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Publicado em 24/11/2013 09h00 Atualizado em 17/12/2025 13h25

Palmares Itinerante ouve as comunidades tradicionais em Campo Grande/MS

Publicado em 22/03/2017 09h00 Atualizado em 24/10/2023 08h07

Por Emiliane Saraiva Neves

No mês em que se comemora internacionalmente as conquistas das mulheres e se discutem maneiras de se acabar com as discriminações que ainda sofrem, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Erilvado Oliveira, esteve em Mato Grosso do Sul, com o programa Palmares Itinerante, no qual pôde ouvir as reivindicações das mulheres negras, de terreiro, ciganas e quilombolas.

O encontro aconteceu dia 14 e 15 de março, nas dependências da Casa Axé Nascente em Campo Grande.  Palmares Itinerante é uma ação da Fundação Palmares cujo intuito é reunir a sociedade civil e as instituições governamentais para receber diretamente das comunidades tradicionais suas demandas. Segundo o presidente Erivaldo, a Palmares Itinerante “não se propõe a ser apenas uma roda de conversa, mas um meio de se alcançar ações concretas e medidas efetivas”.

Nos dois dias do evento, várias questões foram apresentadas, como a conscientização e valorização da luta da mulher em busca dos seus direitos. Foi mencionado o crescimento da violência doméstica contra a mulher negra, a objetificação, hipersexualização delas e a falta de sua representatividade em espaços de poder.

Os participantes também relataram os obstáculos que muitas crianças quilombolas têm que transpor para chegarem até a sala de aula. Denunciaram a carência alimentar que muitas sofrem e o racismo presente nas universidades.

Foi discutida ainda a aplicação da Lei 10.639, que torna obrigatória a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” na grade curricular. Refletiram sobre a realidade das crianças negras e pardas matriculadas nas redes de ensino. Apesar de comporem mais da metade do quadro de alunos, não recebem em sala de aula conteúdo em que se sintam protagonistas.

Diante do exposto, Erivaldo trouxe ao conhecimento que no dia 20 de novembro do ano passado a Fundação Cultural Palmares lançou o livro “O que você sabe sobre a África?”. Adiantou que os livros serão distribuídos prioritariamente nas escolas quilombolas. “Não adianta dizer que o negro é lindo,  que ele deve se ver lindo. O negro precisa se ver representado nos livros”, disse o presidente Erivaldo. O livro didático produzido com o apoio da Fundação, é acompanhado por uma revistinha de palavras-cruzadas sobre a cultura afro-brasileira.

Os representantes de povos de santo pediram mais apoio para a organização de eventos culturais de religiões de matriz africana. O presidente relatou que a Fundação Palmares intenciona realizar pequenos vídeos com as histórias dos Orixás para combater o preconceito e vai trabalhar para que os terreiros se tornem pontos de cultura. “A Palmares Itinerante veio mostrar o que vai fazer. Não vamos financiar cultura de artistas consagrados, mas daquelas comunidades quilombolas que produzem cultura”, enfatizou. Citou o Festival de Artes das Comunidades Quilombolas que acontecerá em Goiás.

O presidente da Comunidade Quilombola Tia Eva, Eurides da Silva, entregou ao presidente da Fundação um documento contendo os pedidos da comunidade e das entidades do movimento negro referentes às políticas públicas, como sugestão para que sejam implementadas. Após o encerramento do evento a equipe da Fundação Cultural Palmares e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) visitaram as comunidades quilombolas Chácara do Buriti e São João Batista. Conforme esclareceu o presidente Erivaldo, a visitas são necessárias porque “as demandas não estão em Brasília, sede da Fundação Palmares, estão nas comunidades”.

Fundação Palmares e ECAM promoverão mapeamento cultural de comunidades quilombolas

Publicado em 17/03/2017 09h00 Atualizado em 24/10/2023 08h10

Por Emiliane Saraiva Neves

A Fundação Cultural Palmares, através do seu Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro em parceria com a ECAM – Equipe de Conservação da Amazônia, está desenvolvendo um canal de comunicação com as comunidades remanescentes de quilombo. O objetivo é criar um banco de dados cujas informações serão enviadas diretamente pelos quilombolas através de um aplicativo para aparelhos móveis.

A ideia da ferramenta consiste em disponibilizar para as comunidades tradicionais questionários onde poderão responder perguntas direcionadas à cultura local, como práticas tradicionais, saberes dos moradores mais antigos e a história do povo. Informações sobre habitação, saneamento básico, educação, saúde e alimentação comporão os questionários também. A Fundação Cultural Palmares tratará os dados que serão utilizados na formulação de políticas públicas e ajudarão outros órgãos públicos a identificarem quais são as demandas das comunidades, quais políticas precisam ser implementadas e a efetividades das já existentes.

O público-alvo para o manuseio dos questionários é a juventude das comunidades, visto que os jovens têm mais facilidade em usar aplicativos e novas tecnologias da informação. O uso do celular foi escolhido porque foi diagnosticado que as comunidades têm mais acesso a eles do que à Internet em computadores.

Hoje a plataforma está sendo aprimorada pelos técnicos da ECAM, mas será transferida quando estiver concluída para a Fundação Cultural Palmares administrar. O Quilombo Mesquita, localizado aproximadamente a 47 km de Brasília, foi definido como o local para implementação do projeto piloto por estar mais próximo à sede da Fundação. Posteriormente oito comunidades localizadas no Amapá, Rondônia, Goiás e Minas Gerais participarão da avaliação para aprimorar o sistema.

A primeira aplicação dos questionários por meio de celular teve um ótimo desempenho no Quilombo Mesquita e já demonstrou que o projeto caminha na direção correta. Os jovens que aplicaram o questionário disseram que foi uma experiência muito interessante. Contaram que apesar de ser rápido inserir as respostas e encaminhar, tiveram a oportunidade de conhecer mais profundamente a história do quilombo.

Esses questionários serão disponibilizados pelo aplicativo desenvolvido pelo Google chamado de ODK (Open Data Kit). ODK é um pacote de ferramentas que permite a coleta e envio de dados a um servidor on-line com dispositivos móveis Android, mesmo sem conexão à Internet ou serviço de telefonia móvel no momento da coleta. Podem ser inseridos nele texto, dados numéricos, GPS, fotos, vídeos, códigos de barras e áudio.

Durante o processo foram acompanhados e orientados por um coordenador, um técnico supervisor e um engenheiro de tecnologia da ECAM. No dia 4 deste mês a equipe da Fundação Cultural Palmares esteve no Quilombo Mesquita para junto aos moradores diagnosticar a efetividade dos questionários e ouvir as sugestões do quilombolas.

Pretende-se paralelamente à aplicação dos questionários, capacitar as comunidades para mapearem os seus territórios, identificando quais são as manifestações e aparelhos culturais existentes neles e registrar essas informações no Google Earth.

Presidente Erivaldo Oliveira se reúne com representantes quilombolas

Publicado em 16/03/2017 15h00 Atualizado em 24/10/2023 08h11

Por Emiliane Saraiva Neves

O presidente da Fundação Cultural Palmares, Erivaldo Oliveira, recebeu a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Goiás na sede da Fundação em Brasília, dia 09. Compareceu à audiência representantes dos quilombos Mesquita, Ana Laura, São Félix, Nossa Senhora Aparecida, Rafael Machado, João Borges Vieira e Comunidade Boa Nova. Também participou o SEBRAE de Goiás e o Instituto Federal Goiano.

Vários pontos foram trazidos para a pauta da reunião, entre eles o andamento do processo de certificação das comunidades quilombolas do Estado de Goiás, a distribuição de cestas básicas e o programa Minha Casa Minha Vida (Rural e Urbano).

A Coordenação ressaltou a dificuldade que muitas lideranças de comunidades quilombolas têm em saber como acessar as políticas públicas. Mencionou a importância dos gestores municipais se interessarem pelos direitos das comunidades e entenderem que estas são parceiras dos municípios.

