Discurso de Lula na cerimônia de ampliação da capacidade de produção de aço da Gerdau
Hoje eu pensei que eu ia ler o meu discurso porque, toda vez que eu participo de um evento, eu trago um discurso por escrito, bem elaborado. Acontece que tem muitos companheiros que falam antes de mim e, como o meu discurso está escrito, cada companheiro fala um pedacinho do meu discurso, e quando eu vou falar eu não tenho mais motivação de ler o meu discurso.
E hoje eu trouxe muita coisa aqui. Eu trouxe o perfil político de Congonhas, o perfil político de Ouro Preto (de Ouro Branco), eu sei que aqui eu ganhei todas as eleições que eu participei, eu sei que em Congonhas eu ganhei todas as eleições que eu participei, desde 1989. Eu sei de cada escola que nós fizemos investimento aqui. Eu sei de quanto nós investimos em Minas Gerais, eu sei de quantas universidades, quantos institutos, quantos Brasil Sorridente, quanto Mais Médico, quanta Farmácia Popular, tudo eu trouxe por escrito para contar para vocês. Mas eu não acho justo eu dizer isso para vocês, porque nós estamos no adiantado da hora, eu ainda tenho que ir para Pampulha — e da Pampulha voltar para Brasília — e amanhã nós temos um grande evento em Brasília.
Por isso eu queria, cumprimentando o companheiro André [Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração da Gerdau] e o companheiro Gustavo [Werneck, presidente executivo da Gerdau], estar cumprimentando todo mundo aqui da Gerdau, os nossos deputados, os meus ministros que me acompanharam aqui, para a gente mostrar que não tem tarefa de um ministro só.
Eu viajo com muitos ministros, e era importante que todos eles pudessem falar um pouquinho. Mas eles, como são colaboradores da Gerdau, também não quiseram falar para economizar tempo, para a gente poder se despedir de vocês, e vocês irem para casa fazer os afazeres de vocês.
Queridos companheiros e companheiras, o dia de hoje é um dia muito especial. Eu poderia pegar o exemplo da própria Gerdau, quando um alemão veio para cá, em 1869, e naquele tempo o alemão que vinha para cá, vinha para cá porque era pobre; vinha para cá para escapar da fome; vinha para cá para tentar adquirir uma oportunidade de sobreviver. Da mesma forma que os italianos, vinham para cá porque eram pobres; da mesma forma que os japoneses, vinham para cá porque eram pobres; a mesma coisa os espanhóis, a mesma coisa os árabes. Todos que vieram para cá, entre 1850 e 1900 e pouco, eram por causa da pobreza. Vinham para cá para escapar da pobreza da Europa e tentar sobreviver no Brasil.
E veja que engraçado: o tataraneto de um homem que teve a ousadia de inventar uma fábrica de pregos. Eu fico imaginando a cabeça de um cara que resolveu fazer prego. Eu fico imaginando que coisa maluca! O cara resolveu fazer prego. Aqui no Brasil não tinha prego não? Mas o dado concreto é que a sabedoria desse homem que veio da Alemanha para cá, ele conseguiu fazer a mais importante siderúrgica brasileira porque ele um dia acreditou que fazer prego era o caminho dele.
Agora veja, se um cara que resolveu fazer prego se transformou na maior siderúrgica brasileira, eu fico imaginando a nossa querida Amanda, que saiu de Congonhas para vir para cá para estudar. Quando é que ela imaginava que essa moça simples, de Congonhas, que andava 24 quilômetros e meio para chegar aqui, iria se transformar no que se transformou? Eu fico imaginando como é que a gente pode ter certeza de que a gente não precisa ter medo de pensar o futuro.
A gente não tem que ter medo de sonhar, porque se as pessoas conseguiram avançar do jeito que avançaram, crescer do jeito que cresceram, e chegar ao nível que eles chegaram, por que é que todo mundo aqui não pode chegar? Presta atenção... presta atenção.
A gente está falando de prosperidade; a gente está falando de sonho; a gente está falando de que a gente não pode nunca desanimar de acreditar que o amanhã será melhor, que o difícil pode se transformar em fácil, que aquilo que é intransponível pode ser tornado transponível. E eu queria dar o meu exemplo para vocês.
Eu sou de uma região de Pernambuco, onde uma criança que não morre até os 5 anos de idade de fome, tem chance de crescer na vida. Então, eu fico imaginando se um pernambucano que saiu de Pernambuco, em 1952, para não morrer de fome — que não tem nenhum diploma universitário, que tem apenas um curso técnico do Senai — virou presidente da República, uma Amanda que vai virar engenheira, você que virou CEO da nossa querida Gerdau, você que virou presidente, filho… tataraneto de uma pessoa que só sabia fazer prego...
Eu fico imaginando quando a gente inaugura uma máquina como essa, que transporta aquela tonelada de ferro quente — que eu fiquei imaginando todos nós, do lado daquela coisa correndo, quente, a 1.600 graus, cada um de nós com um espetinho assando um churrasco, e a gente comendo antes dela virar, essa bobina que ela vira. Eu fico imaginando que alegre que não seria o mundo se a gente pudesse fazer isso.
