Brasil e África: parceria histórica contra a fome
A humanidade não tem o direito de deixar 733 milhões de pessoas vivendo sob o flagelo da fome. Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível. Em um mundo cujos gastos militares chegaram a 2,4 trilhões de dólares no ano passado, isso é inaceitável. A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais. São muitas vezes produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade.
É dentro desta compreensão que, nesta semana, o Brasil recebeu representantes de 42 países africanos e nove organizações internacionais para o segundo Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural. Esse encontro integra a Semana da África no Brasil e antecede a visita de Estado do Presidente de Angola, João Lourenço, em 23 de maio.
O Brasil quer ser um parceiro da trajetória de inserção soberana da União Africana, que passa por uma estratégia de desenvolvimento agrícola que pretende aumentar a produção de alimentos do continente em 45% até 2035. E temos muito a trocar nesse sentido.
Nos tornamos uma potência agroalimentar graças à ciência, à tecnologia e ao papel decisivo do Estado no fomento à agricultura. É por meio dessa experiência que queremos fomentar a troca de conhecimentos, o compartilhamento de soluções e a criação de parcerias.
Durante a visita ao Brasil, os representantes africanos, entre eles muitos Ministros da Agricultura, tiveram contato com experiências brasileiras bem-sucedidas. Conheceram o trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e de cooperativas que abastecem programas como o de alimentação escolar, que alcança 40 milhões de crianças. Viram como regiões semiáridas do Brasil se transformaram em polos exportadores de alimentos, com tecnologias adaptadas à escassez hídrica — soluções que podem ser úteis em regiões da África.
O Diálogo que acontece nesta semana está inserido em uma agenda mais ampla. Em novembro passado, no Rio de Janeiro, lançamos a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, durante a Cúpula do G20. Em seis meses de existência, a Aliança já reúne mais de 180 membros, incluindo 95 países.
Benin, Etiópia, Moçambique, Quênia, Ruanda, Tanzânia, Zâmbia foram selecionados para a implementação acelerada de projetos da Aliança Global. Serão programas em áreas como agricultura familiar, alimentação escolar, acesso à água, transferência de renda e pecuária sustentável. Nesta semana, pudemos identificar formas de ampliar o engajamento dos países africanos na iniciativa.
Tenho certeza de que a proximidade cultural, econômica e política entre o Brasil e as nações africanas é fundamental na construção do mundo mais igualitário que buscamos. A África, afinal, sempre esteve presente na formação do Brasil. Costumo dizer que a África faz parte do Brasil, e o Brasil faz parte da África. Mais da metade dos 212 milhões brasileiros se reconhecem como afrodescendentes. Compartilhamos com seis países africanos a língua portuguesa. A contribuição africana para a diversidade étnica e cultural do Brasil é imensurável. Devemos à África nosso jeito de ser.
Minha relação com a África é profunda. Em Adis Abeba, no ano passado, fiz minha 21ª visita ao continente. A cada viagem, reforço minha admiração pela África e por seu povo.
O Diálogo que vem sendo empreendido entre Brasil e África é um marco de uma relação histórica e estratégica que une nossos povos. O fortalecimento das relações com os países africanos constitui prioridade de meu governo. Reflete laços históricos, valores compartilhados, interesses convergentes e o compromisso com uma cooperação baseada na solidariedade, no respeito mútuo e na promoção da inclusão social e do desenvolvimento sustentável.