Pronunciamento do presidente Lula durante visita à fábrica da Toyota
Transmissão ao vivo feita pelo CanalGov
Eu, sinceramente, depois do discurso do Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços], eu espero que o cara que comanda o exército de Israel tenha ouvido a palavra dele — para parar de atacar os palestinos — e espero que o Putin [Vladimir Putin, presidente da Rússia] e o Zelensky [Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia] tenham ouvido, para poder entrar em paz. O mundo não comporta mais guerra.
Só para vocês terem ideia, no ano passado o mundo gastou 2 trilhões e 400 bilhões de dólares em armas, enquanto isso, nós temos 730 milhões de pessoas passando fome no mundo. Significa uma inversão de valores que não poderia acontecer no mundo hoje.
Mas eu quero cumprimentar o Alckmin, cumprimentar o Evandro Maggio [presidente da Toyota do Brasil]. Cumprimentar os ministros que vieram comigo, Fernando Haddad [ministro da Fazenda] e Marinho [Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego]. O deputado federal Vitor Lippi. Cumprimentar o Uallace Moreira, secretário do Desenvolvimento Industrial e Inovação e Comércio e Serviço do MDIC; o Ricardo Cappelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento; o Fernando Martins Costa Neto, vice-prefeito de Sorocaba; Floriano Pesaro, diretor de gestão corporativa da Apex Brasil; e o Celso Simomura, diretor de recursos humanos da administração jurídica da Toyota.
E queria convidar os dirigentes sindicais daqui, o Leandro [Soares], presidente do sindicato de Metalúrgicos de Sorocaba e região; a Nilza Pereira, da Central Sindical; o Vítor Imafuku, Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB); o Adilson Araújo, da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB); o Moisés Selerges, de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo; o Miguel Torres, da Força Sindical; Luiz Gonçalves, da Nova Central Sindical; Ricardo Patah, da União Geral dos Trabalhadores (UGT); o Alvaro Egea, secretário-geral da Central dos Sindicatos Brasileiros; e a Maria das Dores, a nossa companheira Maria.
Bem, eu citei o nome de todos os dirigentes sindicais, porque também não tem sentido vocês virem a Sorocaba e ninguém dizer que você está aqui e não citar o nome de vocês. Mas eu tenho muito pouco para falar, porque se eu falar bem da Toyota, como falou aqui o Haddad, a Maria, o companheiro Alckmin, o meu companheiro Evandro Maggio vai ter que me dar um carro de presente.
Como o presidente da República não pode receber um carro de presente, porque vão dizer que é corrupção, então eu me eximo de falar tão bem da Toyota, porque vocês conhecem a Toyota melhor do que eu. Eu vim hoje à Toyota para cumprir uma missão. O companheiro Geraldo Alckmin, há muitos meses, disse que eu tenho que visitar a Toyota para conhecer a qualidade dos carros da Toyota.
E há muito tempo a direção da Toyota me convida. Só que, lamentavelmente, hoje o CEO da Toyota está no Japão, exatamente para esperar a minha visita ao Japão. E eu vou dia 22 para o Japão, vou numa missão oficial. Inclusive um convite especial, porque o Imperador do Japão não recebe qualquer presidente da República.
Como ele sabe que eu sou amigo dos japoneses aqui do Brasil, ele me convidou. E eu vou ter um encontro com o Imperador e com a Imperatriz. Vou ter um encontro com o ministro, vou discutir mais comércio, mais investimento, mais troca de conhecimento científico e tecnológico, mais investimento cultural. Ou seja, o Japão é um parceiro extraordinário, porque o Japão está aqui desde 1908 e o Brasil deve muito ao Japão.
Ou seja, a nossa agricultura não teria dado os avanços que deu se não fossem os japoneses na década de 70, sobretudo, no Cerrado brasileiro. Obviamente que nós temos a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], que é possivelmente a mais importante empresa de tecnologia agrícola do mundo, mas os japoneses deram uma mão muito grande.
Também na indústria, os japoneses nos ajudaram muito na agricultura, na colheita de café, que foi o primeiro serviço que eles tiveram aqui. Então, eu vou ao Japão em agradecimento também ao que o Japão representa no Brasil. Eu fui pela primeira vez ao Japão em 1975, por causa da Toyota lá em São Bernardo do Campo. Tinha um congresso dos trabalhadores da Toyota e eu fui convidado e eu fui ao Japão.
