Pronunciamento do presidente Lula na cerimônia Água Para Todos - Bahia, em Paramirim (BA)
Transmissão ao vivo, no YouTube do CanalGov, da cerimônia para anúncios do Água Para Todos em Paramirim (BA)
Queridas companheiras e queridos companheiros, eu estou muito mais com vontade de descer aí, dar um abraço e um beijo em cada um de vocês, do que de falar. Estou com vontade de descer ali e abraçar cada prefeito, cada prefeita, que eu espero que possa estar em Brasília na terça-feira para que a gente possa ter uma conversa sobre os rumos das cidades brasileiras.
E vou falar de alguma coisa que me orgulha muito. Quando você é eleito presidente da República, você tem que ter um compromisso. Para que você foi eleito? Por que você quis ser presidente? O que você vai fazer? E eu tinha uma determinação na minha vida. Eu tinha uma determinação. Era quase que uma profissão de fé. Só tem sentido um metalúrgico ser presidente da República se ele for diferente dos outros presidentes da República. Se ele tiver compromisso diferente dos outros presidentes da República.
Porque governar para os ricos, todo mundo já governou. Fazer ponte, todo mundo já fez. Fazer viaduto, todo mundo já fez. Agora, eu quero saber quem é que teve a preocupação de encher a barriga do nosso povo de comida. Eu quero saber quem teve a preocupação de garantir que as pessoas mais pobres tivessem condições de disputar uma vaga na universidade por sua inteligência, por sua qualidade, assim como nós fizemos.
Porque tanto o ProUni quanto o Fies foram os dois programas que, em apenas oito anos, colocaram mais estudantes nas universidades do que em cem anos que a elite governou esse país. Foi apenas em pouco tempo que a gente conseguiu fazer com que a gente pudesse entregar a esse país 780 institutos federais. Para que os filhos de vocês, para que as filhas de vocês pudessem ter orgulho de ter uma profissão. Porque uma mulher com profissão, ela não é submetida a nada e ela ganha liberdade e autonomia.
E foi exatamente o que nós fizemos nesse país e vamos continuar fazendo. Eu saí de Pernambuco com sete anos de idade. Saí de Garanhuns para não morrer de fome. Saí com a mãe, oito filhos agarrados no rabo da saia dela. Fomos para São Paulo e, chegando lá, a gente imaginava que ia encontrar meu pai todo carinhoso para receber minha mãe. Chegamos lá, meu pai já estava casado com outra mulher. E já tinha vários filhos com a outra mulher.
E a minha mãe teve coragem, com oito filhos, de largar do meu pai e criar oito filhos sozinha. Sozinha. Em uma demonstração de que as mulheres têm garra, às vezes, muito mais do que os homens, quando elas estão dispostas a lutar. É por isso que eu sou uma pessoa determinada.
Eu acho que eu não quero cuidar dos pobres para fazer com que o rico não tenha direito. O que eu quero é garantir que os filhos dos pobres tenham o direito de disputar a mesma oportunidade que o rico tem, de fazer o mesmo vestibular que eles para ver quem é mais inteligente. E para ser inteligente, a gente não precisa de dinheiro. Para ser inteligente, a gente precisa de comida.
Quando a gente come, desde que a gente nasce, que a gente adquire as calorias e a proteína necessárias para o nosso cérebro. Não há rico que seja mais inteligente do que o pobre. Não há homem que seja mais inteligente do que uma mulher. Se todos tiverem a mesma qualidade de comida, a gente vai ver como é que o povo brasileiro é forte.
A gente vai ver como é que vocês podem fazer uma revolução e fazer esse país ser um país de classe média. Um país onde todos morem bem, onde todos comam bem, onde todos se vistam bem, onde todos possam ter um computador, ter um celular, ter um carro, ter aquilo que a gente quiser, porque é a gente que produz. E se a gente produz, a gente tem que ter direito de ter as coisas que a gente faz.
Nós não nascemos só para cortar cana. Nós não nascemos só para ser empregada doméstica. Nós não nascemos só para trabalhar em fábrica. A gente quer ser doutor. A gente quer ser pesquisador. A gente quer ser engenheiro. A gente quer ser médico. A gente quer ser advogado. A gente quer ser psicóloga. A gente quer ser nutricionista. A gente quer ser enfermeiro. A gente quer ser o que a gente quiser.