O presidente mostrou como a Fundação Palmares buscará envolver as prefeituras. Deu como exemplo a participação dos prefeitos, junto ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep, no censo de escolas quilombolas. “É obrigação das prefeituras repassarem os recursos que recebem que são destinados aos estudantes quilombolas e nós da Palmares trabalharemos nessa conscientização”, disse Erivaldo.

Também informou aos representantes que esteve com o diretor da Companhia Energética do Maranhão e da CELPA, Centrais Elétricas do Pará, onde foi apresentado a ele como sugestão uma política pública já existente onde toda comunidade quilombola tem o direito da redução de 10 a 60% no valor da fatura da energia.

Na oportunidade os representantes denunciaram casos de discriminação e perseguição que estudantes quilombolas têm sofrido dentro das universidades e na tentativa de acesso às vagas por meio das cotas. Também foi alertado sobre casos de candidatos negros e pardos aprovados em concursos, também por meio de cotas, e que foram impedidos de tomar posse sem que a banca examinadora justificasse a negativa. É necessário denunciar essa realidade urgente! Acionaremos a Procuradoria Federal junto à Fundação Palmares para acompanhar estes casos concretos – enfatizou Erivaldo.

Foi discutido o apoio da FCP no Encontro Estadual de Lideranças Quilombolas do Estado de Goiás que está sendo articulado e à outras festas regionais que resgatem os saberes tradicionais.

Serra da Barriga concorre ao título de Patrimônio Cultural do Mercosul

Publicado em 03/03/2017 15h00 Atualizado em 24/10/2023 08h13

Por Emiliane Saraiva Neves

A Serra da Barriga – declarada Monumento Nacional através do Decreto nº 95.855 de 21 de março de 1988 – é candidata a receber o título de Patrimônio Cultural do Mercosul. A Colômbia, Equador e Venezuela também estão participando apresentando a contribuição africana na construção histórica de seus países. Essas candidaturas ao título fazem parte da proposta La Geografía del Cimarronaje: Cumbes, Quilombos y Palenques del MERCOSUR.

O dossiê que será entregue ainda neste mês para a avaliação da Comissão de Patrimônio Cultural do bloco econômico está na fase final de construção. Uma das etapas do processo de sua elaboração foi uma oficina realizada do dia 13 ao dia 17 dezembro promovida pela Fundação Cultural Palmares e o IPHAN.

Participou a Universidade Federal de Alagoas, a Universidade Estadual, o INCRA, o IBAMA, arqueólogos e antropólogos que ajudaram na época do tombamento da Serra e pesquisadores que escreveram teses voltadas para a Serra da Barriga. O movimento social foi representando os povos de terreiro e de capoeira. Membros do comitê gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares estiveram presentes também.  

Um dos objetivos da oficina foi diagnosticar quais são as expectativas do que se pretende alcançar e realizar caso seja concedido o título à Serra. Foi estudado a necessidade de criar um comitê gestor da Serra da Barriga, que englobe o comitê já existente do Parque e una diversos órgãos públicos onde será feito um trabalho transversal. Cada um assumindo uma responsabilidade na gestão das ações de preservação, promoção e manutenção. Uma ideia colocada, entre várias outras, foi a realização de um festival internacional de cultura negra no Município de União de Palmares, onde as pessoas vão poder se encontrar e divulgar sua cultura.

 Sobre a Serra da Barriga


A Serra da Barriga que ocupa uma área de aproximadamente 27, 92 km2, está localizada no município de União dos Palmares, zona da mata do estado de Alagoas. Seu patrimônio foi tombado pelo IPHAN, no Dia Nacional da Consciência Negra, no dia 20/11/1985.  A União é a proprietária e a Fundação Cultural Palmares é a instituição que recebeu a missão da Secretaria de Patrimônio da União em 07/04/1998 para gerir a Serra da Barriga.

Foi na Serra da Barriga que os descendentes dos africanos escravizados, que conseguiram fugir dos seus capatazes, conseguiram fundar a República dos Palmares, que foi o maior quilombo da América Latina. A palavra quilombo, derivada da língua banto, significa esconderijo, aldeia. Segundo os historiadores 30.000 habitantes viveram no Quilombo dos Palmares que se destacou pela sua resistência.

Foi construído em 2007 no platô da serra o Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Ele é o primeiro e único sítio de memória da cultura negra no Brasil em forma de parque. Foram encontrados na área da serra mais de 40 mil artefatos que são marcadores tanto da cultura africana quanto da indígena no período colonial. Nos sítios arqueológicos os pesquisadores acharam urnas funerárias, estruturas de sepultamento em urnas funerárias, cerâmicas, cachimbos de barro, etc.

Para os praticantes do candomblé e outras religiões de matriz africana o valor da Serra da Barriga extrapola os vestígios físicos da existência de uma comunidade tão relevante para a história da resistência e fim da escravidão. Ela simboliza a perpetuação dos valores sociais, a continuidade da crença e ritos religiosos herdados, o respeito aos ancestrais e a forma de ver e entender o mundo.

Toda madrugada do dia 19 para o dia 20 de novembro é celebrado um ritual fúnebre na serra, chamado de Axexê, em homenagem ao espírito (egum) de Zumbi. A celebração reúne anualmente centenas de pessoas que o homenageiam por meio de oferendas e cantos.

A valorização do patrimônio da Serra da Barriga é uma maneira do Estado se retratar com a sociedade negra e reparar os danos causados pela negação e perseguição a um legado cultural que foi essencial na formação da identidade brasileira.

Foi celebrado o primeiro casamento coletivo na comunidade quilombola de Mumbaça em Alagoas

Publicado em 03/03/2017 09h00 Atualizado em 24/10/2023 08h15

Por Emiliane Saraiva Neves

A  Associação Clube dos Jovens Senhor dos Pobres realizou o primeiro casamento religioso coletivo da comunidade quilombola Mumbaça, no dia 29 de janeiro. A celebração aconteceu no Santuário de Senhor dos Pobres em Traipu, Alagoas. O momento foi apoiado pela Arquidiocese de Penedo. Foram contemplados com a cerimônia religiosa dezoito casais de Mumbaça e 25 do quilombo Belo Horizonte.

Semelhantemente, em 2016 também ocorreu um casamento coletivo ecumênico em Alagoas voltado para comunidades remanescentes de quilombo. Compareceram ao casamento 120 casais das comunidades de Jussara, Freluz, Mariana e Muquém de União de Palmares. O casamento, que  também teve efeito civil, foi oficializado por sacerdotes do candomblé e pastores de igrejas evangélicas.

Manoel Oliveira – um dos representantes da comunidade, mais conhecido como Bié – relatou como foi importante esse apoio da igreja, visto que vários casais de Mumbaça tinham o desejo de regularizar o matrimônio, mas não tinham condições financeiras para realizar a solenidade. A maioria dos moradores de Mumbaça é católica e alguns frequentam igrejas evangélicas.

Eles comemoram entre 23 de janeiro e 02 de fevereiro a Festa de Nosso Senhor dos Pobres, padroeiro da cidade. Essa festividade movimenta o comércio e o turismo da região, pois vem visitantes de todos os lugares, inclusive estrangeiros. Segundo contam, existe uma fonte de água sagrada onde os romeiros vão tomar banho e pegar um pouco para levar para casa. Acreditam que a água tem poder de cura e utilizam como água benta.

História da Comunidade Remanescente de Quilombo Mumbaça

Certificada no dia 27 de dezembro de 2010 pela Fundação Cultural Palmares como Comunidade Remanescente de Quilombo (CRQ’s), o quilombo Mumbaça tem um legado histórico muito rico. Segundo o relato dos seus moradores mais velhos, a origem a comunidade remete ao final do século XIX. Contam que a região se tornou refúgio de negros que conseguiam fugir do trabalho escravo provavelmente das lavouras de café, arroz, fumo e mandioca comuns naquela época.

