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Erivaldo Oliveira conhece Museu da Imagem e do Som de Cuiabá
O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira, visitou nesta terça-feira (19), o Museu da Imagem do Som de Cuiabá (Misc). Inaugurado em 2006 e restaurado em 2018, o espaço se localiza no centro histórico da capital de Mato Grosso.
Erivaldo Oliveira foi conhecer o Misc a convite do secretário municipal de Cultura, Justino Astrevo. O museu reconstitui a história da cidade. Trata-se de uma das poucas casas coloniais cuiabanas que resistiram ao tempo. Além de exposições, o Misc oferece aos visitantes oficinas, cursos e eventos.
Comunidade Mata Cavalo se destaca pela produção artesanal
O artesanato constitui uma das principais atividades desenvolvidas pela comunidade quilombola Mata Cavalo, localizada no município de Livramento de Nossa Senhora, em Mato Grosso. Na manhã desta terça-feira (19), o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira, visitou o território e conheceu um pouco desta produção.
Dentro da Mata Cavalo, há uma casa que funciona como Ponto de Cultura, que são espaços da comunidade certificados pelo Ministério da Cultura (MinC). Lá, estudantes aprendem bastante sobre o trabalho artesanal e criam peças decorativas em cima de tábuas de coco seco. Eles ainda utilizam a palha do coqueiro para confeccionar os artesanatos. “Aqui esses jovens reforçam suas raízes e mantêm contato com a beleza da arte quilombola de Mata Cavalo”, observa a chefe da Divisão de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Palmares, Adna Santos, conhecida como Mãe Baiana.
A comunidade Mata Cavalo reúne cerca de 500 famílias. A atividade artesanal tem nas mulheres suas principais divulgadoras. Várias delas trabalham como professoras e transmitem seus conhecimentos à juventude local.
Erivaldo Oliveira participa de encontro sobre educação quilombola
Nesta terça-feira (19), o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira, participou do Encontro de Educação Quilombola e Políticas Públicas, na comunidade remanescente de quilombo Mata Cavalo, no município de Livramento de Nossa Senhora (MT). A programação aconteceu na Escola Municipal da Comunidade de Mata Cavalo e trouxe ao debate temas como as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Quilombola.
O evento foi organizado pela Associação Sesmaria Boa Vida Mata Cavalo. Além das discussões, houve apresentação cultural de alunos da Escola Estadual Tereza Conceição Arruda. Erivaldo Oliveira falou no encerramento do seminário. Ele destacou o papel da educação para mobilidade social dos quilombolas. “A capacitação é fundamental para que estejamos aptos a ocupar os principais postos de decisão deste país, seja no poder público, seja na iniciativa privada”, assinalou o presidente da FCP.
Incra diz que irá reavaliar redução do território do Mesquita
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) se pronunciou por meio de sua assessoria de imprensa afirmando que irá rever a proposta de redução de aproximadamente 80% da área do Quilombo do Mesquita, localizado em Cidade Ocidental, no estado de Goiás e no entorno do Distrito Federal. A medida havia sido anunciada recentemente e impactaria na diminuição de 4,1 mil para menos de mil hectares do território quilombola.
De acordo com o Incra, a decisão foi tomada atendendo a uma solicitação da Associação Renovadora Quilombo Mesquita. A entidade pediu a restrição das terras do Mesquita apenas ao espaço habitado pela população remanescente de quilombo e na natureza próxima. Porém, outras lideranças afirmam que a Associação Renovadora não representa a maioria da comunidade e contestam o pedido de redução. Durante a Plenária Nacional da Coordenação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), realizada na última semana, representantes de 24 estados criticaram a medida e apoiaram a causa dos moradores de Mesquita.
Ainda de acordo com o Incra, após as críticas feitas em relação à representatividade da Associação Renovadora, o caso foi levado à direção da autarquia, que irá remeter o processo à área técnica e, em seguida, à Procuradoria Federal Especializada (PFE) para manifestação. Depois disso, a questão será novamente apreciada pelo Conselho Diretor para deliberação.
Originalmente, o território do Mesquita foi definido como tendo 4.292 hectares. Em 2011, houve exclusão de 130 hectares, referente ao loteamento Jardim Edith. A diminuição proposta pela Associação Renovadora Quilombo Mesquita deixaria a área com 971 hectares.
