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Resultado final do Prêmio Luiz Melodia
É com grande satisfação que a Comissão Julgadora do Prêmio Luiz Melodia de Canções Afro-Brasileiras vem anunciar o resultado final da competição.
As músicas vencedoras serão publicadas pela Fundação Palmares após o processo de compartilhamento dos direitos de divulgação junto aos autores com expectativa de premiação.
Muito além da competição, um dos objetivos deste Prêmio foi incentivar a produção musical voltada para a valorização da cultura negra. Independentemente da premiação em si, neste ano de 2023 foram escritas centenas de novas músicas que, a despeito da colocação neste Prêmio, podem se tornar grandes sucessos. Por isso, além dos vencedores, destacamos a participação de todos e todas que trabalharam para se inscrever e os incentivamos a publicar sua canção nas redes sociais.
Consideramos o Prêmio Luiz Melodia de Canções Afro-Brasileiras um importante passo na consolidação de políticas culturais acessíveis e democráticas.
Fique atento para as próximas competições que a Fundação Cultural Palmares vai promover! Estamos permanentemente comprometidos em valorizar e celebrar a cultura negra na cena musical brasileira por meio de competições atraentes e gratuitas.
Parabéns aos vencedores e a todos os participantes. Suas canções são eternas e continuarão a inspirar e emocionar muitas pessoas.
Confira aqui o resultado.
Nota de Pesar
Nesta semana a Fundação Cultural Palmares, juntamente com toda a sociedade afro-brasileira, lamenta profundamente a perda de preciosos membros de comunidades remanescentes de quilombos. Seu Bento das Chagas, nascido em 21/03/1930 e Dona Maria Brasileira, nascida em 20/09/1920, faleceram dia 24 e 25 respectivamente.
Dona Maria era de Degredo, em Linhares no Espírito Santo. Seu Bento, quilombola do quilombo Abolição, localizado no município de Santo Antônio de Leverger em Mato Grosso.
O conhecimento que adquiriram com as experiências de vida é de uma riqueza insubstituível. Aqueles que os conheceram tiveram o privilégio de crescer com tudo o que eles tinham para ensinar. As lições deixadas certamente perpetuarão.
Desejamos com toda a sinceridade que os amigos e familiares se sintam abraçados e confortados neste momento tão difícil e também expressar nossa solidariedade.
1° Seminário de povos e comunidades tradicionais de Januária
A Fundação Cultural Palmares (FCP) participa nesta quinta-feira (26), do 1° Seminário de Povos e Comunidades Tradicionais, com o tema: desenvolvimento, inclusão produtiva, sustentabilidade e geração de renda de comunidades tradicionais do município de Januária-MG.
Com transmissão ao vivo pelo canal no Youtube, o evento que se iniciou pela manhã, teve sua abertura marcada por autoridades e representantes dos povos tradicionais.
Mais tarde, ocorreu mesa redonda, onde se pôde dialogar sobre Associativismo, cooperativismo como ferramenta de fortalecimento das comunidades tradicionais; Comunidades tradicionais: direitos, identidades e territoriedades; Cooperativismo impulsionando o desenvolvimento nas comunidades tradicionais; Atuação do Ministério Público na defesa dos povos e comunidades tradicionais; Ações estruturantes da Codevasf para geração de ocupação e renda.
Com a presença de Josiane Aparecida Ramos Amorim – UNICAFES; Felisa Cançado Anaya – UNIMONTES; Stela Aparecida de Abreu Santos – superintêndencia regional de ensino de Januária; Tatiana Aparecida de Almeida Carvalho – MPMG Alex Douglas Martins Demier – CODEVASF; Célia Márcia- Coordenadora Geral de Ações Federativas e Participação Social e Vanilda Alves Machado Borges- Grupo de Mulheres de Capim Vermelho – Ibiracatu que direcionaram a palestra.
João Jorge Rodrigues se apresentou às 14h10 onde teve sua participação ao lado de Marilene de Souza Vice-Presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Fonte: 1° Seminário de Povos e Comunidades Tradicionais de Januária
https://www.youtube.com/watch?v=3XGapraheT0
Brasília na Luta Contra a Discriminação Étnico-Racial Brasília na Luta Contra a Discriminação Étnico-Racial
A Fundação Cultural Palmares convida a todos para a programação cultural BRASÍLIA NA LUTA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO ÉTNICO-RACIAL, que será realizada na Praça dos Orixás conhecida como Prainha, Lago Paranoá no Distrito Federal.
O evento que é celebrado há mais de 40 anos pelo povo de terreiro do DF, acontecerá no dia 31 de dezembro, celebrando a virada do ano na cidade. Além de reverenciar os anos vindouros, a intenção principal é conscientizar as pessoas contra o preconceito étnico- racial e Afro-religioso.
A programação é gratuita e contará com apresentações musicais e culturais durante toda a noite, além de rodas de conversas Afro.
Confira a programação completa:
Programação Completa – 31/12
17:00 – Apresentação Cultural Vídeo Filhos do Brasil
17:15 – Roda de Conversa
18:15 – Apresentação Cultural Grupo Sensação Paraense
19:15 – Apresentação Músical : THABATA LORENO
20:00 – OBARÁ
20:45 – Cortejo Concentração Entrada da Praça dos Orixas
21:00 – Rodas dos Povos de Terreiro
21:15 – Toque Nagô
Entrada dos Balaios
Iemanja e Oxum
21:30 – Vídeo Palmares e agradecimentos
Momento Cultural – 21:45
22:15 – Umbanda
22:45 – Djeje
23:15 – Ketu
23:30 – Angola
23:45 – Descida Cortejo para o Lago
00:00 – Entrega dos Balaios
00:15 – Roda de Povos de Terreiro
Início das Apresentações Culturais – 00:30
Hoje nascia Luiz Gonzaga , O Rei do Baião
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu em Exu, sertão de Pernambuco, no dia 13 de dezembro de 1912. Segundo filho de Ana Batista de Jesus e oitavo de Januário José dos Santos. Foi um dos principais representantes da música popular brasileira, devido as suas obras que valorizavam os ritmos nordestinos, levando o baião, o xote e o xaxado para todo o país.
O Rei do Baião, como ficou conhecido no Brasil, retratava em suas canções a pobreza e as injustiças no Sertão Nordestino. Em 1920, com apenas 8 anos, Gonzaga foi convidado para substituir um sanfoneiro em uma festa tradicional, e partir desse episódio recebeu diversos convites para tocar em eventos da época.
Em 1929, em consequência de um namoro proibido, Luiz foge para cidade de Crato/CE, e em 1930 vai para Fortaleza/CE, servir ao exército. A partir de 1939, já na cidade do Rio de Janeiro, Gonzaga passa a dedicar-se à música e começa a tocar nos mangues, no cais, em bares, nas ruas e nos cabarés da Lapa. Começou a participar de programas de calouros, inicialmente sem êxitos, até que, no programa de Ary Barroso, na Rádio Nacional, apresentou uma música sua, “Vira e mexe”, e ficou em primeiro lugar. A partir de então, começou a participar de vários programas radiofônicos, inclusive gravando discos como sanfoneiro para outros artistas, até ser convidado para gravar como solista, em 1941. Daí em diante, o talento do Rei do Baião começa a ser reconhecido.
Continuou fazendo programas de rádio e gravando solos de sanfona. A partir de 1943, Luiz Gonzaga passa a utilizar os trajes típicos de cangaceiro, posteriormente irá os substituir pelo de vaqueiro, para as suas apresentações. Nesse mesmo ano, suas músicas passaram a ser letradas por Miguel Lima; a parceria deu certo e várias canções fizeram sucesso: “Dança, Mariquinha” e “Cortando Pano”, “Penerô Xerém” e “Dezessete e Setecentos”, agora gravadas pelo sanfoneiro e, também cantor, Luiz Gonzaga. No mesmo ano, tornou-se parceiro do cearense Humberto Teixeira, com quem sedimentou o ritmo do baião, com músicas que tematizavam a cultura e os costumes nordestinos. Seus sucessos eram quase anuais: “Baião” e “Meu Pé de Serra” (1946), “Asa Branca” (1947), “Juazeiro” e “Mangaratiba” (1948) e “Paraíba” e “Baião de Dois” (1950).
