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Impacto moldou a Lua há 4,4 bilhões de anos, indicam amostras de missões Apollo
Um impacto de proporções gigantescas pode ter remodelado a Lua logo após sua formação, há 4,338 bilhões de anos, indicou um novo estudo publicado na revista Science Advances, que analisou amostras das missões Apollo 14, 15 e 17. A pesquisa revela que um impacto com um impactor extenso teria originado a bacia do Polo Sul-Aitken, uma das maiores crateras conhecidas do Sistema Solar.
Uma equipe internacional de cientistas aplicou técnicas de datação isotópica de alta precisão em zircão (mineral extremamente resistente à erosão e ao tempo) para medir com exatidão a idade de fragmentos cristalizados após o impacto. As análises mostraram que muitos desses grãos se formaram praticamente ao mesmo tempo, em um curto intervalo geológico, evidenciando um pulso magmático global causado pelo calor do choque.
“Esse tipo de impacto proposto para a formação da bacia no hemisfério sul da Lua era comum nos estágios finais da formação do Sistema Solar, quando os planetas gigantes migraram para regiões mais próximas do Sol, antes de se assentarem em suas posições atuais. A própria formação da Lua foi resultado de um impacto gigante com a Terra, assim como a Bacia de Borealis em Marte”, afirmou o Dr. Gustavo Madeira, pesquisador do Observatório Nacional (ON/MCTI), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O impacto, segundo os autores, liberou energia suficiente para derreter amplas porções da crosta lunar, criando mares de magma e dando origem a novos minerais. A descoberta ajuda a esclarecer um dos mistérios da história lunar: se o pico de cristalização dos zircões, há 4,33 bilhões de anos, era o resfriamento do antigo “oceano magmático lunar” ou o resultado de um impacto posterior. As novas evidências apontam fortemente para a segunda hipótese.
“Tal hipótese do impacto ainda não pode ser tomada como uma explicação definitiva para a questão dos zircônios na Lua. Uma publicação do ano passado, por exemplo, traz evidências de que o pico de cristalização de zircônios pode estar relacionado a um rederretimento do manto lunar quando a Lua teve seu plano orbital alterado pela influência solar, evento chamado de transição de Laplace”, acrescentou o pesquisador do ON.
Os resultados refinam a cronologia da Lua e reforçam a importância dos grandes impactos na evolução dos corpos rochosos do Sistema Solar. Segundo os pesquisadores, compreender esses episódios é essencial para reconstruir o passado compartilhado da Terra e de seu satélite – um relacionamento forjado, desde o início, sob choques de proporções cósmicas.