Texto: Vinícius Aleixo de Lima e Marcelo Araújo
Em meio a polêmica sobre território, comunidade de Mesquita (GO) sedia Plenária Nacional Quilombola
A cerca de 50 quilômetros de Brasília, vivem remanescentes de quilombo da comunidade de Mesquita, com construções centenárias e costumes tradicionais. Pouco conhecido pelos brasilienses e moradores do entorno da capital federal, o território localiza-se no município de Cidade Ocidental (GO) e completou 272 anos no último dia 19 de maio, com o desafio de manter sua área e identidade.
Recentemente, Mesquita ganhou destaque na mídia por conta de uma discussão sobre possível redução no tamanho da comunidade. O pedido para esta mudança junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) partiu da Associação Renovadora Quilombo Mesquita. Diante de questionamentos dos quilombolas sobre a representatividade desta associação, o Incra prometeu rever o processo em sua área técnica.
Em meio à polêmica, na última semana, Mesquita sediou pela primeira vez a Plenária Nacional da Coordenação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). O evento contou com a presença de mais de 90 lideranças de 24 estados, que relataram diferentes desafios enfrentados em todo o país. Os remanescentes também expressaram solidariedade e preocupação com o risco de redução do território de Mesquita.
“Você não está apenas reduzindo a terra e sim uma história. O que me entristece é a maneira como eles abordam as pessoas da comunidade como se não fosse direito do quilombola lutar pelo seu território; como se estivesse buscando o que não é dele. Grande parte dos territórios quilombolas em alguma medida foi usurpada”, critica Antônio Crioulo, líder da Comunidade das Crioulas, em Pernambuco.
Já Bernadete Pacífico, líder do quilombo da Pitanga dos Palmares e líder religiosa de matriz africana, em Simões Filho (BA), teme que disputas de terra como a de Mesquita aumentem a violência contra os quilombolas, já considerada grave. Bernadete perdeu seu filho de 31 anos no ano passado. O rapaz foi assassinado devido a uma disputa com grileiros de terra. Moradores de Mesquita revelam que vêm sofrendo constantes ameaças para abrir mão de parte de suas terras.
“Reduzir o Território de Mesquita pode abrir uma brecha para que diminuam as áreas de outras comunidades quilombolas do Brasil”, observa Arilson Ventura, liderança do Espírito Santo.
Outros temas em debate
As mulheres também tiveram oportunidade de discutir os direitos para o público feminino nas comunidades quilombolas. Os principais problemas levantados foram a violência dentro das comunidades e as perseguições contra as lideranças e profissionais de educação. “Nas escolas, as professoras não podem ensinar a cultura quilombola aos alunos. São obrigadas a ocultar a sua identidade”, conta, angustiada, Sandra Braga, liderança de Mesquita.
Diversas apresentações culturais de artistas quilombolas dos estados brasileiros tiveram canto, dança e cor na Plenária. “Estou gostando muito manter contato com outros quilombos do Brasil. Estou conhecendo meu país sem sair de casa”, afirma Nara Denise, moradora de Mesquita. Os visitantes também se informaram sobre as história local, visitando o Museu Ponto de Memória, que reconstitui a trajetória da comunidade.
“Sou morador do Quilombo Mesquita, nascido e criado nesse chão. Aprendi aqui tudo que meus pais me ensinaram e a coisa mais importante foi cuidar da terra, pois dela nasce tudo: a água que bebemos e o marmelo com que faço o doce. Não vão conseguir tirar a nossa terra porque todos que vieram até aqui estão nos apoiando e nossa causa já ganhou dimensão nacional”, ressaltou, emocionado, o produtor João Antônio Pereira.
Texto: Walisson Braga. / Colaborou: Vinícius Aleixo de Lima.
Erivaldo Oliveira participa de eventos de quilombolas em Mato Grosso
O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira, cumpre extensa agenda nesta terça-feira (19) e quarta-feira (20) no estado de Mato Grosso. Ele participa de uma série de encontros com comunidades quilombolas.
