Notícias
100 Anos de Einstein no Brasil: Observatório Nacional celebra visita histórica com palestras e reflexões
No dia 9 de maio de 2025, o Observatório Nacional (ON), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), abriu as portas do auditório Yeda Ferraz para celebrar o centenário da histórica visita de Albert Einstein ao Brasil. A programação especial reuniu pesquisadores, estudantes, escritores e historiadores para rememorar a passagem do físico alemão pelo país em 1925, revisitar seu legado e destacar o papel do ON na construção da ciência nacional.
A abertura do evento foi feita pelo diretor do Observatório Nacional, Dr. Jailson Alcaniz, que deu as boas-vindas ao público e destacou o simbolismo da celebração. Ele lembrou que a visita de Albert Einstein ao Brasil, em 1925, marcou a aproximação da ciência brasileira com o cenário internacional. No ON, Einstein conheceu Henrique Morize e os astrônomos que participaram da histórica expedição a Sobral, em 1919, responsável por comprovar a Teoria da Relatividade Geral. Jailson ressaltou que a comemoração é também um momento de aprendizado, para revisitar a trajetória da ciência no país. Segundo ele, celebrar essa data é valorizar a memória e o legado científico construído ao longo do último século.
Abertura com o diretor do Observatório Nacional, Dr. Jailson Alcaniz
Após a abertura, um dos organizadores do evento, Dr. Marcelo Borges Fernandes, pesquisador do Observatório Nacional, convidou o historiador Ze’ev Rosenkranz, um dos principais biógrafos de Albert Einstein, para a conferência inaugural. Em sua palestra “O físico viajante: as jornadas transoceânicas de Albert Einstein”, Rosenkranz apresentou uma visão ampla das viagens realizadas pelo físico entre 1921 e 1933, com ênfase na histórica visita ao Brasil em 1925.
Organizador do evento, Dr. Marcelo Borges Fernandes
O palestrante destacou o impacto da expedição a Sobral, organizada pelo ON, na consolidação da fama de Einstein, que motivou suas viagens para divulgar a Teoria da Relatividade e se engajar em debates políticos. Nos diários de viagem, especialmente o escrito durante sua passagem pela América do Sul, Einstein registrou impressões pessoais e reflexões sociais, revelando tanto seu perfil humanitário quanto observações controversas sobre as sociedades dos países que visitou.
Historiador Ze’ev Rosenkranz
Durante sua estadia no Brasil, Einstein elogiou as paisagens e a diversidade cultural, agradecendo ao país pela contribuição científica com a icônica frase: “A questão que minha mente formulou foi respondida pelo radiante céu do Brasil”. Rosenkranz lembrou ainda que, na época, a ciência brasileira era incipiente e havia confusões conceituais sobre a teoria, já que muitos confundiam Relatividade com Relativismo. Em outras viagens, como à América do Norte, destacou-se o engajamento de Einstein com causas sociais, como o antirracismo.
A programação da manhã seguiu com duas mesas-redondas. A primeira, “Uma viagem no tempo e no espaço”, reuniu os historiadores Dr. Alfredo Tolmasquim e Dr. Antônio Augusto Videira, com a moderação da Dra. Marta de Almeida. O debate trouxe à tona o contexto científico e institucional brasileiro dos anos 1920, enfatizando a importância do ON na recepção a Einstein.
Mesa-redonda Uma viagem no tempo e no espaço
O historiador Dr. Alfredo Tolmasquim abordou o papel de Einstein como uma figura que ultrapassou as fronteiras da ciência. Ele destacou que, além de ser reconhecido pela comprovação da Teoria da Relatividade, Einstein também ganhou respeito por sua postura pacifista e por defender a união dos cientistas, mesmo em tempos de conflitos como a Primeira Guerra Mundial. Foi, inclusive, o primeiro alemão a ministrar palestras na França e na Inglaterra após o fim da guerra, em um contexto ainda marcado por tensões políticas.
