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Retrospectiva 2025: Brasília é palco de marco histórico com a 1ª Conferência e a IV Marcha das Mulheres Indígenas
1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas - Foto: André Correa
A capital federal foi o cenário de um capítulo histórico para o movimento indígena brasileiro na primeira semana de agosto de 2025. Cerca de cinco mil mulheres de mais de 100 povos, de todos os biomas do país, reuniram-se em Brasília para dois eventos centrais: a 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas (de 4 a 6/8) e a IV Marcha das Mulheres Indígenas (7/8).
A Conferência, um espaço inédito de escuta e construção de políticas públicas, foi coordenada pelos Ministérios dos Povos Indígenas (MPI) e das Mulheres, com apoio da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).
Já a Marcha, organizada pela ANMIGA sob o lema “Nosso corpo, nosso território: somos as guardiãs do planeta”, levou milhares em protesto até o Congresso Nacional, clamando por direitos e contra projetos considerados ameaçadores.
Conferência encerra com entregas históricas e plano para política nacional
A 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, realizada com o tema “Mulheres Guardiãs do Planeta pela Cura da Terra”, teve como objetivo principal construir diretrizes para a futura Política Nacional para Mulheres Indígenas (PNMI). O evento foi precedido por sete etapas regionais e estruturado em cinco eixos temáticos: Direito e Gestão Territorial; Emergência Climática; Políticas Públicas e Violência de Gênero; Saúde; e Educação e Transmissão de Saberes Ancestrais.
No encerramento, na quarta-feira (6/8), foram anunciadas medidas concretas. A principal foi a assinatura de portaria criando um Grupo de Trabalho (GT) interministerial para elaborar a minuta da PNMI, baseada no Caderno de Resoluções da Conferência. O documento, entregue pelas lideranças aos ministros, contém 50 propostas prioritárias aprovadas nas plenárias.
No mesmo dia, em ato no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva homologou três Terras Indígenas no Ceará: Pitaguary, Tremembé de Queimadas e Lagoa Encantada. O anúncio, celebrado pelas participantes, elevou para 16 o número de terras homologadas desde o início da gestão.
Outras entregas simbólicas foram formalizadas: o edital do Prêmio Mre Gavião, para comunicadores indígenas, e a criação do Programa do Prêmio Nega Pataxó, focado no fortalecimento da autonomia e na proteção das mulheres indígenas. A presidenta da Funai, Joenia Wapichana, também anunciou a assinatura do decreto de reestruturação do órgão, destacando a necessidade de orçamento digno para implementar políticas.
Marcha leva milhares ao Congresso e homenagem ocupa plenário da Câmara
Na quinta-feira (7/8), as mulheres indígenas realizaram a IV Marcha das Mulheres Indígenas. Cerca de cinco mil participantes percorreram cerca de 4 km da Esplanada dos Ministérios, partindo do Eixo Cultural Ibero-Americano até o Congresso Nacional. Nos discursos e cantos, o protesto foi contra projetos de lei considerados anti-indígenas – como o PL do Licenciamento Ambiental –, pelo fim do marco temporal e por mais políticas públicas.
No mesmo dia, à noite, a luta e a conquista das mulheres foram celebradas em uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados, que reuniu cerca de 500 indígenas. A ministra Sonia Guajajara, deputadas da Bancada do Cocar, como Célia Xakriabá, e Joenia Wapichana participaram da homenagem. Os discursos destacaram o caráter histórico da semana e reforçaram demandas urgentes.
Sonia Guajajara denunciou a crescente violência contra as mulheres indígenas e anunciou o compromisso dos ministérios dos Povos Indígenas e das Mulheres em elaborar um Plano Nacional de Combate à Violência Contra as Mulheres Indígenas. Os eventos marcaram um momento de protagonismo político inédito, transformando demandas históricas em agendas concretas de governo e pressionando o Legislativo, enquanto celebravam a força e a organização das mulheres indígenas de todo o Brasil.