Pronunciamento do presidente Lula durante ato de anúncio de investimentos da Vale
Ainda estou pensando em como é que eu vou falar. Eu estou com um pouco de problema, porque o Gustavo Pimenta [CEO da Vale] vai ter que ir para o Rio de Janeiro, o Helder [Barbalho, governador do Pará] vai ter que ir para Santarém. Eu estou com um problema bom, gente, que eu precisava sair daqui às 6 e meia para chegar em casa às 8 horas, em Brasília. Não vai dar para sair às 6 e meia. E como eu disse lá em Belém, qual é o problema que eu tenho? A minha mulher estava na Itália, há três dias, então, estou há três dias sem vê-la. Ela está chegando hoje, eu estou chegando hoje.
Então, você sabe como é, eu estou com pressa de chegar em casa. Eu estou com vontade de chegar em casa. Quem é homem, quem é mulher, sabe que eu estou com pressa de chegar em casa. Então, eu vou tentar falar pouco aqui para vocês, só para dar uma palavra, porque o Helder e o Gustavo Pimenta já falaram tudo o que tinha que falar.
Olha, primeiro, eu vou repetir, Pimenta, que a Vale é uma das empresas que sempre foi motivo de orgulho desse país. A Vale sempre esteve ligada à imagem do sucesso empresarial deste país. Tal como a Vale, a Embraer é uma empresa que sempre esteve ligada ao sucesso do Brasil. Tal como é a nossa querida Petrobras, que é a cara mais forte da empresa nacional.
Então, eu conheci a Vale estatal, conheci a Vale privatizada com poucos funcionários, e agora conheço a Vale chamada tal de corporation. É que é diferente. É diferente para o sindicato manter relação, é diferente para o governo manter relação. Porque é o seguinte, cachorro de muito dono morre de fome, porque todo mundo pensa que o outro colocou comida e não colocaram comida.
Então, eu acho, Pimenta, que a tua eleição na Vale é uma oportunidade extraordinária para que a gente restabeleça aquilo que jamais deveria ter acontecido da separação entre os interesses da Vale, enquanto empresa estratégica para este país, e o país, o Estado brasileiro, que também tem interesse estratégico que a Vale cresça, que o país cresça, e que os estados que vocês explorem, minério de ferro, cobre ou qualquer outro, cresçam.
Eu dizia para o Pimenta que, muitas vezes, é estranho que a Vale está em Minas Gerais há tantos anos e, quando o Helder perguntou: “Quem veio de fora aqui?”. Se você tivesse perguntado de qual estado, você ia ter uma surpresa, porque aqui tem muita gente de Minas Gerais. Aqui tem muita gente de Minas Gerais. Não vou nem pedir para o companheiro Alexandre [Silveira, ministro de Minas e Energia] não querer fazer campanha eleitoral aqui, porque ele é mineiro.
Mas, então, veja, é uma coisa muito, muito importante a gente ter em conta de que não é possível que em Minas Gerais se tenha muita crítica por parte do governo à Vale. Não é possível que o companheiro Helder, que é um estado que fornece as maiores condições da Vale ser ainda maior, tenha muita divergência com a Vale. Alguma coisa aconteceu, Pimenta, alguma coisa aconteceu.
Houve um fio desencapado e que criou um clima desagradável, um clima em que o governo não se sente representado e que o governo acha que a empresa não faz tudo o que deveria fazer. A empresa, possivelmente, descontente porque o governo fala mal da empresa. Esse fio desencapado, Pimenta, com a minha volta ao governo, e com a tua entrada na Vale, eu tenho certeza que a gente vai encapar esse fio e não vai ter mais ruído daqui para frente.
Eu conheci a Vale, Pimenta, como uma das mais importantes empresas de minério do mundo. A Vale era a primeira ou a segunda a vida inteira. Hoje, a Vale está em 14º lugar. Alguma coisa aconteceu. Se fosse futebol, nem na Série C você estava, nem na Série C. Eu acho que a Vale é uma empresa tão importante que ela tem que estar sempre na Série A. Ela tem que disputar o Campeonato Brasileiro na Série A e, se disputar, ganhar a Libertadores e, se disputar, disputar a Champions League, pela importância da Vale.
A Vale não poderia, ela não merece, como o povo de Brumadinho e Mariana não mereciam aquelas barragens, a Vale também não merecia, porque a imagem da Vale ficou muito arranhada. Uma empresa da magnitude da Vale, da respeitabilidade internacional, da respeitabilidade interna, não poderia ter permitido que aquilo acontecesse.
