Pronunciamento do presidente Lula na divulgação dos investimentos do Governo Federal para a COP30
Eu prometo à minha delegação que hoje eu não falarei mais que cinco minutos, porque ontem nós atrasamos em quase duas horas a agenda. Nós já estamos atrasados meia hora para a próxima agenda que vai ser em Carajás, e eu não posso atrasar muito, sabe por que, gente?
Para vocês eu posso confessar um segredo, a minha mulher estava em Roma participando do evento da FAO[Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação], discutindo Aliança Contra a Fome e a Pobreza, e eu estou há três dias sem vê-la. Então, hoje eu não posso chegar tarde em casa, eu tenho que chegar cedo, todos vocês compreendam a necessidade do marido chegar cedo em casa. Pois bem.
Uma coisa importante que eu queria falar, primeiro que eu estou satisfeito, Helder [Barbalho, governador do Pará], com as coisas que eu vi aqui. Eu, na verdade, vim aqui para fazer uma fiscalização, e eu estou satisfeito com as coisas que eu vi aqui por uma razão muito simples, não é fácil tomar uma decisão de fazer um evento da magnitude de uma COP no estado do Pará, ou qualquer outro estado que não fosse São Paulo ou Rio de Janeiro.
Porque são estados que têm uma estrutura hoteleira muito maior do que qualquer outra parte do Brasil. São estados que estão mais preparados para muitas coisas do que o restante do Brasil, por isso são os estados mais desenvolvidos do Brasil. Então, ninguém reclamaria se eu dissesse: Helder, eu gosto do Pará, mas não vou fazer no Pará. Ninguém reclamaria, ele iria ficar acabrunhado comigo, mas iria entender, e vocês nem iam saber que eu neguei.
Da mesma forma foi a Copa do Mundo. A Copa do Mundo, o estado do Norte que deveria receber a Copa do Mundo era o estado do Pará. Eu sabia disso, eu sabia disso, mas quem escolheu foi a FIFA, não fui eu, e eles escolheram o Amazonas por razões óbvias que vocês conhecem. E quando eu decidi fazer aqui, o Rui Costa [ministro da Casa Civil] tem razão, muita gente achava que era uma loucura fazer a COP no Pará, porque a COP não é uma coisa nossa, a COP é uma coisa da ONU.
A ONU escolheu o Brasil para fazer, mas quem manda é a ONU. Eu escolhi o Pará para fazer, mas quem manda é a ONU. O Helder escolheu Belém para ser a sede, mas quem manda é a ONU. Então, é um evento que o Brasil está administrando, mas é uma coisa organizada pelas Nações Unidas. E por que eu escolhi Belém? Eu tinha ido em 1981 visitar Barcelona, que fez as Olimpíadas de 1992, e eu comecei a ver a transformação que a cidade de Barcelona sofreu.
E eu fiquei pensando, por que o Brasil não pode fazer esses eventos internacionais? Vocês estão lembrados do resultado da Copa do Mundo de 2014? Vocês estão lembrados do massacre que nós sofremos pela internet contra a realização da Copa do Mundo. Vocês têm noção. Ou seja, e tudo muito mais pela internet, era de que, porque a gente quer escola padrão FIFA, a gente quer saúde padrão FIFA, a gente quer tudo padrão FIFA e foi criando um clima de animosidade contra a Copa do Mundo, que o Brasil chegou até a pensar em desistir de fazer a Copa do Mundo.
E qualquer outro evento que a gente tente fazer, sempre vai acontecer aquelas pessoas que dizem “por que gastar dinheiro nisso, por que investir dinheiro nisso?”. É porque esse país precisa parar de ser pequeno. Nós precisamos parar de ser tacanha. Esse país é grande.
