Pronunciamento do presidente Lula durante anúncio de investimentos e contratações do Mercado Livre
Transmissão ao vivo feita pelo CanalGov
Eu quero dizer para vocês, primeiro, da alegria e da surpresa de estar aqui. Eu quero cumprimentar o Fernando Yunes [vice-presidente sênior do Mercado Livre no Brasil] e agradecer a ele a gentileza desse convite para visitar o Mercado Livre aqui. Eu já tinha recebido o Fernando Yunes no Brasil (em Brasília), e esse convite veio a calhar porque ele permitiu que eu visse coisas que eu não tinha visto ainda.
Eu conheço muita fábrica de automóveis, eu conheço muita empresa da construção civil, eu conheço muita loja do comércio, muito shopping, eu conheço muito restaurante, eu conheço muitas fábricas em outro país, mas eu nunca tinha entrado em nada parecido com o que eu vi hoje aqui. Nunca vi!
E a minha alegria é maior porque eu fiz questão de convidar o Fernando Haddad [ministro da Fazenda] para vir aqui, o Luiz Marinho [ministro do Trabalho e Emprego], o Márcio [França, ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte], poderia ter trazido outros ministros, aqui está alguns deputados federais, amigos nossos, a Juliana Cardoso, deputada federal, o Guilherme Boulos, deputado federal, o Carlos Zarattini, deputado federal, o Kiko Celeguim, deputado federal, nós temos aqui o nosso querido Eduardo Suplicy, deputado estadual de São Paulo, e nós temos aqui pessoas como a Regina Rufino, que falou da nossa querida saudade de Camaçari, cidade de Camaçari, que eu conheço muito bem.
E eu trouxe um discurso por escrito, mas não vou nem olhar para o meu papel, por uma razão muito simples. Eu já governei esse país de 2003 a 2010. Quando eu cheguei na Presidência da República, vocês jovens podem atentar para a imprensa da época, esse país estava quebrado, e muita gente que era meu amigo dizia: "ô Lula, você entrou numa enrascada, você pegou um país quebrado, esse país deve ao FMI, não consegue sequer pagar as suas importações, e você não vai conseguir governar esse país". Nós tomamos posse dia 1º de janeiro, a inflação estava a 12%, o desemprego estava quase a 11%, e parecia que tudo não ia dar certo no Brasil.
Mas as pessoas não sabiam que eu fui criado por uma mulher analfabeta, nasceu e morreu analfabeta, a Dona Lindu, mas ela ensinou uma coisa para mim e para os meus irmãos, é de que a gente não pode desistir nunca, não existe nada impossível para o ser humano que é persistente, e por isso a minha mãe dizia para mim: "Lula, você teima, teima, teima, que a coisa vai acontecer".
E foi assim que nós fizemos esse país crescer. Só para vocês terem ideia, o Brasil que não tinha dinheiro para pagar as suas importações, o Brasil que devia 30 bilhões de dólares para o FMI, o Brasil que não tinha nenhuma reserva internacional, o Brasil que há muito tempo não conseguia crescer, esse país começou a crescer, nós pagamos a dívida externa brasileira (30 bilhões de dólares), nós, pela primeira vez, fizemos uma reserva de 370 bilhões de dólares, o que segura esse país até hoje contra qualquer crise, qualquer crise, mesmo o presidente Trump [Donald Trump, presidente dos Estados Unidos] falando o que ele quer falar, o Brasil está seguro porque nós temos um colchão de 350 bilhões de dólares que dá ao Brasil e ao Fernando Haddad uma certa tranquilidade.
E quando eu deixei a Presidência da República, a economia brasileira crescia 7,5%, o comércio crescia 13% e a gente tinha gerado 24 milhões de empregos com carteira profissional assinada. O salário mínimo tinha dobrado e os trabalhadores que fazem acordo salarial tinham feito acordo acima da inflação durante todo o período. Pois bem, só para vocês terem ideia, quando nós deixamos o governo em 2010, a indústria automobilística, Fernando Yunes, vendia 3 milhões e 600 mil carros.
