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Povos de terreiro entregam carta compromisso com 21 propostas durante encontro na Fundação Cultural Palmares
No início da tarde desta quinta-feira, a sede da Fundação Cultural Palmares foi marcada por um gesto ancestral de força e espiritualidade: uma lavagem simbólica com água de cheiro, folhas sagradas e cantos em iorubá. O ato, realizado no estacionamento, deu início ao 1º Encontro Vozes Afro-Ancestrais do Cerrado, que reuniu lideranças religiosas e representantes de terreiros do Distrito Federal e Entorno em um momento histórico de afirmação, escuta e mobilização política.
O encontro resultou na entrega oficial da Carta Compromisso das Comunidades de Terreiro do Cerrado, construída a muitas mãos ao longo de meses de escuta e articulação entre casas de axé. O documento reúne 21 propostas estruturantes, com foco em saúde comunitária, práticas integrativas, valorização de patrimônios imateriais, preservação ambiental, economia solidária, combate à intolerância religiosa e fortalecimento de redes culturais.
A carta foi lida publicamente por Cida Santos, diretora substituta de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro (DPA) da Fundação Cultural Palmares, uma das principais facilitadoras da realização do encontro. Em sua leitura, Cida deu voz às reivindicações coletivas das comunidades, destacando a urgência da implementação de políticas públicas que respeitem a ancestralidade e assegurem os direitos das tradições afro-brasileiras.
Entre as propostas apresentadas, um dos pontos centrais é a revitalização da Praça dos Orixás (Prainha) — espaço tombado como patrimônio cultural do Distrito Federal, que tem sido alvo de abandono e depredação. A carta reivindica a preservação do local como território sagrado para rituais, encontros e celebrações das comunidades de matriz africana.
Para o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, o encontro representa o início de um novo ciclo. “Durante muito tempo, a Palmares se afastou da sua missão original. Este evento simboliza o retorno à escuta ativa e à construção coletiva com os povos de terreiro. Não sairemos de Brasília sem restaurar a dignidade da Prainha. A fé que resistiu nos porões da escravidão está viva, e ela segue reconstruindo este país”, afirmou.
Presente no evento, a deputada federal Érika Kokay reforçou o papel dos terreiros como espaços de acolhimento, cuidado e produção de saberes. “O futuro é ancestral. Os terreiros são territórios de cura, de educação espiritual, de convivência e de sustentabilidade. Precisam ser reconhecidos como parte essencial da construção de políticas públicas que dialoguem com a realidade brasileira.”
Representantes do Entorno também marcaram presença, trazendo pautas urgentes de municípios historicamente excluídos das políticas culturais e religiosas. “Foi com muita luta que conseguimos estar aqui. Hoje conseguimos bater às portas e sermos recebidos. Mas sabemos o quanto ainda é difícil afirmar nossa fé nos municípios do Entorno. Essa carta é nossa voz coletiva, feita com fé e com coragem”, afirmou uma representante de Águas Lindas (GO).
Emocionada, Mãe Jussara, liderança do Entorno Sul, ressaltou o ineditismo do momento: “Pela primeira vez, o povo de terreiro do Entorno está aqui, dentro da Palmares. Fomos acolhidos todos os dias. E essa troca foi de grande valia para os nossos terreiros. Vamos continuar caminhando juntos.”
A Carta Compromisso será encaminhada às instâncias responsáveis, com o objetivo de subsidiar ações e políticas voltadas à proteção, valorização e fortalecimento das tradições afro-brasileiras. Entre os temas abordados estão também a criação de centros de memória, políticas de saúde integrativa, formação de lideranças em gestão pública, proteção a rituais funerários tradicionais, incentivo à pesquisa e ações voltadas à juventude, especialmente juventudes encarceradas.
O encontro reafirma o papel da Fundação Cultural Palmares como espaço de articulação e reconhecimento das culturas de matriz africana. “Esta é a casa do coração da comunidade negra. E uma capital como Brasília precisa ouvir o som do coração. Os tambores batem como o coração: com verdade, com resistência e com liberdade”, concluiu João Jorge.
Direitos quilombolas avançam no Maranhão com ação conjunta da Palmares e ANATER/MDA
A Fundação Cultural Palmares (FCP) e a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER/MDA) iniciaram uma ação coordenada no Maranhão com o objetivo de fortalecer os direitos das comunidades quilombolas e acelerar os processos de certificação no estado.
