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Serra da Barriga é palco de celebração cultural e espiritual no Dia da Consciência Negra
20 de novembro
Por: Marcela Ribeiro, coordenadora de Comunicação da Fundação Cultural Palmares
O Dia Nacional da Consciência Negra reuniu centenas de pessoas na Serra da Barriga, em União dos Palmares (AL), em uma programação construída de forma integrada por meio da Fundação Cultural Palmares, pelo Ministério da Cultura, pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa de Alagoas (Secult) e pela Prefeitura de União dos Palmares, com apoio da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Fundepes, Fundação Banco do Brasil, Instituto Cultne, Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô e produção cultural da Patacuri.
As atividades tiveram início ainda na madrugada, no platô da serra, reconhecido nacionalmente como território sagrado da ancestralidade negra no Brasil. A Vigília do Berimbau, a Cerimônia em Homenagem aos Ancestrais e o Café dos Religiosos abriram a jornada em momentos de recolhimento conduzidos por mestres, lideranças espirituais e guardiões de tradições afro-brasileiras. Logo depois, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares ganhou vida com estandartes, tambores, grupos tradicionais e manifestações culturais que ocuparam os caminhos da Serra da Barriga.
A partir das 8h, cortejos e grupos como Afoxé Povo de Exu, Bumba Meu Boi Gavião, Toré Povo Açonã, maracatus e coletivos afro se espalharam pelo território, acompanhados por visitantes de várias regiões do país. Às 10h30, os atos institucionais reuniram autoridades, artistas, representantes de entidades parceiras, mestres da cultura e lideranças do movimento negro, com entrega de ações e homenagens voltadas à preservação da memória de Palmares. O vice-governador Ronaldo Lessa participou da cerimônia representando o governador Paulo Dantas.
Junto à comunidade quilombola Muquém, remanescente direta do Quilombo de Palmares, milhares de pessoa, entre estudantes, pesquisadores, movimentos sociais e populares — celebraram os 330 anos de resistência, liberdade e luta por direitos. A dimensão coletiva e comunitária do encontro reafirmou a Serra da Barriga como um marco civilizatório da história negra no Brasil.
Ao longo da manhã, os palcos Zumbi, Dandara, Acotirene, Erês e Aqualtune receberam apresentações de artistas locais e nacionais. Entre eles, nomes como Rita Beneditto, Ana Mametto e Samba da Periferia, que mobilizaram o público com músicas, performances e referências à força ancestral de Palmares. A diversidade de expressões artísticas reforçou o caráter cultural e simbólico do 20 de novembro, conectando tradição, espiritualidade e contemporaneidade.
A celebração contou também com a presença de representantes de países da diáspora africana. A embaixadora do Haiti no Brasil, Rachel Coupaud, os conselheiros Inês de Fátima Fragoso e Luandino Carvalho, da Embaixada de Angola, e o representante da Embaixada do Togo, Haratoukou Asabo, viajaram a Alagoas especialmente para acompanhar as atividades deste 20 de novembro e ampliar as pontes entre África, Caribe e Brasil.
A manhã do Dia da Consciência Negra na Serra da Barriga reafirmou a relevância histórica e espiritual do território, reunindo comunidades tradicionais, instituições públicas, artistas, pesquisadores e visitantes em torno da memória dos Quilombos dos Palmares e da celebração da ancestralidade negra brasileira
Por volta do início da tarde, a Fundação Cultural Palmares foi comunicada do falecimento de uma pessoa da comunidade na lagoa localizada dentro do Parque Memorial Quilombo dos Palmares. As equipes de saúde e segurança atuaram prontamente, com todos os procedimentos acionados pelas autoridades competentes. Diante da gravidade do ocorrido e em respeito à pessoa falecida, à família, à comunidade local e ao caráter sagrado da Serra da Barriga, a Fundação Cultural Palmares, o Governo de Alagoas, a Prefeitura de União dos Palmares e as lideranças comunitárias decidiram suspender integralmente a programação prevista para o restante do dia.
Em nota oficial, o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, expressou solidariedade à família, aos amigos, à comunidade local e a todas as pessoas impactadas pela ocorrência, reiterando que a instituição permanece à disposição das autoridades responsáveis pelo atendimento e pela investigação.
Mesmo com a interrupção necessária das atividades da tarde, a manhã deste 20 de novembro reafirmou o compromisso do Novembro Negro em celebrar a ancestralidade, honrar a memória quilombola e fortalecer as expressões culturais afro-brasileiras. A Fundação Cultural Palmares seguirá acompanhando os desdobramentos do caso, preservando o cuidado com o território e reafirmando sua dedicação à promoção da cultura afro-brasileira e à memória dos povos de Palmares.
Foto: Victor Vec