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Palmares Itinerante ouve as comunidades tradicionais em Campo Grande/MS
Por Emiliane Saraiva Neves
No mês em que se comemora internacionalmente as conquistas das mulheres e se discutem maneiras de se acabar com as discriminações que ainda sofrem, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Erilvado Oliveira, esteve em Mato Grosso do Sul, com o programa Palmares Itinerante, no qual pôde ouvir as reivindicações das mulheres negras, de terreiro, ciganas e quilombolas.
O encontro aconteceu dia 14 e 15 de março, nas dependências da Casa Axé Nascente em Campo Grande. Palmares Itinerante é uma ação da Fundação Palmares cujo intuito é reunir a sociedade civil e as instituições governamentais para receber diretamente das comunidades tradicionais suas demandas. Segundo o presidente Erivaldo, a Palmares Itinerante “não se propõe a ser apenas uma roda de conversa, mas um meio de se alcançar ações concretas e medidas efetivas”.
Nos dois dias do evento, várias questões foram apresentadas, como a conscientização e valorização da luta da mulher em busca dos seus direitos. Foi mencionado o crescimento da violência doméstica contra a mulher negra, a objetificação, hipersexualização delas e a falta de sua representatividade em espaços de poder.
Os participantes também relataram os obstáculos que muitas crianças quilombolas têm que transpor para chegarem até a sala de aula. Denunciaram a carência alimentar que muitas sofrem e o racismo presente nas universidades.
Foi discutida ainda a aplicação da Lei 10.639, que torna obrigatória a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” na grade curricular. Refletiram sobre a realidade das crianças negras e pardas matriculadas nas redes de ensino. Apesar de comporem mais da metade do quadro de alunos, não recebem em sala de aula conteúdo em que se sintam protagonistas.
Diante do exposto, Erivaldo trouxe ao conhecimento que no dia 20 de novembro do ano passado a Fundação Cultural Palmares lançou o livro “O que você sabe sobre a África?”. Adiantou que os livros serão distribuídos prioritariamente nas escolas quilombolas. “Não adianta dizer que o negro é lindo, que ele deve se ver lindo. O negro precisa se ver representado nos livros”, disse o presidente Erivaldo. O livro didático produzido com o apoio da Fundação, é acompanhado por uma revistinha de palavras-cruzadas sobre a cultura afro-brasileira.
Os representantes de povos de santo pediram mais apoio para a organização de eventos culturais de religiões de matriz africana. O presidente relatou que a Fundação Palmares intenciona realizar pequenos vídeos com as histórias dos Orixás para combater o preconceito e vai trabalhar para que os terreiros se tornem pontos de cultura. “A Palmares Itinerante veio mostrar o que vai fazer. Não vamos financiar cultura de artistas consagrados, mas daquelas comunidades quilombolas que produzem cultura”, enfatizou. Citou o Festival de Artes das Comunidades Quilombolas que acontecerá em Goiás.
O presidente da Comunidade Quilombola Tia Eva, Eurides da Silva, entregou ao presidente da Fundação um documento contendo os pedidos da comunidade e das entidades do movimento negro referentes às políticas públicas, como sugestão para que sejam implementadas. Após o encerramento do evento a equipe da Fundação Cultural Palmares e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) visitaram as comunidades quilombolas Chácara do Buriti e São João Batista. Conforme esclareceu o presidente Erivaldo, a visitas são necessárias porque “as demandas não estão em Brasília, sede da Fundação Palmares, estão nas comunidades”.