A iniciativa concentra esforços no território Guarimã, marcado por situações alarmantes de vulnerabilidade: cercas que isolam famílias inteiras, contaminação de nascentes, avanço do desmatamento e ameaças recorrentes contra lideranças comunitárias. Entre os dias 8 e 10 de abril, uma visita técnica conjunta percorreu as comunidades de Guarimã e Babaçual dos Pretos. A missão teve como foco o mapeamento territorial e o aprofundamento do diálogo com as populações locais, abrindo caminhos para uma escuta qualificada e ações concretas.
Um dos episódios mais simbólicos foi o de Pai Antônio, pai de santo da comunidade, que teve o acesso ao rio bloqueado e foi impedido de reformar sua casa de barro por um fazendeiro da região. A denúncia revela não apenas um conflito fundiário, mas uma grave violação da liberdade religiosa, em um território onde a fé e a ancestralidade são parte indissociável da vida coletiva.
“Com o apoio e a articulação da ANATER, estivemos presencialmente no território para orientar o processo de certificação. A expectativa é que, nos próximos dias, todas as comunidades desses dois territórios estejam oficialmente certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Com a certidão em mãos, abrem-se caminhos para o acesso pleno às políticas públicas às quais essas populações têm legítimo direito”, destacou Alan Matos, chefe de Projeto do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro (DPA) da Fundação Cultural Palmares.
Tudo começa na Palmares
A certificação é o primeiro passo para a justiça territorial, e a Fundação Cultural Palmares é o órgão responsável pela emissão da Certidão de Autodefinição Quilombola, documento essencial para o acesso à titulação da terra, à cidadania plena e a políticas públicas específicas. A certificação reconhece formalmente a existência de comunidades quilombolas com base na autoidentificação, princípio assegurado pela Convenção 169 da OIT.
No território de Guarimã, a FCP também se comprometeu a retificar a certidão original, incluindo comunidades que foram excluídas inicialmente do processo. A regularização fundiária, por sua vez, segue como responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que atua na etapa posterior da titulação.
Campanha Acelera Certificação em andamento
Desde o inicio de 2025, a Fundação Palmares vem intensificando a campanha nacional Acelera Certificação Quilombola, com o objetivo de ampliar o reconhecimento formal das mais de 8 mil comunidades quilombolas do país. Até março, 3.915 comunidades já haviam sido certificadas — número ainda distante da totalidade, mas em expansão.
Você sabia que o primeiro Censo Quilombola foi lançado na Fundação Cultural Palmares?
No último dia 27 de março, a sede da Fundação Cultural Palmares foi palco do evento "O Brasil Quilombola", que marcou o lançamento da publicação oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com os dados do primeiro Censo da População Quilombola. O momento foi descrito por lideranças como histórico. Pela primeira vez, o Brasil sabe quantos são, onde vivem e em que condições estão os povos quilombolas.
“Exu matou um pássaro ontem com a pedra que só jogou hoje” — a frase trazida por Júnia Quiroga, do UNFPA, ilustrou o longo processo de luta e invisibilidade que antecedeu a conquista desses dados.
Um retrato inédito
Segundo o levantamento, 1.330.186 pessoas quilombolas vivem em 1.700 municípios brasileiros, representando 0,66% da população total. A maioria vive no Nordeste (68,14%), sendo a Bahia (397 mil pessoas) e o Maranhão (269 mil pessoas) os estados com maior população quilombola.
Apesar disso, apenas 167 mil pessoas vivem em territórios oficialmente delimitados, enquanto mais de 1,16 milhãoresidem fora dessas áreas — dado que escancara a urgência da certificação e da titulação.
O Censo revelou também:
- Taxa de analfabetismo de 19% entre pessoas quilombolas com 15 anos ou mais (contra 7% da média nacional);
- 90% convivem com algum tipo de precariedade no saneamento básico;
- Apenas 66,7% têm acesso à água encanada dentro de casa;
- 18,2% não têm qualquer acesso à água encanada;
- Quase 25% não têm banheiro exclusivo em casa.
Política com base em dados
Para João Jorge Rodrigues, presidente da Fundação Cultural Palmares, o Censo vai além de uma coleta de informações — trata-se de uma reparação histórica e um instrumento de poder político e institucional. “Agora temos números que falam por si. Essa população existe, resiste e precisa de políticas que dialoguem com suas realidades”, afirmou.
O coordenador da CONAQ, Arilson Ventura, destacou que o Censo fortalece a luta por acesso à terra, saúde, educação e justiça. “É um instrumento para dizer ao Estado: estamos aqui. A resistência de Zumbi continua”, disse.
