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Visita histórica de Einstein ao Observatório Nacional completa 100 anos
Há 100 anos, o Observatório Nacional (ON), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), recebia a visita de um dos maiores cientistas de todos os tempos: o físico alemão Albert Einstein.
No dia 9 de maio de 1925, o mais célebre cientista do século XX esteve no Rio de Janeiro para conhecer algumas instituições científicas. Seu roteiro incluiu o Observatório Nacional, que, na época, era a única instituição brasileira dedicada à pesquisa em Astronomia. Em sua passagem marcante de nove dias pelo Brasil, o Nobel de Física de 1921 também conheceu o Instituto Oswaldo Cruz, a Academia de Ciências, o Clube de Engenharia e o Museu Nacional.
Visita de Einstein ao Observatório Nacional em 9 de maio de 1925. Na fileira de cima: João C. S. de Assumpção, José Antônio França, Arthur de Almeida, Frazão Milânes, Lélio Gama, Gualter Soares, Carlos Magno, Idelfonso Souto, Francisco Filho, Adalberto dos Santos, Ernesto Morize, Lauro Paiva e Hiron Jacques. Na frente: Domingos da Costa, Alfredo Lisboa, Alix Lemos, Albert Einstein, Henrique Morize, Isidoro Kohn e Ignácio Amaral. – Imagem: Acervo
No Observatório Nacional, o físico encontrou-se com diversos astrônomos do ON, incluindo Henrique Morize, diretor do ON de 1908 a 1929. Morize desempenhou um papel fundamental na organização da expedição brasileira a Sobral, no Ceará, para observar o eclipse solar total de 29 de maio de 1919 — evento que entrou para a história ao proporcionar a primeira confirmação experimental da deflexão da luz das estrelas ao passar nas proximidades do Sol, confirmando a Teoria da Relatividade Geral de Einstein. (Acesse aqui as imagens das placas fotográficas em vidro que fizeram parte das observações do eclipse de 1919).
Em razão da contribuição brasileira para a comprovação de sua teoria, Einstein declarou:
“A questão que minha mente formulou foi respondida pelo radiante céu do Brasil.”
População de Sobral se aglomera para acompanhar o eclipse de Sobral (CE) em 29 de maio de 1919 – Foto: Acervo/Observatório Nacional
Conforme narra o pesquisador Alfredo Tolmasquim, ainda no ON, Einstein conheceu os sismógrafos e recebeu cópias de alguns sismogramas. Depois, seguiu para a Sala da Hora, que fornecia o sinal horário para a estação do Arpoador, e conheceu a luneta meridiana, com a qual a hora era determinada. Conheceu ainda o círculo meridiano de Gauthier e a equatorial de Cook (onde Domingos Costa trabalhava na determinação dos elementos de estrelas duplas e de cometas de pouco brilho) e a luneta Zenital (onde Lélio Gama determinava a variação de latitude). Acompanhou uma demonstração do equipamento para determinação dos elementos magnéticos, e por fim, viu a estação receptora T.S.F [telegrafia sem fios]”.
Agenda rigorosa
Além das visitas às instituições de pesquisa, Einstein cumpriu uma rigorosa agenda. O físico compareceu a uma audiência com o presidente da República da época, Artur Bernardes; ministrou palestras públicas no Clube de Engenharia e na Escola Politécnica; conheceu o Jardim Botânico, o Pão de Açúcar e o Corcovado e participou de diversos eventos e recepções.
Albert Einstein também visitou as instalações da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (atual Rádio MEC). A visita à primeira rádio brasileira foi um convite do fundador da emissora, Edgard Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão brasileira. Num discurso em alemão, Einstein falou sobre a importância dos meios de comunicação para o conhecimento científico e fez um apelo pela paz no mundo. As conferências de Einstein no Rio tinham o objetivo de disseminar as novas ideias para uma audiência acadêmica diversificada.
Einstein deixou o Rio de Janeiro, com destino à Europa, no dia 12 de maio. Sua visita influenciou e deu novo alento à pequena e emergente elite acadêmica do Rio de Janeiro em sua luta pelo estabelecimento da pesquisa “pura” (como era designada a pesquisa básica).
