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RSBR-Mar: Observatório Nacional lidera missão científica para monitorar terremotos no Atlântico Sul
Uma expedição científica realizada entre os dias 25 de setembro e 3 de outubro marcou um passo histórico para a sismologia no Brasil com a expansão da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) para o mar. Pesquisadores do Observatório Nacional (ON/MCTI) embarcaram no Navio Hidroceanográfico Faroleiro Almirante Graça Aranha, da Marinha do Brasil, na Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), em Niterói (RJ), para percorrer a margem sudeste do país, entre os estados de São Paulo e Espírito Santo. A viagem terminou com desembarque no porto de Vitória (ES).

Durante a expedição, foram instalados oito sismógrafos flutuantes (MERMAIDs) e cinco sismógrafos de fundo oceânico (OBSs) a mais de 2.000 metros de profundidade. Os MERMAIDs permanecerão em operação por até cinco anos, enviando dados via satélite periodicamente.
Lançamento dos MERMAIDs
Enquanto isso, os OBSs serão recuperados após um ano para coleta dos dados registrados e relançamento, totalizando dois anos de aquisição de dados. Os OBSs foram identificados com siglas que homenageiam as praias do Rio de Janeiro: Botafogo (BTFG), Ipanema (IPAN), Leme (LEME), Urca (URCA) e Copacabana (COPA).
Lançamento dos OBDs
Coordenado pelo pesquisador Dr. Sergio Fontes (ON), o RSBR-Mar é um projeto que expande a RSBR para o mar, com o objetivo de ampliar a capacidade de monitoramento de terremotos na margem sudeste do Brasil. O projeto é coordenado pelo ON com apoio da FINEP.
“A instalação desses equipamentos representa um marco para a sismologia brasileira. Ao levar a Rede Sismográfica Brasileira para o mar, ampliamos significativamente nossa capacidade de monitorar e compreender a atividade sísmica em uma região estratégica para o país. Trata-se de um investimento em ciência, inovação e segurança. Estamos construindo hoje a base de um sistema de monitoramento sísmico que transformará a forma como o Brasil observa e compreende os terremotos no mar”, destacou o Dr. Sergio Fontes.

Participaram da missão: Dr. Gilberto da Silva Leite Neto (pesquisador), MsC. Ítalo Cley Borges de Santana Maurício (tecnologista), Dr. José Alejandro Moreno Alfonzo (tecnologista) e o Dr. André Nascimento (pós-doc em sismologia), além do Prof. Dr. Arthur Antonio Machado (Universidade Federal da Bahia – UFBA) e o Dr. Peter Jürgen Gossler (KUM OFFSHORE – empresa de fornecimento de tecnologias submarinas). A iniciativa contou com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e apoio da Coordenação-Geral de Ciências para Oceano e Antártica - CGOA do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Marinha do Brasil e da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM).

“Esses equipamentos agora instalados nos permitirão uma cobertura sem precedentes dos terremotos que ocorrem nesta região. Esses dados serão fundamentais para investigar a origem dos terremotos, entender melhor a estrutura interna da Terra e avaliar o risco sísmico na região, importante proteger infraestruturas críticas localizadas na Amazônia Azul. Inclusive, já tivemos acesso aos primeiros dados registrados pelo Mermaid 106 [imagem abaixo]”, destacou o Dr. Gilberto Leite, sismólogo do ON e da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), integrante da equipe do projeto RSBR-Mar.

Conforme destacou o Dr. Alejandro Alfonzo, a expedição foi um sucesso, mas também desafiadora. O navio passou um dia na Baía de Guanabara por conta de questões meteorológicas. O primeiro lançamento, após 30 horas de viagem, ocorreu durante o dia. A partir daí, os deslocamentos entre um lançamento e outro variaram entre 4 e 7 horas, dependendo do vento, das ondas e da distância até o próximo ponto. Os horários de instalação foram variados, alguns equipamentos foram lançados de madrugada, contando com a disposição e participação de toda equipe.
“A rotina exigiu flexibilidade e dedicação da equipe que estava comprometida com o sucesso da expedição. Apesar dos desafios, com a ajuda da tripulação do navio Graça Aranha, conseguimos concluir as instalações dos equipamentos com êxito”, completou.

Para o MsC. ítalo Maurício, foi gratificante participar da nova campanha de aquisição de dados marinhos e perceber a evolução dos equipamentos.
“Em 2019, quando participei da minha primeira aquisição, utilizamos equipamentos desenvolvidos na primeira década dos anos 2000. Na ocasião, os resultados ficaram aquém do esperado devido à baixa performance dos sistemas de aquisição. Agora, em 2025, com a nova geração de equipamentos e seus avanços notáveis, as expectativas são muito mais promissoras. Acredito que teremos excelentes resultados, especialmente diante do desempenho observado nos testes realizados no laboratório do Pool de Equipamentos Geofísicos do Brasil”, completou.

Avanço inédito para a sismologia marinha brasileira
A margem sudeste do Brasil é uma área estratégica dos pontos de vista geopolítico, ambiental e econômico. Isso porque a região faz parte da chamada Amazônia Azul, porção do Atlântico Sul sob jurisdição brasileira, que concentra a maior atividade sísmica offshore do país.
Apesar disso, a origem e os riscos associados aos eventos sísmicos que ocorrem nesta região ainda são pouco compreendidos, sobretudo no que se refere à segurança de infraestruturas críticas, como plataformas e dutos submarinos.
A rede terrestre atual conta com quase 100 estações sismográficas. Apesar de robusta, ela apresenta limitações para detectar tremores no mar com magnitudes iguais ou inferiores a 3, dificultando a avaliação de risco sísmico em áreas estratégicas como as bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, importantes pólos de exploração de petróleo e minerais.
Além de ampliar o conhecimento científico, o RSBR-Mar também tem foco na prevenção de desastres ambientais. Afinal, vazamentos de óleo provocados por terremotos representam uma ameaça significativa ao meio ambiente e à economia. Com dados mais precisos sobre a origem dos eventos sísmicos, a iniciativa busca mitigar riscos e subsidiar projetos offshore mais seguros e sustentáveis.

Estações sismográficas temporárias em terra ampliam cobertura na região
Como parte das ações do RSBR-Mar, o ON já instalou duas estações sismográficas terrestres no Espírito Santo, em colaboração com o Laboratório de Neotectônica e Sismológico (LANESI) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A estação ARA01 foi implantada na base oceanográfica da UFES, em Aracruz, com apoio do Departamento de Oceanografia. Já a estação ITA01 está localizada no Parque Estadual de Itaúnas, em Conceição da Barra, com suporte do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), que viabilizou a instalação do equipamento em uma área de proteção ambiental.

O ON também está em tratativas com a Marinha do Brasil, para instalar uma estação sismográfica na Ilha do Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro, e com a Fundação Florestal de São Paulo, para viabilizar a instalação de uma estação no Parque Estadual Ilhabela, no Estado de São Paulo.
O RSBR-Mar conta com a participação de sismólogos do ON, da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade de Brasília (UnB), UFES e da própria RSBR. A iniciativa também tem apoio de instituições internacionais como a University of Arizona (EUA), Woods Hole Oceanographic Institution (EUA), Lamont-Doherty Earth Observatory (EUA) e Université Côte d’Azur (França).