Dia 31 de dezembro de 2010, a indústria automobilística vendia 3 milhões e 600 mil carros. Eu voltei 15 anos depois e a indústria automobilística estava vendendo apenas 1 milhão e 600 mil carros, 2 milhões de carros a menos do que vendia em 2010. E agora já recuperou, já está vendendo 2 milhões e 600, e nós queremos terminar o mandato ela vendendo a mesma coisa que vendia em 2010.
A economia brasileira não crescia. Vocês estão lembrados que em janeiro de 2003 (2023), eu fui para Hiroshima, no Japão, participar de um encontro, encontrei com a diretora-geral do FMI e ela me disse que a economia do Brasil ia crescer apenas 0,8%. E eu disse para ela que ela não entendia de Brasil, ela não me conhecia e que ela ia ver que a gente ia crescer mais. Nós crescemos no primeiro ano 3,2%, um dos maiores crescimentos de todos os países do mundo.
No segundo ano de mandato, em 2024, as pessoas diziam assim para mim: "ô Lula, a economia não vai crescer mais que 1,5%". E a economia cresceu 3,4%. Agora as pessoas dizem: "a economia vai desacelerar, ela vai crescer menos". E eu quero dizer para vocês, neste dia 7 de abril de 2025, na frente dos trabalhadores que estão aqui no Mercado Livre: outra vez a economia brasileira vai surpreender. Porque essa gente que fica discutindo o chamado "mercado", essa gente que fica discutindo a grande economia, eles não conhecem o que é o microcrédito funcionando e o dinheiro chegando na mão de milhares e milhares e milhões de pessoas.
É por isso que eu tenho uma crença, que eu digo sempre o seguinte: todo país que tem muito dinheiro na mão de poucos é pobre, mas todo país que tem pouco dinheiro na mão de muitos é rico. E é isso que está acontecendo neste instante nesse país. Depois que nós chegamos à Presidência, todas as categorias profissionais fizeram acordos salariais acima da inflação, o salário mínimo já aumentou acima da inflação dois anos consecutivos, o emprego voltou a crescer todo ano, e agora em fevereiro foi 437 mil novos empregos criados nesse país, e o crédito está acontecendo com muita força nesse país, muita força.
Eu queria que vocês soubessem que esse crédito que o companheiro Fernando Haddad falou, o eSocial, que é financiado pelo salário, antes de vocês fazerem qualquer consulta a qualquer banco com a carteira digital de vocês, vocês precisam consultar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, porque eles vão oferecer juros mais baratos para vocês, inclusive para negociação da dívida.
Aquilo que o Haddad disse é verdade. A partir do dia 25 agora, a partir de agora, se você tinha uma dívida pagando 4, 5 ou 6% de juros ao mês, você vai renegociar sua dívida, você pode trocar inclusive de banco e você vai pagar metade do que você pagava.
E por que a gente está fazendo isso? Porque a gente quer que o dinheiro circule. Na hora que todo mundo tem um pouco de dinheiro, as pessoas vão ao supermercado, as pessoas vão numa loja, as pessoas vão num shopping, as pessoas vão no Mercado Livre fazer compras. Na hora que o comércio começa a funcionar, ele gera emprego.
O comércio começa a funcionar, ele desenvolve mais um emprego na indústria, a indústria gera mais um emprego, mais um salário, o comércio mais um emprego, mais um salário. E quando eu vejo o Fernando dizer que vão investir em tudo aqui, desde logística até investimento em novas lojas, 34 bilhões de reais, eu sou obrigado a dizer para vocês que eu sou um cara de muita sorte. Muita sorte, porque esse país passou muito tempo com muito pouco investimento.
E só no ano passado, eu recebi notícia, Yunes, a indústria automobilística que há mais de 10 anos não fazia investimento no Brasil, vai investir 139 bilhões de reais até 2028. A indústria do aço vai investir mais 115 bilhões de reais. A indústria da construção civil vai investir mais 120 bilhões de reais.
