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James Webb registra imagem inédita de exoplaneta; Astrônomo do Observatório Nacional comenta descoberta
Em mais um feito histórico, o super telescópio espacial James Webb capturou diretamente a imagem de um planeta fora do nosso Sistema Solar (exoplaneta) — algo extremamente raro e tecnicamente desafiador. A descoberta, publicada na quarta-feira (25/6) na revista Nature, foi liderada por cientistas do Observatório de Paris e marca um novo capítulo na busca por mundos além da Terra.
Primeira foto direta do exoplaneta TWA 7b (mancha laranja) capturada pelo telescópio James Webb — Foto: ESA
O exoplaneta em questão foi batizado de TWA 7b. Localizado a cerca de 111 anos-luz da Terra, ele orbita uma estrela jovem chamada TWA 7, que ainda está envolta em um disco protoplanetário — um verdadeiro berçário cósmico onde novos planetas estão se formando. E é justamente nesse ambiente dinâmico que o Webb conseguiu o improvável: registrar a luz do planeta.
Para vencer esse desafio, os cientistas utilizaram o coronógrafo do James Webb — um dispositivo que funciona como um tampão de luz, bloqueando a radiação ofuscante da estrela e permitindo que objetos ao redor se tornem visíveis. O resultado foi a primeira imagem direta de um exoplaneta de massa semelhante à de Saturno, algo inédito até então.
“Esta descoberta representa um marco importante na busca por exoplanetas”, declarou o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), em comunicado oficial.
O TWA 7b tem cerca de 30% da massa de Júpiter e é dez vezes mais leve do que qualquer outro exoplaneta já fotografado diretamente. Isso significa que ele é bem leve no universo das observações diretas — uma façanha tecnológica que comprova a sensibilidade sem precedentes do Webb.
Mas a imagem do planeta veio acompanhada de um cenário ainda mais intrigante: três anéis concêntricos de poeira e rochas orbitando a estrela, sendo um deles surpreendentemente fino e delimitado por duas áreas vazias. Para os pesquisadores, esse padrão indicava a ação gravitacional de um planeta invisível — e foi exatamente nesse anel estreito que o Webb encontrou uma fonte luminosa compatível com a presença do TWA 7b.
Imagem mostra os anéis de detritos ao redor da estrela TWA 7, onde foi descoberto o novo planeta. A área vazia no anel indica exatamente onde o exoplaneta está localizado. — Foto: A.-M. Lagrange et al. / ESO / JWST
A escolha de observar sistemas jovens não foi por acaso. Em sistemas com apenas alguns milhões de anos, como o da estrela TWA 7, os planetas recém-formados ainda estão quentes — o que os torna mais brilhantes no infravermelho, facilitando sua detecção por instrumentos sensíveis como o James Webb.
Para saber mais sobre a importância dessa descoberta, conversamos com o astrônomo do Observatório Nacional (ON/MCTI), Dr. Mario De Prá:
Por que é tão difícil obter imagens diretas de exoplanetas, mesmo com telescópios potentes como o Webb?
Dr. Mario De Prá: A obtenção de imagens diretas de exoplanetas é um dos maiores desafios da astrofísica observacional por dois principais fatores: o altíssimo contraste de brilho entre o planeta e sua estrela hospedeira, que tende a ofuscar o sinal do exoplaneta, e a separação angular extremamente pequena entre os dois corpos no céu, exigindo um alto poder de resolução espacial para distinguir suas emissões. O Telescópio Espacial James Webb (JWST) é equipado com coronógrafos que permitem a supressão parcial da luz estelar e, assim, aumentam a sensibilidade para detectar objetos próximos e tênues, como os exoplanetas. Ainda assim, sua capacidade de detecção direta é limitada a sistemas planetários cujos planetas sejam massivos, jovens e com órbitas relativamente distantes de suas estrelas, condições que favorecem tanto a separação angular quanto a emissão no infravermelho, onde o JWST opera com maior eficiência.
Como esse tipo de observação pode ajudar a entender melhor a formação do nosso próprio Sistema Solar?
Dr. Mario De Prá: A observação direta de exoplanetas permite estudar as configurações de sistemas planetários distintos do sistema solar. Esses dados fornecem uma base empírica para testar e refinar modelos de formação e evolução planetária, possibilitando comparações com o nosso sistema. Ao observar uma diversidade de sistemas em diferentes ambientes e fases evolutivas, é possível identificar padrões e exceções que ajudam a contextualizar os processos que levaram à formação da Terra, dos planetas gasosos e dos pequenos corpos, fornecendo pistas cruciais sobre as condições iniciais e os mecanismos dinâmicos que moldaram o Sistema Solar como o conhecemos hoje.