E é isso que eu quero fazer: dar oportunidade para que vocês tenham o direito de fazer aquilo que vocês quiserem. E quando eu falo de educação, quando eu falo de educação, eu falo de uma coisa sagrada. Porque eu sei o que é um homem ter profissão e um homem não ter profissão. Eu sei como é que uma pessoa sem profissão procura emprego e volta para casa todo dia sem emprego. E sei quando um cara tem uma profissão, a facilidade que ele tem de arrumar emprego.
E quando ele tem uma profissão, ele vai ganhar mais. Ele vai poder levar mais comida para casa. Ele vai poder morar melhor. Ele vai poder cuidar melhor dos seus filhos e da sua mulher. Mas não é só o homem que tem que ter profissão. Porque a mulher não quer mais ficar só na cozinha, no tanque ou passando roupa.A mulher também quer trabalhar fora.
E a verdade, companheiros, companheiros ministros, deputados, senadores, eu quero dizer para vocês uma coisa. A mulher, ela conquistou o direito de trabalhar fora. Só que nós, homens, ainda não aprendemos a ir para a cozinha, ajudar a mulher a fazer os afazeres de casa. E é por isso que eu acho que a mulher tem que estudar. Porque a mulher, ela tem que viver com o homem por amor.
Ela tem que viver com o homem porque ela gosta dele. Ela quer viver com o homem ou com a mulher, com quem quiser viver. Cada um de nós mora com quem quiser. A gente tem que ter certeza que a gente só pode morar com quem a gente quiser. A gente só pode jantar com quem a gente quiser. E é por isso que a mulher tem que ter profissão. Porque se ela for casada e ela tiver uma profissão, e o marido chegar em casa querendo dar ordem, ela fala: "ó, você vai dar ordem de outro lugar porque eu trabalho, eu ganho meu salário, eu não preciso de você".
É esse mundo que nós precisamos criar. É esse mundo de homem bem formado e de mulher bem formada. Para que a gente faça com que esse país seja sempre mais motivo de orgulho para nós. Eu vim aqui, junto com meus companheiros da Bahia, anunciar um monte de obra que está sendo feita. Eu nem vou repetir porque todo mundo aqui já falou.
Mas ainda tem mais. Nós temos alguns programas que nós vamos anunciar. E eu não vou nem falar porque é surpresa. A partir da semana que vem, a gente vai começar a anunciar alguns programas. Sabe por quê? Porque eu quero mais crédito para o povo.
A minha tese é a seguinte. Eu quero que essas duas senhoras que estão aqui na minha frente prestem atenção. A minha tese é a seguinte. Muito dinheiro na mão de poucos significa a miséria de muitos. Agora, pouco dinheiro na mão de todos significa melhorar a vida de todo o povo brasileiro. E é por isso que nós vamos fazer muitas políticas de crédito nesse país.
Porque na hora que o dinheiro começa a circular na mão das pessoas, ninguém aqui vai comprar dólar. Ninguém vai depositar no exterior. Vocês vão comprar comida, vão comprar roupa, vão comprar material escolar e vocês vão melhorar a vida da cidade de vocês. É por isso que eu voltei a ser presidente da República.
Porque eu, desde pequeno, aprendi com a minha mãe, que era analfabeta. Nasceu e morreu analfabeta. Mas a minha mãe tinha muita dignidade. Ela falava: "meu filho, nunca abaixe a cabeça. Porque se você abaixar a cabeça, eles colocam a cangalha no seu pescoço e você nunca mais vai levantar a sua cabeça".
E é por isso que o povo trabalhador não pode abaixar a cabeça. A gente não tem que ser nariz empinado, não. A gente não tem que ser orgulhoso. A gente tem que ser, na verdade, senhor da razão. Nós temos que saber o que a gente faz. A gente não quer que ninguém mande na gente. A gente quer trabalhar com respeito. A gente quer ganhar o nosso salário. A gente quer comprar as coisas que a gente deseja.