Dizem que a origem do nome Mumbaça é africana e foi posto pelos homens negros. Outra explicação é que o nome se deu por causa da abundância na localidade uma árvore típica da região. Outros explicam que Mumbaça também era o sobrenome de dois irmãos que se instalaram na região. Os irmãos se desentenderam e foram morar em serras diferentes. Uma das serras ficou com o nome de Mumbaça.

Manoel Oliveira relatou que as mulheres negras da comunidade tornavam-se “amas” ou mães de leite dos bebês cujas mães não podiam amamentar. Segundo Manoel essa cultura ainda pode ser encontrada lá. A maioria da comunidade vive da agricultura e do artesanato. Eles dependem do rio São Francisco para a pesca. Pescam principalmente a piranha, o piau, o tambaqui e a piaba.

Consciência Negra: dor, luta e afirmação

Publicado em 01/03/2017 15h00 Atualizado em 24/10/2023 08h17

“Tudo chegou sobrevivente em um navio […]. Foi o negro quem viu a crueldade bem de frente e ainda produziu milagre de fé no extremo ocidente.” Assim cantou Caetano Veloso em sua canção Milagres do Povo. Aqui os negros chegaram em navios fétidos, amontoados como bichos, deixando para trás clãs, impérios, riquezas e sua cultura. Atordoados ao desembarcar nos porões das embarcações, em vão procuravam com o olhar perdido a outra margem de um “rio” chamado Atlântico. O suposto rio era o oceano sem fim, que presenciou a mais cruel de todas as travessias.

Os negros chegaram em terras desconhecidas, com uma língua ininteligível, mas, mesmo assim, sonhavam em refazer seus clãs, suas tribos. Todos os desejos eram impossíveis, afinal, eram vendidos como mercadorias nas feiras-livres, separando pais de filhos, maridos de suas mulheres – era o laço familiar desfeito. A crueldade do Sistema Colonial da exploração afirmava peremptoriamente que não possuíam alma, eram apenas uma máquina da engrenagem moedora da cana-de-açúcar.

A esperança dos sobreviventes era apelar para a generosidade de uma Igreja Cristã, mas o Cristianismo aqui instalado era da Igreja Jesuítica – legítima herdeira da Santa Inquisição – e logo atestava sem culpa a inexistência de alma naqueles negros de corpos nus, que atraia a avidez sexual dos seus proprietários. Com essa atitude, a Igreja oferecia legalidade aos terrenos perante o soberano da crueldade escravocrata.

O inferno da travessia só era comparado a dureza da vida nas senzalas, comendo restos de comidas, isolados do mundo real que habitavam, não participavam da riqueza que ajudavam a construir. Alguns negros “privilegiados” eram levados para os serviços domésticos, proibidos até de levantarem a cabeça perante o senhor da Casa Grande, gerando um futuro sem altivez e uma autoestima arruinada. Por isso recorro ao poeta Castro Alves para retratar tanta dor: “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura… se é verdade. Tanto Horror perante os Céus?!”. Mas o Senhor só oferece a dor conforme pode-se aguentar, aí o negro forte e audaz entendeu que o grande vencedor se ergue além da dor.

A igreja das trevas da Idade Média tardia no Brasil e não permitia o paganismo. Logo os negros eram obrigados a adorar imagens que não conheciam, de uma cultura que não entendiam os princípios. Astutos e grandes líderes em suas tribos, eles aceitaram a imposição, mas atribuindo a cada santo católico o corresponde de sua religião – os grandes Orixás. Assim, Santo Antônio virou Ogum; São Jorge, Oxóssi; Senhor do Bonfim, Oxalá; Santa Bárbara, Iansã. Dessa forma nascia o sincretismo religioso em terras brasileiras.

Diante de tanto horror e iniquidade, novamente busco inspiração no mestre Castro Alves: “Negras Mulheres, suspendendo as tetas negras. Magras crianças, cujas bocas pretas regam o sangue das mães […]”. Diante de tanto sofrimento, tanta dor, o escaldante sol das savanas e as humilhações da escravidão tornaram os negros ainda mais fortes. Seus braços roliços e rígidos sustentaram a lavoura do “ouro doce” – nossa cana-de-açúcar – e produziu a riqueza de um império europeu assustado com as investidas de Bonaparte. Diante de tanta labuta ainda buscavam forças para na calada da noite reverenciar seus orixás, mantendo viva uma tradição e toda uma cultura que, embora subjugada, não morreu e produziu milagre de fé, numa prova evidente que o coração é soberano e senhor não cabendo na escravidão.

Com sua força de trabalho, o Brasil exportou açúcar e construiu os pilares de uma nação injusta, mas nessas verdes matas o capitalismo ainda não existia em sua forma mais avançada. Logo aqui por essas terras o trabalho não era um fator de produção, era apenas uma obrigação, sem remuneração – mas, resignados, viviam com alegria ao sabor dos seus cantares, danças e oferendas no altar de suas crenças.

O todo poderoso império inglês promoveu sua revolução industrial mudando por completo a fisionomia mundial. O novo capitalismo exigia remuneração da força de trabalho e a escravidão não se coadunava com a nova ordem, logo foi abolida no mundo, mas no Brasil permanecia altiva e cruel. As raízes do capitalismo industrial estavam invadindo as mais longínquas nações e não foi diferente com nossa pátria amada, que para se adaptar às novas regras do capitalismo tardio, realizou em um gesto simbólico toda a “bondade do coração lusitano” representada no ato pela Princesa Isabel – que oficialmente abolira a escravatura, deixando o povo negro sem uma indenização pelo trabalho, onde nunca receberam salários pelos serviços prestados, sem participar dos lucros da terra, dormindo em pocilgas, comendo restos de alimentos, enfim, foram jogados na sarjeta. Alguns preferiram o confinamento nos quilombos vivendo sua miséria com dignidade e autoestima.

Agora libertos dos grilhões oficiais, os negros enfrentaram toda sorte de preconceitos, mas ainda eram tratados como objetos, sem profissão e sem poder produzir o seu sustento. Perambulando pelas ruas, foram julgados incompetentes para a labuta na cultura do novo “ouro” brasileiro – o café. Para isso vieram os imigrantes italianos em situação que o novo capitalismo aprovara, com direito a moradia, comida, dignidade no trabalho e salários. E os negros? Colocados à margem por um Estado injusto e cruel.

A igualdade é um princípio do Direito Positivo e já estava presente nos ideais da Revolução Francesa, mas em nossa Pindorama era apenas um verbete. Para conquistar a sonhada igualdade, muitos ilustres brasileiros lutaram: Castro Alves, José do Patrocínio, Teodoro Sampaio com suas atitudes brilhantes, até mesmo Ruy Barbosa – que queimou todos os documentos da escravidão alegando que aquilo era uma vergonha para uma nação –, nosso Zumbi dos Palmares – líder do maior quilombo do Brasil –, todas as correntes dos movimentos negros, os artistas, os intelectuais como Florestan Fernandes, plantando em cada coração uma Consciência Negra. Foram anos de lutas, com algumas inglórias, avanços nos direitos civis, mas os negros reconquistaram a altivez e a dignidade.

Na sarjeta e sem eira nem beira, o povo negro atravessou o século XX nos guetos, com baixa autoestima, sem acesso à cultura oficial, com sua cultura perseguida até pela força policial, eram preteridos nos postos de trabalho, sobrava apenas o digno trabalho de doméstica, mas pouco valorizado em um Brasil preconceituoso, a educação de qualidade ficava distante, não se orgulhavam de serem negros, inventaram até diversas graduações de cores para disfarçar a exclusão: pardo, escurinho, neguinho, chocolate… Só utilizavam a palavra negro quando era no pejorativo, era o disfarce do preconceito. Ah! Restou o carnaval. Nessa festa pagã, durante os dias festivos, vivia-se a famigerada democracia racial, que logo se desfazia na Quarta-feira de Cinzas da fé cristã.