O PAC que nós anunciamos é mais de 1 trilhão e 700 bilhões de investimentos. Ora, se tudo isso não gerar emprego, o que vai acontecer nesse país? Todo mundo vai ter um pouquinho, todo mundo vai comprar, todo mundo vai poder dar um presente para o filho, vai poder dar um presente para a mulher, a mulher vai dar um presente para o marido, o marido vai dar um presente para o filho.
Ou seja, a economia começa a funcionar e todo mundo ganha. E é isso que eu quero que aconteça no Brasil, porque eu quero um país de classe média. Eu não quero um país em que algumas pessoas possam comer 10 vezes por dia e a outra passar 10 dias sem comer. Eu quero um país em que todas as pessoas possam ter as coisas.
Nós precisamos abolir a ideia de que as pessoas mais humildes e mais pobres não gostam de comer bem. Porque tem gente que acha que nós gostamos de comer carne de segunda, que nós queremos ir na feira (na xepa) para pegar as coisas mais baratas, tudo amassada. Acha que a gente não gosta de viajar, acha que a gente não gosta de se vestir bem, acha que a gente não gosta de ter acesso às coisas que nós produzimos.
Não! Nós temos que dizer, nós gostamos de nós mesmos, nós queremos ganhar bem, nós queremos nos vestir bem, nós queremos morar bem, nós queremos comer bem, nós queremos criar nosso filho com uma boa educação, o povo tendo uma boa saúde. E é por causa disso que o SUS está fazendo uma revolução nesse país.
E esse país de classe média está nas nossas mãos. Não depende de ninguém, não depende dos Estados Unidos, não depende da China, não depende da Argentina, depende de nós brasileiros. É por isso que nós fizemos uma propaganda com o Ronaldão em 2003, em que a gente dizia "eu sou brasileiro e não desisto nunca".
E eu queria que vocês soubessem o que eu vi hoje. Normalmente, Fernando, um presidente da República, quando ele visita um empreendimento como esse, ele chega aqui, encontra com a direção, vai para o escritório, toma um café, a direção mostra um vídeo para ele das coisas que estão acontecendo, ele vira as costas e vai embora. Ele sequer olha na cara de quem trabalha nesse local, sequer conversa com algumas pessoas.
E eu adotei como critério de exercer a Presidência, em qualquer lugar que eu chego, eu quero conhecer, eu quero conversar com pessoas, eu quero ver como funciona, eu quero saber se as pessoas estão alegres. E posso dizer para vocês, depois de tantos anos visitando tantos locais de trabalho, quero te dizer, Fernando Yunes, que eu nunca vi um local em que o povo tivesse mais alegria estampada no rosto do que eu vi hoje aqui. Não vi.
E possivelmente, possivelmente, não é só pelo salário que a gente ganha que a gente gosta de trabalhar no local. [Sirene toca no local do evento] A campainha está dizendo que Lula para de falar que o pessoal tem que ir embora. Deixa eu falar para vocês uma coisa.
Possivelmente não seja só pelo salário que vocês ganham, porque a gente nunca está contente com o salário, a gente sempre quer um pouco mais, sempre quer. Quando a gente recebe aumento, aquele aumento só vale para o primeiro mês, no mês seguinte aquele aumento já não vale mais nada. Mas muitas vezes, tão importante ou mais importante que o salário, é o ambiente que a gente trabalha, é o sonho que a gente tem, é a esperança que a gente nutre, é a expectativa de que amanhã as coisas vão dar certo aqui.
E a quantidade de meninas e meninos que me falaram: "eu já fui promovido; eu estou aqui há três anos; eu entrei aqui e não sabia nada; eu fui promovido; eu estudei; eu me formei", gente agradecendo ao Prouni, gente agradecendo os institutos federais, gente agradecendo a salvação da vida dela por conta do SUS. E eu acho então que vocês construíram aqui dentro, nesse galpão maravilhoso, um sonho. Eu acho que vocês poderiam ser considerados construtores de sonhos, porque vocês sabem que depende muito de vocês as coisas melhorarem a cada dia.
