Pronunciamento do presidente Lula durante visita às obras da rodovia Presidente Dutra, na Serra das Araras (RJ)
Eu quero, primeiro, dizer para vocês da alegria de poder visitar uma obra dessa magnitude. Uma obra que eu tenho certeza que a gente não pode olhar para ela como uma obra de engenharia. A gente tem que olhar isso como o futuro do Brasil que a gente deseja para todo mundo.
O Brasil, durante muito tempo, era conhecido como cemitério de obras paradas. Os mais velhos se lembram disso. Entra um governo, começa a fazer uma obra, sai o governo, entra outro, aquela obra é paralisada. O outro governo tenta fazer uma outra, porque ele quer uma marca para ele, não consegue fazer. Aí deixa, a obra fica parada. E assim vai, sucessivamente, o Brasil se transformou num país campeão de obras paradas.
É por isso que em 2007, em fevereiro de 2007, eu lancei o primeiro Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Para que a gente proibisse qualquer ministro do meu governo da época de inventar uma nova obra. Eu tinha tomado posse no segundo mandato e eu queria concluir todos aqueles que eram os projetos determinados por nós.
Então não tinha mais tempo de ficar inventando pontes, inventando estradas, a gente tinha que fazer aquilo que estava no projeto. E nós andamos o Brasil inteiro, nós prestávamos conta, a cada três meses, de cada obra que a gente fazia. E quando chegou o final do meu mandato, a gente tinha concluído grande parte das coisas que nós tínhamos feito.
E nós preparamos o PAC 2, que era para a companheira Dilma [Rousseff, ex-presidente do Brasil e atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento], quando entrasse no governo, não ter que perder tempo fazendo um novo PAC, começando do zero.
E a gente fez o PAC 2. A companheira Dilma depois trabalhou por quatro anos, depois ela montou um outro programa de infraestrutura. E o que aconteceu quando a Dilma foi impichada? O que aconteceu nesse país quando eu voltei em 2023?
Vocês sabem quantas [obras do] Minha Casa, Minha Vida estavam paralisadas nesse país? Oitenta e sete mil casas, algumas começadas em 2012, algumas começadas em 2013, estavam paralisadas. Oitenta e sete mil casas do Minha Casa Minha Vida. Vocês sabem quantas creches estavam paralisadas? Mais de 3 mil creches, de uma proposta de 6 mil creches que a companheira Dilma tinha feito no mandato dela. E essas obras foram paralisadas nesse país. E nós agora tivemos que fazer todo um reestudo, nova licitação, para que a gente comece a reconstruir essas creches, que eram para estar prontas desde 2013 e 2014.
Essa irresponsabilidade administrativa não vai acontecer mais no país. A gente precisa chegar à conclusão de que esse país não pode mais passar um século sendo tratado como o país do futuro. E o país do futuro não é o século que vem, deve ser agora. E o país do futuro deve ser o nosso dia a dia. O que que nós estamos nos propondo a fazer?
É por isso que quando tomei posse, no dia 27 de janeiro, chamamos os governadores de estado, todos os governadores. E fizemos apenas uma pergunta. Nós queremos que vocês apresentem para o Governo Federal de três a cinco obras que vocês entendem que são as obras prioritárias para o estado de vocês. E assim foi feito. E o Rui Costa [ministro da Casa Civil] foi o ministro coordenador.
Nem sempre os projetos andam com a rapidez que a gente queria. Alguns atrasaram para entregar o projeto. Mas o dado concreto é que pela primeira vez na história do Brasil, os governadores foram chamados para dizer o que eles queriam. Depois dos governadores, nós chamamos os prefeitos, porque não cabe ao presidente da República adivinhar qual obra vai ser feita em Paracambi [município no Rio de Janeiro]. Qual obra vai ser feita, sabe, em Piraí [município no Rio de Janeiro].