Sei que um dia a Universidade foi mais negra que a de hoje, pois as escolas públicas tinham grande qualidade, o que facilitava o acesso dos negros. Logo, destruíram as escolas públicas, transformando-as em lixo educacional, o que, a partir da década de 1970, dificultou a entrada dos negros e pobres do país nas grandes universidades, ficando-as como um patrimônio quase exclusivo das classes abastadas que frequentaram bons colégios desde a tenra idade e ter acesso ao ensino superior gratuito São os recursos públicos financiando quem menos precisa.

Diriam alguns arautos do medo e do discurso fácil: as políticas afirmativas adotadas pelo Governo como as cotas para afrodescendentes nas universidades são preconceituosas. Não seria preconceito mais de 100 anos de exclusão, a falta de acesso ao lazer, inexistência de escola digna, falta de igualdade de oportunidades, 300 anos de escravidão construindo uma riqueza que nunca foi repartida? Até nos clubes sociais era proibida a entrada de negros, os times de futebol não os aceitavam. Não seria desigual a indenização oferecida às famílias dos cassados pela ditadura Militar de 1964 – embora extremamente justas – enquanto os cassados e escravizados por um Sistema do Brasil Império sem nunca terem recebido um salário não merecem maior respeito e um tratamento diferenciado por um Estado injusto? Sabemos que as políticas de inclusão social e afirmativas não são eternas, mas são reparadoras.

Hoje os negros que aqui chegaram cabisbaixos dizem alegremente e com orgulho que são negros, se orgulham da cor, dos cabelos crespos, do nariz chato, alcançaram posições de mando, viraram reis do futebol, da estética, da música, das ciências, do teatro, do cinema, mas faltam derrubar os muros do Executivo. Ah! Mas já teve um Presidente da República que disse ter um pé na cozinha. Até a Suprema Corte de Justiça (STF) se rendeu ao povo negro – lá tem assento um ministro negro DOUTOR Joaquim Barbosa. Falta a Igreja abolir a resistência. Precisa-se colorir ainda mais nossas universidades, as empresas públicas e privadas, alcançar a igualdade salarial e racial. Por isso que devemos renovar nossa consciência a cada dia.

Que a trajetória dos negros seja de vitória com altivez, determinação, consciência e afirmação. Que a luta pelos direitos não seja compreendida como uma guerra contra aqueles que não estão contemplados nas cotas. Não devemos abrir focos de luta com as vozes discordantes, mas convencê-los das atrocidades cometidas em nome de um Estado cruel, juntar todos em uma só canção. Só assim o negro continuará a produzir ainda mais milagres de fé no extremo ocidente – e acho que o próximo milagre já pode ser definido: que todos entendam que só existe uma raça: A RAÇA HUMANA. O resto é fruto da estupidez gananciosa, histórica e biológica.

Erivaldo Oliveira é Economista e Administrador, MBA – Executivo em Finanças e Planejamento Estratégico, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Especialista em Ciência Política, Professor Universitário e Consultor nas áreas de Finanças Públicas e Planejamento Governamental.

SEPPIR e Palmares discutem políticas públicas voltadas à Serra da Barriga

Publicado em 21/02/2017 15h00 Atualizado em 24/10/2023 08h24

No dia 20/02 (segunda-feira), na sede da Fundação Cultural Palmares, em Brasília, reuniram-se representantes desta Entidade e da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos. A reunião teve o escopo de possíveis parcerias para a realização de projetos voltados à Serra da Barriga, localizada em União dos Palmares (AL). Nesse sítio histórico está situado o Quilombo dos Palmares – o maior refúgio de negros escravizados da América Latina -, onde viveu seu maior líder, Zumbi dos Palmares.

Também foi mencionado pelo secretário interino da SEPPIR, Sr. Juvenal Araújo, a importância de implementar as políticas previstas na Agenda Social Quilombola naquela região. Bem como a necessidade de uma força-tarefa para conseguir o apoio de outros entes do Governo Federal para a realização de ações afirmativas destinadas à comunidade do local.

Segundo o presidente da Fundação Palmares, Erivaldo Oliveira, as parcerias firmadas são essenciais para o desenvolvimento, com destaque para a existência de um planejamento de ações e um acordo de cooperação técnica que envolve, entre outros aspectos, o incentivo ao turismo.

Tendo em vista apresentação do planejamento da Fundação Palmares para um alinhamento das agendas entre SEPPIR e FCP, uma parceria para que as agendas conjuntas atendam as pautas e interesses em comum.

A Serra da Barriga fica a cerca de 9km do município de União dos Palmares, situado a 80 km de Maceió (AL). Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em 1985, a região faz parte do Planalto Meridional da Borborema, ocupando uma área verde de aproximadamente 27,97km².

Em 2007, o Ministério da Cultura, por intermédio da Fundação Cultura Palmares, implantou o Parque Memorial Quilombo dos Palmares na Serra da Barriga, local este dedicado à cultura negra do país.

Fundação Palmares leva Ministra Luislinda para conhecer a Serra da Barriga

Publicado em 17/02/2017 09h00 Atualizado em 24/10/2023 08h27

Na última segunda (13), o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira, levou para conhecer a Serra da Barriga em União dos Palmares (AL), a Ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois. A serra é um dos mais importantes símbolos de resistência e luta do povo negro no Brasil. A Ministra Luislinda demonstrou imensa felicidade em conhecer o local onde tantos negros viveram e vivem, preservando e mantendo viva a cultura afro-brasileira.

“Foi uma satisfação estar em um território que representa tanto para o nosso povo negro. Nossas origens, nossa história, tudo lá remete a isso. Tenho apenas elogios à estrutura do local. Fomos bem recebidos, as instalações são boas e contamos com o acompanhamento de guias capacitados”, disse a Ministra.

O intuito dessa visita foi também estreitar laços e propor parcerias para que as políticas públicas sejam mais fortes e presentes ao povo de comunidades quilombolas.

“Acrescento que as comunidades quilombolas são um público prioritário no desenvolvimento das políticas implementadas pelo Ministério. No que tange às manifestações culturais afro-brasileiras, chamo a atenção para a importância do trabalho desenvolvido com a Fundação Cultural Palmares (FCP), do Ministério da Cultura. Estamos sempre em busca de parcerias para melhorar a vida do nosso povo preto, pois é de suma importância a cooperação entre os órgãos, visando o desenvolvimento das políticas transversais e empoderamento dos negros e negras.” ressalta a Ministra.

Fundação Cultural discute parcerias com representantes de prefeituras e comunidades quilombolas

Publicado em 16/02/2017 09h00 Atualizado em 24/10/2023 08h28

Na última quarta (15), o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira reuniu-se com os representantes de prefeituras e comunidades quilombolas de diversas localidades: Sr. Cirano de Camargo, Prefeito de Lagoão (RS); Sr. Luiz Carlos, Presidente da Câmara de Lapão (BA) acompanhado do Vereador Claudio José Rodrigues; e os representantes da Comunidade Quilombola Ribeirão Itambé, localizada na Chapada dos Guimarães (MT).

As reuniões tinham como principal pauta a parceria entre a Fundação, as prefeituras e comunidades, para a concessão de cestas básicas para as comunidades quilombolas, bolsa permanência para estudantes remanescentes dos quilombos, apoio às manifestações culturais e cursos de formação.
Mais uma parceria focada em emancipar, fortalecer e fazer com que haja crescimento nas comunidades e aos quilombolas.

Fundação Palmares fortalece parcerias em prol da cultura afro-brasileira

Publicado em 10/02/2017 14h00 Atualizado em 24/10/2023 08h33

Na manhã desta última quarta-feira (08), o presidente da Fundação Cultural Palmares, Erivaldo Oliveira, esteve em reunião com o ministro Helder Barbalho no Ministério da Integração Nacional. O objetivo da reunião foi tratar sobre a execução do Programa Água para Todos nas comunidades remanescentes de quilombo.