No ano de 1947, já casado com Helena das Neves e tendo assumido a paternidade de Gonzaguinha, conhece Zé Dantas, que passou a ser seu parceiro, assumindo o posto deixado por Teixeira, que se afastara da música devido à vida política. Juntos compuseram outros clássicos (“O xote das meninas”, “Vem Morena”, “A volta da Asa Branca”, “Riacho do Navio” etc.) e Luiz Gonzaga se firmou como o Rei do Baião.
Nos anos 1960, o sucesso da Bossa Nova, do rock e do Ieieiê ofuscaram o brilho de Lua (apelido dado por Paulo Gracindo). Porém, dada sua genialidade, era admirado por inúmeros artistas, incluindo os da nova geração, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Raul Seixas, para quem, Luiz Gonzaga, era o personagem mais “elvispresliano” da música brasileira.
Além de nunca ter parado de compor Entre as décadas de 1970 e 1980, regravações, homenagens e parcerias foram estabelecidas com as/os novas/os cantoras/es, formando um espécie de séquito ao redor de Gonzagão: Fagner, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Dominguinhos, seu grande discípulo.
Nessa época também se reaproximou de seu filho, Gonzaguinha, saindo numa bem sucedida turnê pelo país, o que concedeu novo fôlego à sua carreira devido a músicas como “Vida de viajante” e “Pense n’eu”. Em 1984, recebeu o primeiro disco de ouro com “Danado de Bom”. Por esta época apresentou-se duas vezes na Europa; e começaram a surgir as biografias sobre o homem simples e inventivo, que gravou 56 discos e compôs mais de 500 canções.
O Rei do Baião morreu, em Recife, em 2 de agosto de 1989. Se vivo, completaria 103 anos. Devido a sua genialidade musical da canção Asa Branca, que se tornou Hino do Nordeste Brasileiro, Luiz Gonzaga foi o artista que mais vendeu discos no Brasil de 1946 a 1955. Seu legado é homenageado até hoje. Em 2012, Gonzaga foi tema do carnaval da Unidos da Tijuca, fazendo com que a escola ganhasse o título deste respectivo ano. A história do rei do baião também é contada no filme “Gonzaga, de pai para filho”, de Patrícia Andrade.
As ações da Palmares Itinerante no Espírito Santo
O projeto Palmares Itinerante visitou nos dias 06 e 07 de Dezembro, o estado do Espírito Santo. O objetivo do projeto é ouvir as necessidades das comunidades de várias regiões do Brasil, e alinhar as atividades da Fundação Cultural Palmares. Promovendo políticas públicas que atendam a necessidade de cada local.
Pela manhã do dia 6 dezembro, o Presidente da Palmares, Sr. Erivaldo Oliveira, é recebido com um café da manhã especial, presenteado pela associação das Paneleiras de Goiabeiras. Onde fez uma visita, conhecendo o belo trabalho que são as famosas panelas de barro. Um artesanato que é marco no Estado do ES.
No galpão das Paneleiras de Goiabeiras, o visitante pode conhecer todo o processo de produção das panelas. A panela de barro é o primeiro patrimônio imaterial do Brasil. Tombado pelo Iphan, é considerado patrimônio da humanidade.
No Galpão das paneleiras são produzidas mais de 3 mil panelas de barro todo mês, elas são distribuídas para todo o Brasil e em alguns países no exterior. Lá é possível encontrar diversos produtos de barro como: travessas, tigelas e muitas panelas.
Mais tarde o presidente Erivaldo é recebido pelo vice-governador do estado, Sr. César Colnago, e outros representantes do governo do estado do Espírito Santo. Onde pode apresentar o livro “O que você sabe sobre a África? Uma viagem pela história do continente e dos afro-brasileiros”, que faz parte do “Kit Conhecendo a África”. O kit que será distribuído em todo o Brasil, foi produzido pela Fundação Cultural Palmares em parceria do Ministério da Cultura.
Após a recepção na Assembleia legislativa em volta do monumento Rei Zulu, houve uma roda de conversa com a sociedade civil e poder público estadual (Secretaria de Cultura, Direitos Humanos e igualdade racial). Instrumentos de controle social (Igualdade racial municipais, Conselho de Direito Humano estadual, Conselho de negros, Fórum Chico Prego), Associação das paneleiras, Associação das Bandas de congo e o IPHAN estadual.
Faziam parte da mesa o presidente da Fundação Palmares, Sr. Erivaldo Oliveira, representantes do governo e da sociedade, como a vereadora Neuza de Oliveira, Secretário de Cultura do ES, Sr. João Gualberto, Secretário de Direitos Humanos e igualdade racial, Júlio César Pompeu, o Secretário de Cultura, João Gualberto Vasconcellos, Arilson Ventura – CONAQ, componentes do Movimento Juventude Negra, Carlos abelhão dentre outros.
‘’As demandas da Palmares não estão somente em Brasília. Estão nas comunidades quilombolas; nos terreiros de umbanda; estão nos estados nos municípios de todo o Brasil. Foi criado a Palmares Itinerante, com objetivo de colocar em pratica todas as políticas públicas que estão ao alcance da Palmares. Precisamos levar a cultura brasileira em todos os porões. Queremos sair do gueto, levar exposições de moda Afro aos Shoppings’’, enfatizou o presidente da Fundação Palmares.
Aproveitando o presente momento, o presidente Erivaldo Oliveira, ressalta a importância do lançamento do “Kit Conhecendo a África”. Afirmando que, para que o jovem negro se sentir representado, é importante que o Estado retrate a beleza negra e a cultura afro, em seus livros e em suas revistas. Por isso o livro conhecendo a África, segundo ele, é um projeto de suma importância para contribuir com o processo de construção de identidade desse jovem.
O “Kit Conhecendo a Africa”, é composto pelo o livro “O que você sabe sobre a Africa? Uma viagem pela história do continente e dos afro-brasileiros” e uma revista Coquetel. Será distribuído em cinco regiões do país, de forma a contribuir para a implementação da lei Nº 10.639/03 e alcançar as metas 4 e 19 do Plano Nacional de Cultura.
Ao final do dia foram entregues os Certificados Dona Domingas, que homenageou personalidades que ajudam e contribuem para o crescimento do estado.
O dia 7 de Dezembro começa com uma visita à comunidade quilombola de Divino Espírito Santo, que fica localizado em São Mateus. Segundo município mais antigo e sétimo mais populoso do estado do Espírito Santo.
Acompanhado do vice governador Cesar Colnago e seu chefe de gabinete, Ruy Gonçalves, juntamente com o Secretário de direitos humanos, Júlio César Pompeu, o presidente da Palmares, apontou a importância do “Kit Conhecendo a África”, também nas escolas quilombolas, além de falar sobre aspectos da agricultura, cultura, entretenimento, saúde e educação, nas comunidades quilombolas.
Mais tarde, houve uma roda de conversa, no centro de Vitória, tal qual o presidente da Fundação Palmares, preconiza como ‘’ roda de ações’’. Acompanhavam ele, o Chefe de Gabinete do vice-governador, Sr. Ruy Gonçalves, em conjunto de representantes quilombolas, matriz africana, ciganos dentre outros.
O objetivo era que essas comunidades pudessem conhecer a Fundação Cultural Palmares, bem como, saber as atividades em andamento que as favorecessem. Além de ouvir as necessidades e ideias de seus representantes. O encerramento das atividades contou com a presença de músicos e grupos de dança Afro locais. Celebrando os novos passos e atividades, voltados para a população negra e quilombola local.
Erivaldo Oliveira, presidente desta Fundação, aponta que as novas ações da Palmares, pelo projeto “Palmares Itinerante”, são muito importantes. Há anos a Fundação não se fazia presente no estado do Espírito Santo, como em muitos outros estados do Brasil.
E a integração da Fundação Cultural Palmares com essas comunidades, além de gerar políticas públicas que atendam a sua necessidade de fato, proporcionará melhorias para diversas comunidades em todo o Brasil.
Por Beatriz Dina e Débora Cruz
Milton Gonçalves – 83 anos
Aos 83 anos, Milton Gonçalves é, inquestionavelmente, um dos grandes nomes das artes cênicas do país e um atuante militante dos direitos da população negra.
Filho de camponeses e nascido em Monte Santo, nas Minas Gerais, em 9 de dezembro de 1933, mudou-se, ainda muito novo, com a mãe para a cidade de São Paulo, depois que ela separou-se de seu pai.
