empresários e trabalhadores de todos os setores, para a gente definir que país que verdadeiramente a gente quer. Somente nós podemos definir.
Eu dizia para vocês: nós precisamos ter um país em que a gente tenha primeiro estabilidade política. O país precisa voltar à civilidade civilizatória, para que a gente possa decidir que país que a gente quer construir. Depois, esse país precisa ter estabilidade jurídica. Ninguém pode ser pego todo dia de surpresa com alguma novidade que acontece em algum lugar desse país, no Congresso, no Poder Executivo ou no Poder Judiciário. É preciso que a gente tenha essa estabilidade jurídica.
Mas é preciso que a gente tenha também estabilidade econômica. Vocês não podem levantar demanda dizendo: “os juros vão subir, os juros vão descer, a economia vai cair, vai crescer, o crescimento vai ser 0,5%, vai ser 1%, vai ser 2%”. Todos os dias vocês acordam com essas notícias. E a cabeça de vocês funciona a partir da notícia que vocês recebem.
Se falam bem da economia, vocês se sentem encorajados. “Eu vou colocar o meu dinheirinho para fazer investimento”. Mas se falam que não vai dar certo, vocês falam: “eu vou me retrair, eu não vou investir agora porque tal pessoa está dizendo que não vai dar certo”. E é importante que a gente tenha clareza de que nós precisamos de estabilidade econômica. Nós precisamos de estabilidade fiscal. Nós precisamos de estabilidade social e nós precisamos de previsibilidade.
Todo mundo precisa de previsibilidade para fazer no começo do ano as contas e os projetos que vão fazer durante o ano inteiro. E aí, é inexorável a necessidade da construção de uma parceria de honestidade entre o governo e a sociedade brasileira. Entre o governo e o Poder Legislativo.
Se a gente brinca de enganar, achando que a gente pode dizer o que a gente quiser, porque não vai acontecer ou porque vai acontecer, não dá certo. Esse país não pode ser vítima de um cavalo de pau. Não pode.
Eu estou vendo o comportamento do presidente Trump [Donald Trump, presidente dos Estados Unidos], nos Estados Unidos, eu não sei o que vocês pensam, mas eu acho que não vai dar certo. Não vai dar certo. Ninguém pega um transatlântico daquele carregado, e muito carregado, e faz as coisas que estão acontecendo lá.
Ninguém brinca de que o mundo não existe com quase 200 países. Ninguém esquece que todos os países querem ter soberania e querem estabelecer um processo de harmonia. Afinal de contas, a coisa mais importante hoje é o multilateralismo.
Quantos anos vocês passaram ouvindo que era preciso defender o livre comércio? Quantos anos vocês passaram ouviram dizendo que era preciso ter globalização? Que era preciso combater o protecionismo?
Desde os anos 80, quando Thatcher [Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra do Reino Unido] na Inglaterra e Reagan [Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos] nos Estados Unidos assumiram o governo. E, de repente, o mundo tem um cavalo de pau em que o cidadão sozinho acha que ele é capaz de ditar regras para tudo que vai acontecer no mundo. Eu teimo em dizer para vocês que pode não dar certo.
E por isso é importante que nós, brasileiros, mantenhamos o equilíbrio para que a gente tome decisões com base nas nossas realidades. Para que a gente defina o projeto de país que a gente quer e a gente possa colocar ele em prática.
E vou dizer para vocês uma outra coisa. Há 55 anos, o presidente da República desse país chamava-se Emílio Garrastazu Médici. O ministro da Fazenda chamava-se Antonio Delfim Netto. E a economia desse país crescia a 14%.
Naquele período, a Arena elegeu quase todos os governadores do país, elegeu quase todos os deputados desse país e quase todos os senadores. Em 1974, há 51 anos, houve uma virada na política e o PMDB elegeu 16 senadores. Não sei se vocês estão lembrados.
Eu lembro porque, aqui em São Paulo, a gente conseguiu eleger o Quércia [Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo] contra o Carvalho Pinto [ex-governador paulista]. E foi uma afronta pro Carvalho Pinto. Mas eu estou contando esse caso para chegar a um outro número.
Naquele tempo, a publicidade do partido político que ganhou as eleições do PMDB, os que têm a minha idade devem se lembrar uma frase que dizia: “o sol nasceu para todos, mas também nasceu para mim”. Era o slogan do PMDB naquela época. E naquela época, o PMDB dizia na televisão que nós tínhamos um déficit habitacional de 7 milhões de casas.
Prestem atenção. Há 51 anos, a propaganda na televisão de um partido político que depois virou um partido que elegeu quase tudo, era de que nós tínhamos no Brasil um déficit habitacional de 7 milhões de casas.