O programa tem por meta promover a universalização do acesso à água em comunidades rurais com acesso precário à água, que sejam atendidas por sistemas deficitários ou que sejam atendidas apenas por abastecimento difuso. Visa-se fornecer água de qualidade para que o desenvolvimento humano, a segurança alimentar e nutricional de famílias em situação de vulnerabilidade social sejam garantidos. O deputado federal Lúcio Vieira Lima participou da reunião contribuindo com o planejamento e reafirmando a importância dessa parceria para que as comunidades alcancem sustentabilidade.

Hoje, quinta-feira, a presidência da Fundação Palmares juntamente com os seus coordenadores e diretores receberam no gabinete o prefeito de União de Palmares, Dr. Areski Freitas, a primeira-dama do município e Filipe Almeida, secretário da Secretaria Municipal de Saúde.

A Serra da Barriga, onde hoje se encontra o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, fica a nove quilômetros do município de União. Foram discutidas estratégias para fortalecer o turismo-étnico na região.  A importância de fortalecer parcerias, promover intercâmbios e estimular a produção e disseminação do conhecimento da cultura e histórias locais nortearam a conversa.

Jô Santana, o ator e produtor do musical Cartola – O Mundo é um Moinho, compareceu nesta manhã à sede da Fundação para uma visita cortesia. O musical, que foi apoiado pelo Ministério da Cultura,  retrata a vida e obra do Angenor de Oliveira cantor negro, compositor, poeta e violonista brasileiro. O elenco conta com 15 atores, 10 músicos e um total aproximado de 100 profissionais diretamente envolvidos.

Fundação Palmares e FUNASA Amapá firmam termo de cooperação

Publicado em 25/01/2017 15h00 Atualizado em 24/10/2023 08h42

Por Emiliane Saraiva Neves

Na manhã desta quarta-feira (25), o presidente da Fundação Cultural Palmares, Erivaldo Oliveira, participou do Fórum de Discussões das Ações da Fundação Nacional da Saúde no Amapá (FUNASA). No evento, que aconteceu no auditório da SEBRAE, houve a assinatura do Termo de Cooperação Técnica entre as duas instituições. O objetivo do termo é implementar ações conjuntas de assistência técnica concernentes aos projetos voltados às comunidades tradicionais (quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, assentados, etc.) no estado do Amapá.

A Fundação Palmares subsidiará a realização das atividades da FUNASA com informações antropológicas e dados sobre gestão e planejamento, pesquisas e estudos realizados. Também oferecerá as condições administrativas e operacionais para a realização das ações. A equipe técnica a ser formada pelas duas organizações será multidisciplinar.

Pretende-se viabilizar ações de atendimento à demanda crescente de investimentos em saneamento para as comunidades. Para tanto será feito um diagnóstico da dinâmica estadual e municipal para conhecer melhor a realidade do Amapá. A meta é promover a saúde pública e a inclusão social por meio de ações de saneamento e saúde ambiental nas áreas de interesse especial, nos municípios de até 50 mil habitantes e nas condições de vida de populações vulneráveis do Estado brasileiro.

O presidente da Palmares no fórum relatou que ao viajar pelo país tem visto muitas comunidades quilombolas em estado de penúria. E entende que não é possível à Fundação Palmares trabalhar a cultura sem perpassar pelas questões da saúde e  alimentação dos povos tradicionais. Melhorar as condições de saneamento básico desses grupos é missão da Palmares visto que cabe a ela implementar políticas públicas que protejam o patrimônio cultural afro-brasileiro e desenvolver ações voltadas à sustentabilidade das comunidades remanescentes dos quilombos. 


O fórum foi composto pela apresentação da missão e ações da FUNASA e do SESAM (Serviços de Saúde Ambiental) e do DIESP (Divisão de Engenharia). A mesa foi composta pelo: Superintendente Estadual Alderico Pinheiro; Presidente da Fundação Nacional de Saúde Herinque Pires; Presidente da Fundação Cultural Palmares Erivaldo Oliveira; Senador da República Davi Alcolumbre; Deputado Federal Marcos Reátegui. Representando os prefeitos municipais compareceu Márcio Serrão, prefeito de Laranjal do Jari e o prefeito municipal de Macapá, Clécio Luiz.

Também participou do fórum o prefeito Rildo Oliveira do município de Tartarugalzinho; prefeito José Maria Bessa de Porto Grande; prefeito Carlos Sampaio de Amapá, prefeito Vitor Hugo Itaubal; prefeita Maria Orlanda de Oiapoque; prefeito João da Silva Costa do município de Matagão e o  prefeito Elson Belo de Serra do Navio.

Metas da Palmares para 2017 e 2018 são apresentadas ao ministro da Cultura

Publicado em 24/01/2017 14h00 Atualizado em 24/10/2023 08h43

O ministro da Cultura, Roberto Freire, conheceu as metas da Fundação Cultural Palmares (FCP) para o biênio 2017-2018, durante reunião, no fim da tarde dessa segunda-feira (23), com o presidente da instituição, Erivaldo Oliveira. Entre as prioridades está a criação de parcerias com o governo federal e com empresas privadas para assegurar ampla assistência às comunidades quilombolas certificadas.
 
Desde o ano passado, a Fundação Palmares vem modificando o processo de certificação de terras quilombolas. “Antigamente, após a conclusão e entrega do título de comunidade remanescente de quilombo, as comunidades eram praticamente abandonadas. Para reverter essa situação, temos feito esforços para assegurar melhores condições de vida para essas pessoas. Recentemente, fizemos um convênio nacional com a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) para levar saneamento básico para esses locais”, explicou Erivaldo.
 
O presidente da Palmares também destacou, na apresentação ao ministro, a intenção da FCP de promover mutirões da saúde para atender especificamente as comunidades quilombolas. “Em Alagoas, algumas comunidades vivem tão isoladas que passaram a apresentar problemas genéticos graves por causa do elevado número de casamento entre parentes. Vamos trabalhar para dar a devida atenção a grupos como esses”, ressaltou.
 
Após a conclusão do processo de certificação das terras quilombolas, a Fundação Palmares passou a desenvolver políticas públicas de acordo com a vocação econômica de cada comunidade. “É fundamental identificar quais são as atividades mais importantes para aquela área em especial. Algumas estão voltadas essencialmente para a agricultura, outras para pecuária. Na Bahia, por exemplo, temos uma comunidade com forte inclinação artística que foi incluída em um roteiro de turismo étnico”, contou.
 
De acordo com Erivaldo, a Fundação Palmares passou a exigir, em sua gestão, responsabilidade social das empresas cujos empreendimentos estão dentro ou passam por terras quilombolas. “Até hoje nunca havia sido proposta nenhum tipo de contrapartida a esses empresários. Em Belém, no Pará, temos uma mineradora que atua em áreas remanescentes de quilombos. Para compensar a população das comunidades atingidas, foram negociadas a construção de 80 casas, o que foi prontamente atendido”, destacou.
 
O ministro e o presidente da Palmares discutiram também a questão da mobilidade social nas comunidades quilombolas, bem como a necessidade de se criar programas voltados diretamente para a população que vive nesses lugares. “Precisamos estudar um modo de entender que tipo de incentivo pode ser oferecido para as pessoas de uma determinada localidade, respeitando as manifestações culturais já existentes. Devemos dar as condições para que todos desenvolvam suas potencialidades”, destacou Freire.
 