Começou a trabalhar aos 7 anos como babá. Aos 11, trabalhou como ajudante de alfaiate. Foi quando se deparou pela primeira vez com o preconceito e a discriminação: quando ia fazer a entrega de um terno, foi roubado e, então, de vítima passou a ser acusado de ladrão. Essa experiência, segundo relatou, o marcou para o resto da vida, tornou-se um trauma indelével:
“Quando ando na rua e vejo uma mulher vindo em minha direção, acelero para passar mais rápido. E quando vejo que há uma na minha frente, de costas, diminuo o passo. Isso está dentro de mim, não tem jeito.” – afirma Milton.
A arte, então, apareceu diante dele como uma via de escape da sua dura realidade. Seu primeiro deslumbramento foi com o cinema. A sala escura, o barulho do projetor e a tela gigante lhe hipnotizavam. Porém o encanto maior foi proporcionado pelo contato com o teatro, o que ocorreu quando seu amigo, Egídio Écio, que já era ator, o convidou para assistir à peça A Mão do Macaco. O ano era 1950.
Nos anos seguintes, ingressou num grupo de teatro amador. Este grupo foi sua escola e seu trabalho; lá, além de ser ator, foi contrarregra, produtor, iluminador…
Em 1957, mudou-se para o Rio para atuar na peça Ratos e Homens, dirigida por Augusto Boal e montada pelo Teatro de Arena, um grupo que procurava mostrar o homem brasileiro e sua realidade.
Poucos anos depois começou a trabalhar na televisão, a partir do convite do diretor Graça Mello. Voltou a São Paulo e naquele novo meio de comunicação aprendeu não apenas a atuar, mas também a dirigir e editar.
Daí em diante, nada foi capaz de lhe parar. Participou de mais de 30 peças teatrais, atuou em 48 novelas, 9 minisséries, 8 seriados, e em mais de cem filmes. No teatro, os destaques são as peças Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri (1957), Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Viana Filho (1959), Gente Como a Gente, de Roberto Freire (1959), Revolução Na América do Sul, de Augusto Boal (1960), Arena Conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Edu Lobo (1963), A farsa da Boa Preguiça, de Ariano Suassuna (1975), Vargas, de Dias Gomes (1984) e Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes (1989).
Escreveu e dirigiu algumas peças, como O Noviço, Arena Conta Zumbi, As Três Moças do Sabonete, Chapetuba Futebol Clube e Zumbi.
Quanto às produções para a TV, destacam-se Selva de pedra, Irmãos Coragem, Escrava Isaura (ambas também dirigidas por ele), O Bem Amado, Gabriela, Roque Santeiro, Insensato Coração e Lado a lado.
No cinema, seus principais trabalhos foram: Macunaíma (1969), A Rainha Diaba (1974), Lúcio Flávio – o passageiro da agonia (1977), O Beijo da Mulher Aranha (1985) e As Filhas do Vento (2005).
Ao longo da carreira recebeu diversos prêmios, dentre os quais: o Troféu Candango, o Prêmio Air France e o Coruja de Ouro pelo filme A Rainha Diaba; Melhor ator no 32º Festiva de Gramado – Cinema Brasileiro e Latino, pelo filme As Filhas do Vento; Prêmio TECO de Teatro, pelo conjunto de trabalhos; e Prêmio Estácio de Sá, em 1981, da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio de Janeiro, como destaque do ano.
Militante do movimento negro, Milton Gonçalves chegou a tentar a carreira política ao candidatar-se a governador do estado do Rio de Janeiro, em 1994. Milton ocupou cargos públicos, como a Superintendência Regional da RadioBrás Setor Sul (1985/1986). Foi membro do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, do Conselho de Artes do Paço Imperial do Rio de janeiro e do Conselho Cultural da Fundação Palmares.
Por Tiago Cantalice
Fontes:
http://artes.com/artistas/miltong.htm
Sessão solene homenageia o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra
Na última terça-feira (29/11), foi realizada uma sessão solene em homenagem ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, na Câmara dos Deputados em Brasília. A sessão que foi presidida pela deputada federal Tia Eron (PRB-BA), contou com a participação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Sr. Erivaldo Oliveira, além de parlamentares, militantes e autoridades.
O momento foi de conscientização e debates sobre medidas e mecanismos de resgate da dívida social e histórica que o Brasil tem para com a população negra. Além de apresentar formas de combate à desigualdade racial.
Na oportunidade o presidente Erivaldo Oliveira pode apresentar e expor, estratégias e políticas públicas que a Fundação Palmares está desenvolvendo no combate ao racismo e à discriminação racial.
Fundação Cultural Palmares lança atividades alusivas ao Dia Nacional da Consciência Negra com três belas exposições no Parque Shopping de Maceió
Para iniciar as atividades culturais afro-brasileiras em celebração ao Dia Nacional da Consciência Negra, a Fundação Cultural Palmares lançou na cidade de Maceió, no Parque Shopping, três exposições com a temática negra. A primeira, intitulada “História da Enfermagem Brasileira: A Contribuição Afrodescendente”, reuniu painéis informativos sobre a contribuição dos negros para a enfermagem no Brasil. Criada pelo Museu Nacional de Enfermagem Anna Nery e com apoio do Conselho Federal de Enfermagem, a exposição exaltou personalidades como Maria de Colodina, quilombola de Monte gordo (Portugal), que muito contribuiu no auxílio das grávidas durante seus partos e Benoni Souza Lima, por ser o primeiro homem a ingressar na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.
A segunda, intitulada “Raízes”, da autora Sophia Costa, trata do empoderamento da mulher negra por meio da estética de seus cabelos. As fotografias apresentam doze mulheres negras que são retratadas como deusas, rainhas e guerreiras.
No intuito de valorizar artistas alagoanos, a terceira exposição apresentada é de autoria de Jorge Vieira, intitulada “Pretas, a beleza da Cor”, que também mostra a força da mulher negra no seu processo de afirmação de identidade.
As exposições, que tiveram início em 09 de novembro, permanecerão no Shopping até o dia 30 deste mês.
No mesmo espaço encontra-se ainda o vídeo documentário “Filhos do Brasil”, que trata de uma campanha lançada nacionalmente e idealizada pela Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura. O documentário traz depoimentos de diversas personalidades nacionais sobre a questão da intolerância religiosa e tem por embaixador Arlindo Cruz.
Por Conceição Barbosa e Carolina Petitinga
Entrega de títulos de terra a quilombolas na Serra da Barriga
Entre as cerimônias oficiais, o Incra promoveu a entrega de título definitivo de domínio para a comunidade remanescente de quilombo Tabacaria. A titulação assegura 399 hectares para 89 famílias da comunidade, localizada no município de Palmeiras do Índio. Foi o primeiro território titulado no Estado, que possui 67 comunidades reconhecidas e certificadas pela Fundação Cultural Palmares.
O documento oficial foi assinado pelo então presidente da Fundação Cultural Palmares, Sr. Erivaldo Oliveira, o Diretor do Incra, Sr. Rogério Arantes, diretamente para o Sr. Amaro Teles Filho, presidente da Associação de Tabacaria, e segundo ele: “a titulação vai abrir novas portas e atrair mais olhares da sociedade e do Governo para a comunidade. Tudo veio aos poucos e, agora, vamos cuidar de trazer melhorias para a nossa comunidade. O título na mão é tudo, é tudo para nós”, observou emocionado.
Além do Diretor, também estavam presentes o Superintendente do Incra, Sr. Alberto Nascimento e a Coordenadora-Geral de Regularização de Territórios Quilombolas, Sra. Isabelle Picelli, além das outras autoridades municipais, estaduais e federais, que estavam presentes no evento.
Na ocasião, também foi lançado pelo Presidente Erivaldo Oliveira, o “Kit Conhecendo a Africa” que é composto pelo o livro “O que você sabe sobre a Africa? Uma viagem pela história do continente e dos afro-brasileiros” e a revista Coquetel, que serão distribuídos em cinco regiões do país , como projeto piloto da Fundação Cultural Palmares, de forma a contribuir para a implementação da lei Nº 10.639/03 e alcançar as metas 4 e 19 do Plano Nacional de Cultura .
Ressaltou também que a partir das certificações dadas pelo INCRA, a Palmares poderá desenvolver políticas públicas para atender as comunidades quilombolas.
“O trabalho é longo, a tarefa é árdua, mas temos condições, temos uma equipe maravilhosa e além disso, temos disposição para efetivamente traçar políticas públicas”, disse Sr. Erivaldo Oliveira.