Bem, eu agora queria dizer para vocês que essas notícias boas que o Haddad deu, que o Alckmin deu, que o Moisés deu, que o Leandro deu, que a Maria deu, eu queria que vocês soubessem que eu tenho a compreensão de um mundo econômico diferente de algumas pessoas.
Eu acho que um país só é soberano, não porque ele tem um território grande, porque ele tem fronteira, porque ele tem fronteira marítima, fronteira seca, porque ele tem muitos soldados. Um país, para ser soberano, ele tem que ter o povo vivendo com qualidade de vida. É a qualidade de vida do povo que garante a soberania de um país.
E nós, então, estamos fazendo isso. Quando eu ouço o discurso da Maria, eu fico imaginando a vida da Maria como a minha vida. Eu nasci numa região muito pobre de Pernambuco. Eu, todo mundo sabe que eu não tenho um diploma universitário, eu tenho apenas um curso técnico. Eu sou o primeiro presidente da República do país a não ter diploma universitário.
E eu sempre quis provar que a inteligência de um ser humano não está ligada à quantidade de anos de escolaridade que ele tem. A universidade dá à pessoa conhecimento, e conhecimento profundo, que ele pode aperfeiçoar sua própria inteligência. Mas a inteligência é outra coisa, que você nasce com ela, que você aumenta ela e qualifica de acordo com quem você conversa, do mundo que você vive, e da capacidade de escutar muito, escutar muito, ouvir muito.
Não sei se vocês perceberam que eu tenho a orelha caída de tanto escutar. Eu escuto muito, para aprender. E cada um de vocês que falam uma coisa comigo, eu aprendo uma palavra, aprendo duas palavras, aprendo uma vírgula. E assim o mundo vai levando, e por isso eu cheguei à Presidência da República. E não foi fácil chegar aqui.
A primeira eleição que eu disputei, eu disputei com o Ulysses Guimarães, com o Brizola, com o Maluf, com o Aureliano Chaves, com o Afif Domingues, com o Mário Covas. Era só o papa da política, eu era o magrinho metalúrgico de São Bernardo do Campo (SP). E eu estou aqui, e estou aqui por causa de vocês. E todas as políticas públicas que eu faço, eu faço exatamente porque eu tenho uma compreensão de que se não houver uma evolução da sociedade, a começar pelas pessoas mais simples, mais humildes, pelas pessoas de baixo, pelas pessoas que trabalham e que produzem, o mundo não nunca será justo.
Eu vou dar um exemplo para vocês. Nós estamos fazendo, com essa medida que nós anunciamos hoje, nós vamos beneficiar 10 milhões de mulheres e homens. E sabe quem vai pagar para que a gente possa dar esse benefício para 10 milhões? Apenas 141 mil brasileiros, que ganham acima de 600 mil reais por mês, 1 milhão por mês, 1 milhão e meio.
Então nós estamos estabelecendo uma pequena contribuição para quem ganha 600 mil por ano, 1 milhão por ano, para descontar das pessoas que ganham até 5 mil reais o Imposto de Renda. Não tem política mais justa do que essa. Não tem política mais humanista do que essa. Não tem política mais fraterna do que essa. Ou seja, nós estamos tirando de alguém que tem muito para dar para as pessoas que trabalham muito e não têm quase nada.
Então é essa política que eu acredito, uma política de distribuição de renda, distribuição de recursos. Para quê? Para que todos tenham um pouco de recursos para fazer a economia girar. Como é que eu tenho a compreensão de economista? Eu tenho na cabeça a seguinte ideia: muito dinheiro na mão de poucos significa manutenção da pobreza, da miséria. Agora, pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição.
Vou dar um exemplo para vocês. Eu estava perguntando aqui para o companheiro Evandro Maggio quantas pessoas ele acha que tem aqui. Ele falou: “120 pessoas, ou 130”. Vamos supor, Maria, que tenha 130 pessoas e vamos supor que eu tivesse 130 mil reais aqui e eu desse só para você. O que iria acontecer se eu desse 130 mil reais só para Maria? Ela iria correr para um banco, iria depositar esse dinheiro numa conta que ia render juros para ela e vocês iriam ficar chupando o dedo. Ou seja, só uma ia ganhar 130 mil reais.