A criação de uma universidade livre e de cursos de capacitação nas comunidades quilombolas foi outro tema tratado na reunião. Segundo o presidente da Palmares, a ideia é ampliar os programas de estudos das comunidades negras. Além disso, a FCP deverá lançar este ano um livro didático que conta a história dos africanos no Brasil. “O projeto tem como objetivo trabalhar nas escolas a implementação da Lei 10.639, que determina o ensino de história da África e afro-brasileira. A Palmares está fazendo uma tiragem para um projeto-piloto, que será colocado em prática a partir de fevereiro de 2017 em algumas escolas públicas do País”, declarou Erivaldo. O ministro Freire sugeriu que o projeto seja executado em conjunto com o Ministério da Educação para que tenha seu alcance ampliado.
 
Filhos do Brasil
 
Erivaldo enfatizou, ainda, a intenção da Fundação Cultural Palmares em trabalhar na difusão da campanha de combate à intolerância religiosa lançada em maio do ano passado. Intitulada Filhos do Brasil, a iniciativa – cujo embaixador é o cantor Arlindo Cruz – é composta por filmes publicitários dedicados à conscientização da convivência pacífica entre as diversas manifestações religiosas praticadas no Brasil. Na audiência, o ministro assistiu ao primeiro vídeo produzido para essa ação. “Queremos veicular todos os vídeos nas rádios e nas tevês”, concluiu o presidente da FCP. 
 
Fonte: Assessoria de Comunicação – Ministério da Cultura

Fundação Palmares participa de ato na Semana do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

Publicado em 24/01/2017 12h00 Atualizado em 24/10/2023 08h45

Por Emiliane Saraiva Neves

Buscando conscientizar a população sobre o combate à intolerância religiosa, foram distribuídos 2.000 panfletos aos que circulavam na Rodoviária de Brasília na última sexta-feira (20).  Os panfletos traziam orientação sobre o direito e dever de denunciar pelo DISQUE 100 as agressões sofridas por intolerância religiosa. Mostravam que estas devem ser encaminhadas também para redes de proteção, órgãos de investigação e apuração como o Ministério Público e Delegacias Especializadas.

O evento foi uma iniciativa da juventude da Renafro-DF que contou com o apoio da Fundação Cultural Palmares, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, da Secretaria Nacional de Segurança Pública e da Secretaria de Estado de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos – SEDESTMIDH.

A campanha foi bem recebida pelas pessoas que transitavam no local. Muitas mostraram interesse em compreender o que estava sendo passado e pararam para ouvir. Outras foram além, pediram a vez para manifestar o que pensavam sobre o assunto e fazer denúncias. Representantes de vertentes religiosas estiveram presentes para ajudar a levar a mensagem. A Pastoral da Saúde da Igreja Católica, a Igreja Assembleia de Deus Liberdade e Vida, a Força Afro, o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs e a Iniciativa da Religiões Unidas reforçaram naquele momento a importância da paz e do diálogo respeitoso entre a sociedade e os diversos segmentos religiosos.

Vários depoimentos foram gravados e projetados em um telão na rodoviária. E o registro do relato de Pai Silvio Ojú Obá foi uma evidência da importância da campanha. Ele disse: “Nós não podemos mais admitir esses atos de intolerância contra a nossa religião. Nós estamos sendo massacrados. Eu estou aqui na Prainha, em frente à imagem de Oxalá, que no ano passado foi depredada, queimada. Digo que ela foi violentada, porque pra gente ela tem um grande significado. Não podemos mais aceitar essa falta de respeito e dignidade”.


O 1º Secretário da Aliança de Negras e Negros Evangélicos, Pastor Wilson Barboza, participou da campanha e entende que é tempo das lideranças das igrejas protestantes fazerem um concílio e chegarem à uma resolução que direcione as igrejas ao respeito às demais religiões. Tatiane Pontes, participante da Rede Ecumênica da Juventude, vê que a campanha é extremamente válida, assim como outros tipos de atos públicos, manifestações e notas de repúdio. Contudo, considera imprescindível o investimento na educação para mudar a cultura de intolerância.

Ana Flávia Barbosa, que passava no local e parou para ouvir os discursos, disse que intolerância religiosa é um tema pouco debatido. Para ela, diante do que vem acontecendo pelo país o assunto não é discutido nos programas de televisão, revistas e mídias sociais na medida necessária. Percebe que as falas de combate à intolerância ainda são feitas geralmente pelos grupos que sofreram a agressão para os seus pares. Segundo Ana Flávia é importante que a mensagem chegue e seja tratada entre os que praticam a intolerância, que é onde está o foco do problema.

Acompanhando o número crescente de casos de intolerância religiosa e em atendimento à requisição do movimento civil organizado, a Fundação Cultural Palmares, em agosto de 2016, instituiu a Comissão Afro Religiosa. A comissão atua como uma interlocutora da comunidade afro religiosa de Brasília e Entorno junto à Fundação. Cabendo a ela trazer à instituição as demandas dos povos de terreiro com o objetivo de colaborar na construção de políticas públicas e no combate à intolerância racial, social e religiosa.

Ela é composta pela Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Forum Permanente Religioso das Religiões Afro de Brasília e Entorno, Movimento do Orgulho Afrodescendente, Coletivo de Entidades Negras, Força Afro Brasil, Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, Rede Afro Sociocultural, Instituto Ojuobá e  Jovens de Axé e Juventude de Terreiro. Outra atuação da comissão é a retro colaboração na execução dos mapeamentos dos Ilês (templos de religiões de matriz africana). A Fundação Palmares também tem cadeira no Conselho de Defesa dos Direitos do Negro do DF.

Palmares participa da entrega do Plano de Salvaguarda dos Terreiros Tombados da Bahia

Publicado em 19/01/2017 14h00 Atualizado em 24/10/2023 08h48

Nesta quinta-feira (19), a Diretora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares, Carolina Nascimento, participou com a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogea, da reunião com o Grupo de Trabalho Interdepartamental para Preservação do Patrimônio Cultural de Terreiro do IPHAN para a entrega do Plano de Salvaguarda dos Terreiros Tombados da Bahia.

A Fundação Palmares fará parte oficialmente desse GT e participará da elaboração da matriz de prioridades que serão elencadas a partir do Plano, estabelecendo as ações que serão executadas a curto, médio e longo prazo.

Ao longo dos séculos, os terreiros perpetuaram um universo simbólico rico em tradições. São danças, cantos, poesias (oriquis), mitos, rituais e organizações espaciais que mantêm vivas as memórias ancestrais.  Mediante a crescente identificação destes bens culturais, o grupo surgiu em 2013 visando fortalecer as políticas de proteção voltadas à essas manifestações.

O principal objetivo é fortalecer o intercâmbio e as redes de solidariedades entre as comunidades de terreiro atualmente acompanhadas por instituições de proteção do patrimônio cultural, como o Iphan e o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). Exemplo também é o caso da Universidade Federal da Bahia, que vem atuando na implantação de políticas de gestão integradas.

Pai Alcides do Terreiro Sítio da Paz ressaltou a importância da iniciativa, visto que através de um trabalho transversal é possível articular políticas públicas mais eficazes.

Os Planos de Salvaguarda dos Terreiros da Bahia foram elaborados através da construção coletiva, considerando as especificidades de cada terreiro, levando-se em conta, os indivíduos, os ambientes, a comunidade e o seu entorno.

Além da Fundação Palmares, IPHAN Bahia e IPHAN Nacional, Universidade Federal da Bahia participaram do evento os seguintes terreiros: Ilê Axé Oxumarê; Ilê Axé Iyá Nassô Oká – Casa Branca; Ilê Axé Opô Afonjá; Terreiro Tumbenci; Abentumba: Tumba Junsara; Terreiro Sitio De Paz; Terreiro Ilê Axé Omin Iyamassê – Gantois; Terreiro Ilê Agboulá; Terreiro Ilê Axé Maroiálaji- Alaketu.