Certificação é dignidade. Censo é reconhecimento. Políticas públicas são direito. Com dados, escuta ativa e articulação concreta, o Brasil caminha rumo à reparação da sua dívida histórica com os povos quilombolas.
Brasil e Quênia fortalecem cooperação cultural e educacional
A embaixadora do Quênia no Brasil, Peris Kariuki, visitou nesta terça-feira (15) a sede da Fundação Cultural Palmares, em Brasília, para dialogar sobre parcerias estratégicas nas áreas da cultura, educação, cinema, tecnologia e economia criativa. Recebida pelo presidente João Jorge Rodrigues, a diplomata foi acolhida com entusiasmo e reafirmações de compromisso com a aproximação entre os povos africanos e a diáspora brasileira.
Durante o encontro, João Jorge destacou o papel do Quênia como referência simbólica e cultural para o mundo, ressaltando sua relevância nas artes, no esporte e na moda contemporânea. “O Quênia é uma potência cultural e humana. A Fundação Palmares deve ser um porto seguro para africanos no Brasil, uma casa para quem tem raízes e vínculos com o continente africano”, afirmou.
A conversa abordou o fortalecimento de cooperação entre os países da África e Brasil, com propostas como a implementação de cursos de swahili em universidades brasileiras — especialmente voltados a estudantes afrodescendentes — e a promoção da tradução de obras entre o português e o swahili, idioma falado por mais de 200 milhões de pessoas no continente africano. “Muitos brasileiros não sabem que o swahili é uma das línguas oficiais da União Africana. Precisamos superar o apagamento e construir pontes reais com a África”, pontuou o presidente.
A embaixadora, visivelmente emocionada com a recepção, afirmou que se sentiu em casa na instituição. “A história da África está viva nesta Fundação. Conhecíamos a Palmares de nome, mas estar aqui nos mostra um verdadeiro potencial. Com certeza voltaremos, e queremos trazer nosso chefe de missão para conhecer esse espaço”, declarou. Ela ainda destacou as oportunidades de intercâmbio nas áreas de moda, cultura e esporte — especialmente o atletismo e o futebol — como caminhos para a aproximação concreta entre os dois países.
A diplomata foi convidada a participar da programação especial do mês de maio, que celebrará o Dia da África, bem como do Seminário Internacional que será promovido pela Fundação Palmares. “Este é apenas o início de uma parceria duradoura, que pode gerar frutos simbólicos e institucionais para o Brasil e para o Quênia”, afirmou João Jorge.
Para João Jorge, é uma oportunidade de ampliar os estudos africanos com uma abordagem afro-asiática, valorizando símbolos como a bandeira queniana, entregue por Kariuki como um gesto simbólico de respeito e diplomacia cultural baseada na ancestralidade compartilhada.
A visita reforça o compromisso da Fundação em atuar como elo entre o Brasil e o continente africano, reconhecendo o valor da diversidade, da história e das heranças culturais africanas presentes na formação da sociedade brasileira.
Com a palavra, quem faz cultura negra no Brasil
A consulta pública promovida pela Fundação Cultural Palmares entre 28 de fevereiro e 14 de março de 2025 apontou demandas e diretrizes que irão nortear a elaboração de um novo edital de fomento à cultura afro-brasileira. O processo escutou agentes culturais negros em todo o território nacional.
Participaram pessoas físicas, microempreendedores individuais (MEI) e coletivos culturais, com ou sem CNPJ, que atuam na produção e difusão de expressões da cultura afro-brasileira.
Prevista no §1º do artigo 8º da Lei nº 14.903/2024, a consulta atende aos princípios da transparência e da participação social. A iniciativa reforça o compromisso da Fundação com políticas públicas construídas a partir das realidades dos territórios e das vozes historicamente invisibilizadas.
Entre as principais contribuições, destacam-se pedidos por regras mais acessíveis de seleção, reconhecimento dos saberes tradicionais, apoio técnico à execução dos projetos e inclusão de coletivos sem formalização jurídica.
As respostas também evidenciam a necessidade de editais adaptados às especificidades de comunidades quilombolas, periferias urbanas e espaços de resistência cultural, muitas vezes excluídos dos circuitos institucionais de fomento.
Para organizar os dados coletados, a Fundação consolidou dois relatórios: um voltado às contribuições de pessoas físicas e MEIs (clique aqui) e outro dedicado aos coletivos culturais (clique aqui). Ambos estão disponíveis para consulta no portal institucional.