E é por isso que nós estamos vindo aqui trazer água para vocês. Porque ninguém vive sem água. Mas também ninguém vive sem comida. E é por isso que a gente vai fazer mais uma barragem. A gente vai garantir para os pequenos produtores água para fazer irrigação. E vai garantir comida de qualidade na casa de vocês.
Água para tomar banho, água para beber, água para lavar roupa. Quem é que não gosta de tomar um banho quentinho, morno, com água limpa? É isso que nós estamos fazendo. E não estamos fazendo nenhum favor para vocês. Estamos apenas devolvendo a vocês aquilo que vocês nunca deveriam ter perdido: a decência, a dignidade e o respeito.
Porque esse país, há pouco tempo, teve um presidente. E eu ouvi a fala do Rui Costa [ministro da Casa Civil]. Ele não trouxe uma obra para a Bahia. Não trouxe um tijolo para a Bahia. Não trouxe um copo d'água para a Bahia. Porque a vida inteira ele só soube mentir. Ele só soube contar vantagem. Ele nunca fez nada.
Em cada estado que eu vou, eu pergunto: o que o governo passado fez? Nada. Não fez estrada, não fez ponte, não criou nenhum programa social. E aqui na Bahia é um exemplo. Na Bahia não, no Nordeste inteiro. Porque ele passou a vida inteira mentindo.
E eu aprendi com a minha mãe também uma história. Minha mãe dizia: “meu filho, a desgraça é que uma mentira voa e uma verdade engatinha". Essa é outra verdade. E é por isso que eu estou determinado. Esse ano, companheiro governador, esse ano é o ano da verdade. Nós vamos provar que a verdade vai derrotar a mentira. Não adianta ficar no celular contando mentira e inventando história. Esse ano é nossa obrigação.
A minha, a do Jerônimo [Rodrigues, governador da Bahia], a do Rui [Costa, ministro da Casa Civil], a do Wagner [Jaques Wagner, líder do Senado], a dos deputados. Mas também de vocês. Também de vocês. Porque nós é que temos o direito de não aceitar que ninguém minta para nós. Ninguém minta para os nossos filhos. Ninguém minta sequer para as crianças que estão vendo televisão.
E vocês sabem que nós esses dias tiramos o celular da escola. Proibimos as crianças de usar o celular da escola. E fizemos isso porque nós queremos que as crianças vão para a escola para estudar. Que respeitem o professor. Que prestem atenção na aula. Que não fiquem no celular.
E nós queremos também que essa criança seja humanista. Uma criança que aprenda a brincar. Aprenda a jogar bola. Aprenda a conversar e não ficar sentado um perto do outro conversando com gente de outro lugar. Nós queremos que as crianças voltem a brincar. E nós queremos que o povo brasileiro seja humanista. Nós não queremos que o povo seja algoritmo. E é por isso que a gente está cuidando da educação com muito carinho.
Aqui deve ter muita gente do Pé-de-Meia, prefeito. Porque o programa Pé-de-Meia que nós fizemos foi porque nós descobrimos que 500 mil jovens de até 15 anos de idade do ensino médio desistiam da escola para trabalhar. Aí nós resolvemos o seguinte. Nós vamos criar uma bolsa. Vamos dar R$200 por mês e vamos dar R$1 mil no final do ano para que esse jovem não desista da escola. E vai ser assim que a gente vai garantir que os adolescentes continuem na escola.
Queridas companheiras e companheiros, eu vou me despedir de vocês, porque a hora que eu sair daqui eu ainda vou pegar um helicóptero, vou para o aeroporto pegar um avião e ainda vou para Brasília. E é em Brasília que eu vou almoçar. E quando eu virar as costas, vocês vão comer um feijãozinho com arroz aqui. Então vocês vão começar a comer primeiro do que eu.
Mas eu quero dizer para vocês, eu quero dizer para vocês em alto e bom som. Não é porque eu sou amigo do Jerônimo, do Wagner, do Rui, nem porque eu sou amigo do deputado. Eu quero dizer para vocês, enquanto eu for presidente da República, a Bahia será tratada com o carinho e com o respeito que vocês tratam os filhos de vocês.
Um abraço, gente. Até outro dia, se Deus quiser.