Na minha cabeça, ao invés de dar 130 mil para ela, eu teria que dar mil reais para cada um de vocês que estão aqui. O que iria acontecer? Ninguém iria para o banco, vocês iriam para o armazém comprar coisa para comer, para a padaria comprar coisa para comer, comprar um brinquedo para o filho, comprar um presentinho para o filho. Esse dinheiro circularia entre todo mundo e todo mundo teria acesso a alguma coisa.
É isso que nós estamos fazendo. O que nós estamos fazendo é fazer com que todo mundo tenha acesso a um pouco mais de dinheiro. Porque quando vocês têm dinheiro, vocês vão no comércio, vão comprar uma coisa, vão gerar emprego no comércio. O comércio vai vender, ele vai ter que adquirir uma coisa na indústria, a indústria vai ter que contratar mais trabalhador, vai pagar mais um salário, será mais comércio e assim a economia cresce.
Eu vou dar um exemplo para vocês, para vocês entenderem, se não entenderam os 130 mil que eu não dei para Maria, mas que eu dei para todo mundo aqui. Quando eu deixei a Presidência da República, dia 1º de janeiro de 2011, o Brasil emplacava 3 milhões e 600 mil carros por ano. Preste atenção! O Brasil emplacava 3 milhões e 600 mil carros em 2010. Quando eu voltei, em 2023, o Brasil só emplacava 1 milhão e 600 mil carros por ano. Caiu menos da metade. Isso significou o quê? Mais desemprego, menos salário, menos comércio, menos circulação de dinheiro.
Então quando nós voltamos, qual é o meu desejo? Fazer a indústria crescer, fazer o comércio crescer, fazer crescer o salário das pessoas. É por isso que nós já aumentamos, por dois anos seguidos, o salário mínimo acima da inflação. É por isso que 90% dos sindicatos fazem acordo acima da inflação, porque quando vocês têm dinheiro no bolso, as coisas começam a funcionar. E nós já chegamos este ano a emplacar, no final de 2024, 2 milhões e 600 mil carros. Já crescemos quase 1 milhão de carros emplacados em dois anos de governo.
E eu quero chegar, companheiro Maggio, a 3 milhões e 600 o ano que vem. E eu quero chegar a quatro (milhões) no outro ano, eu quero chegar a cinco (milhões) no outro ano. Primeiro, porque eu acho que todo mundo tem direito de ter um carro. Vocês não estão trabalhando na Toyota para produzir carro só para o Lula comprar. Vocês estão produzindo carro porque vocês também querem ter a oportunidade de poder comprar o carrinho e andar no carrinho que vocês montaram, pegar no volante que vocês montaram. Não é isso? Sentar no banco que vocês colocaram.
É para isso que a gente vive, porque a gente quer uma palavra chamada prosperidade. A gente não trabalha para atrasar, para ficar pobre, para comer mal, para se vestir mal, para passear mal, para não ter férias, para não ir ao cinema, para não ir ao teatro. Não! A gente trabalha exatamente para o contrário. A gente trabalha porque a gente quer avançar na vida, a gente quer ter uma família bem, a gente quer ter o nosso filho bem tratado, a gente quer escola de qualidade, a gente quer ter uma casinha boa.
É para isso que a gente nasce, é para isso que a gente trabalha e é para isso que a gente também quer que vocês estudem. O governo não vai fazer vocês estudarem. O que o governo faz é abrir a porta para vocês entrarem e aí vai depender do esforço de vocês. Na semana passada, Alckmin e Maggio, eu recebi uma menina lá no meu gabinete em Brasília. Ela é filha de um camponês na cidade de Brazlândia (Ceilândia), em Brasília (DF). O pai dela é trabalhador rural.
Essa menina, com 18 anos de idade, fez cinco vestibulares de medicina e passou nos cinco! Vocês sabem o que é alguém passar em cinco vestibulares de medicina, que é o curso mais difícil que tem, que é o curso mais procurado, que é o curso mais caro? Essa menina, ela teve, sei lá o que foi, o dom de passar em cinco! E eu falei para ela: querida Joyce — o nome dela é Joyce — ô Joyce, por que você acha que você passou?. Ela falou: “primeiro, porque eu pedi para Deus, e Deus me atendeu. Segundo, porque eu estudei. Eu não ia para a balada, eu não saía dia de sábado e de domingo. Quando Deus disse que eu ia ser médica, eu então me dediquei e estudei”.