Na manhã de terça-feira, Erivaldo vai à Comunidade de Mata Cavalo, no município de Livramento de Nossa Senhora, para o I Encontro de Educação Quilombola e Políticas Públicas. A programação acontece na Escola Municipal de Mata Cavalo. No evento, se discutirão questões como a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Quilombola,
Às 16h30, Erivaldo participa, em Cuiabá, no escritório do senador Wellington Fagundes, de um encontro com representantes do futuro Instituto Maria Mendes do Congo, para tratar da criação dessa entidade. Às 19h, o presidente da FCP vai à inauguração da Biblioteca da Casa de Mãe Onilse de Iemanjá e da Casa de Axé Centro Espírita Nossa Senhora da Glória.
Na quarta-feira, às 8h30, Erivaldo Oliveira marca presença no Encontro Cultural do Quilombo do Rio Itambé, na cidade de Chapada dos Guimarães. De volta a Cuiabá, às 16h30, ele se reúne com o Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Estado de Mato Grosso.
Espaço Zumbi dos Palmares, de Volta Redonda, comemora 28 anos
Um dos espaços culturais mais importantes da cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, o Memorial Zumbi dos Palmares comemora seus 28 anos de atividades na próxima terça-feira (19), às 18h.
Para marcar a data, a Secretaria de Cultura do município realiza a primeira edição do Prêmio Dandara e Zumbi dos Palmares, em homenagem ao heroico casal do Quilombo dos Palmares.
A iniciativa pretende valorizar personalidades negras de Volta Redonda nas categorias de Música, Dança, Artes Cênicas, Artes Visuais, Educação, Literatura, Empreendedorismo Criativo e Humanidade e Cidadania. Os homenageados foram escolhidos por meio de votação no Facebook.
Lorena de Lima Marques, coordenadora técnica do Gabinete da Fundação Cultural Palmares (FCP), participa do evento. Na ocasião, haverá show com o grupo Liniker e os Caramelows.
Imagem do preconceito: segurança tenta expulsar menino de praça de alimentação e causa indignação nacional
Causaram indignação pela internet as imagens registradas no Shopping da Bahia, em Salvador, de um segurança que tenta expulsar um menino negro do local. No vídeo, um cliente quer pagar um prato de comida à criança mas é impedido pelo vigilante.
“Ele vai comer porque eu vou pagar”, diz o cliente. Mesmo assim e sob protestos de outras pessoas presentes, o segurança se posiciona à frente do caixa para não permitir que o rapaz compre a refeição para o garoto. O vigilante chega a empurrar o menino, no que é ainda mais repreendido pelos clientes. Em seguida, aparecem outros dois guardas do shopping. Somente com a chegada de um quarto funcionário, o cliente é liberado para comprar a comida para o menino.
O vídeo registrado por meio de celular alcançou mais de 13 milhões de visualizações no YouTube e obteve destaque na imprensa nacional. Diante da repercussão negativa, o Shopping da Bahia emitiu uma nota em que se desculpa pelo ocorrido e reforça o direito do cliente de “acolhimento à criança”. O funcionário também foi afastado das funções e, segundo o empreendimento, passará por capacitação.
Mesmo sem ser possível identificar imediatamente se a causa do incidente teve conotações de preconceito racial ou social, a Fundação Cultural Palmares (FCP) repudia o fato. Acontecimentos deste tipo reverberam uma situação de exclusão e violência de um passado sinistro que se mantém com extrema força no presente. Enquanto não transformarmos nossa sociedade e penalizarmos com vigor atos de racismo, preconceito e intolerância que atingem a maioria de nossa população, não será possível se atingir o verdadeiro desenvolvimento que se busca para um país.
Criador de musical sobre Cartola visita Fundação Palmares
Texto e fotos: Marcelo Araújo
Idealizador e diretor artístico do musical Cartola – o Mundo é um Moinho, Jô Santana visitou a sede da Fundação Cultural Palmares (FCP), em Brasília, nesta terça-feira (12). Ele conversou com o presidente da instituição, Erivaldo Oliveira, sobre a parceria em espetáculos que irá realizar inspirados na vida e na obra de Dona Ivone Lara e de Martinho da Vila.
