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Observatório Nacional avança para implantar estação magnética automática em Fernando de Noronha
O Observatório Nacional (ON/MCTI) deu um passo importante para a instalação da sua primeira estação magnética automática, com tecnologia 100% brasileira, no arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco, com apoio da FAB (Força Aérea Brasileira), através do Parque de Material Aeronáutico do Galeão (PAMA-GL), em especial do Brigadeiro Lamfre. A FAB está prestando todo o suporte necessário para a instalação e segurança desta que será a primeira estação magnética automática, totalmente desenvolvida e construída no Brasil.
Esta nova estação, fundamental no monitoramento do campo magnético da Terra, irá integrar a Rede de Estações Magnéticas do ON e representa um avanço científico/tecnológico inédito em toda a América Latina e realizado por poucos países .
O conhecimento atualizado das variações deste campo geomagnético é fundamental para o pleno funcionamento das novas tecnologias digitais e suas implicações com o clima espacial. Este domínio garante melhor precisão nas comunicações via satélite, navegação aérea e diversas aplicações da vida cotidiana atual.
Fernando de Noronha, embora já abrigue desde 1883, uma das primeiras estações magnéticas de repetição do ON, passará agora a contar com uma estrutura moderna e automatizada. A nova estação será equipada, a princípio, com um magnetômetro fluxgate de alta resolução, desenvolvido no Laboratório de Desenvolvimento de Sensores Magnéticos (LDSM), da Coordenação de Geofísica do ON.
O LDSM é responsável por desenvolver e fabricar sensores de alta precisão para usos científicos, civis e militares, tendo sido pioneiro na primeira exportação de tecnologia de ponta pelo ON em 1999. A atuação do laboratório permite que o Brasil reduza a dependência de equipamentos importados e fortaleça sua capacidade tecnológica em geofísica.
Conforme explica o pesquisador do ON e um dos responsáveis pela iniciativa, Dr. Luiz Benyosef, fundador e coordenador do LDSM, o objetivo é ampliar a cobertura geográfica das medições no país:
"Esta modalidade de estação magnética automática visa compensar a falta de observatórios magnéticos em operação. Este é um trabalho pioneiro em toda a América Latina e realizado por pouquíssimos países de todo mundo, especialmente pelo fato de utilizarmos tecnologia totalmente desenvolvida no próprio país. Pela IAGA (Associação Internacional de Geomagnetismo e Aeronomia), considerando as dimensões continentais do Brasil, teríamos necessidade de operarmos regularmente pelo menos dez observatórios magnéticos, e somente temos dois, em Vassouras (RJ) e Tatuoca (PA)."
A estação automática será capaz de registrar, de forma contínua, as variações do campo magnético local. Os dados serão enviados em tempo real, via satélite, para o Observatório Nacional, permitindo análises precisas dos fenômenos geomagnéticos na região e em todo o planeta.
Conforme explicou o Dr. Benyosef, desde o século XIX, Fernando de Noronha era o local mais distante da parte continental brasileira e em condições de abrigar um local para medições magnéticas realizadas periodicamente:
“Esta medição era necessária para monitorar o campo magnético na época em que foi determinado – ou seja na segunda metade do século XIX – o deslocamento do equador magnético pelo território brasileiro.”
O pesquisador do ON destaca que a instituição já possui cinco estações magnéticas em diferentes locais da ilha principal do arquipélago de Fernando de Noronha, que foram reocupadas seguidas vezes desde 1883, e completa:
“Nosso propósito é construir uma estação que seja definitiva e de funcionamento ininterrupto. Inicialmente faremos levantamentos magnéticos para a escolha do melhor local que possa abrigar a estação permanente. Este local deve estar distante de construções, ou de estradas, para evitar alterações nos registros. A partir da escolha do local, estima-se um período máximo de seis meses, desde os testes iniciais, até a transmissão definitiva dos dados.”
Os registros terão ampla utilidade. Academicamente servirão de suporte para estudos da modelagem do campo magnético da Terra e para pesquisas da sua estrutura. Em termos práticos serão de grande utilidade na correção dos sistemas de navegação de aviões, satélites e de navegação marítima. Poderão, ainda, serem utilizados por empresas que fazem prospecção de minério e de petróleo, entre outros.
A figura acima mostra a localização das estações magnéticas de repetição em Fernando de Noronha, iniciadas em 1883, da centenária Rede Magnética do ON.
Por que medir o campo magnético da Terra?
O campo magnético terrestre é gerado a mais de 2.900 km de profundidade, no núcleo externo do planeta, onde um líquido rico em ferro e níquel está em constante movimento. Esse campo invisível é essencial para proteger a vida na Terra contra partículas solares e cósmicas, além de influenciar diretamente a navegação aérea e marítima, sistemas de comunicação e redes de energia.
Durante tempestades magnéticas, por exemplo, variações bruscas no campo podem causar falhas em satélites e até em sistemas elétricos. Monitorar essas variações é, portanto, crucial tanto para a ciência quanto para a segurança tecnológica.
Tradição e inovação no monitoramento magnético
Imagem aérea de Tatuoca, ilha que abriga o Observatório Magnético de Tatuoca
O Observatório Nacional tem longa tradição nesse monitoramento. Hoje, mantém dois observatórios magnéticos em operação contínua: o Observatório Magnético de Vassouras (VSS), no Rio de Janeiro, desde 1915, e o Observatório Magnético de Tatuoca, no Pará, desde 1957. Ambos integram a INTERMAGNET, rede internacional que reúne observatórios magnéticos de alto padrão.
Observatório Magnético de Vassouras