E eu sei que você, eu sei disso, porque fomos nós que fizemos o acordo agora. Ficou dez anos sem fazer acordo, dez anos sem dar resposta ao povo que sofreu do desmoronamento da barragem. E fomos nós, o companheiro Rui Costa [ministro da Casa Civil], junto com o Pimenta, junto com nosso advogado-geral da União [Jorge Messias], que fez um acordo para fazer uma reparação mínima às pessoas que foram vítimas, tanto de Mariana como de Brumadinho, porque ninguém merece perder a família e nunca mais a gente recupera. Para o resto da vida a gente vai ficar com saudade e vai ficar lembrando.
E a Vale também não merecia, não é só o povo que não merecia, Pimenta. A Vale, pelo histórico dela, também não merecia. Em algum momento alguém foi desleixado. Você sabe do que eu estou falando. Em algum momento, alguém agiu de forma totalmente irresponsável. Em algum momento alguém, sabe, não se deu conta de que poderia acontecer uma desgraça como aconteceu e se repetiu. Se fosse só uma vez, não, mas foi duas vezes.
E eu espero, Pimenta, que na sua gestão, a Vale faça de tudo para que não haja desmoronamento sequer de uma pedra, sequer de alguma coisa, porque nem o povo merece e nem a Vale merece isso. Eu quero te dizer, Pimenta, que a Vale precisa voltar a ocupar os primeiros lugares na empresa de mineração. Ela tem que voltar aos primeiros lugares. Não me contento com a Vale ser a 14ª. A 14ª não é nada, gente. O bom é ser a primeira. O bom é ser a segunda, que ainda é medalha de prata. O terceiro ainda é bom, porque é medalha de bronze. Mas, a partir do quarto, significa que a gente está deixando de fazer a lição de casa.
Olha, se nós temos comprador, se nós temos jazidas de minério aos montes para a gente tirar o ferro. Se nós temos tecnologia, uma máquina dessa, gente, dá para mexer um planeta. Então, a gente não tem porque não estar em primeiro lugar. A gente não tem porque disputar.
E eu quero te dizer, Pimenta, que se depender do governo, se depender daquilo que a gente possa fazer, a Vale voltará a ocupar os primeiros lugares nas empresas de mineração desse país. Se não por outra coisa, Pimenta, pelo jeito que eu vi esse povo te receber. Primeiro, esse povo gosta da Vale. Segundo, esse povo deve estar ganhando bem. Se estivesse ganhando mal, se estivesse ganhando mal, você seria vaiado aqui. Então isso significa que a Vale precisa manter esse nível de relação com os seus colaboradores.
É importante que as pessoas sempre te recebam com aplauso. É importante que a Vale leve em conta que ela tem que distribuir dividendos para os acionistas, mas é importante que ela leve em conta que ela tem que fazer investimento para crescer, para gerar emprego e para gerar performance da Vale no mundo minério, sobretudo agora com esses tais de minerais críticos, que eu nem sei porque ele é crítico. Nunca me criticaram. Então eu não sei porque é que são minerais críticos.
O dado concreto é que o mundo inventou uma coisa de transição energética, de energia verde. Eu nunca pensei que a energia tivesse cor, agora tem aço verde, tem carro verde, tem ônibus verde, tem tudo verde. Até o dinheiro importante do mundo é verde. Vocês percebem que mudou, Pimenta? Então, você é muito jovem, você é muito jovem.
Minha mãe dizia para mim, ô Lula, quando você quiser saber se uma pessoa está falando a verdade, você não ligue para os lábios da pessoa, olhe para o olho dele. E a primeira conversa que eu tive com o Pimenta, eu senti que o Pimenta queria passar para a história como o melhor presidente que a Vale já teve.
E é isso, Pimenta, é isso. É isso que eu desejo para você, é isso que eu posso te garantir, que, naquilo que for necessário, o meu ministro de Minas e Energia vai estar junto com você. É isso que nós precisamos discutir, uma estratégia para desenvolver o Brasil nessa transição energética, para que a gente possa, quem quiser vir produzir aqui, a gente pode vender tudo verde, tudo verde, carne verde, feijão verde, arroz verde, aço verde, energia verde. Tudo que for verde, a gente quer vender, porque o Brasil merece.