Fundação Palmares se prepara para o Dia de Combate à Intolerância Religiosa

Publicado em 16/01/2017 14h00 Atualizado em 24/10/2023 08h50

Por Emiliane Saraiva Neves

Fica instituído o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa a ser comemorado anualmente em todo o território nacional no dia 21 de janeiro. Assim está escrito no corpo da Lei nº11.635, sancionada em 2007. Data em que se homenageia Mãe Gilda – fundadora do Ilê Axé Abassá de Ogum, terreiro em Salvador (BA) – por toda contribuição dada por ela à luta pela tolerância religiosa e aos povos de terreiro.

O dia também é o momento de recordar e refletir sobre tudo o que circundou seu falecimento: o uso indevido de sua imagem, a difamação de sua fé, os atos de vandalismo e ódio praticados contra sua família e objetos sagrados de seu terreiro. Acontecimentos que fragilizaram ao extremo sua saúde, até sua vida ser ceifada. Ocorrido que foi o impulso final para a aprovação da lei.

Desde então, o dia é marcado com ações de conscientização do respeito à diversidade religiosa por todo o país. Religiões de matrizes diferentes têm se encontrado em passeatas, campanhas e eventos culturais onde, a uma só voz, pedem que a liberdade de crença seja assegurada e que a sociedade trate de forma digna os locais de culto e suas liturgias.

Ano passado, em 2016, as ruas do centro de Porto Alegre (RS) se encheram de integrantes diferentes terreiros gaúchos, que marcharam ao som de tambores reivindicando direitos sociais e a garantia de um Estado laico. Carregando os mesmos ideais, em Manaus (AM), naqueles mesmos dias, católicos e comunidades tradicionais de terreiros se uniram dentro da Paróquia de São Sebastião para celebrar e reafirmar o Termo de Ajustamento Coletivo (TAC) de não agressão entre as principais lideranças religiosas na capital.

Este ano Comissão Afro-Religiosa de Axé/Juventude de Terreiros-DF e Entorno reuniu a Fundação Palmares, SEPPIR/PR, a Secretaria de Cultura do DF, a SEMIDH, Renafro, Foafro-DF, Fonsanpotma e o Instituto Yaa Asantewaa, para traçar como será a programação do Dia Nacional de Combate à Intolerância. Está sendo planejada uma ação na Rodoviária de Brasília, localizada no centro da cidade, no dia 20, sexta-feira. Pretende-se tocar na rádio da rodoviária, mensagens gravadas por representantes de diversos segmentos religiosos. Vídeos serão projetados no local e também serão veiculados nas redes sociais. Panfletos serão distribuídos buscando a conscientização do problema.

Racismo religioso x Intolerância Religiosa

Segundo os organizadores do evento em Brasília, apesar da data instituída ser um grande avanço, intolerância religiosa ainda não é o termo adequado ao que se deseja combater. Janaína Bittencourt, do Instituto Yaa Asantewaa, esclarece que do ponto de vista semântico intolerância é apenas uma indisposição de alguém com opiniões opostas às suas. A partir dessa perspectiva, intolerância não é crime.

Thiago Almeida, da Renafro, explica que o termo ameniza o problema. Percebe que os ataques sofridos pela população de terreiro não são pautados apenas pela opção religiosa. São ataques que escondem outras questões como o feminicídio, a discriminação e racismo. Racismo porque são religiões trazidas pelos africanos escravizados e discriminação porque muitos terreiros acolhem homossexuais e mulheres que estão à margem da sociedade.

Janaína diz que: “Existe uma lógica muito bem organizada e regimentada de desconstrução de práticas religiosas. Isso acontece não só no Brasil, na diáspora africana toda, mas aqui tem tomado proporções absurdas”. Exemplifica relatando que a vulnerabilidade dos povos de terreiro passa até por questões como andar nas ruas com trajes de santos. Muitos optam por não usar, não por sentimentos de vergonha da sua própria fé mas, por medo de sofrer uma agressão verbal ou até mesmo física.

Nota de pesar

Publicado em 12/01/2017 09h00 Atualizado em 24/10/2023 08h52

É com profundo pesar que a Fundação Cultural Palmares comunica o falecimento de Daniel Rodrigues Brasil.

Daniel colaborador da Fundação Cultural Palmares, trabalhando na Assessoria Internacional da instituição e sempre desempenhou com muita dedicação e comprometimento as missões atribuídas. Atuou também como assessor para a Presidência da República, na Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial. E era atualmente oficial de chancelaria no Itamaraty, onde trabalhava desde 2005.

A Fundação Cultural Palmares manifesta os sentimentos e solidariedade à família e amigos.

Fundação Palmares e SEBRAE levarão capacitação às comunidades remanescentes de quilombo

Publicado em 11/01/2017 14h00 Atualizado em 24/10/2023 08h54

Por Débora Cruz e
Emiliane Saraiva Neves

Entendendo que cumpre à Fundação Cultural Palmares desenvolver políticas públicas que promovam a mobilidade social do negro e negra brasileira, nesta terça-feira (10), o presidente da Fundação, Erivaldo Oliveira, reuniu-se com a gerente adjunta da Unidade de Atendimento Setorial Comércio e Serviços do SEBRAE, Sra. Ana Clévia Guerreiro Lima, para iniciar uma parceria entre as instituições.

Segundo Carolina Nascimento, diretora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro que esteve presente na reunião, o objetivo da parceria é capacitar as comunidades remanescentes de quilombo para que possam promover sua sustentabilidade a partir do seu patrimônio cultural. Esclareceu que o esforço será no sentido de ajudar as comunidades a identificarem que o que é de raiz cultural pode ser utilizado como instrumento de desenvolvimento econômico. “Com esse tipo de ação a gente preserva a cultura, empodera e gera renda”, disse.

Será feita uma análise mais minuciosa das demandas a partir do perfil e vocação das comunidades que já foram certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Contudo, hoje a instituição já identifica que os eixos de atuação prioritários são: turismo, artesanato, economia criativa, agronegócio e gastronomia.

A Fundação Palmares pretende atuar em 2017 mais ativamente no Maranhão, Bahia, Minas Gerais e Pernambuco, que são os estados com o maior número de comunidades quilombolas e serão o projeto piloto. Os demais estados serão contemplados no ano seguinte.

O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) já desenvolve ações de formação em alguns estados, como em Alagoas e Goiás. Os dados levantados pela experiência do SEBRAE junto às comunidades remanescentes de quilombo serão compartilhados com a FCP para o desenvolvimento do projeto. Planeja-se lançar editais do SEBRAE com recorte voltado para as comunidades tradicionais e serão desenvolvidos projetos exclusivos diretamente nas comunidades.

A CONAQ (Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas) será uma parceira imprescindível pois, detém o panorama das comunidades e ajudará, juntamente com as lideranças locais e associações, levar as informações sobre os cursos e editais às comunidades que nem sempre têm acesso à Internet ou outros canais de comunicação.

Na virada do ano Fundação participa de evento na Praça de Orixás em Brasília

Publicado em 09/01/2017 15h00 Atualizado em 24/10/2023 08h56

Por Débora Cruz e
Emiliane Saraiva Neves

Iemanjá, conhecida como Rainha do Mar e das Águas Salgadas, faz parte do panteão de religiões de matriz africana. E a cada virada de ano, tradicionalmente, Iemanjá é reverenciada em orlas marítimas de vários países onde terreiros se encontram presentes, como em: Portugal, Espanha, Alemanha, Chile, Paraguai e Cuba.

E nesse período de transição do calendário – no dia 31 de dezembro, às margens do Lago Paranoá no Distrito Federal – os adeptos dessas religiões, respeitando suas diferenças e em comunhão de espírito, se unem há mais de 40 anos em um cortejo para agradecer, louvar e consultar seus guias espirituais para um ano seguinte melhor.

A este ambiente de muito respeito ao próximo, a Fundação Cultural Palmares se juntou, levando o projeto Brasília na Luta contra a Discriminação Étnico-Racial. O evento aconteceu na Praça dos Orixás, mais conhecida como Prainha. Segundo os organizadores, cerca de 30 mil pessoas compareceram. O momento foi de muita paz. Segundo a Defesa Civil, Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, que estavam ali para garantir a segurança da população e a ordem do trânsito, nenhum caso de violência foi registrado.