Historiador Dr. Alfredo Tolmasquim
Tolmasquim ressaltou que, em suas viagens pela América do Sul, Einstein manteve um diálogo próximo não apenas com cientistas, mas também com comunidades judaicas e alemãs, reforçando seu papel como um intelectual engajado socialmente. No caso do Brasil, embora sua visita tenha sido amplamente divulgada pela imprensa, o alcance foi restrito à elite letrada, uma vez que o nível de escolaridade da população era bastante limitado em 1925.
O pesquisador Dr. Antônio Augusto Videira trouxe à tona a figura de Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional à época da visita de Einstein. Videira destacou que Morize sempre defendeu a importância da ciência em sentido amplo, ressaltando seu papel na sociedade e atuando como uma liderança comprometida com a ideia de uma ciência pura e desinteressada. Foi Morize quem organizou a expedição a Sobral em 1919, com o objetivo de posicionar o Observatório Nacional e a astronomia brasileira em um patamar de reconhecimento internacional. Para ele, mais do que comprovar uma teoria, a iniciativa era uma forma de afirmar a relevância da instituição e da ciência desenvolvida no Brasil.
Pesquisador Dr. Antônio Augusto Videira
Ao encerrar sua fala, Videira propôs uma reflexão: “Vamos agradecer ao Einstein por essa oportunidade de pensar em como estamos fazendo ciência hoje, 100 anos após sua visita, sobretudo considerando que, em dois anos, será o bicentenário do Observatório Nacional.”
A segunda mesa, “As ciências de uma época e o que elas nos dizem atualmente”, reuniu o diretor Dr. Jailson Alcaniz e o físico da UFRJ, Dr. Ildeu de Castro. Mediados pela Dra. Heloisa Gesteira, os convidados refletiram sobre os temas abordados por Einstein em suas conferências no Brasil e como suas ideias ainda reverberam na ciência contemporânea.
Mesa-redonda “As ciências de uma época e o que elas nos dizem atualmente”
O diretor do Observatório Nacional, Dr. Jailson Alcaniz, abordou em sua apresentação a relação entre a física e a história, destacando como a teoria da relatividade geral de Einstein se desdobrou em avanços fundamentais para a compreensão do Universo. Ele explicou que sua área de pesquisa, a Cosmologia, é uma aplicação direta das ideias desenvolvidas por Einstein no início do século XX.
Dr. Jailson Alcaniz - Diretor do ON
Jailson comentou a relação entre a história e a teoria da relatividade geral e conceitos como a aceleração cósmica e a existência das ondas gravitacionais, conectando essas descobertas às bases teóricas formuladas por Einstein e aprofundadas em debates com outros cientistas. Citou ainda as contribuições de Alexander Friedmann e outros estudiosos que, junto a Einstein, ajudaram a construir o modelo cosmológico que hoje descreve a expansão acelerada do Universo.
O professor Dr. Ildeu de Castro Moreira destacou a importância da contribuição de Einstein para a física quântica, afirmando que o próprio cientista considerava sua teoria sobre o fóton mais revolucionária do que a Teoria da Relatividade. Foi por esse trabalho, em especial pelo efeito fotoelétrico, que Einstein recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1921.
Professor Dr. Ildeu de Castro Moreira
Ildeu relembrou a passagem de Einstein pelo Rio de Janeiro, com visita à Academia Brasileira de Ciências, onde apresentou uma palestra sobre o fóton. Ainda como um desdobramento desta palestra, Einstein escreveu o manuscrito “Bemerkungen zu der gegenwärtigen Lage der Theorie des Lichtes” (Observações sobre a situação atual da Teoria da Luz). O físico também visitou a Rádio Sociedade (atual Rádio MEC) onde discursou em alemão sobre a relevância dos meios de comunicação na disseminação do conhecimento científico.