Salientou a importância das parcerias entre a Fundação Cultural Palmares com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA e com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN do Brasil inteiro, a fim de proteger os patrimônios culturais. Ele ressalta que serão realizados seminários regionais a partir de janeiro de 2017 no país inteiro a respeito das comunidades quilombolas.
Milhares de pessoas se reúnem na Serra da Barriga para celebrar o 20 de novembro
O dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, comemorado no último domingo, dia 20 de novembro de 2016, foi de muitas homenagens na terra onde viveu o líder Zumbi dos Palmares, milhares de pessoas participaram da festa que homenageou a história da resistência negra no país. Foi uma festa de comemoração e também de reivindicação.
A subida até a Serra da Barriga, berço de Zumbi dos Palmares, tem seis quilômetros, e centenas de pessoas fizeram o trajeto sob forte sol. Religiosos de matrizes africanas davam as boas-vindas aos que chegavam no alto da serra.
Visitantes, turistas e religiosos participaram no Parque Memorial Quilombo, de uma extensa programação que homenageou a luta de Zumbi e a resistência do povo negro brasileiro.
Os convidados se dividiram em acompanhar as rodas de capoeiras, apresentações musicais, cerimônias religiosas e atividades que aconteceram simultaneamente.
O momento representa uma oportunidade única de conhecer a diversidade de manifestações culturais presentes na trajetória do povo brasileiro.
De acordo com Mãe Yayá do Acarajé, ao chegar na Serra pela primeira vez, sentiu-se muito feliz, abraçada por uma força sobrenatural e por isso fez questão estar presente pela segunda vez.
Ressaltou que para ela, o dia 20 deste ano seria uma data para reivindicar e não apenas para comemorar, pois o preconceito racial e a intolerância religiosa continuam desde seus ancestrais. E complementa falando que a mulher negra está sendo mais respeitada, porém ainda há muito a ser vencido.
Para Maria Neide Martins, a Mãe Neide Oyá D’oxum, que começou a participar de cultos afro-brasileiros em 1983, o 20 de novembro possui também grande importância. Ela desenvolve no Grupo Espírita Santa Bárbara (Guesb), situado em Maceió, um projeto que fortalece a cultura afro-brasileira.
A entidade foi criada em 1984 para incentivar e disseminar os costumes e tradições da cultura afro-brasileira, com foco no respeito aos rituais de religiões de matriz africana.
“Este dia representa reflexão, meditação, comunhão, um dia de comemoração, porém de pedidos por melhorias, por políticas públicas mais efetivas, para que as leis saiam dos papéis. Um dia que todos nós nos reunimos para ofertar aos nossos ancestrais e um dia de comunhão entre todos”, Mãe Neide.
Foi oferecido por Mãe Neide um almoço no Restaurante Baobá Raízes e tradições. No espaço, Iaolorixá Mãe Neide, organizou um cardápio que ela mesma denomina como culinária afro-brasileira e indígena que expressa os costumes traduzidos em comidas tipicamente quilombolas segundo ela. Que também ressaltou a importância da presença do poder público no evento, para que dialoguem com as comunidades.
Ao ser indagada sobre o que poderiam então comemorar naquele dia, Mãe Neide não hesitou em responder prontamente: a vida.
“Quando o cativeiro acabou, negro não sabia o que fazer. Não tinha terra pra plantar, nem tinha mandioca pra colher. Corria pra lá, corria pra cá. Ai ai ai aindê, ai ai ai aindê. Branco me deu alforria, mas não me ensinou a viver”, cantou Mãe Neide Oyá D’oxum, deixando-nos em um momento de reflexão.
A solenidade contou com a presença do Ministro do Turismo, Sr. Marx Beltrão, que expôs estudos que apontam o quanto precisamos ainda avançar na luta contra o racismo, seja ele velado como nas prestações de serviço, ou nas taxas de agressões e homicídios que crescem a cada ano.
“A história dos negros em nosso país sempre foi de luta, mas quero afirmar aqui que todas elas não foram em vão. O Governo Federal pode ajudar e muito nesse sentido para que todos tenham seus direitos garantidos. Por isso, essa data de hoje é tão importante não só para a população negra, mas para todo o país, pois simboliza a busca em cidadania, igualdade e respeito”, ressalta o Ministro.
Na ocasião, o Vice-governador, o Sr. Luciano Barbosa, ressalvou que a diversidade de pensamento e a liberdade de expressão, tem como fundamento a luta pela liberdade de Zumbi dos Palmares, desde o Séc. XVII, mostrando para a América Latina e para o mundo inteiro que o maior bem que o homem pode possuir é o bem da liberdade, e que por ela, o homem é capaz de ir até a morte.
“Peço aqui ao Ministro Marx e a todos os ministros do país que nos ajude a transformar a Serra da Barriga em um movimento de peregrinação pela liberdade e pela consciência negra. Que possa entrar no turismo nacional, e que venham pessoas do Brasil e do mundo possam cultuar um momento da história brasileira que ficou em Alagoas e que nos faz até hoje lembrar da bravura, do dinamismo e da construção de um povo livre. Viva Zumbi, Viva a Consciência Negra do povo Brasileiro!”, explanou o Sr. Luciano Barbosa.
Também presente, o Secretário de Estado da Comunicação, Sr. Ênio Lins, e o Secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo, Sr. Helder Lima, que destacou a seriedade da valorização de ações voltadas para promoção da cultura negra em Alagoas e observou que participar de uma festa como essa o deixava honrado, pois a cultura negra merece ser celebrada e enaltecida durante todo ano.
VIVA O 20 DE NOVEMBRO
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, é um feriado nacional, estabelecido por lei federal, e é de suma importância para a conscientização da sociedade à cerca dos crimes de racismo e diferenças étnicas no país.A data 20 de Novembro de 1695 tem história e significado para os descendentes quilombolas e negros brasileiros, a morte de Zumbi dos Palmares. Resistência, força e união, marcam a luta de um líder negro pelo ideal de igualdade.
Comemoramos a data 20 de novembro, como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Data eleita para homenagear Zumbi dos Palmares.
Um fato curioso é que, antes disso, Zumbi se chamava Francisco. A mudança de nome para Zumbi tem uma grande importância já que a nomenclatura significa aquele que estava morto e ressuscitou, ou ainda, o herói da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial.
Zumbi foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos dos engenhos, índios e brancos pobres expulsos das fazendas. Ele lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura negra.
O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.
Comemorar e se alegrar, não só no dia da consciência negra, mas todos os dias do ano, nos permite refletir sobre quem somos e o que pretendemos ser: uma nação que se respeita e é respeitada, que assume sua história e suas origens e que age de acordo com sua condição de segunda maior nação negra do mundo.
Foi para as matas fechadas da Serra, que alcança uma altitude de 500 metros, que milhares de negros escravizados fugiram durante o período de dominação portuguesa e holandesa. Lá viveram mais de 20 mil pessoas, entre os anos de 1597 e 1695. Por isso, as comunidades quilombolas têm um lugar mais que especial: preservar seus legados é reparar injustiças e honrar o sonho da liberdade.
Os atos de reparação e de empoderamento serão concretizados por meio de ações políticas, institucionais e sociais, imprescindíveis e urgentes para a superação da barbárie e o resgate da possibilidade de construir uma nova civilização. Um país que se diz democrático e plural assegura a atuação coletiva pela convivência digna e igualitária.
Somos responsáveis pela construção de uma sociedade sem os muros da discriminação sejam estes econômicos, raciais, sociais, regionais, culturais… A dignidade coletiva define o caminho para a humanização e a cidadania. Por fim, como disseram muitos dos líderes ligados à defesa da cultura africana no Brasil, presentes na comemoração ‘’ que todos os festejos sirvam como incentivo para que todos repensem sobre a igualdade racial’’.
Por essas razões a Fundação Cultural Palmares comemorou e apoiou com riso solto e amor no coração, tão linda festa, estampada no riso fácil dessas fotos, que tão bem retratam nosso sentimento livre em comemoração ao 20 de novembro.
Viva Zumbi dos Palmares! Os seus ideais permanecem mais vivos que nunca.
Por Beatriz Dina
Livros vencedores do prêmio Oliveira Silveira , são lançados em Macapá
Foi lançada na sexta-feira passada (04), as margens do Rio Amazonas na cidade de Macapá, a coleção de obras literárias vencedoras do Prêmio Oliveira Silveira, promovido pela Fundação Cultural Palmares (FCP) vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) foram elas: ÁGUA DE BARRELA da escritora Eliana Alves dos Santos Cruz, HAUSSÁ 1815 – COMARCA DAS ALAGOAS, do autor – Júlio César Farias de Andrade, SOBRE AS VITÓRIAS QUE A HISTÓRIO NÃO CONTA, de André Luís Soares, SINA TRAÇADA, de Custódia Wolney e SESSENTA E SEIS ELOS do autor Luiz Eduardo de Carvalho.