Visita de Einstein ao Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro – Fonte: Acervo/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
Impressões de Einstein sobre o Brasil
De acordo com o historiador Ze'ev Rosenkranz, organizador do livro “Os Diários de Albert Einstein – América do Sul”, 1925 (Record, 2024), duas coisas impressionaram Einstein em sua visita ao Brasil: “as belas paisagens e a diversidade étnica”.
As anotações de seu diário fazem referência à flora que “supera os sonhos das mil e uma noites”, destacam a “deliciosa mistura étnica nas ruas” e mencionam a influência do clima quente e úmido no comportamento humano.
Tolmasquim também analisou a passagem de Einstein pelo Rio de Janeiro: “Era uma comunidade científica ainda pequena. O Brasil teve o seu desenvolvimento científico tardio, e a visita dele serviu, de um lado, para colocar a ciência na grande mídia, visto que os jornais abriram espaço para os cientistas publicarem matérias e quase artigos mais acadêmicos, discutindo, por exemplo, o que era a teoria da relatividade.”
Ainda segundo o pesquisador, uma viagem não modifica o meio acadêmico de um país. No entanto, a visita de Einstein ao Brasil motivou o grupo de professores que já estavam interessados nas novas ideias científicas que surgiam, no início do século XX, e que envolviam a teoria quântica, a teoria da relatividade, novas formas de trabalhar a matemática e a astrofísica: “Ajudou a fortalecer esse tipo de pensamento”.
Manuscrito escrito no Rio de Janeiro
Um importante documento escrito por Albert Einstein em 1925, no Brasil, e não incluído nas bibliografias existentes do físico alemão, é uma comunicação feita à Academia Brasileira de Ciências (ABC). Datado de 7 de maio de 1925 e assinado por Einstein, o manuscrito - em alemão - tem o título “Bemerkungen zu der gegenwärtigen Lage der Theorie des Lichtes” (Observações sobre a situação atual da Teoria da Luz). Trata-se do único documento em que o cientista compara suas ideias sobre o fóton (ou quantum de luz) e a teoria que Bohr, Kramers e Slater defendiam, na época, sobre a natureza ondulatória da radiação luminosa, que prescindia do conceito de fóton.
O manuscrito foi entregue por Einstein a Getúlio das Neves, que presidia a Comissão de Recepção a Einstein. O texto foi escrito no Rio de Janeiro: o verso do documento mostra que o papel utilizado era do Hotel Glória, onde Einstein ficou hospedado na cidade.
A versão para o português foi feita por Roberto Marinho de Azevedo e tornou-se o primeiro artigo da Revista da Academia Brasileira de Ciências publicado em em 1926.
Vida e história de Einstein
Fonte: Museu Nacional
Nascido na Alemanha, desde criança Einstein se destacou em ciências e matemática. Além de cientista visionário, Einstein foi um humanista e um ativista contra as guerras. O físico usou sua fama e reconhecimento para se posicionar sobre questões globais, como pacifismo, antissemitismo, desarmamento nuclear, entre outras. Em sua trajetória, a curiosidade foi o combustível que moveu Einstein para que sua mente brilhante trabalhasse e fizesse descobertas inimagináveis. Como ele mesmo dizia: "a curiosidade é mais importante que o conhecimento".
Em 1905, ainda um jovem de 26 anos, Einstein publicou quatro artigos que não somente revolucionaram a Física, como também mais tarde viriam a ser fundamentais para a ciência moderna. Pelo notável trabalho sobre o efeito fotoelétrico ele recebeu, em 1921, o Prêmio Nobel.
Observatório Nacional celebra 100 anos da visita de Einstein
Em razão dos 100 anos da visita de Einstein ao Brasil e ao ON, o Observatório realizará um evento especial no dia 9 de maio. A celebração ocorrerá no auditório Yeda Ferraz, na sede do ON, no Rio de Janeiro.
O objetivo do evento é reforçar o papel do Observatório Nacional como um dos protagonistas da história da ciência no Brasil e revisitar esse marco histórico que contribuiu para consolidar os laços da ciência brasileira com o cenário internacional.