Essas informações irão subsidiar a reformulação dos instrumentos de apoio, com foco na diversidade de práticas, linguagens e formas de organização presentes nas iniciativas afro-brasileiras.
Embora não substitua o diálogo contínuo com a sociedade civil, a consulta pública representa um passo decisivo na construção de políticas mais inclusivas, conectadas às demandas urgentes da cultura negra.
Algumas das propostas já vêm sendo incorporadas pela Fundação, como o financiamento direto a pessoas físicas e coletivos informais. O recorte racial e o pertencimento a comunidades tradicionais continuam entre os critérios estruturantes dos editais.
Para o diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira, Nelson Mendes, a escuta revela a importância de ampliar o alcance das políticas públicas. “Escutar quem faz cultura negra nos territórios é o primeiro passo para garantir que os recursos públicos alcancem, de fato, quem mais precisa.”
A divulgação dos resultados no portal da Fundação reforça o compromisso com o acesso à informação, com a valorização das expressões culturais afro-brasileiras e com o fortalecimento das ações de fomento em todo o país.
Fundação Cultural Palmares, Ministério da Cultura e CONAQ reforçam parceria
Fundação Cultural Palmares, Ministério da Cultura e CONAQ reforçam parceria em defesa dos direitos quilombolas
A Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura, recebeu nesta quinta-feira representantes da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) para uma reunião estratégica em Brasília. O encontro reafirmou o compromisso institucional com a ampliação do reconhecimento oficial das comunidades quilombolas por meio da Certificação de Autoatribuição.
O presidente da Fundação, João Jorge Rodrigues, e os representantes da CONAQ destacaram a urgência de garantir o acesso de mais comunidades ao documento, fundamental para viabilizar políticas públicas específicas e assegurar os direitos territoriais, sociais e culturais dessas populações.
“A Certificação de Autoatribuição é mais do que um instrumento legal — representa o reconhecimento formal de um pertencimento histórico e coletivo. Sem ela, muitos quilombos continuam invisíveis aos olhos do Estado”, afirmou João Jorge.
Durante a reunião, as instituições traçaram estratégias para fortalecer a atuação conjunta da Fundação Palmares, do Ministério da Cultura e da CONAQ. As ações incluem mobilização nacional, orientação técnica e articulação com outros órgãos do governo federal. O objetivo é ampliar o alcance da certificação em todo o país, com atenção especial aos territórios ainda sem reconhecimento oficial.
A aliança entre as instituições representa um avanço concreto rumo à reparação histórica e ao fortalecimento da autonomia das comunidades quilombolas. Trata-se de um passo essencial para transformar os quilombos brasileiros em sujeitos plenos de direitos garantidos, além de símbolos de resistência.
Palmares, Cultura e Comunicações lançam programa digital em tributo a Mãe Bernadete, na Bahia
Palmares em tributo a Mãe Bernadete, na Bahia
Palmares em tributo a Mãe Bernadete, na Bahia
Palmares em tributo a Mãe Bernadete, na Bahia
Palmares, Cultura e Comunicações lançam programa digital em tributo a Mãe Bernadete, na Bahia
Em um dia marcado por memória, luta e reafirmação de direitos, a Fundação Cultural Palmares, o Ministério da Cultura, o Ministério das Comunicações e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) participaram do Tributo a Mãe Bernadete – 73 anos de luta e resistência, realizado na Comunidade Quilombola de Pitanga de Palmares (Caipora), em Simões Filho, Bahia.
O evento deu continuidade às homenagens iniciadas no ano passado, quando a ministra da Cultura, Margareth Menezes, esteve no quilombo para reverenciar a trajetória de Mãe Bernadete e reafirmar o compromisso do Governo Federal com a luta quilombola.
Nesta edição, além da homenagem simbólica, a celebração foi marcada pela entrega de notebooks e a instalação de uma antena Gesac à comunidade, ação realizada pelo programa Computadores para a Inclusão, do Ministério das Comunicações, em parceria com a Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura. A iniciativa permitirá a criação de um laboratório de informática em Pitanga dos Palmares, fortalecendo o acesso à educação, à conectividade e às oportunidades para jovens e adultos quilombolas.