Encerrando sua fala, Ildeu apresentou um panorama das principais contribuições de Einstein, comentando temas como as lentes gravitacionais, o Paradoxo de Einstein-Podolsky-Rosen (EPR) e até conceitos como os buracos de minhoca.
À tarde, a terceira mesa — “O centenário da passagem de Einstein pelo Brasil: significados, história e memória” — reuniu pesquisadores e representantes de instituições visitadas por Einstein há 100 anos, como a Dra. Andrea Costa (Museu Nacional), o MSc. Paulo Henrique Colonese (Museu da Vida/Fiocruz) e o Dr. Diógenes de Almeida Campos, da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Moderada pela Dra. Leticia Pumar Alves de Souza (PCI/MAST), a discussão abordou a importância das efemérides científicas na construção de identidades institucionais e na preservação da memória da ciência.
Mesa-redonda “O centenário da passagem de Einstein pelo Brasil: significados, história e memória”
A Dra. Andrea Costa relembrou a visita de Einstein ao Museu Nacional, destacando como esse episódio reafirma a importância histórica e científica da instituição. Ela mencionou os pesquisadores que recepcionaram o físico, com destaque para Alípio de Miranda Ribeiro, reconhecido por sua produção científica. Andrea também lembrou a visita de Marie Curie ao museu no ano seguinte, em 1926, e compartilhou as impressões registradas por Einstein, que elogiou o jardim, comentou a diversidade da fauna exposta, mencionou flechas indígenas e chegou a fazer observações sobre a miscigenação racial no Brasil, revelando seu olhar curioso sobre o país.
Dra. Andrea Costa – Museu Nacional
O MSc. Paulo Henrique Colonese, do Museu da Vida/Fiocruz, relembrou a visita de Einstein ao Instituto Oswaldo Cruz, destacando a recepção feita pelo professor Carlos Chagas e pelo Dr. Leocádio Chaves, diretor e secretário da instituição à época. Durante sua passagem, Einstein conheceu o corpo técnico, visitou o Museu Oswaldo Cruz, o Museu de Anatomia Patológica, a sala de leitura, a biblioteca, o terraço e diversos laboratórios. Colonese ressaltou que, além de ser uma referência em pesquisa científica, a Fiocruz se destaca por sua atuação política e pelo desenvolvimento de políticas públicas em saúde. Como forma de preservar essa memória, a instituição mantém uma exposição permanente que rememora a visita do físico ao local.
MSc. Paulo Henrique Colonese – Museu da Vida/Fiocruz
O paleontólogo e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Dr. Diógenes de Almeida Campos, destacou a visita de Einstein à instituição, ressaltando a figura de Juliano Moreira, pioneiro da psiquiatria no Brasil e segundo presidente da ABC. Moreira foi uma liderança na luta contra o racismo científico e na defesa da humanização do tratamento psiquiátrico, e foi ele quem recebeu Einstein durante sua passagem pela Academia, oferecendo ao físico um tradicional vatapá baiano. Diógenes também relembrou que a criação da ABC foi motivada pela necessidade de fortalecer e promover a ciência nacional, e mencionou a conferência proferida por Einstein na ocasião, que marcou a relação da instituição com a ciência internacional.
Dr. Diógenes de Almeida Campos – Academia Brasileira de Ciências (ABC)
Encerrando o evento, os participantes participaram de uma sessão de confraternização, com destaque para a sessão de autógrafos com os autores Alfredo Tolmasquim e Ze’ev Rosenkranz. Os livros “Einstein: o viajante da relatividade na América do Sul” e “Os diários de viagem de Albert Einstein” estavam disponíveis para venda, com apoio da Livraria da Física e da Editora Record.
Com o auditório lotado e inscrições previamente esgotadas, a celebração reafirmou o protagonismo do Observatório Nacional e de outras instituições de pesquisa na história da ciência no Brasil e enfatizou a atualidade das reflexões de Einstein, mesmo um século após sua visita.
Participantes do evento 100 Anos da Visita de Einstein ao Brasil