Não, a gente precisa ter capacidade de ouvir os prefeitos, de ouvir os governadores, de ouvir os deputados, de ouvir os senadores. Porque eles conhecem a realidade de cada estado, de cada cidade. E a gente não inventa uma coisa de cima para baixo para tentar encontrar solução para os problemas das cidades.
Hoje, nós estamos com dois anos e quatro meses de governo. E eu posso, sem medo de errar, dizer para vocês que nesses dois anos e quatro meses, nós já fizemos mais coisas nesse país do que nos últimos sete anos do Brasil. Muito mais coisas. A economia voltou a crescer. O salário mínimo voltou a crescer acima da inflação. A massa salarial voltou a crescer. O trabalho com carteira profissional voltou a crescer.
A gente está tratando melhor os microempreendedores, fazendo crédito para que as pessoas que queiram trabalhar por conta própria tenham a oportunidade de crescer. A gente está fazendo mais crédito do que em qualquer outro momento da história do Brasil. Porque para o país crescer é preciso que o dinheiro circule na mão das pessoas.
É por isso que o BNDES está recuperado, fazendo muito investimento. É por isso que o Banco do Brasil voltou a fazer muito investimento. É por isso que a Caixa Econômica, que o BNB e que o BASA voltaram a fazer muitos investimentos. Porque dinheiro bom é aquele dinheiro que gera emprego. Dinheiro bom é aquele que circula na mão do povo. Dinheiro bom é aquele que permite que as pessoas possam levantar de manhã e comprar alguma coisa para poder melhorar a qualidade da sua família e a qualidade da sua residência.
É por isso que nós voltamos a fazer o Minha Casa, Minha Vida. E vamos fazer 2 milhões de casas. É por isso que nós estamos investindo em infraestrutura, porque não haverá possibilidade desse país ser competitivo do ponto de vista internacional, nem na qualidade, nem na quantidade, se a gente não tiver capacidade de facilitar o escoamento da nossa produção.
Muita gente que não conhece pode dizer: "poxa vida, gastar R$ 1,5 bilhão para cuidar de oito quilômetros de estrada, esses portugueses são caros". Pode pensar que vocês são mais caros que o Cristiano Ronaldo, sabe, de tanto valor que tem. Não, é que quando você pega uma obra dessa, você não a mede pelo tamanho. A importância dela não é o tamanho, a importância dela é a qualidade do serviço que ela vai prestar para a sociedade, para os caminhoneiros, para os carros, para as cargas e as centenas de contêineres que passam por essa estrada todo santo dia, correndo o risco de vida.
Vocês vão até andar de patinete quando ela estiver pronta, disputar com os caminhões quem é que anda mais. Porque o que nós queremos, na verdade, é garantir que esse país deixe de ser eternamente um país pequeno, um país pobre, e esse país se transforme em um país rico. Em um país em que as pessoas têm um poder de classe média, que as pessoas possam comprar o que comer, o que vestir, que as pessoas possam comprar o computador que quiser, o carro que quiser, a casa que quiser.
É preciso que a gente pare de nivelar a qualidade das pessoas por baixo. "Ah, eu sou pobre, eu só posso comer carne de segunda. Eu sou pobre, eu só posso comprar roupa de terceira. Eu sou pobre, eu só posso..." Não, a gente não tem que pensar assim. A gente não pensa assim, se a gente sonha pequeno, a gente faz as coisas pequenas. É preciso ser grande.
O que é que você pode fazer? O que é que você quer fazer? O que é que você quer para a sua família? O que é que você quer para a sua mulher que você todo dia diz que ama ela? O que é que você quer para os seus filhos? O que é que você quer para o seu marido? Ou seja, é isso que a gente tem que pensar, para a gente nunca desistir de tentar alcançar o máximo, e não se contentar com o mínimo.
Porque nós fomos educados nesse país assim para aceitar a ideia: é melhor pingar do que secar, é melhor pingar do que secar. Não, a gente não quer nem que pingue nem que seque. A gente quer a torneira cheia d'água, o cano cheio d'água, porque nós temos o direito de ter o máximo. E essa estrada aqui é o que o Rio de Janeiro precisa. O Rio de Janeiro é um estado importante para esse país. São Paulo é o mais importante do país e eles precisam ter uma estrada de qualidade.