Todos estes projetos fazem parte de uma reverência de Santana a grandes nomes da cultura afro-brasileira que o influenciaram. Em 2016, lançou a peça inspirada em Cartola. Com um elenco totalmente negro, encabeçado por Flavio Bauraqui (Cartola) e Virgínia Rosa (Dona Zica), o musical percorreu cinco capitais brasileiras, com público de aproximadamente 100 mil espectadores. Destas performances, as de Maceió, Salvador e Belo Horizonte contaram com parceria da Fundação Palmares, que levou às salas moradores de comunidades quilombolas e outras pessoas que nunca haviam tido a chance de entrar em um teatro.
Em Dona Ivone Lara – Um Sorriso Negro, a parceria com Palmares terá apresentações no Rio de Janeiro, no Museu do Samba, em novembro, Mês da Consciência Negra. O autor reserva os maiores elogios à cantora e compositora. “Ela simboliza o empoderamento feminino quando nem se falava neste tema. Foi a primeira compositora em um meio machista e ainda desenvolveu uma atividade importante como enfermeira e assistente social com a doutora Nise da Silveira, que revolucionou os tratamentos psiquiátricos no Brasil”, recorda Santana.
Jô Santana conta que a o projeto nasceu há seis anos, quando Dona Ivone Lara, morta em abril de 2018, ainda estava viva. “Conversei com Dona Ivone, que adorou a ideia. Decidimos estreiar no Rio justamente para que ela pudesse assistir. Isto infelizmente não será possível, porém vamos fazer uma grande homenagem para ela”, adianta Jô.
No momento, o diretor artístico seleciona o elenco da peça. Em um primeiro instante, 4 mil atores se candidataram para o trabalho. Após um filtro, Jô chegou a 60. Deste total, 20 participarão.
O papel de Dona Ivone já estava reservado a Fabiana Cozza, no entanto uma polêmica envolvendo o movimento negro fez com que a atriz paulistana desistisse. “Embora a Fabiana tenha sido aprovada como protagonista pela própria família de Dona Ivone, alguns grupos colocaram o fato dela ter a pele mais clara, o que acabou caindo em nosso colo”, assinala o diretor. Segundo ele, há intenção de levar o tema a debate em seminários em outra parceria com a FCP.
Com a agenda cheia, para 2019 Jô pretende lançar Martinho da Vila – Canta Canta Minha Gente. O show de música e artes cênicas será acompanhado de uma exposição no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo. E depois desse, quem deve ganhar homenagem com um espetáculo de Jô é a sambista maranhense Alcione. “Como negro, quero trabalhar a minha ancestralidade e tenho como base para o meu trabalho a diversidade”, destaca Jô Santana.
Mapeamento dos Terreiros do DF é reaberto
Os centros religiosos que não tiveram oportunidade de participar do Mapeamento dos Terreiros do Distrito Federal, lançado em maio por meio de parceria da Fundação Cultural Palmares (FCP) com a Universidade de Brasília (UnB), ainda podem realizar seu cadastro neste site. Até o momento, o levantamento identificou a existência de 330 terreiros no DF.
É importante o preenchimento destes dados pois, sabendo a localização dos terreiros, as autoridades podem desenvolver políticas públicas de segurança, combate à intolerância e acesso a serviços do estado. Se ainda não se cadastrou, não deixe de participar.
Obras vão revitalizar Casa de Cultura Negra do Alto da Cruz
Seguem a todo vapor as obras para revitalizar a Casa de Cultura Negra do Alto da Cruz, em Ouro Preto, em Minas Gerais. Nesta quarta-feira (6), o canteiro recebeu a visita do prefeito da cidade, Júlio Pimenta; do secretário de Cultura e Patrimônio, Zaqueu Astoni; e de Sidnéa Santos, servidora da secretaria de Cultura e Patrimônio e multiplicadora nacional do programa Conhecendo Nossa História: da África ao Brasil, da Fundação Cultural Palmares (FCP).
A Casa de Cultura Negra do Alto da Cruz é um importante espaço dedicado à história e às tradições da população afro. Para o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira, a obra possui enorme relevância. “Trata-se de uma grande vitória do povo negro que construiu a riqueza da nossa nação”, afirma Erivaldo.
Presidente da Fundação Palmares escreve sobre importância de Conceição Evaristo ocupar cadeira na ABL
Não me canso de falar que embora os afro-brasileiros representem mais da metade de nossa população, tal estatística não se reflete na ocupação dos principais postos de nossa sociedade. É assim nos poderes do Estado, nos cargos de direção de empresas públicas e da iniciativa privada, nas universidades, na produção cinematográfica e em tantos outros ambientes.