Durante a cerimônia, o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, destacou a importância de transformar o luto em luta, renovando o compromisso histórico da Fundação com os quilombolas, os terreiros e as comunidades tradicionais afro-brasileiras. Ele enfatizou que a luta quilombola é pela posse da terra, pela liberdade religiosa e pela garantia de vida digna para as juventudes negras. Em seu discurso, reforçou que a morte precoce de jovens negros e a intolerância religiosa não podem ser naturalizadas, ressaltando a urgência de novos caminhos.
Na ocasião, a Fundação Palmares, o Ministério da Cultura e o Ministério das Comunicações anunciaram o início de um novo programa de inclusão digital, com a entrega de computadores e kits de conectividade para quilombos e terreiros.
Programa "Computadores para a Inclusão"
Como parte das ações concretas, oito notebooks e uma antena Gesac foram doados à comunidade de Pitanga dos Palmares, fortalecendo a inclusão digital em um dos mais emblemáticos territórios quilombolas do Brasil.
"Estamos aqui para honrar esse legado com ações concretas. A entrega dos computadores e da antena representa conectividade, liberdade, empoderamento e fortalecimento da autonomia quilombola", afirmou o secretário de Telecomunicações, Hermano Tercius, durante a cerimônia.
Ludymilla Chagas, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério das Comunicações, reforçou que levar inclusão digital a territórios tradicionais como Pitanga dos Palmares é um compromisso de transformação: "Trazer a inclusão digital para um território tradicional como esse é selar o compromisso de fazer da conectividade um instrumento de avanço e não mais um problema."
A emoção marcou também a fala de Jurandir Pacífico dos Santos, filho de Mãe Bernadete, que celebrou a chegada da tecnologia como um marco para a comunidade: "O local onde minha mãe foi executada foi escolhido para ser o polo de informática. Os computadores e a internet que ganhamos serão de suma importância para o desenvolvimento da comunidade. Não tínhamos esse acesso. É uma bênção de Deus esses computadores."
O Computadores para a Inclusão é uma política pública do Ministério das Comunicações que recondiciona equipamentos usados em Centros de Recondicionamento de Computadores (CRCs) espalhados pelo país. Após revitalizados, esses equipamentos são destinados a escolas públicas, associações, aldeias indígenas, áreas rurais, favelas, terreiros e territórios quilombolas, como Pitanga dos Palmares. Além de promover a inclusão digital, o programa também capacita jovens e adultos em cursos de informática e adota práticas de sustentabilidade ambiental no descarte de resíduos eletrônicos.
Tributo que se transforma em futuro
A homenagem a Mãe Bernadete é uma ação coletiva à memória e à ação. A presença da Fundação Cultural Palmares, da CONAQ, do Ministério da Cultura e do Ministério das Comunicações é um pacto política e social que visa transformar o luto em luta viva, conectada e enraizada na ancestralidade.
Viva Mãe Bernadete.
Viva a resistência quilombola.
Viva o Brasil que se reconstrói com dignidade e coragem.
Saiba mais quem foi Mãe Bernadete
Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, foi uma das principais lideranças quilombolas do Brasil e uma defensora incansável dos direitos humanos. Coordenadora nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), dedicou sua vida à luta pela titulação das terras quilombolas, à preservação da cultura afro-brasileira e à proteção das comunidades tradicionais contra a violência e a intolerância religiosa.
No dia 17 de agosto de 2023, aos 72 anos, Mãe Bernadete foi brutalmente assassinada em sua própria casa, em um crime que chocou o país e expôs a vulnerabilidade das lideranças quilombolas no Brasil. Mesmo estando inserida no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, foi alvejada com 22 tiros, em um caso que ainda aguarda plena elucidação.
Sua morte provocou forte comoção nacional e internacional, reafirmando a urgência da proteção aos defensores de direitos e dos territórios tradicionais. Mãe Bernadete permanece como símbolo de resistência, coragem e esperança, inspirando a continuidade da luta por justiça, igualdade e respeito aos povos tradicionais do Brasil.
Lançamento do edital Viva Pequena África no Docas André Rebouças fortalece representação no Rio de Janeiro
A Fundação Cultural Palmares reafirmou seu protagonismo na valorização da cultura afro-brasileira ao sediar, nesta segunda-feira (5), o evento de lançamento do primeiro edital da iniciativa Viva Pequena África, no Armazém Docas Dom Pedro II/André Rebouças — espaço que abriga a representação da Fundação Cultural Palmares no Rio de Janeiro.
O edital é resultado de uma parceria entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Consórcio Viva Pequena África — formado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), pela Feira Preta e pela plataforma Diaspora.Black — e visa selecionar projetos culturais que fortaleçam a herança africana na Zona Portuária do Rio de Janeiro. A informação é da Agência BNDES de Notícias.