Vocês viram eu levantar e conversar ali com o meu companheiro Renato. Eu fui perguntar para o Renato: Renato, quanto é o déficit habitacional hoje no Brasil? Ele falou: “7 milhões de casas”. Ou seja, são 51 anos depois, 7 milhões de casas, mesmo sendo o meu governo o que mais construiu casas. Porque, desde que a gente começou o Minha Casa, Minha Vida, nós já fizemos quase 8 milhões de casas. E ainda temos um déficit de 7 milhões. Significa que nós estamos enxugando gelo.
Significa, companheiro Haddad, companheiro Rui, companheiro Barroso, companheiros empresários, que nós precisamos fazer muito mais. Porque, por mais que a gente faça, a gente sabe que a maioria das casas construídas nesse país ainda é casa construída no mutirão pelas pessoas que invadem o terreno, que compram o terreninho 5x25 e vão fazendo as casas todas tortas, mas vão fazendo.
Quando nós criamos o programa de moradia, nós tínhamos naquela época 3,7 milhões de casas construídas pelo próprio povo. E nós estamos fazendo muita casa e ainda temos 7 milhões de déficit. Por que eu estou dizendo isso? Eu estou dizendo isso porque, companheiros e companheiras do governo, companheiros e companheiras empresários, nós precisamos dar um salto de qualidade naquilo que nós fizemos.
Eu da mesma forma que eu dizia para o Haddad quando ele era ministro da Educação: Haddad, a gente não pode passar para a história depois de governar esse país sem dar uma revolução na educação desse país.
E conseguimos fazer uma coisa que ninguém esperava que a gente fizesse: a maior quantidade de universidade na história desse país, a maior quantidade de campi avançados nesse país e a maior quantidade de institutos federais nesse país. Tinha 140 construídos em um século. E nesse período nós vamos terminar o meu mandato com 782 institutos federais para qualificar a mão de obra desse país.
Nós adotamos, nós fizemos um compromisso com todos os 5.600 prefeitos deste país para que a gente possa alfabetizar, até 2030, 80% das nossas crianças até o segundo ano de escolaridade. Porque se a gente não alfabetizar, o ensino futuro dele estará perdido. Porque, a cada ano que passar, ele vai ficar mais atrasado ainda.
Nós estamos assumindo um compromisso de fazer escola de tempo integral. Não apenas para garantir ao estudante que fique na escola com mais garantia, mas para dar flexibilidade à mãe e ao pai de poder ter uma atividade fora de casa e saber que o filho está tendo cuidado, que não está à mercê de uma bala perdida em qualquer viela desse país.
E tudo isso custa dinheiro. E a definição que nós temos que ter é se isso é gasto ou investimento. Essa é a grande definição que a gente tem que ter enquanto governo. Na minha opinião, tudo isso é investimento. Da mesma forma que investir na construção de casas para o povo, ninguém pode dizer que é gasto. É investimento. Porque não só você está construindo ativos produtivos para a sociedade, para o país, como você está dando garantia.
Quem é que não quer um ninho? Vocês já viram um passarinho não querer construir o seu ninho toda primavera? Então, companheiros, nós precisamos dar um jeito para dar um salto de qualidade. Se fazer a quantidade de casas que nós estamos fazendo ainda não dá conta da gente vencer esse tal de déficit habitacional, é preciso que a gente seja criativo e que a gente pense mais.
É preciso criar mais dinheiro, inventar mais fundo, inventar mais alguma coisa, porque nós precisamos resolver o déficit habitacional. Ainda tem muita palafita nesse país. Eu fui esse dia no Porto de Santos, ali no Guarujá, para dar início à obra do túnel. É uma vergonha! São Paulo é o estado mais rico da Federação, a quantidade de palafitas entre Santos e Guarujá. Não é possível o governador, o prefeito não ver. Porque o povo anda a pé, mas ele anda de helicóptero. Então, certamente, ele vê se tem palafita.
Então, esse encontro aqui, queridos, eu queria dizer para vocês que a gente tem que tomar uma decisão. Renato, é o seguinte. Primeiro, eu quero te parabenizar. Eu conheço muitos presidentes de sindicato. Eu conheço muitos presidentes de associação empresarial. E posso te dizer uma coisa: têm poucos igual a você. Poucos. Poucos iguais a você.
Eu sou daquele que prefiro falar bem na frente e falar bem publicamente, porque tem gente que fala bem da gente no individual e por trás fala mal. E por que eu acho que você é um dos melhores que eu conheço? Porque você, da mesma forma que tem capacidade de reconhecer as coisas que nós fazemos, você com a mesma capacidade cobra aquilo que faltou ser feito.