Esse país precisa ter coragem de levantar o pescoço e dizer que quer fazer as coisas, porque nós queremos mostrar o Brasil do jeito que ele é. E o estado do Pará é um estado importante nesse país. Esse aqui foi um estado que lutou muito. Lutou muito, primeiro, pela sua independência. Quem não lembra da história do Grão-Pará? Quem não lembra da história desse povo combativo, um povo lutador? Acho que foi o último estado a assumir a independência do Brasil. Esse estado tem história.
Por que os outros podem fazer e ele não pode fazer? Então, por teimosia, eu resolvi que o estado do Pará iria fazer a COP. Até porque, se a gente não faz isso, só os mesmos estados se desenvolvem. E por que não começar a desenvolver? Olha, não é dinheiro jogado fora. A quantidade de canais que está sendo feita, a quantidade de drenagem, a quantidade de saneamento básico, a quantidade de instalações novas. É uma coisa que vai ficar para o povo do Pará.
Vai ficar para o povo de Belém. Algumas coisas não vão ficar porque são provisórias, mas muitas vão ficar. O que é importante é que, depois, sua excelência, o prefeito, trate de fazer com que as coisas que ficaram sejam bem utilizadas pela população.
É isso que nós temos que garantir. Então, Helder, eu quero te dizer uma coisa, eu vou sair daqui agora, você vai comigo para Carajá, eu quero dizer a você, ao prefeito, aos meus ministros e ao povo do estado do Pará: eu saio daqui com a certeza que a gente vai fazer a melhor COP já realizada na história de todas as COPs.
Porque todas as COPs que acontecem em qualquer país do mundo, eu fui à primeira, em 2009, em Copenhague, todas as COPs têm como tema central a Amazônia. Como tema central. E você pergunta para o cara, você conhece a Amazônia? Você já foi à Amazônia? Não. E por que dá tanto palpite sobre a Amazônia? Então eu resolvi ser desaforado.
Esta COP vai ser na Amazônia, para vocês conhecerem a Amazônia, tal como ela é. Conhecer o povo do Pará, tal como ele é. Saber que a gente quer proteger a Amazônia, porque nós queremos proteger. Mas tem que saber que embaixo de cada copa de árvore tem um ser humano vivo que mora lá. São 29 milhões de pessoas que moram na Amazônia e os ricos têm que fazer financiamento.
Prometeram 100 bilhões de dólares em 2009, não deram. Nós ficamos atrás de 300 bilhões, não deram. E agora a conta é 1 trilhão e 300 bilhões de dólares. Não vão dar, porque o presidente dos Estados Unidos já não assinou o protocolo de Kyoto. Agora, saiu do Acordo de Paris e acho que nem vai vir aqui, porque eles não querem compromisso.
Quem quer compromisso somos nós, que acreditamos na ciência, que acreditamos que o mundo está numa situação difícil, que temos medo que está chovendo muito onde não chovia, que está fazendo muita seca onde sempre choveu, que as queimadas estão exageradas, que lugar que fazia calor está fazendo frio, lugar que fazia frio está fazendo calor. Quem tem juízo nesse mundo sabe que o planeta está vivendo atitudes irresponsáveis.
E nós queremos cumprir a nossa parte. Nós assumimos a responsabilidade de diminuir o desmatamento a zero até 2030. Ninguém pediu para nós. Ninguém. Nem o presidente dos Estados Unidos, nem o presidente da Alemanha, nem da França. Nós decidimos. Nós decidimos, porque nós queremos mostrar para eles: nós não somos ricos como vocês, mas temos mais responsabilidade do que vocês e queremos cuidar do nosso povo com o planeta limpo.
Queremos o ar saudável, queremos água boa para beber e queremos não ter calor exagerado. O calor como hoje está ótimo, não queremos muito calor. Então, gente, é o seguinte, eu estarei aqui. Estava perguntando para a Marina: quando vai se realizar a COP? É tempo de lua cheia?
Se for de lua cheia, eu não me importo, companheiro, dono do Galé, de dormir uma noite de papo para o ar, tendo cobertor, as estrelas lá no céu, limpas, para que a gente possa provar que a gente não deve...