Na Academia Brasileira de Letras (ABL), o panorama não muda. Com todo respeito a esta instituição fundamental para a nossa literatura, faz-se necessária uma reflexão. Ainda que um de seus fundadores tenha sido um negro, Machado de Assis, um de nossos cânones literários, contam-se nos dedos os afro-brasileiros que ocuparam cadeira na instituição. Mulheres negras não tivemos nenhuma.
Esta circunstância ocorreu por falta de talentos negros em nossa literatura? Com certeza, não. No passado e no presente, existem inúmeros exemplos de mestres neste ofício: de Lima Barreto, que por sinal se candidatou, sem sucesso, duas vezes a uma cadeira na ABL, a Carolina de Jesus, que venceu as maiores dificuldades da vida para registrar uma obra que emana emoção e retrata a desigualdade social na qual o povo negro permanece. Cento e trinta anos após a Abolição da Escravidão, com a Lei Áurea, continuamos à margem de direitos e poucas compensações obtivemos por mais de três séculos no cativeiro.
Eis que temos oportunidade histórica de transformar esta fotografia branca e masculina da Academia Brasileira de Letras com a candidatura de Conceição Evaristo à cadeira de número 7, deixada vaga com a morte do cineasta Nelson Pereira dos Santos. Exemplo de vida, Conceição saiu de uma comunidade muito pobre de Belo Horizonte, onde nasceu, em 1946, para se tornar doutora em Letras pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Trata-se de um grande exemplo de superação em um país onde até hoje sofremos com o racismo e suas consequências: exclusão social, com a falta de acesso a serviços básicos; somos as maiores vítimas da violência, o que confirma o Atlas da Violência 2016; sofremos com o preconceito no dia a dia; as comunidades remanescentes de quilombos não conseguem a titularidade de suas terras; e muito ainda precisa se fazer para termos mais negros nas universidades, como professores e alunos, mesmo com a adoção nos últimos anos da mais do que positiva política de cotas, também válida para os concursos públicos.
Recentemente, confesso que me emocionei ao ver uma entrevista de Conceição para o canal Globo News, dizendo que algumas vezes quando vai pagar uma compra, a vendedora lhe pergunta se ela sabe escrever. Vejam só: alguém questionando uma das nossas maiores escritoras se ela consegue assinar seu nome! Muito triste, mas, ao mesmo tempo, inspiração para uma trajetória de luta que nunca se encerra.
Mais do que um exemplo de conquista para o povo negro e para todos os brasileiros, Evaristo circula com maestria pelo conto, pelo romance, pela poesia e pelo ensaio. Em 2015, conquistou o prestigiado Prêmio Jabuti, que dispensa comentários.
Dona de estilo próprio, que ela mesma chama de escrevivência, Conceição Evaristo cria seus textos a partir da própria vivência de mulher negra, sob um regime de exceção, e desmistifica personagens afro-brasileiros folclorizados pelo colonizador branco como submissos, indolentes e de sexualidade exacerbada. Em livros como Ponciá Vicêncio, Becos da Memória e Insubmissas Lágrimas de Mulheres não cabem idealizações e sim o sentimento de dor de um lado e de orgulho de quem não se curva ao peso do preconceito de outro.
Para reconhecer uma das nossas principais autoras contemporâneas ainda em vida e democratizar a presença do negro nas instituições culturais de nosso país, a Fundação Cultural Palmares (FCP), instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), engrossa o coro na mobilização nacional para que Conceição Evaristo ocupe a cadeira de número 7 na Academia Brasileira de Letras. Seu talento lhe confere legitimidade para isso. Que a igualdade racial deixe de ser um mito e se propague por todos os setores do país, inclusive na cultura e na literatura.
Para refletirmos, termino com estes belos versos da própria Conceição Evaristo:
Da língua cortada,
digo tudo,
amasso o silencio
e no farfalhar do meio som
solto o grito do grito do grito
e encontro a fala anterior,
aquela que emudecida,
conservou a voz e os sentidos
nos labirintos da lembrança.