Esse Prêmio traz como proposta a produção de romances e como tema principal a realidade afro-brasileira. Durante o evento os livros foram apresentados pela professora Dra. Natali Fabiana da Costa e Silva e autografados por seus autores.
A cidade escolhida para a 5ª edição do lançamento dos livros é linda, de pequeno porte,com um ambiente sem poluição, com uma população acolhedora, com uma rica paisagem natural proporcionada pelo rio amazonas, o maior do mundo, além de ser o único município brasileiro por onde passa a Linha do Equador e ter 70% da sua população de negros.
A abertura do lançamento foi marcada com apresentação cultural da Associação Cultural Ancestrais e com o hino sendo interpretado por Larrane Mendes da Associação Cultural Berço do Marabaixo da Favela, emocionando os convidados.
A mesa de abertura foi composta por convidados ilustres como o Deputado Federal Marcos Reátegui, a Coordenadora Geral do Núcleo de estudos Afro-Brasileiros – Neab/Unifap professora Dra. Piedade Lino Vieira, junto com o Presidente da Fundação Cultural Palmares Sr. Erivaldo Oliveira da Silva dentre outros.
A Professora Dra. Piedade que era uma dessas ilustres convidadas, falou sobre a importância de fundamentar políticas públicas “é de uma importância imensa nesse processo de articulação a gente dialogar para trabalhar e fundamentar políticas públicas para a população negra do Amapá”
O deputado federal Marcos Reátegui que falou orgulhoso da alegria de receber pela primeira vez no estado do Amapá um presidente da Fundação Cultural Palmares “Eu, venho acompanhando de perto, inclusive, o trabalho da Palmares, fico muito feliz de receber pela primeira vez no meu estado, o presidente da Fundação Cultural Palmares.”
D. Esmeraldina Dos Santos, que era uma das convidadas e foi convidada a sentar-se à mesa de abertura, estava representando os poetas, pesquisadores e escritores negros do Amapá além de ser moradora da comunidade do quilombo do Curiaú, ela fez questão de falar da satisfação em receber a Fundação Palmares em seu estado e ainda sobre a força de vontade, hoje com 58 anos voltou a estudar e está cursando 2 faculdades, mostrando que com vontade conseguimos conquistar os nossos objetivos. “É uma satisfação muito grande para eu negra, que batalho no dia a dia, voltei a estudar em 2009 e estou fazendo duas faculdades, também estou na UNIFAB, tentando entrar pra esse mundo de literatura…”
O presidente da Fundação Cultural Palmares Erivaldo Oliveira da Silva falou sobre a Palmares Itinerante que tem como objetivo levar políticas públicas para todo o Brasil e ressaltou a felicidade em participar de grandes agendas com o deputado Marcos Reátegui, em um estado onde teve uma receptividade maravilhosa.
“ Hoje é uma noite de celebração pois Macapá é a terra da felicidade. A Palmares está lançando a Palmares Itinerante, as demandas estão nas comunidades quilombolas, o povo sem cultura está mergulhado em seu tumba, povo sem cultura ainda não nasceu, por isso a Palmares está determinada em fortalecer cada vez mais o Prêmio Oliveira Silveira,lançando no Amapá grandes projetos para que tenhamos nossa história escrita.” , ressalta ele.
O presidente informou ainda sobre a virada cultural Afro que acontecerá no estado do Amapá, nos dias 29,30 e 31/12 para celebrar a cultura – afro.
Confira a programação comemorativa do Dia nacional de Zumbi e da Consciência Negra
Teve início hoje em Maceió (AL) a programação cultural em comemoração ao dia 20 denovembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, realizado pela Fundação Cultural Palmares em parceria com a SECULT, SEDETUR, CONEPIR, SEMUDH, SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA, SEDUC, CENAFRO, IPHAN, PREFEITURA DE MACEIÓ, UNEAL, UNINASSAU, GABINETE CIVIL, GOVERNO DO ESTADO DE ALAGOAS E PREFEITURA DE UNIÃO DOS PALMARES.
Uma vasta programação que segue de hoje (10) até o dia 25 de novembro e está dividida entre a cidade de Maceió e o município de União dos Palmares.
A programação conta com apresentações culturais, exposições, palestras, shows e etc.
Fundação Palmares celebra o mês da Consciência Negra
Por Minc
Em 20 de novembro, o país celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, data escolhida por marcar o dia da morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores símbolos de resistência e luta contra a escravidão. Para comemorar a data, a Fundação Cultural Palmares (FCP) preparou uma programação especial, que ocorre entre os dias 9 e 30 de novembro, em Alagoas. Estão previstas exposições, ciclos de palestras, apresentações culturais, lançamentos de romances afro-brasileiros, sessões de cinema e feira de produtos quilombolas. As atividades acontecem na capital Maceió e na cidade de União dos Palmares.
Em Maceió, a programação terá início no próximo dia 9, com a abertura de exposições com temáticas afro-brasileiras, como “Raízes”, “O negro e a Enfermagem” e “Pretas, a cor da Beleza”. Ainda será exibido o vídeo da campanha “Filhos do Brasil”, que promove o combate à intolerância religiosa. As exposições serão realizadas em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas (Secult).
Ainda no dia 9, na cidade de União dos Palmares, onde está localizado o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, será desenvolvido o “Seminário Sustentabilidade da Fruticultura no Vale do Mundaú”, que conta com o apoio da FCP. O parque recria, na Serra da Barriga, o ambiente da República dos Palmares – o maior e mais duradouro quilombo das Américas. O local concentrará todos os atos comemorativos do dia 20 de novembro.
Entre os eventos programados para a capital alagoana que tiveram a participação da Palmares, seja na organização ou no apoio, estão o “I Ciclo de Formação de Direitos e Diversidades: Sistema Penal e Racismo do Estado de Alagoas”, o “I Cenafro – Conferência de Afroempreendedorismo”, o seminário “Construção de Indicadores para a Salvaguarda da Capoeira de Alagoas” e o lançamento dos romances vencedores do Prêmio Oliveira Silvério. No Quilombo do Muquém, em União dos Palmares, ainda haverá sessões especiais de cinema infantil, com temática afrodescendente.
Programação
O dia da Consciência Negra, no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, será marcado por ações culturais que terão início às 5h, com a Alvorada da Capoeira, seguido por um café da manhã dedicado às Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Mestres de Capoeira. Além de feiras de artesanato e shows, deverá ser promovida a entrega do título da terra da Comunidade Quilombola de Batateira.
Serviço:
Maceió – Alagoas
Exposições:
Raízes
O negro na enfermagem
Pretas, a cor da Beleza
Campanha Filhos do Brasil – exibição de vídeos
Data: 09 a 30 de novembro
Local: A definir
Seminário Sustentabilidade da Fruticultura no Vale do Mundaú
Data: 9 de novembro
Local: Parque Memorial Quilombo dos Palmares
Horário: 9h às 17h
I Ciclo de Formação Direito e Diversidades: Sistema Penal e Racismo do Estado de Alagoas
Data: 10 e 11 de novembro
Local: Palácio Zumbi dos Palmares – Rua Cincinato Pinto s/n – Centro – Maceió (AL)
Horário: 8h às 18h
I Cenafro – Afroempreendedorismo – Promover a cultura afro-brasileira
Data: 16 e 17 de novembro
Local: Cine Arte Pajuçara – Av. Dr. Antônio Gouveia, 1113
Horário: 09 às 22h
Seminário Construção de Indicadores para Salvaguarda da Capoeira de Alagoas
Data: 17 de novembro
Local: Rua Sá Albuquerque, 117 – Bairro Jaraguá – Superintendência do Iphan
Horário: 10h
Apresentações Culturais
Data: 17 e 18 de novembro
Local: Estacionamento do Parque Shopping Maceió
Horário: 19h
Lançamento dos Romances Afro-brasileiros ganhadores do Prêmio Oliveira Silvério
Data: 18 de novembro
Local: Biblioteca Estadual Graciliano Ramos – Praça Dom Pedro II, S/N – Centro, Maceió (AL)
Horário: 18h
União dos Palmares – Alagoas
Cine Palmares no Quilombo – Sessão Infantil
Data: 18 de novembro
Local: Quilombo do Muquém
Horário:
Apresentações Viva o Reggae e Viva o Samba
Data: 19 e 20 de novembro
Local: Praça Basiliano Sarmento
Horário: 19h às 23h
Dia da Consciência Negra – 20 de novembro
Local: Parque Memorial Quilombo dos Palmares – Serra da Barriga
Programação Especial:
5h: Alvorada da capoeira
6h às 9h: Café da Manhã
09h30: Cortejo Issegum Caojubá
10h30: Salva de tiros em homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra
11h: Entrega do título da terra da Comunidade Quilombola de Tabacaria (AL) e apresentação de novos projetos para o Parque Memorial Quilombo dos Palmares
09h às 17h: Atividades culturais – exposições, feira de artesanato, rodas de capoeira
Romances vencedores do Prêmio Oliveira Silveira são lançados em Salvador
Por Emiliane Saraiva Neves
Diante de um espetacular pôr-do-sol, com vista para a Baía de Todos-os-Santos com seus barcos e veleiros, a Fundação Cultural Palmares lançou em Salvador no estado da Bahia, na sexta-feira (21), os livros vencedores do Prêmio Oliveira Silveira. A paisagem escolhida para o evento foi a mesma que inspirou muitos escritores e que acumula diversas histórias desde seu descobrimento em 1501.