Mas ao não poder fazer isso (porque não deixam nem a gente encostar perto daquela coisa de aço quente que está saindo) eu fico imaginando que a alegria dessa data de hoje é a gente poder acreditar nesse país. Acreditar no Brasil de verdade; acreditar num Brasil sem mentira; acreditar num Brasil sem fantasia; acreditar num Brasil onde a única coisa que vale é a gente trabalhar, porque somente o trabalho é que traz prosperidade. Somente o trabalho é que traz certeza de um futuro melhor. É isso que está acontecendo aqui.
E eu queria dizer ao meu amigo Gerdau, quando nós deixamos a Presidência da República (em 2010), esse país emplacava 3,6 milhões de carros por ano. Quando eu voltei (em 2023), esse país só emplacava 1,6 milhão. Ou seja, 15 anos depois que eu deixei a Presidência da República, esse país emplacava metade dos carros que emplacava quando eu era presidente da República — daí porque não houve possibilidade das indústrias de aço crescerem mais.
Porque esse país, inclusive, acabou com a indústria naval, que já tinha 82 mil trabalhadores. 82 mil! Quando eu cheguei em 2002, a indústria naval tinha 3 mil trabalhadores. Ela foi para 82 mil. E você sabe que navio usa aço, e aço de qualidade, que vocês produzem. Esse país acabou. Acabou com a indústria naval. Diminuiu a venda de carro pela metade.
Diminuiu a habitação, porque não foi feita a habitação nesse país depois que nós deixamos a Presidência. Minha Casa, Minha Vida, eu encontrei 87 mil casas começadas — a serem construídas pela Dilma Rousseff — paralisadas. 87 mil residências num país em que as pessoas precisam de casa. Mais de 2 mil creches paralisadas num país que precisa de creches.
Então esse país, com a companheira Amanda e com o companheiro Gerdau, dá uma demonstração que, quando a gente tem gente séria fazendo as coisas nesse país, as coisas acontecem. Eu queria dizer para vocês uma coisa, que é motivo de orgulho: esse país conseguiu proclamar sua República em 1889. A República foi proclamada em 1889. De lá pra cá, contem quantos presidentes da República teve nesse país.
E depois que vocês contarem, analisem quantos presidentes da República fez inclusão social nesse país. Quantos presidentes da República cuidaram das pessoas mais pobres desse país? Cuidaram dos trabalhadores? Eu quero que vocês pesquisem, porque eu não preciso dizer. Pesquisem de 1889 até agora, e vocês vão perceber que houve dois movimentos de inclusão social.
O Getúlio Vargas, de 30 a 45, quando fez a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], porque tirou os trabalhadores da escravidão e criou a jornada de trabalho de oito horas, porque a gente não tinha jornada de trabalho. Nem férias a gente tinha! E no nosso governo. Quem é que cuidou das pessoas mais necessitadas? Quem é que esticou a mão para dizer para as pessoas: “olha, é importante você estudar, é importante você aprender mais coisas na escola, para você virar um profissional qualificado”?
Profissional qualificado que vale para a mulher e que vale para o homem. O homem sem profissão, ele tem pouca chance na vida. Ele tem pouca chance de arrumar emprego. A mulher sem profissão tem pouca chance de arrumar emprego; e quando arruma, é para ganhar um salário mínimo, que é muito pouco diante das necessidades das pessoas. E o que eu vi aqui na Gerdau, a quantidade de mulheres, extraordinariamente, fazendo funções que há 30 anos atrás era impensável as mulheres trabalharem numa fábrica e fazer o que vocês fazem.
Porque as mulheres estão conquistando rapidamente o espaço que elas já deveriam ter conquistado há muito tempo atrás. É esse país que nós estamos construindo quando a gente acredita que é possível. Um ser humano tem que acreditar na sua inteligência. Ele nunca pode achar que ele não pode fazer as coisas.
Ele tem que tentar. E quando faltar inspiração, quando faltar inspiração, lembre-se de um cara que começou a vida fazendo prego. Lembre-se de um presidente analfabeto que chegou à Presidência. Lembre-se da companheira Amanda, que saiu de Congonhas para fazer um curso no Instituto Federal — e vai virar agora o que ela quiser na universidade. Lembre-se disso para vocês nunca desanimarem. Nunca desanimarem!
Eu jamais imaginei que vocês pudessem chegar ao nível que vocês chegaram. Portanto, eu queria, aqui de Ouro Branco, dizer para você: dê um recado para o seu pai, dê um recado para o seu avô, dê um recado para o seu tataravô. Porque se vocês acreditaram, vocês estão dizendo a todos nós: acreditem! Só não vence quem não acredita. Só não vence quem não tem coragem. Só não vence quem não luta. Só não vence quem não tem uma causa. E nós precisamos construir a nossa causa.