É de homens assim e de mulheres assim que nós precisamos. Sabe? Que a gente seja mais verdadeiro. Que tipo de país que a gente deseja? E esse país só vai dar certo se a construção civil der certo. Nós vamos fazer, até o final do meu mandato, 46 concessões de ferrovia e rodovia nesse país, contra meia dúzia que foram feitas durante tanto tempo atrás.
E nós vamos fazer concessão sem fazer outorga. Porque a tal da outorga quase que vendeu uma estrada para que o governador tivesse dinheiro para fazer outra obra. E o preço da outorga era colocado no preço do pedágio. Para quem pagar? Para o usuário pagar. Então, o Estado está tirando, nós estamos tirando outorga para que o beneficiário da concessão seja o usuário. O motorista de carro, de caminhão, de ônibus, que é quem precisa ganhar. Não é o governo que precisa pegar R$ 8 milhões, R$ 10 milhões para fazer outra coisa.
Então, esse país, companheiros, só será construído se vocês quiserem. Esse país precisa de uma vez por todas evitar as bravatas.
Quem é que imaginava que a gente pudesse aprovar uma reforma tributária nesse país? Vamos ser francos, olhe para mim. Quem é que acreditava que a gente podia fazer uma reforma tributária nesse país com um Congresso teoricamente adverso? Não sei se vocês se lembram, o meu partido só elegeu 70 deputados de 513. Era impossível teoricamente você imaginar que a gente aprovaria a reforma tributária. E ela foi aprovada.
É a primeira reforma tributária aprovada no regime democrático. Porque quando tem ditadura é fácil, mas quando tem democracia, você tem que ouvir, tem que ler as críticas da imprensa, ouvir as críticas dos jornalistas, ouvir os partidos, deputados e senadores criticar, ouvir os sindicatos reclamar, ouvir os empresários fazer pressão daqui e de lá, e nós conseguimos. Graças à capacidade de articulação do nosso companheiro Fernando Haddad, do Ministério da Fazenda.
E quem é que imaginava que a gente fosse aprovar uma PEC da Transição? Quando nós ganhamos as eleições, nós começamos a governar dois meses antes, porque esse país não tinha previsão sequer de pagar as dívidas do outro presidente. E nós aprovamos uma PEC da transição com um Congresso que tinha votado contra nós.
Isso chama-se capacidade de articulação política. Isso chama-se civilidade, chama-se capacidade de conversar com os contrários. Chama-se capacidade de ceder, capacidade de convencer, capacidade de compreender que não é o que nós queremos que tem que ser aprovado, é o que é possível que vai ser aprovado. E é por isso que as coisas estão dando certo.
Eu estive em, 25 de janeiro do ano passado de 2023, em Hiroshima. Estávamos lá visitando, eu e o presidente dos Estados Unidos, onde jogaram a bomba de Hiroshima. Se eu fosse presidente dos Estados Unidos, eu jamais iria no lugar que jogou a bomba, mas ele foi. Ele foi. E lá eu encontro com uma mulherzinha, sabe, presidenta do FMI, diretora-geral do FMI, que nem me conhecia. “Presidenta Lula, sabe que o Brasil, está difícil a coisa para o Brasil, o Brasil só vai crescer 0,8%”. Eu falei: você nem me conhece, e eu não te conheço? Como é que você fala que o Brasil vai crescer 0,8%? E a resposta veio no final do ano. O Brasil cresceu 3,2%.
Depois começaram os outros, porque está cheio de especialistas nesse país. Não tem um especialista para dar um palpite bom, é só para ficar dizendo: “não vai dar certo, não é possível. Economia não vai crescer. Economia não vai crescer”. Está cheio de donos da verdade. Está cheio de professor de Deus dando palpite em economia. “Economia só vai crescer 1,5%”. Crescemos 3,4%.
E prestem atenção no que eu estou falando para vocês. Apesar da taxa de juros, apesar do Trump, pode ficar certo que nesse país está acontecendo um milagre. Não é o milagre da macroeconomia, é o milagre da microeconomia. Porque, embora eu não tenha um curso de economista da Unicamp, nem da USP, nem da Fundação Getúlio Vargas, nem da Universidade Federal do Rio de Janeiro, eu tenho a consciência de que o dinheiro tem que circular na mão de todos. O dinheiro não pode ficar concentrado na mão de meia dúzia vivendo de especulação, recebendo dividendos e aplicando. Não. Esse dinheiro precisa circular. É por isso que nós temos hoje a maior e mais importante política de microcrédito da história desse país.