Sendo a segunda maior baía do mundo, com mais de 50 ilhas, a Baía-de-Todos os Santos foi o cenário de batalhas, como a Batalha de Pirajá (1823), quando a participação popular de negros, índios e mestiços contribuiu para Independência da Bahia. Local onde sua incrível beleza inspira poetas e cantores. Também é lembrança, ainda bem vívida, da resistência e luta de africanos que vieram escravizados para o nosso continente e com sua bravura e cultura, construíram a identidade nacional.
Bahia é a terra de Custódia Wolney, nascida em Barreiras, autora do livro Sina Traçada – uma das cinco obras contempladas pelo edital – e também palco onde a história escrita por Eliana Cruz em Água de Barrela (romance que ficou em primeiro lugar no prêmio) acontece.
Sobre o lançamento dos livros, que aconteceu no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador, Eliana relatou que: “É uma emoção indescritível estar aqui nesse lugar, tão próximo do Pelourinho, cenário do livro. Vários personagens transitaram nessas ruas. Estiveram nesse elevador, subiram e desceram. Meu avô, um dos personagens do livro, Mateus Cruz, foi quem renovou o maquinário do Elevador Lacerda na década de 90. São marcos, lugares muito emblemáticos. E o que vai ficar para sempre, para mim, desse lançamento é que os descendentes dos personagens do livro, parentes que nunca se viram, que só trocaram mensagens e se uniram em função da pesquisa do livro, estão reunidos aqui hoje, pela primeira vez.”
Todos que foram prestigiar o evento puderam levar exemplares dos livros e os cinco autores ficaram à disposição para autografá-los. Os livros e seus respectivos autores são: Eliana Alves dos Santos Cruz, com o livro Água de Barrela; Júlio César Farias de Andrade, com Haussá 1815 Comarca das Alagoas; André Luís Soares, com Sobre as vitórias que a história não conta; Maria Custódia Wolney de Oliveira, com Sina traçada; e Luiz Eduardo de Carvalho, com Sessenta e seis elos.
Custódia demonstrou “imenso prazer ao vê-los ganhando asas” sendo lançados pelo país. Para ela, “livros têm o poder de encantamento, tocam o coração das pessoas. E quando toca, as transforma. E essa transformação contribui para um mundo melhor”.
Para Fabya dos Reis Santos, secretária da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi), que esteve presente, o evento se conecta com a Década Internacional de Afrodescendentes, em que os eixos são reconhecimento, justiça e desenvolvimento. Ela entende que os livros ajudam a consolidar os direitos conquistados pelos povos negros e tradicionais.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Erivaldo Oliveira, trouxe ao conhecimento da plateia as ações da Palmares. Mencionou a reestruturação da representação da Fundação em Salvador; a reavaliação de convênios; a busca pelo trabalho interdisciplinar dos Ministérios em favor da cultura afro-brasileira; a aplicação da Lei 10.639/03, que versa sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana e aprovação de emendas.
Lúcio Vieira Lima, deputado federal (PMDB/BA), que estava no momento, disse que “investir em cultura é investir em educação, é investimento em um país melhor. Não existe um povo com futuro que não preserve a sua história. Nessa fase de grande modernismo onde o mundo avança em uma velocidade enorme na ciência e na tecnologia, é muito importante nós termos guardado, como se fosse em uma cápsula do tempo, nossa cultura. E nada melhor para funcionar como essa cápsula, do que as páginas de um livro”.
Compareceram 40 representantes de terreiros, entre eles: Pai Alcides; Ilê Yá Oman de Mãe Lídia; Ilê Axé Omi Jijarun, Terreiro do Viviadeus de Santo Amaro de Pai Eduardo; Ilê Axé de Oxum de Mãe Lina; Ilê Axé Oju Oman Oká de Pai Sérgio; Ogán Tonho; Ilê Axé Titolobi de Pai Elson; Ilê Axé Oman Ejo de Mãe Romilda; Ilê Axé Obé Lalay de Pai Tbo; Egbomy Kátia Vivadeus, Babakekere do Oju Onirê, Gerisvaldo e Terreiro Mutalambô de Pai Rogério, Ekede Marinalva, Yá Egbe Miroca e Egbe Ekede Tina. Edgar das Neves, da Sociedade Protetora dos Desvalidos, Edméia Reis do Museu Nacional de Enfermagem Anna Nery.
Eleonice Sacramento, pescadora e quilombola da Comunidade de Conceição de Salinas no Recôncavo Baiano, durante o lançamento nos compartilhou sua percepção: “Penso que é extremamente importante termos literatura que falem da nossa história e do nosso povo. Existiu no passado e existe ainda hoje, uma tentativa de apagar nossa identidade. E por isso, precisamos que nossa história seja a cada dia reafirmada. Apesar dos pescadores e pescadoras serem guardiões de uma tradição milenar, para a sociedade brasileira somos vistos de uma perspectiva poética ou somos figuras mitológicas. Como se fôssemos seres distantes, mas somos mais de um milhão de pessoas produzindo alimentos nesse Brasil. E na Bahia, apesar de parecer que nossa presença é muito forte, não existe um respeito a quem somos, à tradição negra. Todo arcabouço cultural e nossa contribuição para a construção da sociedade é negada. Existe uma invisibilidade da nossa importância. E cada dia vemos a necessidade de falarmos da gente e para gente.”
Após as falas das autoridades e a sessão de autógrafos a noite prosseguiu com um coquetel e foi finalizada com uma declamação de um poema do poeta baiano, Antônio Frederico de Castro Alves. Está previsto o lançamento dos romances vencedores do Prêmio Oliveira Silveira em Macapá, Maceió e em São Paulo, ainda em 2016.
Prêmio Oliveira Silveira será lançado dia 21/10 em Salvador-BA
Terreiro incendiado é reinaugurado em Brasília
Por Emiliane Saraiva Neves
Na noite de anteontem (05), no Paranoá em Brasília, o terreiro de candomblé Ylê Axé Oyá Bagan realizou um ato solene de reinauguração da comunidade de matriz africana após o incêndio ocorrido em 27 de novembro de 2015. Compôs a programação uma contagiante apresentação do grupo de percussão Filhas de Oyá, discursos de autoridades e o descerramento da placa de inauguração. A noite prosseguiu em confraternização ao som de batucadas em homenagem ao terreiro Ylê e exaltando a Oyá. Os convidados puderam provar além do acarajé, do vatapá e do caruru preparado pelas filhas de santo, o Xinxim de Galinha – prato da cultura afro-brasileira que leva amendoim, frango, camarão, gengibre e outros temperos.
Mãe Baiana, yalorixá do terreiro Ylê Axé Oyá Bagan, iniciou a solenidade convidando todos os babalorixás e as yalorixás presentes a baterem um Paó, ato de agradecimento segundo a tradição candomblecista, à ancestralidade. Em seguida relembrou o ocorrido no ano passado, quando o seu terreiro foi destruído por um incêndio que consumiu os santos, ferramentas e os barracões. Refletiu sobre a necessidade de uma segunda abolição, visto que a liberdade religiosa dos povos tradicionais ainda é sistematicamente comprometida. Enfatizou que a reinauguração é antes de tudo uma declaração simbólica de resistência e luta, onde os frequentadores do terreiro buscaram forças em seus orixás para perseverarem para reerguer o local e retomarem seus ritos religiosos que foram interrompidos naquele espaço.