E para isso nós temos que ter claro: se a gente quiser vencer na vida, a gente tem que se dedicar, se dedicar, se dedicar, estudar, sabe? A gente tem que tentar ser o primeiro sempre. A gente tem que se esforçar. Se não, a gente não ganha medalha de ouro na Olimpíada, a gente não ganha cargo de chefe numa fábrica, a gente não conquista o orgulho que a Maria conquistou, a menina que veio do Ceará e agora já virou dirigente sindical, representando vocês.
Isso que é maravilhoso, é a gente vencer na vida. A minha mãe nasceu e morreu analfabeta. A minha mãe não sabia fazer um “O” com um copo e ela morreu nos anos 80. Eu fico imaginando a alegria da minha mãe, porque eu sei que ela está no céu, olhando para mim, eu era o caçula dela, ela fala “meu cabeçudinho Lulinha, chegou lá”. Então é isso que me dá orgulho, e quando eu vejo vocês vencendo na vida, eu tenho muito orgulho, muito orgulho!
Porque tudo o que a gente puder fazer para fazer com que chegue um pouquinho mais de dinheiro na mão de vocês; para que chegue um pouquinho mais de educação na mão de vocês; para que vocês possam se transformar em doutor, para que vocês possam ser filósofos, possam ser cientista político, possam ser engenheiras, possam ser médicas, o que vocês quiserem.
Veja que absurdo quando a gente acredita, gente. Eu sou o presidente da República que mais fiz universidade federal nesse país, mais fiz escola técnica nesse país, mais coloquei estudante na universidade. Não é que eu coloquei, eu criei vaga para o povo estudar. Porque eu quero que o filho de uma empregada doméstica possa estar na universidade estudando o que ela quiser. Eu quero que o filho de uma metalúrgica como você possa estar estudando. Porque se a gente não mudar o mundo, nós estamos azarados.
Ou seja, quando o cara nasce pobre, ele já sabe: “ah, meu filho nasceu pobre, ele não vai ter profissão, ele vai ser ajudante geral”. Não. É o Estado que tem que garantir a vocês que não tiveram a oportunidade de estudar, o direito do filho de vocês estudarem e ter acesso às coisas. E é por isso que a gente vai aos pouquinhos, pouquinhos, pouquinhos, falando com Haddad, falando com o Marinho, falando com o Alckmin, falando com os outros ministros, para a gente ir criando benefício, benefício, benefício, benefício, até que esse país se transforme num país civilizado, num país de classe média, onde a gente possa comer do bom e do melhor, possa vestir do bom e do melhor, possa passear onde a gente quiser, possa tirar férias.
Esse é o mundo que eu desejo! É por esse mundo que eu brigo e é por esse mundo que eu quero que vocês briguem. E eu quero agradecer à Toyota. Eu conheço o toyotismo, companheiro Maggio, eu conheço o toyotismo desde os anos 80. Desde o meu começo na vida sindical que eu ouço falar do famoso toyotismo, o jeito de se trabalhar na produção na Toyota.
E eu fui abraçar um monte de companheiros e companheiras e eu vi a alegria das meninas e dos companheiros. Significa que vocês estão bem no trabalho, significa que vocês estão sendo bem tratados, significa que vocês estão tendo certeza que vocês vão vencer na vida.
Então, queridas companheiras e queridos companheiros, eu quero que vocês saibam, eu saio daqui para o Japão, vou encontrar com o imperador e vou dizer: Imperador, sabe onde que eu fui? Na última quarta-feira eu fui na Toyota e posso lhe dizer que a Toyota tem os trabalhadores brasileiros e japoneses que fabricam o carro de melhor qualidade que o mundo fabrica. E nós queremos mais, mais investimento e mais desenvolvimento.
Por isso, Evandro, muito obrigado pela visita, muito obrigado à diretoria da Toyota e, sobretudo, muito obrigado às meninas e aos meninos que nos receberam tão bem.
Um beijo no coração de vocês.