Eu, companheiros, quando comecei a presidência em janeiro, dia 25, eu fui para Hiroshima. Eu cheguei em Hiroshima, numa reunião do G7, a primeira pessoa que eu encontrei foi a diretora-geral do FMI. E ela veio dizer para mim: “presidente, o Brasil só vai crescer 0,8%, presidente, só vai crescer 0,8%”. Eu falei: “você não conhece o Brasil, você não me conhece, e o Brasil vai crescer muito mais”. E o Brasil cresceu 3,2%, quatro vezes a previsão dela.
O ano passado, o ano passado, daqueles especialistas que dão um palpite na televisão, qualquer coisa aparece um tal de um especialista lá, que eu nem conheço. Aí o cara: “ah, porque o Brasil, o Brasil vai crescer 1,5%, o Brasil vai crescer 1,5%”. Crescemos 3,7%. E esse ano começa: “ah, o Brasil vai crescer não sei quanto”.
O Brasil vai crescer mais, porque tem uma coisa acontecendo nesse país, tem uma coisa acontecendo. Nós temos o menor nível de desemprego da história do país, nós temos um crescimento da massa salarial e temos a quantidade de crédito, Pimenta, que nunca teve nesse país e nós vamos anunciar mais três políticas de crédito nesse país. Porque dinheiro bom não é o dinheiro que vai para a mão do rico, que ele compra dólar e fica explorando. Dinheiro bom é aquele que vai para a mão do povo, é aquele que vai para o trabalhador, é aquele que vai para o pequeno trabalhador rural, é aquele que vai para o pequeno empreendedor individual. Pouco dinheiro, mas ele vai comprar comida, ele vai comprar roupa, ele vai comprar sapato, ele vai comprar coisa para levar para casa dele. É esse dinheiro que gera dinheiro, é esse dinheiro que gera emprego, é esse dinheiro circulando que vai fazer a economia brasileira crescer.
E eu jamais voltaria a ser candidato a presidente do Brasil se eu não tivesse certeza de que eu tenho que ser melhor do que eu fui em 2010, quando o Brasil era o país que mais crescia no mundo, era o país que tinha 7,5% de crescimento do PIB, 13% do crescimento do varejo e a inflação controlada e o salário crescendo. É isso que eu quero, porque eu quero construir esse país em um país de trabalhadores bem remunerados, de empreendedores bem sucedidos e um país de classe média. Não pense que o Lula gosta que as pessoas sejam pobres. Não gosta. Ninguém gosta de ser pobre, ninguém gosta de comer mal, ninguém gosta de se vestir mal, ninguém gosta de morar mal, todo mundo quer viver bem. E é esse país que nós temos que construir e não fazer promessa eleitoral que a gente não cumpra.
E depois a gente tem que derrotar a era da mentira. Nós vivemos um período da era da mentira, e que o importante é contar mentira. O importante é você mentir. O canalha se tranca dentro do quarto, pega o telefone do celular e fica inventando mentira, contando mentira, fazendo provocação, provocando os outros. Vamos ver o que está acontecendo nos Estados Unidos agora.
E eu dediquei 2025 para dizer aos companheiros e às companheiras da Vale: nós vamos derrotar a mentira, porque 2025 será o ano da verdade nesse país. Eu quero provar que nós somos melhores do que os outros para governar esse país.
Por isso, companheiros e companheiras, eu desejo a vocês toda a sorte do mundo. Nunca desistam de ter aspiração. Nunca desistam porque a situação está difícil. A gente tem que levantar a cabeça todo santo dia. A gente tem que fazer, sabe, um compromisso conosco mesmo: qual é a minha tarefa no planeta? O que é que eu quero ser? E aí você decide se é o que você vai ser. Se eu, um pernambucano de Caetés, escapei da morte aos cinco anos de idade, porque, lá em Pernambuco, quem não morre até os cinco anos, quem não morre até os cinco anos de fome, vai viver. Agora eu quero viver 120 anos. Todo dia eu peço para Deus: “cara, eu não quero ir lá para cima, não”. Eu quero ficar aqui. Eu não quero morrer. Não quero ir para o céu. O céu é bom, mas que vá outro, eu não quero ir. Eu quero ficar aqui, vivendo esse sacrifício para poder provar que a gente vai consertar esse país, esse país que precisa de uma chance na vida.
Me ajude, Pimenta, me ajude a fazer com que a Vale volte a ser a primeira empresa do mundo em mineração de ferro, em mineração de materiais críticos, em mineração do que quiser e, sobretudo, a primeira do mundo no tratamento respeitoso ao povo que trabalha para vocês. Um abraço, que Deus abençoe vocês e até o nosso próximo encontro.