Baiana nos relatou que a reconstrução do terreiro custou aproximadamente 75 mil reais. Valor que foi levantado exclusivamente por doações de filhos de santos, amigos e simpatizantes da casa e sua renda, fruto do seu trabalho secular. Juntando às doações foram feitos eventos para levantar a quantia necessária, como um almoço realizado na ARUC (Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro).
Rafael Moreira, presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, presente no evento, apontou que no lugar de uma casa derrubada, duas se levantam. E isso aconteceu no último ano. Segundo ele, três casas que também passaram por incêndio ou foram depredadas conseguiram se reedificar. “Cada semente que é plantada da umbanda ou do candomblé nunca será destruída. Ela pode ser apagada, capinada, mas sempre alguém vai dar continuidade”, disse.
Fernanda Lopes, filha de Ricardo T’ Omolú do Ylê Ase Onibô Araikó, terreiro que também foi intolerado conta que o “candomblé é uma religião de família, é uma mãe. Um acolhe o outro. Se você está desempregado você vende acarajé e mata a fome da sua família, o candomblé te acolhe. Se você não tem dinheiro para pagar o seu aluguel vá para o seu terreiro porque seu pai de santo vai te acolher dentro do terreiro e você vai ficar até encontrar um emprego e poder voltar a se sustentar.” Já a também Fernanda, filha de Aroldo de Ogum Ylê Asé BÍitola, vê que a reinauguração se trata de um exemplo de força e superação. Força que há no candomblé para renascer após as cinzas, não importando se foi derrubado, um novo axé para se reerguer.
Representando o Governo do Distrito Federal foi Nanan Catalão, Secretária Interina da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal. Para ela a reinauguração não foi apenas um momento de afirmação de uma cultura, mas um ato que sinaliza que é necessário haver uma retratação histórica, de uma dívida que o Estado Brasileiro tem com o povo de santo, com as religiões de matriz africana. “A discussão da regularização dos terrenos dos terreiros é uma demanda muito importante e nós faremos todo o esforço, quanto Secretaria de Cultura, através de uma articulação de governo, para resolvermos essa batalha de tantos anos”, disse.
Em seu discurso, o presidente da Fundação Cultural Palmares acrescentou que as “políticas públicas devem elevar o povo, políticas que promovam a mobilidade social do nosso povo. Por isso, a Palmares quer auxiliar que todos os terreiros se transformem em Pontos de Cultura, para que nesses terreiros a gente dê cursos para a promoção dos nossos irmãos. Não se promove mobilidade social sem capacitação”. Continuou, “estava conversando com a secretária da SEPPIR, Dra. Luislinda, disse a ela que os terreiros precisam fazer mais celebrações de casamento, os terreiros precisam fazer todos os sacramentos. As pessoas casam em tudo quanto é lugar, e por que não casar em nossos terreiros”, questionou.
Estiveram presentes também no evento: Marcos Woortmann, administrador do Lago Norte; Thérèse Hoffmann, Decana e Assuntos Comunitários da Universidade de Brasília, UnB; Maria Inez Montagner, diretora da Diversidade da UnB; Dra. Luislinda Valois da Secretaria Especial da Política de Promoção da Igualdade Racial, SEPPIR; Deputado Ricardo Vale; Dra. Gláucia Cristina, da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin). Também compareceram autoridades religiosas de Brasília e entorno.
Mãe Baiana encerrou a noite mandando uma mensagem para outros povos de terreiro e qualquer outro segmento religioso que também esteja passando perseguição: Gente chegou a hora da gente rezar, chamar pelos nossos orixás, chamar por Deus, por Jesus. Chamar cada um segundo seu segmento de fé e juntos começarmos a combater a intolerância dentro da nossa casa, dentro das escolas, na rua, na parada de ônibus. Começar a combater, não apoiar qualquer tipo de discriminação. Quando alguém é confrontado por seus gestos e ações de intolerância esse alguém tem a oportunidade de rever sua forma de pensar porque ele fica constrangido. E é esse tipo de confronto, de combate que precisamos buscar. Não usando a violência, mas com a bandeira da cultura paz, que é mais lógica e traz mais segurança para todos.
Prêmio Oliveira Silveira: coleção de romances é lançada no Rio de Janeiro
Foi lançada terça-feira passada (13), no Rio de Janeiro, a coleção de obras literárias vencedoras do Prêmio Oliveira Silveira, promovido pela Fundação Cultural Palmares (FCP) vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) que foram: Água de Barrela, Sina Traçada: um homem livre que não se curvou aos grilhões da sociedade, Sobre as vitórias que a história não conta, Haussá 1815 – Comarca de Alagoas e Sessenta e seis elos. Em sua primeira edição, o Prêmio trouxe como proposta a produção de romances e como tema a realidade afro-brasileira. Os livros foram apresentados e autografados por seus autores, cujo primeiro lançamento ocorreu em Brasília, ao público carioca como parte da programação Paralímpica da Casa Brasil.
O presidente da Fundação, Erivaldo Oliveira, destacou a importância do hábito pela leitura. “É por meio dos livros que o homem registra sua história e as que compõem esta coleção precisam ser contadas. Junto à outras obras elas têm o poder de mudar o rumo da humanidade”, disse, referindo-se às versões inéditas publicadas que detalham aspectos da História do Brasil a partir das vivências dos personagens dos romances.
Busca pela verdadeira História – A escritora Eliana Alves dos Santos Cruz, autora de Água de Barrela, recordou que o Museu do Amanhã, próximo de onde foi lançada a coleção, se trata de um ambiente que remete à reflexão. “De que adianta projetar o futuro quando não se olha para o passado?”, questionou, recordando que também no Rio de Janeiro está situado o recém-descoberto Cais do Valongo, porto que no Século XIX foi local de desembarque de escravizados trazidos da África para o Brasil e que foi escondido por séculos por uma praça preparada para receber a imperatriz que casaria com Dom Pedro II.
Eduardo Carvalho, autor de Sessenta e seis elos, concordando com a autora disse que “a Fundação Palmares tem sido responsável pela realização desse grande momento para a história da literatura nacional visto que muitas histórias foram negligenciadas, como a história de tantos negros escravizados que passaram pelos calçadões de pedras listradas do Rio de Janeiro”, ressaltou.
A produtora e atriz Naira Fernandes, presente no evento, falou sobre a implementação da Lei 10.639/2003 que trata da inclusão de conteúdos sobre a História da África e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar. “A Lei foi uma das contribuições para que a sociedade repensasse a presença do negro nos espaços sociais e para que o próprio negro assumisse sua identidade, se percebendo como indivíduo com personalidade dentro de uma diversidade”, ressaltou. De acordo com ela, são necessárias mais iniciativas que, como o edital do Prêmio, promovam a produção de conteúdo que possa ser utilizado para a implementação da Lei.
Desafios à literatura negra – Um debate que surgiu em torno da importância do Prêmio Oliveira Silveira foi quanto ao ciclo de demanda e produção de obras referentes às temáticas negras. Em uma breve análise entre os autores e convidados, Eliana concluiu que tais livros não são prioridades às editoras devido à falta de procura. “Não são temáticas que atraem as grandes replicadoras de livros, o que dificulta a disseminação das informações, da cultura e da própria identidade para que os jovens se sintam representados”, afirmou.
Antônio Pereira, estudante fluminense de Psicologia que foi prestigiar o evento, atribui a problemática a um fator cultural. “No Brasil é baixo o gosto pela leitura, principalmente quando os temas ressaltam assuntos passíveis de preconceito e discriminação”, completou. Para ele, outro aspecto, é o baixo número de autores negros, ou autores que tratem dessas temáticas, em destaque na mídia e que sejam referências para o grande público.
Vanderlei Lourenço, Coordenador-Geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC/FCP), destacou que o Prêmio Oliveira Silveira tem o papel de oferecer visibilidade a esses autores e suas produções. “Esta foi a primeira, mas com outras edições, outros prêmios virão para suprir uma deficiência de romances que tratam especificamente da temática negra”, completou. André Luiz, autor de Sobre as vitórias que a história não conta, destacou que o edital tem uma importância à sociedade muito grande, uma vez que permite que a história dos negros seja contada de um ângulo diferente.