É viver dignamente. Porque nós não queremos andar para trás. Nós queremos prosperidade; nós queremos trabalhar; nós queremos ter um salário bom; nós queremos morar bem; nós queremos ter um carro bom; nós queremos estudar em uma boa escola pública, em uma boa universidade; nós queremos comer bem todo dia; nós queremos nos vestir bem. É para isso que nós existimos. É para isso que a gente luta!
Do que vale a pena você levantar cedo todo dia se você não tiver sonho? Para que você levanta cedo se você não constrói um sonho? É esse sonho que motiva a gente. E é esse sonho que faz a gente procurar vencer na vida. É esse sonho que significa “prosperidade”. É isso que nós desejamos para nós, por nossos pais, por nossos filhos, por nossos netos e para todo o povo brasileiro. Que depois do sucesso de vocês, não há por que a gente duvidar da capacidade de ser brasileiro.
Eu tenho muito orgulho. Eu tenho muito orgulho. Porque eu posso olhar na cara do governador Zema, como eu poderia olhar na cara de qualquer governador, de qualquer Estado do país, e dizer para eles: nunca antes na história do Brasil teve um presidente da República que fizesse essa quantidade de investimento que nós estamos fazendo em Minas Gerais, no primeiro e no segundo mandato.
Pode perguntar para o Aécio Neves, que foi governador por oito anos. O Zema é governador há seis anos. Ele governou quatro anos com o Bolsonaro. O Zema, no próximo discurso que eu tiver, eu quero que ele traga para mim quanto é que o Bolsonaro colocou no estado de Minas Gerais, para que a gente saiba! E eu trato ele bem porque eu gosto dele e sou republicano. Eu não trato o Zema bem, porque ele é do meu partido. Eu não quero saber de que partido é o governador. Eu quero saber se ele é governador. Ele foi votado. Ele foi eleito. Ele tem que ser respeitado. É assim que eu trato as pessoas. E por isso, enquanto eu for presidente, ele vai ser bem tratado e vai receber a maior quantidade de investimento que Minas Gerais recebeu com o PAC que nós fizemos — e que o Zema ajudou a construir.
Porque em janeiro, quando eu tomei posse, a primeira coisa que eu fiz foi chamar 27 governadores (o Zema estava presente) para perguntar para os governadores: “que obras que vocês preferem para o estado de vocês? E é vocês que vão dizer”. E eles disseram. E nós colocamos no PAC. E por isso nós temos R$ 147 bilhões destinados ao PAC de Minas Gerais. É isso que me dá orgulho. É isso que me dá orgulho.
Eu, quando vou numa cidade, eu não pergunto de que partido é o prefeito. Não pergunto de que partido é o governador. Quando eu vou numa cidade, eu vou motivado pelos interesses do povo daquela cidade. Se a cidade não tem escola técnica, institutos federais, eu vou fazer. Se a cidade não tem um campus universitário, eu vou fazer. Se a escola não tem médico, nós vamos colocar. Se a cidade não tem dentista, nós vamos colocar.
Porque quando eu criei o Brasil Sorridente, é porque eu estava cansado de ver meninas de 18 anos, de 19 anos, aqui no Vale do Jequitinhonha, muitas meninas sem dente, Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda]. Muitas meninas que sorriam e não tinham dentes na boca. Eu falei: “eu vou criar o Brasil Sorridente para que ninguém desse país deixe de comer carne, deixe de comer uma castanha, porque não tem dente na boca”.
É isso que eu penso: que a palavra não é “governar”, a palavra é “cuidar”. É cuidar das crianças, cuidar das mulheres, cuidar dos homens e cuidar do povo brasileiro. Por isso, eu quero agradecer, Gerdau, mais essa vinda minha a Ouro Branco. Quero dizer para você que quantas vezes você inaugurar alguma coisa, em qualquer parte do Brasil, me convide.
Porque eu não “sou presidente”, eu “estou presidente”. Na verdade, o que eu sou é metalúrgico. E como metalúrgico, eu quero estar em todo lugar que gere pelo menos um emprego. Porque é emprego que gera cidadania; é o emprego que gera salário; é emprego que gera dignidade. Não tem nada mais sagrado do que, no final do mês, você levar comida para casa pelo suor, do sangue, do trabalho de vocês. E sustentar mulher, filhos, marido, vó, mãe. É isso que dá dignidade.
É isso que faz a gente deitar de cabeça tranquila e acordar de cabeça tranquila, motivado. Não tem nada, Gerdau, não tem nada que me faça acordar de um mau humor. Não tem nada que me faça acordar de mau humor; não só porque eu sou bem casado. Mas eu não levanto de mau humor porque eu tenho uma causa.
E se tiver um problema, eu quero enfrentá-lo. Se tiver um problema, eu quero derrotá-lo. Se tiver um problema, eu quero massacrá-lo, que nem o Corinthians vai massacrar o Palmeiras, neste jogo de domingo, para ser campeão paulista.
Um abraço, um beijo no coração e até outra oportunidade, se Deus quiser.