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Fundação Palmares se prepara para o Dia de Combate à Intolerância Religiosa
Por Emiliane Saraiva Neves
Fica instituído o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa a ser comemorado anualmente em todo o território nacional no dia 21 de janeiro. Assim está escrito no corpo da Lei nº11.635, sancionada em 2007. Data em que se homenageia Mãe Gilda – fundadora do Ilê Axé Abassá de Ogum, terreiro em Salvador (BA) – por toda contribuição dada por ela à luta pela tolerância religiosa e aos povos de terreiro.
O dia também é o momento de recordar e refletir sobre tudo o que circundou seu falecimento: o uso indevido de sua imagem, a difamação de sua fé, os atos de vandalismo e ódio praticados contra sua família e objetos sagrados de seu terreiro. Acontecimentos que fragilizaram ao extremo sua saúde, até sua vida ser ceifada. Ocorrido que foi o impulso final para a aprovação da lei.
Desde então, o dia é marcado com ações de conscientização do respeito à diversidade religiosa por todo o país. Religiões de matrizes diferentes têm se encontrado em passeatas, campanhas e eventos culturais onde, a uma só voz, pedem que a liberdade de crença seja assegurada e que a sociedade trate de forma digna os locais de culto e suas liturgias.
Ano passado, em 2016, as ruas do centro de Porto Alegre (RS) se encheram de integrantes diferentes terreiros gaúchos, que marcharam ao som de tambores reivindicando direitos sociais e a garantia de um Estado laico. Carregando os mesmos ideais, em Manaus (AM), naqueles mesmos dias, católicos e comunidades tradicionais de terreiros se uniram dentro da Paróquia de São Sebastião para celebrar e reafirmar o Termo de Ajustamento Coletivo (TAC) de não agressão entre as principais lideranças religiosas na capital.
Este ano Comissão Afro-Religiosa de Axé/Juventude de Terreiros-DF e Entorno reuniu a Fundação Palmares, SEPPIR/PR, a Secretaria de Cultura do DF, a SEMIDH, Renafro, Foafro-DF, Fonsanpotma e o Instituto Yaa Asantewaa, para traçar como será a programação do Dia Nacional de Combate à Intolerância. Está sendo planejada uma ação na Rodoviária de Brasília, localizada no centro da cidade, no dia 20, sexta-feira. Pretende-se tocar na rádio da rodoviária, mensagens gravadas por representantes de diversos segmentos religiosos. Vídeos serão projetados no local e também serão veiculados nas redes sociais. Panfletos serão distribuídos buscando a conscientização do problema.
Racismo religioso x Intolerância Religiosa
Segundo os organizadores do evento em Brasília, apesar da data instituída ser um grande avanço, intolerância religiosa ainda não é o termo adequado ao que se deseja combater. Janaína Bittencourt, do Instituto Yaa Asantewaa, esclarece que do ponto de vista semântico intolerância é apenas uma indisposição de alguém com opiniões opostas às suas. A partir dessa perspectiva, intolerância não é crime.
Thiago Almeida, da Renafro, explica que o termo ameniza o problema. Percebe que os ataques sofridos pela população de terreiro não são pautados apenas pela opção religiosa. São ataques que escondem outras questões como o feminicídio, a discriminação e racismo. Racismo porque são religiões trazidas pelos africanos escravizados e discriminação porque muitos terreiros acolhem homossexuais e mulheres que estão à margem da sociedade.
Janaína diz que: “Existe uma lógica muito bem organizada e regimentada de desconstrução de práticas religiosas. Isso acontece não só no Brasil, na diáspora africana toda, mas aqui tem tomado proporções absurdas”. Exemplifica relatando que a vulnerabilidade dos povos de terreiro passa até por questões como andar nas ruas com trajes de santos. Muitos optam por não usar, não por sentimentos de vergonha da sua própria fé mas, por medo de sofrer uma agressão verbal ou até mesmo física.