Erivaldo Oliveira, presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP)
Número de negros assassinados é duas vezes e meia maior que de brancos
A desigualdade racial continua exercendo graves efeitos na vida da população afro-brasileira. Produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Atlas da Violência 2016, divulgado na terça-feira (5), aponta que a população negra ainda é a maior vítima da violência no país. De todas as pessoas assassinadas naquele ano, 70,15% eram negras ou pardas.
O estudo informa que em 2016 a taxa de homicídio de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros, ou seja, 40,2% contra 16%. Apesar deste número, os assassinatos de negros caíram em nove estados, incluindo São Paulo, com 47,7% de redução, e Rio de Janeiro, com 27,7%.
O Atlas da Violência 2016 mostra que, pela primeira vez na história do Brasil, se chegou ao índice de 30 homicídios por 100 mil habitantes. Equivale a 62.517 assassinatos, 30 vezes a média da Europa no mesmo período. Entre 2006 e 2016, 553 mil pessoas morreram no Brasil devido à chamada violência intencional.
A pesquisa ainda traz outros números preocupantes. Os homicídios respondem por 56,5% dos óbitos de homens na faixa etária dos 15 aos 19 anos no Brasil. Em 2016, 33.590 jovens foram assassinados, um aumento de 7,4% na comparação com 2015. O Atlas também observa aumento de 6,4% nos feminicídios entre 2006 e 2016.
Acesse a íntegra do Atlas da Violência 2018
Acesse o infográfico que reúne dados do Atlas da Violência 2018
Fotógrafo André Dib registra cotidiano dos Kalunga
Um importante documento sobre a maior comunidade remanescente de quilombo do país. Assim se pode definir o livro SerTão Kalunga, do fotógrafo André Dib. A obra registra momentos da cultura e do cotidiano dos quilombolas.
Com patrocínio do Fundo de Arte e Cultura (FAC) de Goiás, Dib levou suas lentes para o meio dos kalunga, povo que vive há mais de 200 anos na área dos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goías, na região da Chapada dos Veadeiros. Além do belo conteúdo de imagens, a publicação tem objetivo de chamar a atenção para a luta dos quilombolas pelos seus direitos, como a posse de suas terras, constantemente ameaçadas por grandes interesses empresariais.
“A importância de se documentar esta cultura viva ainda é para que os próprios kalunga, principalmente os mais jovens, valorizem a sua história”, conta André Dib em um vídeo produzido para divulgar o livro.
Informações sobre o trabalho do fotógrafo no site www.andredib.com.br ou no https://www.facebook.com/andre.dib1
Fundação Palmares lamenta declaração preconceituosa de César Menotti sobre o samba
A Fundação Cultural Palmares (FCP) lamenta a declaração que o cantor sertanejo César Menotti deu, no último sábado (2), durante o programa Altas Horas, da Rede Globo. Na ocasião, ao falar de um show que teria feito em uma penitenciária junto ao irmão Fabiano, com quem forma dupla, Menotti afirmou: “Sempre existem os agitadores que pedem que cante música que sabem que você não canta e insistentemente um agitador gritava: canta um samba, canta um samba! Eu me desculpei, disse que não cantava esse tipo de música e o Fabiano, em uma grande gafe, comentou: ‘E tem mais, samba é música de bandido'”.
A frase infeliz repercutiu negativamente e pela internet vieram depoimentos tanto de artistas quanto do público repudiando o ocorrido. Pouco depois, Menotti gravou um vídeo se desculpando e dizendo que havia feito uma piada e não emitido uma opinião.
Como instituição que defende o patrimônio da cultura afro-brasileira, a Fundação Palmares não pode se calar diante do fato. O samba constitui um dos maiores tesouros do país e conquistou ao longo de mais de um século respeito internacional. Esta arte não só traduz a alma de nosso povo como revela constantemente grandes compositores, intérpretes e instrumentistas. O que se pede ao samba é apenas respeito, principalmente em se tratando de um artista de grande público e formador de opinião.
Globo News Documentário: Especial Quilombolas
No próximo domingo (3), às 20h30, o Globo News Documentário, do canal de notícias Globo News, exibe o Especial Quilombolas. Gravado na comunidade dos Kalunga, na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, o programa mostra o cotidiano dos quilombolas que vivem na área. Entre os entrevistados está o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira.
