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Ciclo COParente retorna à Amazônia e abre escuta para definir delegação indígena de Rondônia na COP30
- Foto: Ascom I MPI
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) realizou neste domingo (6), na Terra Indígena Igarapé Lourdes, em Ji-Paraná (RO), a 6ª etapa do Ciclo COParente. A iniciativa foi pensada para preparar a participação indígena na COP30, prevista para novembro, e já passou por regiões dos biomas Caatinga, Pampa, Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal, após a primeira edição em abril, em Belém (PA), que será sede da conferência.
Durante o primeiro dia do encontro, foram discutidos os critérios para a escolha dos 15 representantes indígenas de Rondônia que receberão as credenciais e integrarão a delegação brasileira na conferência, bem como temas relacionados às mudanças climáticas. A definição será feita pelas próprias lideranças, com base em critérios coletivos construídos ao longo da programação.
A ministra Sonia Guajajara participou do encontro de forma remota e reforçou o compromisso do Governo Federal com a ampliação da presença indígena durante a conferência. Segundo a ministra, o MPI trabalha para garantir que esta será a edição com a maior presença indígena da história das conferências do clima da ONU. “Temos muito a contribuir para o enfrentamento a mudanças climáticas, comprovadamente territórios indígenas são os mais preservados e consequentemente contribuem para o equilíbrio do clima e a gente precisa ser reconhecido como tais”, disse Sonia Guajajara.
“Esse momento está sendo muito importante porque é um momento que se propõe a trazer informações importantes da COP30, para que o movimento, as suas bases, os povos e territórios assumam um protagonismo na COP”, ressaltou Elis do Nascimento Silva, diretora do Departamento de Justiça Climática da Secretaria Nacional de Gestão Ambiental e Territorial.
Durante o encontro, lideranças indígenas relataram a contaminação de nascentes e a escassez de alimentos com o avanço do agronegócio e também de invasores de terra. A saída para contornar esta situação foi a garantia da demarcação dos territórios e a fiscalização para manter a integridade das terras já demarcadas.
“Queremos que o Estado brasileiro e o mundo nos respeitem, nos ajudem e nos escutem quando for necessário, porque somos nós que podemos garantir a continuidade da floresta em pé. É dela que vem o ar que permite a cada um de nós respirar. Nossa floresta contribui para que todos tenham saúde de qualidade. A floresta em pé também gera mais benefícios, mais vida e, sim, mais lucro para toda a sociedade. Por isso, é importante reforçar essa mensagem e deixar esse recado para o mundo”, disse o cacique do povo Gavião, Heliton Tinhawamba.
Além de escutar os relatos sobre o contexto local, os participantes tiraram dúvidas sobre o funcionamento da conferência, a logística para Belém e a estrutura dos espaços de articulação da conferência. “A COP é organizada em Zona Azul, Zona Verde, então esses indígenas, essas lideranças que vão para a Zona Azul com as credenciais vão poder participar dos espaços de discussões, acompanhar dentro do que for possível como vão se dar as negociações do âmbito da COP e vão estar principalmente levando cada liderança, o seu povo e o coletivo do movimento indígena brasileiro”, explicou Elis.
Lideranças femininas
A etapa foi marcada pelo protagonismo de lideranças femininas, que conduziram debates, apresentaram propostas e ocuparam posições centrais na organização do evento. Entre as vozes femininas que se destacaram esteve Marciely Ayap Tupari, secretária da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), que reforçou o caráter coletivo das decisões e a legitimidade das representações construídas a partir dos territórios.
Para ela, o evento representa um marco no movimento indígena de Rondônia uma vez que conseguiu, em um mesmo lugar, reunir diversos povos, com suas características e especificidades, em torno de um tema em comum: como enfrentar as mudanças climáticas. “Todas essas lideranças que estão aqui mostram a união desses povos, o comprometimento realmente de debater não só as pautas climáticas, mas também trazer a realidade que está acontecendo dentro dos seus territórios”, disse.
Com a vivência de quem já percorreu o movimento desde a base, Marciely apontou a responsabilidade coletiva com o futuro. “Eu sonho um futuro que meu filho não precise passar por toda essa luta, por todo esse processo de ter os seus direitos garantidos. […] O que eu espero deixar para o meu filho é isso: um território ampliado, um território protegido, um território onde ele possa usufruir do que eu usufruí quando era criança”, disse.
Com o retorno do Ciclo COParente à Amazônia, o MPI amplia o alcance de uma iniciativa inédita de escuta e articulação com os territórios. O objetivo é garantir que a delegação indígena que chegará a Belém em novembro represente a diversidade de biomas, experiências e pautas do movimento. Após a etapa de Rondônia, que será encerrada nesta segunda-feira (07) o ciclo segue para o Acre.