George Cleber, membro da comissão de seleção e idealizador e realizador do Festa Literária da Zona Oeste (FLIZO) que avaliou os romances, ao falar sobre o Prêmio Oliveira Silveira ter sido lançado no Boulevard Olímpico – momento ímpar no Rio de Janeiro – mencionou a oportunidade que a Fundação Cultural Palmares tem de fazer a diferença no protagonismo negro, ao incentivar cada vez mais a produção e divulgação da cultura afro local, como exemplo os quilombos urbanos existentes no Rio.
Também compareceu ao lançamento Fernanda Felisberto, membro da comissão de seleção do edital, pesquisadora das narrativas de mulheres negras, Mestre em Estudos Africanos, com ênfase na literatura nigeriana contemporânea. Fernanda explicou que o lançamento desses livros no Rio de Janeiro foi muito significativo. Primeiramente pela Academia Brasileira de Letras estar sediada no estado e seu fundador, Machado de Assis, ter sido um jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo negro. Segundo porque o romance que ficou em primeiro lugar no edital foi o de Eliana Cruz, escritora nascida no Rio de Janeiro. Também lembrou que o fato dos romances serem lançados em outras capitais possibilita que a literatura com temática afro-brasileira circule além do eixo Rio-São Paulo.
Custódia Wolney, autora de Sina Traçada, falou sobre como o tema da sua obra, guerra dos malês, a cativou. Relatou que o romance que escreveu trata-se dos “guerreiros africanos que não se curvaram à escravidão, que lutaram até as últimas consequências pelo direito de igualdade, liberdade, direito de professar sua fé, suas ideologias. Homens que vieram de diferentes reinos africanos, que falavam árabe, convertidos ao Islã, que traziam no peito um amor profundo aos orixás. Chegando ao Brasil se uniram e tentaram colocar na Bahia um governo mulçumano”. Wolney destacou que sempre busca em seus trabalhos resgatar a historicidade brasileira.
O presidente Erivaldo completou dizendo que um livro muda a história de um homem e de toda a humanidade. “Temos que propagar cada vez mais conhecimentos e fatos que não estão registrados na história oficial. A sociedade ganha e cada um desses autores passam a ser imortalizados por cada uma das grandes obras que escreveram”.
Entre os convidados do evento esteve Elisa Larkin, viúva do grande ativista Abdias Nascimento, que também como escritor foi referência da literatura negra e deixou grandes obras como Jornada Negro-Libertária, Orixás: os deuses vivos da África e O Quilombo.
A noite do lançamento teve continuidade com um coquetel e foi encerrada com a abertura da Exposição Raízes, de Sophia Costa no Centro Cultural Fundição Progresso.
Fundação Palmares leva a Campanha Filhos do Brasil para o Rio
Nessa sexta, 26, no auditório do Armazém II da Casa Brasil, localizada na zona portuária do Rio de Janeiro e ponto de convergência de milhares de turistas durante os Jogos Olímpicos, a Campanha Filhos do Brasil teve inaugurada sua fase nacional.
De acordo com Erivaldo Oliveira, presidente da Fundação Cultural Palmares, o lançamento da Campanha na cidade do Rio de Janeiro é “o início de sua fase itinerante, em que vamos também a Salvador, São Paulo, Porto Alegre e todas as cidades fortemente marcadas pela presença e pela cultura negra.” Essa campanha “tem o objetivo de conscientizar a sociedade de que religião se liga a liberdade e de que temos que respeitar a opção de cada um”, destacou.
A Campanha Filhos do Brasil é uma ação da FCP, encampada pelo Ministério da Cultura, em defesa da liberdade de crença e de culto, direitos garantidos por nossa Constituição Federal, que reconhece o Brasil como uma nação pluralista, formada por uma população culturalmente diversa.
Mitos, fatos e desafios
Sabemos que, embora um dos mitos de origem de nossa nação nos caracterize como um povo oriundo do encontro de três raças que se misturaram e se acomodaram harmonicamente neste território, nossa história revela como a intolerância, em várias de suas vertentes (racial, social, de origem, quanto à orientação sexual ou em relação à religiosidade) sempre fez parte de nossa sociedade. Não obstante, ao longo de nosso processo civilizatório, passamos a assumir uma postura de enfrentamento e recriminação frente a atos de intolerância, entendidos, cada vez mais, como atos inaceitáveis, pois cruéis.
Perante o crescimento recente no número de casos de intolerância religiosa no Brasil (Confira matéria!); por entender que um país que abriga inúmeras religiões e práticas religiosas, e garante aos seus filhos e filhas a liberdade de crença e de culto não pode admitir tais manifestações, bem como por acreditar que a judicialização e a punição aos casos de intolerância religiosa são necessárias, mas não suficientes, foi organizada e lançada neste ano a Campanha Filhos do Brasil, que visa sensibilizar e educar nossa população a encarar a diferença entre as pessoas como algo valoroso.
O músico Arlindo Cruz mostrou a dimensão dos desafios a superar, haja vista sua fala ter revelado o quanto a intolerância religiosa está disseminada nos vários segmentos sociais: “Minha escola [de samba] é a Império Serrano, todos sabem que eu sou espírita e saiu uma manchete no jornal dizendo que o novo presidente de honra não tolera espiritismo na nossa escola. Tá certo que tem certa maldade do jornalista, pois ele falava só dos enredos, o que seria também uma castração à cultura imperiana. Uma escola fundada por babalorixás da região de Madureira, da região da serrinha… Toda nossa cultura é de espírita, sim, e hoje eu respondi dizendo que sou um filho do Brasil, usei o texto da campanha: sou filho de Xangô, sou filho da D. Araci, sou filho do samba, mas continuo imperiano e espírita!”
Celebrar as diferenças é preciso!
Assim como em Brasília, líderes de diversos segmentos e entidades religiosas e a-religiosas foram convidados e sentaram lado a lado para arguir em defesa do respeito à diversidade. Além do embaixador da Campanha, o cantor e compositor Arlindo Cruz, e do presidente da Fundação Palmares, Erivaldo Oliveira, integraram o dispositivo da cerimônia o representante da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA), Alexandre Freitas, o rabino da Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro (ARI-RJ), Dario Bialer, o líder islâmico, Sheikh Adam Muhammed, o diácono da Igreja Metodista do Largo do Machado, Rolf Malungo, o vigário das paróquias de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora Aparecida, ambas de Nilópolis, Frei Tatá, e a iyalorixá Rosiane Rodrigues.
O rabino Dario, em sua declaração, deu o tom de como deve se dar o enfrentamento às manifestações de intolerância. Para ele, é preciso encarar a diversidade cultural como oportunidade. Não se trata de tolerar, mas de “compreender que na vida as diferenças têm que ser celebradas. Não precisamos focar apenas o que temos em comum tentando minimizar o que temos de diferente. Ao contrário, temos que dizer: ‘Temos coisas diferentes, graças a Deus! Porque podemos aprender, podemos nos enriquecer'”, afirmou.
Todos os participantes do evento celebraram a oportunidade de defender a possibilidade do convívio harmonioso entre as diferentes formas de viver e de pensar, porém foram mais enfáticos os adeptos das religiões minoritárias e o representante daqueles que em nada creem, justamente os principais alvos desse tipo de discriminação.
O Sheikh Adam foi categórico e frisou que os ensinamentos islâmicos mostram que o Islã “nunca incentivou a maldade, nunca incentivou o terrorismo. Embora, existam muçulmanos que cometem esses atos. […] o comportamento e a conduta da pessoa não refletem aquilo que é a religião. Muitas vezes nossos comportamentos estão distantes daquilo que a religião nos ensina”.
“Não raro, pessoas denunciam à ATEA preconceitos, maus-tratos… É uma luta constante de conscientização que tenta mostrar para as pessoas que o ateísmo não tem nada de ruim”, disse, por sua vez, Alexandre Freitas.
Ao final, a iyalorixá Rosiane condensou tudo o que se buscou dizer naquela tarde: “A intolerância religiosa não tem nada a ver com religião! Nós [adeptos das religiões de matriz africana] estamos sendo mortos. Nossas casas estão sendo depredadas e invadidas, incendiadas, nossos sacerdotes assassinados, nossas crianças espancadas, impedidas de assistirem aulas em escolas públicas em todo o território da federação. Isso não tem nada a ver com Deus, dogma ou doutrina!”