É por isso que nós estamos aqui. Na verdade, a gente nem precisaria estar fazendo esse comício aqui. Porque, na verdade, a fotografia mais extraordinária, além de vocês, é ver o pessoal trabalhando naquela rodovia. Eu ainda vou pegar vocês de surpresa e vou vir fazer uma visita sem marcar encontro, porque eu quero ver como é que o pessoal trabalha. Eu quero ver como é que o pessoal come. Eu quero ver como é que o pessoal que está passando na rodovia comenta e qual a expectativa que eles têm.
Porque é preciso gerar expectativa nas pessoas de que isso é para valer. Eu sei que a cidade de Paracambi está pensando em ganhar muito dinheiro com essa estrada aqui. Eu estou sabendo que vocês até estão pensando em fazer um espaço para uma feira livre para os pequenos produtores rurais da região.
O Pezão [Luiz Fernando Pezão, prefeito de Piraí] e o Andrezinho [Andrezinho Ceciliano, prefeito de Paracambi] agradecem. O que é importante, gente, é o seguinte: essa, eu posso dizer para vocês, nós estamos vivendo um dos melhores momentos da história do país. Eu sei que o Flamengo não está tão bom como vocês gostariam, eu sei que o Vasco não está lá essas coisas, eu sei que o Botafogo este ano está pior do que estava no ano passado. Eu sei que o meu Corinthians está ferrado lá em São Paulo, mas a gente tem que deixar o futebol de lado e começar a pensar no futuro da gente.
É por isso que nós estamos investindo em escola, é por isso que nós estamos investindo em transporte, estamos investindo em infraestrutura, porque quando eu deixar a presidência desse país, eu quero ter orgulho de que o país será considerado pelo mundo como um país desenvolvido, e não um país ainda em fase de desenvolvimento.
Por isso, parabéns à CCR, a nossa futura Motiva, parabéns ao Aloizio Mercadante [presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social] pelo trabalho extraordinário no BNDES, porque quando o Aloízio Mercadante pegou o BNDES, só tinha a denúncia. "Vamos apurar a corrupção no BNDES, vamos apurar a caixa preta no BNDES, vamos pegar a caixa preta no BNDES".
Na verdade, eu sei o que deveriam pegar no BNDES. A verdade é que passaram dois anos falando bobagem e depois foram obrigados a pedir desculpa porque não encontraram nada no BNDES. Porque o BNDES é um centro de excelência, o BNDES é um banco que a inadimplência é quase zero. Porque lá não é governado por partido não, lá é governado por gente competente, técnico bem formado que faz as coisas em benefício desse país.
Então, parabéns, Aloízio Mercadante, por trazer o BNDES de volta, parabéns, companheiro Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] por ajudar a pensar novas saídas econômicas e parabéns, companheiro Rui Costa, pela coordenação do nosso PAC.
[Fala do representante da Polícia Ferroviária Federal]
Eu acho que esse companheiro levantou um tema fundamental. Ou seja, o Brasil não precisa apenas de rodovia, precisa de ferrovia, e o Brasil precisa recuperar a sua cabotagem. Porque é preciso que a gente tenha transporte marítimo, transporte ferroviário e transporte rodoviário. Essa combinação intermodal vai permitir que a gente possa fazer com que o país dê um salto de qualidade.
No mais, gente, eu queria agradecer a vocês, depois eu vou pegar o vídeo aí, companheiro, você me entrega o vídeo e eu pego ele aí. Eu quero agradecer a vocês, quero agradecer à CCR e quero dizer para vocês que eu estou torcendo para que vocês concluam essa obra no menor espaço de tempo possível. Porque o Brasil precisa, o Rio precisa, São Paulo precisa e o povo precisa.
Muito obrigado, companheiros, boa sorte para vocês e bom trabalho.