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Exposição Breu, do premiado fotógrafo Vicente de Mello, reabre visitação parcial da Galeria de Moldagens do MNBA
Convite do lançamento da exposição Breu, na Galeria de Moldagens II do MNBA, a partir do dia 12 de setembro.
As inúmeras variações contidas entre o oculto e o visível envolvem a temática da primeira individual do premiado fotógrafo Vicente de Mello no Museu Nacional de Belas Artes/Ibram, que abre ao público no dia 12 de setembro. O evento marca a reabertura da Galeria de Moldagens 2 ao público (somente este espaço, e em horário de visitação reduzido).
Na exposição Breu, o público vai ter contato com fotografias capturadas na icônica Galeria do Museu e que ficarão ao lado de moldagens recém-restauradas, propiciando um diálogo entre as obras. Estas imagens foram editadas ou passaram por tratamento digital, resultando no curioso aspecto final de "imagem em negativo".
O artista apresenta 8 fotografias e se inspira na ideia da velatura de monumentos e estatutárias, que são um "efeito ótico" recorrente na história da arte, como uma ação desestruturante das formas originais.
Partindo desta premissa, as imagens produzidas pelo artista convidam à imaginação: o envelopamento das moldagens confere “uma nova percepção e aparência ao objeto, envolvendo efeito fantasmático e sedutor, de certa aparência etérea e irreal”, como aponta o curador da mostra, Aldones Nino.
A simbologia das esculturas e a interferência efêmera provocada por Vicente de Mello oferecem ressignificações desses elementos, como ideia de desaparecimento e invisibilidade.
Em outra leitura, os registros feitos pelo artista das esculturas veladas da Galeria de Moldagens 2 por tecidos protetores, antes da reabertura da Galeria de Moldagens, ampliam o sentido do primoroso trabalho de restauração de obras icônicas da galeria à arte e também o da representação.
Sobre a Galeria de Moldagens 2 (situada no 2º piso do MNBA)
Estas moldagens em gesso são estátuas produzidas com a técnica de moldagem direta nas esculturas originais distribuídas nos principais museus europeus. Atualmente este procedimento não é permitido, conferindo a esta coleção grande importância para representação histórica do ensino artístico no Brasil.
Com a exposição de Vicente de Mello, o MNBA passa a abrir parcialmente ao público, porém em horários reduzidos, lembrando que a Instituição estava fechada para obras de requalificação de seus espaços desde março de 2020. A exibição faz parte da série de eventos intitulados “Um olhar pela fechadura”, visando preparar o terreno para a devolução total do Museu ao público, no final de 2026.
A mostra “Breu” conta com patrocínio do banco Itaú através da Lei de Incentivo à Cultura.
Biografia:
O carioca Vicente de Mello Vicente de Mello, nascido em 1967, é uma voz central na fotografia brasileira contemporânea, contando com reconhecimento internacional. Desde 1992, ele constrói um universo visual lúdico que desmonta e reconfigura, transitando da topografia imaginada para a metafísica da luz.
Apresentou em 2006 a mostra moiré.galáctica.bestiário/ Vicente de Mello – Photographies 1995-2006, no Oi Futuro, RJ e na MEP-Maison Européenne de la Photographie, Paris, França.Em sua vasta trajetória destacam-se as séries: Topografia Imaginária (1994-1997), Moiré (1995), Vermelhos Telúricos (2001-2019), Galáctica (2000-2019), Lapidus (2013-2018), Silent City (2013), Brasília utopia lírica (2014), Monolux (2017-2019) e Limite Oblíquo (2020).
As exposições individuais recentes foram: Encanto, curadoria Aldones Nino e Yago Toscano (Casa del Concejo/ Mirador del Adaja, Arévalo, Espanha, 2025), Monolux, curadoria de Eucanãa Ferraz (MAM RJ, 2018/ SESC Niterói, 2022) e Toda Noite, panorama de 30 anos de sua obra, com curadoria de Marilia Panitz e Aldones Nino (Farol Santander, Porto Alegre, 2022/ CCJF, RJ, 2023-24).
Na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2007, foi laureado com o prêmio APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte - de Melhor Exposição de Fotografia do Ano. Com a instalação Ultramarino foi laureado com o Prêmio Centro Cultural Banco do Brasil Contemporâneo, em 2015.
Sua obra ganhou livros como Áspera Imagem, editado pela Aeroplano (2006) e Parallaxis, da Editora Cosac Naify (2014). Trabalhos de Vicente de Mello integram acervos de instituições como: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ; Coleção Joaquim Paiva, RJ; Fondation Cartier pour l´art contemporain, Paris; Itaú Cultural/SP; Maison Européenne de la Photographie, Paris; MASP/SP - Coleção Pirelli; MAR/RJ; MAM/Brasília, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SESC 24 de Maio/SP; The Museum of Fine Arts, Houston, entre outros.
Breu
Como ressignificar a Galeria de Moldagens do Museu Nacional de Belas Artes diante das transformações pedagógicas e tecnológicas do século XXI? As cópias em gesso, um acervo centenário que testemunha a história do ensino artístico no Brasil, outrora ferramentas centrais na formação acadêmica, adquiriram ao longo do tempo uma aura própria, emancipando-se parcialmente de sua função mimética.
As funções originais dessas moldagens poderiam ser facilmente eclipsadas por tecnologias digitais que reconfiguram profundamente nossa relação com a forma e o volume, perdendo assim seu protagonismo como instrumentos de observação e treino técnico do olhar e da mão. São documentos materiais de um regime de aprendizagem baseado na presença física, na observação direta e na repetição disciplinada, elementos cada vez mais raros na educação contemporânea. Em ambientes acadêmicos e museológicos, essa transição levanta questões fundamentais: o que se perde e o que se ganha quando o gesto técnico pode ser substituído por interfaces digitais? Como manter viva a potência formativa dessas peças, que foram concebidas para serem copiadas, em um contexto em que copiar já não é necessário para compreender? As moldagens, nesse novo cenário, tornam-se mais do que objetos de estudo e passam a ser arquivos sensíveis, resquícios de uma prática pedagógica em mutação.
É nesse contexto que a série Breu, de Vicente de Mello, propõe uma inflexão poética. Em vez de reforçar a mimese tradicional, ele trabalha com o que escapa à visibilidade direta, focando-se em seus silêncios formais. Ao fotografar as esculturas veladas por tecidos protetores, durante um momento transitório que antecede a reabertura do museu, Vicente transforma um gesto técnico de conservação em metáfora visual. O que emerge nessas imagens são presenças suspensas, formas atenuadas, como se habitassem uma zona de silêncio entre o visível e o oculto. Ao cruzar escultura e fotografia, a série reanima a vocação formativa da imagem, não pela repetição, mas pela invenção de novos modos de ver.
Breu se afirma, assim não como reiteração do passado, mas como provocação ao presente. Em vez de propor aos estudantes e visitantes uma reverência técnica ao modelo clássico, provoca um desapego das convenções que antes orientavam o olhar. As moldagens — agora inteiramente históricas — se tornam matéria para novas experiências. A escuridão evocada não aponta para a ausência, mas para a abertura. É no Breu que a imagem se reinscreve como potência, um campo de forças onde memória e reinvenção se encontram. A obra de Vicente de Mello, nesse sentido, anuncia um outro modo de habitar o museu, mais aberta e experimental, propondo uma mediação crítica que desloca as moldagens e as reposiciona como dispositivos para ativar a imaginação.