O legado de Januário Garcia
Januário Garcia foi um profissional que se destacou no registro da cultura negra. Seu trabalho como fotógrafo, publicitário e artista plástico ainda pode ser apreciado em espaços que carregam a memória, arte e cultura do povo afro-brasileiro. Seus documentários carregam a percepção política e sensibilidade à linguagem musical que tinha. Viveu sua vida no Rio de Janeiro, embora mineiro nascido em Belo Horizonte em 16 de novembro de 1943.
Seu amor pelo audiovisual fez com que desde pequeno frequentasse o cinema do bairro. Aos dezesseis anos, ingressou no curso de paraquedismo do Exército Brasileiro. Neste período adquiriu sua primeira câmera, uma Olympus Trip 35 e fotografou seus colegas nos saltos.
Autodidata, aprendeu inglês e frequentou aulas de História no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA/MinC). Consolidado entre os maiores no movimento negro, acompanhou publicações norte-americanas voltadas à cultura negra e à luta pelos direitos civis.
João Jorge Rodrigues, presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), relembra a sua trajetória: "A relevância do fotógrafo e militante negro Januário Garcia, ao capturar os melhores momentos do movimento negro: nas passeatas; nas manifestações; na Serra da Barriga; no Carnaval da Bahia; no cotidiano; na religiosidade; no crescimento do grupo Olodum, dentre os anos 60 aos 2000 foi extraordinário!"
Garcia percebendo a importância de constituir uma memória visual da articulação sociopolítica e reuniões do povo negro, registrou o cotidiano de grupos e suas ações. Tornou-se um dos fundadores do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras em 1975. Exerceu a presidência do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978.
Buscou alertar e sensibilizar o Clube de Criação do Rio de Janeiro sobre situações de racismo em peças publicitárias. Levando a reflexão sobre a forma estereotipada de apresentação de pessoas negras em veículos de comunicação.
Em 1984, fundou o Centro Brasileiro de Informação do Artista Negro junto a atriz Zezé Motta (1944). Mais tarde, produziu capas de discos para os mais renomados artistas, como Leci Brandão, Chico Buarque, Raul Seixas, Belchior e Caetano Veloso.
Viajou pelo mundo, constituindo um grande acervo da população negra da diáspora em cerca de 36 países. Um recorte de seu extenso trabalho fotográfico é apresentado no livro 25 anos do Movimento Negro no Brasil - 1980-2005 (2006).
Após atravessar o Cone Sul da América Latina, desenvolveu a exposição Diásporas Africanas na América do Sul - Uma ponte sobre o Atlântico. A exposição foi inaugurada na embaixada da Nigéria em Abuja e fez parte das ações comemorativas da cúpula de países da África e da América do Sul (AFRAS). Posteriormente, em 2028 foi publicada como livro.
João Jorge acrescenta sobre a importância do fotógrafo: "É de uma contribuição inestimável! Ele foi uma peça fundamental para os 25 anos da Fundação Palmares, ao trazer em seu olhar uma perspectiva histórica nunca antes tão viva na memória de quem aprecia sua arte"
No fotojornalismo trabalhou para grandes veículos de comunicação, como O Globo, Jornal do Brasil, O Dia e Manchete. Também estudou na International News Cameramen Association do Rio de Janeiro. Anos depois, foi professor substituto no curso de fotografia do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/Rio).
"Para o grupo Olodum e para mim (João Jorge), ele ainda se faz presente na memória do povo negro brasileiro, por meio do seu olhar para com a luta do nosso povo", evidencia o presidente da Fundação.
Buscando divulgar o conjunto de sua obra e, principalmente, preservar a memória da vivência negra que ela compreende, Januário idealizou a criação do Instituto Januário Garcia: Documentos e Fotografias de Matrizes Africanas.
A partir de julho de 2020, iniciou a catalogação do trabalho em conjunto com os pesquisadores do Arquivo Edgard Leuenroth da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
"Januário é parte da luta pela igualdade e promoção da cultura negra, pela preservação da nossa memória. Seu legado jamais será apagado, pois Garcia se faz presente!", explica emocionado, João Jorge.
Infelizmente, Januário Garcia faleceu no dia 30 de junho de 2021, no Hospital São Lucas, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, aos 77 anos. Foram mais de 50 anos dedicados à profissão, com uma vasta produção que abrange mais de 100 mil fotos, sua trajetória não será esquecida.