Eu quero o dinheiro circulando na mão do povo de baixo. O pessoal do andar de baixo. Ele tem o direito de ter um crédito. Ele tem o direito de tomar R$ 3 mil, R$ 4 mil, R$ 5 mil emprestado. Na hora que ele tem um dinheirinho, ele vai para o comércio. O comércio vende e gera um emprego. E vai para a indústria. A indústria gera mais um emprego e gera mais um salário. E é isso que está acontecendo no Brasil. É isso.
A Caixa Econômica falou dos créditos dela aqui. Do Banco do Brasil é igual ou maior. Do BNDES é igual ou maior. Até o Sebrae estava dizendo: “gente, emprestei R$ 4 bilhões para a cooperativa”. E esse dinheiro circula no mercado. É isso que eu queria que vocês compreendessem.
E nós ainda temos coisas para falar. Vai ter novidades para falar. Não vou dizer, porque se a gente falar e não acontecer, eu estou desgraçado. Então, eu vou primeiro esperar a galinha botar o ovo para saber se o ovo é bom, de segunda, de terceira categoria, pequeno ou grande. Mas, gente, esse país tem que dar certo, cara.
Eu não voltei a ser presidente pela terceira vez para fazer um governo pior do que eu fiz no primeiro. Eu não sou que nem o Corinthians que vai para a Libertadores e já perde logo no começo. Eu quero ser campeão desse negócio. Eu quero ganhar a Libertadores, ser campeão do mundo. E eu só vou ser se o Brasil for. E eu acredito. Eu acredito.
Quando a gente fala: “mas precisa pensar no futuro, no passado”. Não tem futuro melhor do que você recuperar as coisas que deram errado no passado. Esse país foi semidestruído. Vocês sabem disso. Vocês sabem. Porque vocês conviveram, tiveram reunião, tiveram debate com o ministro da Fazenda, com o presidente da República. E vocês sabem como é que estava esse país.
E nós queremos entregar esse país para que os nossos filhos e nossos netos possam viver em um país com padrão de classe média. Sabe? Não custa nada. Todo mundo quer morar, todo mundo quer comer, todo mundo quer trabalhar, todo mundo quer se vestir bem, todo mundo quer calçar bem. Não é assim que a gente quer construir uma sociedade? Em que todo mundo tenha uma educação de qualidade.
É por isso que eu aposto que esse país vai ter que dar certo. Nós mandamos um projeto de lei agora. Veja que absurdo, gente. Mandamos um projeto de lei, anistiando do pagamento, anistiando não, isentando do pagamento do Imposto de Renda todas as pessoas que ganham até R$ 5 mil. É nada. R$ 5 mil é nada. Nós já tínhamos isenção de até dois salários mínimos.
E vocês sabem quem é que tem que pagar essa compensação? Quem tem que pagar são 141 mil pessoas que ganham mais de R$ 1 milhão por ano. Vocês acreditam que tem gente que não quer? E pagar uma merreca é pagar um pouquinho de nada. Não chega ao máximo 10%. As pessoas não querem pagar. Não querem não.
O projeto está no Congresso Nacional. A gente acha que vai ser aprovado porque é uma coisa de fazer justiça social. Sabe? E a gente sabe que no Brasil é preciso fazer justiça social e o Imposto de Renda é um jeito de a gente beneficiar aqueles que ganham menos. E eu sempre achei que quem ganha até R$ 5 mil não deveria pagar imposto de renda.
Aliás, eu sempre achei que salário não era renda. Renda é o cara que recebe dividendos, bilhões e bilhões e não paga nada. Renda é o cara que tem aí três, quatro, cinco, seis, sete milhões de herança e paga só 4% de imposto, enquanto nos Estados Unidos tem que pagar 50%.
Então eu estou dizendo tudo isso para vocês saberem o seguinte: esse país vai ter que dar certo. Esse país vai ter que dar certo e, pelo amor de Deus, vocês têm que ajudar a gente a acabar com essa marca de sete milhões. Faz 51 anos, gente, 51 anos. Vocês já fizeram casa. Todo mundo aqui já deve ter feito muita casa.
Mas algo está acontecendo. Parece que a gente está enxugando gelo. Depois de 51 anos eu perguntei para o meu presidente do sindicato: quantas casas faltam fazer? Sete milhões. Eu não vou viver mais 51 anos. Eu vou viver só até 120 anos. Pelo amor de Deus, vamos pelo menos, para o povo brasileiro, pagar essa dívida. Vamos se não zerar, pelo menos alguém me dizer: “Lula, caiu para 6,999 milhões o déficit”. Aí eu ficarei feliz.
Muito obrigado, gente. Boa sorte para todo mundo.