XAIURE MAARAESÉ XASAYSU NDÉ (EU VIM PORQUE TE AMO): DAS CINZAS À CRIAÇÃO
A exposição de Alessandra Rehder constrói uma dramaturgia do visível que jamais se fecha em denúncia ou literalidade. Não se trata de reforçar a mensagem ambiental como slogan, mas de fazer do sensível um campo de deslocamento ético e político. A floresta aqui não é um símbolo abstrato da biodiversidade, mas um organismo visual que pulsa, respira, se transforma e nos escapa. O título da mostra — pronunciado em uma língua originária (Xaiure maaraesé xasaysu ndé), traduzido como “Eu vim porque te amo” — torna-se uma declaração de afeto, mas também de compromisso: não há amor sem escuta, e não há escuta sem transformação do olhar. Amar a floresta, nesse contexto, é reconhecer sua alteridade radical e, ao mesmo tempo, sua íntima implicação em nossa própria condição de existência. Alessandra não se apropria do lugar de fala do outro: apenas desloca a nossa atenção para um ponto de convergência em torno da necessidade de dar voz aos povos originários, os principais e mais antigos guardiões das nossas floresta. O gesto que atravessa toda a mostra é a tentativa de devolver às imagens do mundo natural a sua complexidade e a sua opacidade original, frequentemente obliteradas pela reprodutibilidade técnica e pelo olhar exaurido das narrativas ecologicamente corretas. Ao construir painéis, colagens e dispositivos que exigem tempo e deslocamento do espectador, Alessandra desloca a fotografia do campo da captura para o da escuta atenta da natureza, indispensável se quisermos nos aliar à sua salvação e à nossa própria.
Luiz Armando Bagolin
curadoria
XAIURE MAARAESÉ XASAYSU NDÉ (EU VIM PORQUE TE AMO): DAS CINZAS À CRIAÇÃO
de 22 de novembro de 2025 a 23 de fevereiro de 2026
visite de quarta a segunda das 11h às 19h
entrada gratuita
Museu Lasar Segall (Ibram/MinC)
Rua Berta 111, Vila Mariana, São Paulo
11 2159 0400