Edital "Sabores e Saberes divulga lista preliminar de candidatos habilitados e inabilitados
Saiu nesta quarta-feira (04), o resultado preliminar dos candidatos habilitados e inabilitados do Edital "Sabores e Saberes da Gastronomia Quilombola", promovido pela Fundação Cultural Palmares (FCP).
O objetivo central do concurso é fortalecer as práticas culinárias das comunidades remanescentes de quilombos, valorizar e dar visibilidade à saberes e costumes gastronômicos e mapear as experiências do fazer das comunidades quilombolas.
O edital buscou proporcionar e evidenciar nos sabores e saberes gastronômicos dos quilombos, protagonizando a construção de seus costumes para com os processos criativos alimentares, com técnicas tradicionais como parte da manifestação cultural local, agregando valores para geração de renda.
O Prêmio "Sabores e Saberes da Gastronomia Quilombola", ressurge com o objetivo de evidenciar costumes e práticas da culinária quilombola, evidenciando um trabalho de resgate de suas raízes, protagonismo nas suas histórias e registro para as gerações, a serem despertas ao povo brasileiro.
Cultura gastronômica essa que por vezes e imbuída de valores também de ordem econômica, podendo gerar nas comunidades potenciais de geração de renda para manutenção das tradições locais, além de propiciar no que tange saberes e registros autorais dos costumes alimentares.
Lista preliminar dos candidatos habilitados
Presidente da Fundação Palmares faz balanço positivo da 4ª Conapir
Durante três dias, a Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) colocou em primeiro plano a discussão sobre temas essenciais para a população afro-brasileira. Assuntos como racismo, intolerância religiosa, desigualdade social, acesso ao mercado e tantos outros estiveram na pauta. Realizado em Brasília, no Centro Internacional de Convenções Brasil (CICB), o evento foi promovido pela Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e teve apoio da Fundação Cultural Palmares (FCP).
Centenas de representantes do movimento negro, de indígenas, ciganos e de outras etnias, além de membros do poder público, da imprensa, do cenário cultural, dos povos de terreiro e da sociedade em geral prestigiaram a intensa programação. Além dos debates e reuniões, a Conapir contou com estande da Fundação Palmares, onde foram distribuídas 5 mil publicações de caráter didático. Já uma feira de artesanato ofereceu aos visitantes um pouco da cultura dos povos participantes.
Para o presidente da FCP, Erivaldo Oliveira, a Conapir teve grande importância por analisar as políticas públicas direcionadas à promoção da igualdade racial no país. “Os grupos de trabalho debateram bastante e temos certeza de que não haverá retrocessos, com a concretização de ações contra o racismo. Precisamos deixar de lado o ódio que predomina hoje em nossa sociedade e nos unirmos para fazermos uma nação mais justa”, avaliou Erivaldo.
Mãe Baiana lança biografia durante Conapir
Com direito a muita emoção e apresentações culturais, a líder religiosa Mãe Baiana lançou sua autobiografia, Chão e Paz, nesta quarta-feira (30), na Quarta Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), no Centro Internacional de Convenções Brasil (CICB), em Brasília. Artistas, políticos, produtores culturais, empreendedores, religiosos e representantes do movimento negro e de comunidades quilombolas compareceram ao evento.
A obra reconstitui a trajetória de Adna Santos, a Mãe Baiana, desde sua origem, no município de Serra de Mundo Novo, à sua consolidação como uma das principais vozes de combate ao preconceito e defesa das crenças de matriz afro no Brasil. Adna também trabalha como chefe da Divisão de Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares (FCP).
Entre os episódios abordados no livro está o incêndio criminoso que destruiu o terreiro Ilê Oyá Bagan, de Mãe Baiana, em 2015. A partir deste ataque, o Governo do Distrito Federal (GDF) criou uma delegacia para tratar de crimes de intolerância racial, de gênero e de outras naturezas.
Mãe Baiana conta que o lançamento de Chão e Paz foi um momento importante pois teve presença povo negro. “Meu objetivo era alcançar esse público. Fico emocionada por compartilhar minha história de vida com outras pessoas”, revela Mãe Baiana. O livro não será comercializado e vai ser doado com fins didáticos.
Texto: Marcelo Araújo e Walisson Braga