Vinte cinco tendas foram montadas no local. Cinco foram destinadas às instituições públicas que estavam ajudando na coordenação e vinte foram ocupadas por diferentes terreiros da Umbanda de Brasília e Entorno. Segmentos do Candomblé como o Ketu, Angola, Gege, Nagô, Terekô, Tambor de Mina e outros ocuparam a tenda principal.

Mãe Baiana, yalorixá que estava na organização, disse: “Me marcou muito ver o nosso povo chegando na maior alegria trazendo cadeira, mesa na cabeça, descendo dos ônibus correndo para chegar primeiro. Todos correndo para poder pegar um lugar de destaque já prevendo que encheria muito”. Segundo Mãe Baiana, a alegria contagiante estava nos olhos de cada um e até as crianças passeavam tranquilamente, como se estivessem em casa.

Foi instalada uma praça de alimentação, onde houve degustação da culinária africana. Nela era possível encontrar também bobó de camarão, tapioca baiana, acarajé, vatapá, beju, cuscuz e outros alimentos da nossa cultura brasileira. Na feira de artesanato, além dos produtos afros à venda, foram dadas oficinas de turbante e palestras com Ogãs e Ekeds.

Sobre o Projeto Brasília na Luta contra a Discriminação Étnico-Racial.

Terreiros de religiões de matriz africana vêm sofrendo ataques em todos os estados brasileiros inclusive no Distrito Federal e seu entorno. Ao acompanhar casos como o que ocorreu em Valparaíso/GO em março de 2016 , a Fundação Palmares elaborou estratégias para ajudar a coibir a cultura de intolerância religiosa e apresentou nessa virada do ano o projeto: Brasília na Luta contra a Discriminação Étnico-Racial.

O projeto consistiu em apoiar o evento na Praça dos Orixás, colaborando com a estrutura física e trazendo grupos afro-culturais ao evento. Disponibilizou vários ônibus, que trouxeram dos 4 cantos do DF e entorno, religiosos de vários terreiros para o local.

A Fundação, durante a celebração, projetou no telão os vídeos da Campanha Filhos do Brasil, cujo embaixador é o cantor e compositor Arlindo Cruz. Uma palestra e oficina sobre o assunto foram dadas pela instituição antes do cortejo. Durante toda a noite os presentes tiveram a oportunidade de conhecer e entender a luta contra o preconceito étnico-religioso.

Filhos do Brasil é uma ação da FCP, encampada pelo Ministério da Cultura, em defesa da liberdade de crença e de culto, direitos garantidos por nossa Constituição Federal, que reconhece o Brasil como uma nação pluralista, formada por uma população culturalmente diversa.

 O cortejo e as apresentações culturais

A programação começou com a apresentação dos vídeos da campanha Filhos do Brasil. Em seguida uma roda de conversa foi feita. Logo se apresentou o grupo Sensação Paraense, fundado no Vale do Amanhecer, formado por crianças que contam por meio do Carimbó e Boi Bumbá o enredo da história de uma indígena. 

O cortejo se iniciou por volta das 21h. Com cânticos acompanhados pelo som dos atabaques e agogôs, os participantes do cortejo, ao chegarem na Prainha, primeiro saudaram a Exu. Ofereceram o padê de Exu, que é um alimento preparado para homenagear o orixá e pedir-lhe a benção para que tudo ocorra bem durante o evento. Juntamente com o padê foram ofertados bebidas, velas e frutas.

Em seguida todos se encaminharam para a tenda principal para celebrar com louvores à Iemanjá em um grande xiré. Xiré, também chamada de gira, é uma roda onde todos dançam e cantam conforme o dialeto e características de sua própria nação. No xiré é possível identificar diferentes segmentos das religiões de matriz africana dançando juntos, apenas observando como se compõem as suas indumentárias e forma de dançar.

Aproximando da hora da virada do ano o cortejo de dirigiu para a beira do lago. No caminho pararam diante da imagem de Oxalá para um ato de solidariedade, quando foi posto um alá, tecido branco, para cobri-la. Os adeptos pediram às autoridades competentes para que seja feita a sua revitalização.  

Com os fogos de artifício estourando no céu e a belíssima cascata de luz na ponte Honestino Guimarães, foram oferecidos à Iemanjá oferendas conforme seu agrado: bonecas, espelhos, rosas, pulseiras, velas e flores em barcos. Depois entre a Tenda e a Praça de Alimentação houve novamente louvor e homenagens a Exu.

Em diante, a Secretaria de Cultura do Distrito Federal promoveu um grande show artístico. A cantora Thabata Lorena iniciou as apresentações musicais, seguida do Grupo Cultural Obará, Renata Jambeiro, Fabinho Samba e Máximo Mansur encerrando o evento.

Fernanda Nascimento, 26, candomblecista e moradora do Distrito Federal, falou como foi sua terceira vez participando das celebrações de virada de ano na Prainha: “Esse foi o melhor ano, foi tudo muito bom. A estrutura estava perfeita, as apresentações musicais e culturais foram lindas, gostei muito!”, diz Fernanda.

Palmares realiza entrega de Certificado Quilombola em Abadia de Goiás

Publicado em 06/01/2017 15h00 Atualizado em 24/10/2023 08h58

No final desta manhã (06/01), o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sr. Erivaldo de Oliveira, entregou o Certificado de Reconhecimento de Comunidade Remanescente Quilombola para a Associação Quilombola do Recanto dos Dourados de Abadia de Goiás. O documento foi recebido pela presidente da Associação, Sra. Eli Barretos.

A Fundação Palmares é o órgão competente para sua expedição. O certificado é muito importante para autoafirmação do quilombo, com esse documento, a comunidade adquire os direitos e respaldos estabelecidos pela Convenção 169, e receberá auxílio do Incra para a titulação de seu território.

“Fiz questão de vir aqui na comunidade, entregar este documento, pessoalmente! Ele é extremamente importante para ser entregue friamente pelos correios!”

Reunião preparatória para os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas

Publicado em 25/10/2023 18h26

Nesta quarta-feira (25) a Fundação Cultural Palmares (FCP) recebeu grupos de povos indígenas para tratarem da reunião preparatória para os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, coordenado pelos indígenas Marcos e Carlos, da etnia Terena.

Os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas são considerados o maior evento desportivo-cultural indígena das Américas, onde buscam a celebração e o envolvimento dos povos participantes, incentivando o respeito mútuo às vivências culturais e desportivas tradicionais e ocidentais.

Na ocasião esteve presente a chefe de gabinete da Fundação, Ângela Inácio, o diretor do Departamento de Fomento da Cultura Afro-Brasileira da FCP, Nelson Mendes, Marcos Serena, Mariano Justino, Elson da Silva, Maria Helene, Jorge no Kaya, Leomar Wainne, José Eduardo, Adriano Tsererawau, Marrayuri Kuikuro,Jowi Kamaíurá, Tally de Faria e Tatiane Martins.

“Os Jogos são um marco no requisito de expressões corporal e esportivo, onde se celebra artisticamente e historicamente os encontros  etnocêntricos culturais indígenas”, explica Ângela Inácio.

Para um dos organizadores dos Jogos Mundiais, o evento é um marco mundial e uma celebração aos povos indígenas.

“Os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas é uma criação do índio brasileiro. É um sonho, e de unir povos não só das 300 etnias do Brasil, mas do mundo todo! Estamos com um grande desafio, pois queremos reunir indígenas dos Estados Unidos, África e do mundo todo em geral”, destaca Marco Serena.   

Nesse cenário, os jogos possibilitam a reorganização e a reafirmação de papéis sociais estabelecidos historicamente entre os vários povos indígenas participantes da sociedade brasileira.

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