Pronunciamento do presidente Lula na reabertura da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso
Queridos companheiros e companheiras do Rio de Janeiro. Queridos companheiros ministros, secretários. Meu querido prefeito Eduardo Paes [do Rio de Janeiro]. Companheiros e companheiras. O dia de hoje não é um dia de inauguração de nada. O dia de hoje deve ser transformado no dia da recuperação da decência que o povo do Rio sempre mereceu e que, muitas vezes, as pessoas esqueceram de garantir essa decência.
Só para vocês saberem, o governo federal só tem dois estados que têm hospitais públicos federais. O Rio de Janeiro, que tem seis. Quando as pessoas de outros estados reclamam: “por que o Rio tem seis e eu não tenho nenhum?” É porque isso aqui foi a capital do Brasil. Aqui o Getúlio Vargas presidiu esse país, então ele tem mais hospitais. O Rio Grande do Sul deve ter um e o restante tem hospitais universitários.
Eu quero confessar uma coisa para vocês. Desde o meu primeiro mandato, eu conversei com o meu ministro da Saúde e eu dizia para ele: é preciso transformar os hospitais federais, onde eles existirem, em hospitais de excelência, para que eles sejam referência em qualquer lugar do mundo. Quando alguém visitar um hospital federal, e depois ele viajar e alguém perguntar: “como é que é a saúde no teu estado?”, ele tenha o orgulho de dizer: “no meu estado, tem hospital federal, que é a melhor coisa que a saúde oferece no meu país”.
É isso que nós vamos fazer aqui. É isso que nós vamos fazer aqui. Esse hospital, que estava abandonado. Esse hospital, que muita gente não queria que a gente fizesse essa intervenção democrática para administrar. Muita gente não queria que a gente fizesse o convênio com a prefeitura para administrar os dois estados e eu queria dizer uma coisa, em alto e bom som para todo mundo. A única razão que me faz estar aqui é porque ninguém é dono de hospital.
Médico não é dono de hospital. Enfermeiro não é dono de hospital. Sindicalista não é dono de hospital. O presidente não é dono de hospital. O dono do hospital é a decência do trabalho que ele oferecer para a população. Esses são os donos de hospitais. É quando vocês vierem no hospital e serem tratados com decência, com respeito.
Esse hospital pegou fogo cinco anos atrás. Até hoje não foi recuperado. Aqui não tem ressonância magnética. Aqui não tem tomografia e não deve ter outras coisas para fazer outros exames especializados. Pois eu quero assumir um compromisso aqui na frente de vocês olhando nos olhos dessas mulheres. A partir de agora, vai ter todas as imagens que as pessoas precisarem para serem tratadas com respeito.
Nós vamos recuperar a parte que está queimada e vamos fazer um centro de imagem para que o povo pobre que vier aqui tenha direito a fazer uma tomografia, tenha direito a fazer um Pet Scan, tenha direito a fazer uma ressonância magnética, assim como eu, como presidente, tenho. O Eduardo, como prefeito, tem. A Nísia, [Nísia Trindade, ministra da Saúde] como ministra, tem. Todo mundo tem direito a ser tratado com respeito, com decência e com dignidade.
E é por isso que eu vou dizer para vocês e quero que vocês saibam. Ainda faltam dois anos para eu terminar o meu mandato. Eu quero que vocês saibam que nós vamos transformar os seis hospitais federais do Rio de Janeiro em motivo de orgulho para o Brasil e para o povo carioca, para o Brasil e para o povo do Rio de Janeiro. É por isso que nós fizemos convênio com a prefeitura. É por isso que nós vamos fazer intervenção em qualquer estado.
Eu fui ao Hospital da Conceição, no ano passado, durante as enchentes e conheci o Barichello [Gilberto Barichello, diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição]. E conheci o trabalho que era feito lá nos hospitais do Rio Grande do Sul. Eu falei para a Nísia: ô Nísia, sabe quem vai dar jeito no Bonsucesso? É o Barrichello. Vamos levar o Barrichello para lá.
Vamos levar a experiência do Complexo de Assunção, lá no Rio Grande do Sul, e ele vai poder consertar, conversando com gente, conversando com médico, conversando com funcionário, conversando com enfermeiro, conversando com sindicalista, conversando com todo mundo.
Mas a gente não pode permitir, Eduardo Paes, que político, seja deputado, seja vereador, seja senador, mande nos hospitais. Quem tem que mandar nos hospitais são os especialistas da saúde.
Isto aqui não é comitê eleitoral de ninguém. Isto aqui não é comitê eleitoral de ninguém. Quem quiser voto, vá para rua pedir. Aqui as pessoas vêm para serem atendidas com respeito. Aqui as pessoas vêm para trabalhar e o trabalho tem que ser dignificado com o bom tratamento que o povo merece. Não é porque é pobre, não é porque é preto, não é porque é baixinho, não é porque está desempregado que vai ser tratado como se fosse uma pessoa de terceira categoria.
Todos nós merecemos respeito e o Estado brasileiro e o SUS vão tratar vocês assim. Por isso, queridos, vocês que frequentam o Hospital de Bonsucesso, vocês que trabalham no Hospital de Bonsucesso, você que é prefeito dessa cidade. Aliás, o governador foi convidado e não veio. Mas ele foi convidado.
Porque, veja, eu não quero saber de que partido é o governador, não quero saber de que religião que ele é, não quero saber para qual time ele torce. Eu quero saber que, bem ou mal, eles são eleitos pelo povo.
E ele foi convidado para vir aqui e eu convido todos os governadores, até aqueles que de forma irresponsável, de vez em quando fazem crítica ao meu governo. Eu convido. E ele poderia ter vindo aqui e fazer um discurso para vocês para dizer como é que o estado vai cuidar da questão da saúde.
Eu vou dizer para vocês: os hospitais do governo federal, em convênio com a prefeitura, nós vamos mostrar que vocês vão ter orgulho para frequentar, porque não é possível que uma emergência não atenda ninguém há tantos anos. Não é possível que o pronto-socorro não atenda ninguém. Não é possível que a gente tinha cinco UTIs fechadas e o povo morrendo na porta do hospital.
Portanto, gente, eu vou dizer para vocês uma coisa. Eu nunca peguei tanto calor no Rio de Janeiro como hoje. Eu imagino, mas veja, não tem na minha agenda nem um minuto para ir à praia.
Na minha agenda tem mais três reuniões em Brasília e amanhã eu vou para a Bahia. Mas eu quero dizer para vocês: a única explicação que tem pelo calor que eu estou sentindo aqui é o amor de vocês por tudo aquilo que a gente está fazendo.
Muito obrigado, gente, e a partir de agora usem e usufruam da qualidade da saúde que vai oferecer o Bonsucesso.
Um abraço.