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Milton Gonçalves – 83 anos
Aos 83 anos, Milton Gonçalves é, inquestionavelmente, um dos grandes nomes das artes cênicas do país e um atuante militante dos direitos da população negra.
Filho de camponeses e nascido em Monte Santo, nas Minas Gerais, em 9 de dezembro de 1933, mudou-se, ainda muito novo, com a mãe para a cidade de São Paulo, depois que ela separou-se de seu pai.
Começou a trabalhar aos 7 anos como babá. Aos 11, trabalhou como ajudante de alfaiate. Foi quando se deparou pela primeira vez com o preconceito e a discriminação: quando ia fazer a entrega de um terno, foi roubado e, então, de vítima passou a ser acusado de ladrão. Essa experiência, segundo relatou, o marcou para o resto da vida, tornou-se um trauma indelével:
“Quando ando na rua e vejo uma mulher vindo em minha direção, acelero para passar mais rápido. E quando vejo que há uma na minha frente, de costas, diminuo o passo. Isso está dentro de mim, não tem jeito.” – afirma Milton.
A arte, então, apareceu diante dele como uma via de escape da sua dura realidade. Seu primeiro deslumbramento foi com o cinema. A sala escura, o barulho do projetor e a tela gigante lhe hipnotizavam. Porém o encanto maior foi proporcionado pelo contato com o teatro, o que ocorreu quando seu amigo, Egídio Écio, que já era ator, o convidou para assistir à peça A Mão do Macaco. O ano era 1950.
Nos anos seguintes, ingressou num grupo de teatro amador. Este grupo foi sua escola e seu trabalho; lá, além de ser ator, foi contrarregra, produtor, iluminador…
Em 1957, mudou-se para o Rio para atuar na peça Ratos e Homens, dirigida por Augusto Boal e montada pelo Teatro de Arena, um grupo que procurava mostrar o homem brasileiro e sua realidade.
Poucos anos depois começou a trabalhar na televisão, a partir do convite do diretor Graça Mello. Voltou a São Paulo e naquele novo meio de comunicação aprendeu não apenas a atuar, mas também a dirigir e editar.
Daí em diante, nada foi capaz de lhe parar. Participou de mais de 30 peças teatrais, atuou em 48 novelas, 9 minisséries, 8 seriados, e em mais de cem filmes. No teatro, os destaques são as peças Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri (1957), Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Viana Filho (1959), Gente Como a Gente, de Roberto Freire (1959), Revolução Na América do Sul, de Augusto Boal (1960), Arena Conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Edu Lobo (1963), A farsa da Boa Preguiça, de Ariano Suassuna (1975), Vargas, de Dias Gomes (1984) e Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes (1989).
Escreveu e dirigiu algumas peças, como O Noviço, Arena Conta Zumbi, As Três Moças do Sabonete, Chapetuba Futebol Clube e Zumbi.
Quanto às produções para a TV, destacam-se Selva de pedra, Irmãos Coragem, Escrava Isaura (ambas também dirigidas por ele), O Bem Amado, Gabriela, Roque Santeiro, Insensato Coração e Lado a lado.
No cinema, seus principais trabalhos foram: Macunaíma (1969), A Rainha Diaba (1974), Lúcio Flávio – o passageiro da agonia (1977), O Beijo da Mulher Aranha (1985) e As Filhas do Vento (2005).
Ao longo da carreira recebeu diversos prêmios, dentre os quais: o Troféu Candango, o Prêmio Air France e o Coruja de Ouro pelo filme A Rainha Diaba; Melhor ator no 32º Festiva de Gramado – Cinema Brasileiro e Latino, pelo filme As Filhas do Vento; Prêmio TECO de Teatro, pelo conjunto de trabalhos; e Prêmio Estácio de Sá, em 1981, da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio de Janeiro, como destaque do ano.
Militante do movimento negro, Milton Gonçalves chegou a tentar a carreira política ao candidatar-se a governador do estado do Rio de Janeiro, em 1994. Milton ocupou cargos públicos, como a Superintendência Regional da RadioBrás Setor Sul (1985/1986). Foi membro do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, do Conselho de Artes do Paço Imperial do Rio de janeiro e do Conselho Cultural da Fundação Palmares.
Por Tiago Cantalice
Fontes:
http://artes.com/artistas/miltong.htm