O projeto prevê a destinação de R$ 20 milhões a iniciativas que valorizem a memória e a produção cultural afro-brasileira, para projetos lançados na FCP Rio. A divulgação desse importante investimento foi realizado durante o evento, reforçando o papel estratégico da instituição na promoção da cultura negra
O evento, que aconteceu às 11h, nas proximidades do Cais do Valongo — sítio arqueológico reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Mundial —, marcou um momento simbólico: foi o primeiro grande ato público realizado no Armazém Docas André Rebouças desde que o espaço passou a ser a representação da Fundação no Rio de Janeiro.
A força simbólica do Docas André Rebouças
A presença da Fundação como anfitriã reforça seu papel estratégico na preservação e promoção da memória negra no país. O espaço, projetado pelo engenheiro abolicionista André Rebouças, ganha nova vida ao abrigar a representação da Palmares em território fluminense — especialmente em uma área carregada de memória, resistência e identidade negra.
Viva Pequena África: memória e futuro
A iniciativa Viva Pequena África propõe uma ação concreta de valorização de expressões culturais, instituições e lideranças negras em um território que concentra marcos históricos da presença africana e afro-brasileira.
O lançamento contou com representantes do BNDES, do Consórcio Viva Pequena África, da Fundação Cultural Palmares, do Comitê Gestor do Cais do Valongo e de organizações doadoras como Open Society Foundations, Fundação Ford, Instituto Ibirapitanga e Fundação Itaú.
Parte da Iniciativa Valongo, coordenada pelo BNDES em parceria com os ministérios da Cultura e da Igualdade Racial, o projeto visa estruturar o Distrito Cultural da Pequena África, promovendo a restauração de patrimônios históricos, a criação de novos equipamentos culturais e a construção de uma economia sustentável no território.
Um espaço para a memória viva
Ao estabelecer sua representação no Armazém Docas André Rebouças, a Fundação Cultural Palmares reforça seu compromisso com a presença ativa nos territórios históricos da cultura negra brasileira.
A Pequena África é uma esperança viva — e a Palmares, por meio de sua atuação no Rio de Janeiro, reafirma sua missão de preservar, promover e projetar a cultura afro-brasileira para as gerações presentes e futuras.
Presidente da Fundação Cultural Palmares articula evento internacional no Rio de Janeiro
Presidente da Fundação Cultural Palmares articula evento internacional no Rio de Janeiro
Nesta segunda-feira (5), o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, reuniu-se com o secretário de Direitos Humanos e Igualdade Racial do município do Rio de Janeiro, Adilson Pires, para tratar da realização de um evento internacional em outubro de 2025.
A reunião ocorreu no prédio da Fundação Cultural Palmares, no Armazém Docas Dom Pedro II/André Rebouças, localizado no Cais do Valongo, regiãoportuária do Rio de Janeiro. O espaço, reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, será o centro das atividades previstas para o evento.
A iniciativa articula a Prefeitura do Rio de Janeiro, o Governo Federal e embaixadas africanas, com base na recente criação da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Igualdade Racial — a primeira da história da cidade dedicada exclusivamente à pauta dos direitos humanos e da promoção da igualdade racial.
Participaram também da reunião a assessora especial da secretaria, Jurema Batista — ex-vereadora, ex-deputada estadual, indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2005, feminista negra e referência na luta pelos direitos humanos —, o ex-ministro da Igualdade Racial Edson Santos, que chefiou a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) entre 2008 e 2010, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o representante da Fundação Cultural Palmares na regional do Rio de Janeiro, Eliel Moura.
Inspirado na celebração dos 50 anos da independência de Angola e dos demais países africanos de língua portuguesa, o evento reunirá seminários, feira literária, apresentações culturais e encontros sobre memória, patrimônio e cidadania, com a participação de lideranças africanas e brasileiras.
"Estamos construindo, junto com a cidade do Rio de Janeiro e com parceiros africanos, um novo tempo para a memória negra. A criação da Secretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial e este evento internacional são passos fundamentais para reafirmarmos a nossa história e projetarmos novos futuros", afirmou João Jorge Rodrigues.
A celebração de outubro integrará um calendário contínuo de ações, que ampliará a presença da cultura negra no Rio de Janeiro e consolidará a cidade como centro internacional de valorização da memória afro-brasileira.











