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19ª Primavera dos Museus mobiliza o país em torno do tema “Museus e Mudanças Climáticas”
De 22 a 28 de setembro de 2025, museus e instituições de memória de todas as regiões do Brasil se uniram para celebrar a 19ª Primavera dos Museus, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) que, há quase duas décadas, mobiliza o campo museal em torno de temas contemporâneos e de grande relevância social.
Sob o tema “Museus e Mudanças Climáticas”, a edição deste ano reafirmou o papel dos museus como espaços vivos de reflexão, resistência e ação diante da crise ambiental. Foram 2.342 atividades realizadas por 752 instituições, espalhadas pelas cinco regiões do país — 985 no Sudeste, 618 no Nordeste, 441 no Sul, 148 no Norte e 135 no Centro-Oeste — em uma grande mobilização coletiva que transformou os museus em espaços de diálogo e engajamento ambiental.
Cerimônia de abertura
A cerimônia oficial de abertura aconteceu em 22 de setembro, no Museu Correios, em Brasília (DF), reunindo autoridades e representantes de instituições culturais. Estiveram presentes o secretário-executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares, a presidenta do Ibram, Fernanda Castro, o presidente do Iphan, Leandro Grass, a superintendente-executiva de Governança e Estratégia dos Correios, Daniela Amoroso, e o presidente do ICOM-Brasil, Diego Vaz Beviláqua.
O evento marcou o lançamento da Carta Brasileira do Patrimônio Cultural e Mudanças Climáticas, documento construído de forma participativa, a partir de um ciclo de diálogos com representantes de povos e comunidades tradicionais, povos indígenas, quilombolas, marisqueiras, pescadores artesanais, coletivos culturais, gestores públicos, pesquisadores e instituições de memória. A Carta se consolida como um marco orientador para políticas públicas e ações que integrem cultura, meio ambiente e sustentabilidade.
Durante a cerimônia, foi destacada a importância dos museus como agentes transformadores — espaços capazes de educar, sensibilizar e mobilizar a sociedade diante dos impactos da crise climática.
Tema e identidade visual
O tema de 2025 foi resultado de um processo de escuta junto ao campo museal, refletindo a urgência de conectar cultura, natureza e justiça climática. “Museus e Mudanças Climáticas” propõe uma reflexão sobre o papel dos museus na conscientização ambiental e na preservação do patrimônio cultural e natural em um mundo em transformação.
A identidade visual desta edição também carrega um simbolismo profundo. Ela representa a dualidade entre dois mundos: de um lado, a terra fértil, cheia de vida, raízes e saberes ancestrais; do outro, a terra seca e rachada, como alerta sobre os impactos da ação humana e o risco de estagnação.
Ao centro, uma esfera, que simboliza o planeta como um organismo vivo e vulnerável — ao mesmo tempo ovo e olho, núcleo de vida e consciência.
A ausência da cor verde é uma provocação: ela traduz a perda da natureza. Já os tons terrosos, amarelos e vermelhos expressam urgência e ação. Frases de ativistas ambientais brasileiros foram incorporadas à textura de fundo como homenagem e convocação coletiva.
Panorama nacional e plataforma Visite Museus
A plataforma Visite Museus mais uma vez serviu como eixo digital de articulação, reunindo as atividades registradas e permitindo que o público encontrasse programações por cidade, estado e região. Além de fortalecer a visibilidade de instituições menores, o sistema gera dados sobre o alcance e impacto das ações culturais e educativas.
Por meio dessa rede, foram registrados eventos que vão de oficinas sobre sustentabilidade e energia limpa a exposições interativas sobre biodiversidade e patrimônio natural, além de rodas de conversa, performances, debates, projeções e experiências imersivas que conectaram o público às urgências climáticas e ambientais.
Desdobramentos e reflexões
Um dos pontos altos desta edição foi a presença do Observatório Negro dos Museus e da Museologia, que apresentou a Carta Negra dos Museus e da Museologia do Brasil — um documento de grande relevância para o campo, que propõe reflexões sobre representatividade, condições de trabalho, racismo ambiental e práticas museológicas inclusivas.
Essa articulação reforçou o caráter interseccional da Primavera dos Museus, que tratou não apenas da crise climática, mas também das desigualdades sociais e históricas associadas a ela.
O tema também dialoga diretamente com os debates globais que antecedem a COP 30, a ser realizada em novembro em Belém (PA), consolidando o Brasil como referência no diálogo entre cultura e sustentabilidade.
Um legado de 19 edições
Desde sua criação, em 2007, a Primavera dos Museus convida o público a refletir sobre questões urgentes do presente. Ao longo de suas 19 edições, já abordou temas como Meio Ambiente, Memória e Vida (1ª edição), Museus e Direitos Humanos, Museus e Redes Sociais, Museus, Mulheres e Memórias, Museus e Memórias Indígenas, Acessibilidade e Inclusão, entre outros.
A cada ano, o evento se reinventa, refletindo o espírito de seu tempo e reafirmando o compromisso do Ibram com a democratização da cultura, o diálogo social e o fortalecimento dos museus como espaços de cidadania.
Em 2025, a Primavera dos Museus floresceu novamente — e, desta vez, para lembrar que a crise climática não é um futuro distante, mas um presente que exige ação.
Com a força das instituições e das comunidades que integram o campo museal brasileiro, a edição reafirmou que a memória é semente, e lembrar é resistir.