Vai chover, porque é época de chuva. Não, não é época de chuva, então. Meu Deus do céu, mesmo que a lua não esteja cheia, mesmo que não tenha estrela, eu vou uma noite dormir de papo para o ar, vendo o céu escuro do estado do Pará. É esse o meu compromisso. Estarei aqui, estarei aqui.
Queria pedir um favor para vocês, não falando agora mais de COP. Vocês sabem que uma das coisas que está correndo risco no mundo todo é a democracia. Vocês sabem o que está acontecendo, os aloprados tomando conta de contar mentiras de manhã, de tarde e de noite. Vocês sabem disso, porque vocês são vítimas dessas mentiras.
E quando vocês receberem uma mentira, por favor, não repassem essa mentira, porque 2025 é o ano da verdade. Eu quero desmascarar os mentirosos desse país. Eu quero desmascarar os aloprados desse país. E, é por isso, que nós fizemos uma lei proibindo o telefone celular na sala de aula, porque as crianças vão na sala de aula para estudar. Se tiver com o telefone celular, o professor está falando, a professora, ninguém está prestando atenção. E nós queremos que os nossos jovens sejam humanistas e não algoritmos.
É isso que nós queremos. Nós queremos mais humanismo neste mundo, mais amor, mais fraternidade, mais solidariedade. Então nós temos a obrigação, não é o Lula que tem obrigação. São vocês que têm celular, que ficam com ele na mão o tempo inteiro, que ficam só olhando notícias que não interessam e ficam o dia inteiro correndo lá com o dedinho.
Tem gente que acorda às 5 horas da manhã, ao invés de dar um beijo na mulher, ou a mulher dá um beijo no marido, pega o celular. Vai dormir meia-noite, ao invés de dar um beijo, também o celular. Levanta, vai almoçar, o celular.
Levanta, vai no banheiro, o celular. Convida a mulher para jantar num restaurante, chega lá, não olha na cara da mulher, é só no celular procurando notícia. Parem com isso, senão vocês vão virar algoritmos. Senão a gente vai ficar como dependente, é uma dependência digital que não fará bem para a saúde. Tem coisa melhor do que olhar para a cara da amada da gente?
Não, mas agora é com o celular. Está vendo? Está no Brasil e está pensando na China. Está na China e está pensando no Brasil. E vendo mentira, porque 80% das coisas que o cara gosta de ver é bobagem. 80%. As coisas sérias não interessam, porque a verdade engatinha e a mentira voa. Vocês sabem disso, porque vocês aprenderam quando eram crianças. Então eu estou dedicando, estou dedicando 2025.
Nós estamos no governo há dois anos. Foram dois anos difíceis de reconstruir. Reconstruir ministério, reconstruir órgão de fiscalização. Reconstruir Ibama, porque tinha um Ibama, quando nós chegamos, 700 funcionários a menos do que eu tinha em 2010.
Ou seja, tudo foi destruído. Não tinha mais Ministério da Cultura, Ministério da Mulher, Ministério da Igualdade Racial, não tinha nada. Nós tivemos que reconstruir. Capinamos a terra, fizemos as covas, jogamos semente, adubamos, enterramos a semente. E esse é o ano da colheita. Esse é o ano que a verdade vai derrotar a mentira.
Esse é o meu compromisso. E eu quero chegar em cada estado, em cada capital, em cada cidade e desafiar: quem souber de algum tijolo, alguma telha, algum metro de asfalto que outro governo fez, me fale. Porque nós vamos desmoralizar a política do xingamento, a política das ofensas, a política da mentira, contando a verdade para a sociedade e fazendo o que estamos fazendo aqui em Belém.
Trabalhar, trabalhar, trabalhar, entregar, entregar, entregar. Porque o nosso lema é cuidar do povo brasileiro e recuperar a defesa e a dignidade deste país.
Um abraço, gente, e até a próxima visita aqui no estado do Pará.