A minha mãe, uma mulher analfabeta que veio de Pernambuco para não morrer de fome com oito filhos, mesmo quando ela não tinha nada para colocar no fogão para fazer para a gente, eu nunca vi minha mãe reclamar da vida. Ela falava: "Hoje não tem, mas amanhã vai ter". E é isso que eu queria dizer para vocês. Vocês estão trabalhando em um local que permite que vocês continuem sonhando, que permite que vocês continuem acreditando. É por isso que eu digo para vocês: não parem de estudar. Não parem de estudar, pelo amor de Deus.
O estudo e a formação profissional de vocês é o que vai garantir a estabilidade de vocês para o resto da vida. É o que vai garantir sustentabilidade. É o que vai garantir à mulher enfrentar de cabeça erguida a violência contra ela, o tratamento que às vezes ela tem de forma secundária.
É por isso que nós aprovamos uma lei no Congresso Nacional que o salário tem que ser igual entre mulheres e homens, se exercerem a mesma função, porque mulher não é cidadã de segunda classe. Mulher não é objeto! A mulher tem o mesmo direito, tem a mesma inteligência, e às vezes eu acho que tem mais inteligência, e às vezes eu acho que tem mais capacidade.
Sem nenhum menosprezo a nós homens, eu acho que muitas vezes elas são mais capazes, mais corajosas e mais ávidas do que nós. Então eu queria dizer para vocês que não parem de sonhar. Pelo amor de Deus, não parem de sonhar. O que eu posso prometer para vocês é que eu tenho mais dois anos de governo. Posso prometer para vocês. Nós ainda temos muita coisa para fazer nesse país.
Eu ainda quero fazer muita coisa nesse país, porque o que me interessa, na verdade, é o seguinte: é ver esse povo de cabeça erguida, é ver o brasileiro morando melhor, é ver o brasileiro comendo melhor, é ver o brasileiro estudando melhor, é ver o brasileiro passeando melhor, é saber que a gente pode fazer uma viagem para o exterior, é saber que a gente pode ir para o estado da gente de avião, é saber que a gente pode mandar o filho da gente fazer um passeio no exterior.
É isso que nós queremos, não queremos nada de mais. Nós só queremos ser tratados com respeito, com decência, porque nós temos o direito, porque quem produz a riqueza desse país são vocês. São vocês. Não tem outra pessoa que participa da riqueza. Por isso, Fernando, eu quero te agradecer, quero agradecer a direção do Mercado Livre e quero dizer para vocês, valeu a pena eu fazer essa visita aqui.
Sexta-feira passada, eu fui visitar os indígenas, no Mato Grosso do Sul (no Mato Grosso). Eu fui no Xingu. Eu fui entregar uma premiação para o cacique Raoni, que tem 94 anos de idade. E eu fui lá ver como é que ele vive. E as pessoas se queixam: "Ah, mas os indígenas querem muita terra". Vocês já ouviram críticas dizendo: "Não, mas eles têm 13% do território nacional. É muita terra para os indígenas".
O que a gente se esquece é que eles só têm 13% hoje. Mas antes dos portugueses chegarem aqui, eles tinham 100% da terra, 100% da água e 100% do ar que eles respiravam. Na verdade, eles não estão ocupando o nosso espaço. Nós é que ocupamos o espaço deles. Então é apenas reconhecer e fazer justiça. E eu acho que é isso que está acontecendo com vocês.
Gente nova, gente bonita, gente animada. Pelo amor de Deus, não desistam nunca. Não parem de acreditar nunca. Não parem de estudar nunca, porque vocês merecem ter um bom emprego e, sobretudo, merecem ser felizes e criar a família de vocês com decência.
Um beijo no coração de vocês.
Parabéns por vocês existirem e parabéns ao Mercado Livre.