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Palmares Canta, Conta e Dança celebra a cultura crioula e encerra a terceira edição em Brasília
Palmares Canta Conta e Dança
Por: Marcela Ribeiro, coordenadora de Comunicação da Fundação Cultural Palmares
Nos dias 29, 30 e 31 de outubro, a Fundação Cultural Palmares transformou o Espaço Mário Gusmão em palco de uma celebração memorável da cultura crioula no Brasil e no mundo. A terceira edição do Palmares Canta, Conta e Dança integrou literatura, música, dança, fotografia, palestras, bate-papos e rodas de conversa, aproximou artistas, estudantes e representantes da diáspora africana e reafirmou o compromisso institucional com memória, identidade e preservação das línguas crioulas.
O primeiro dia recebeu estudantes de escolas públicas do Distrito Federal para uma experiência de arte, afeto e pertencimento. Sophia Muniz, Ednaldo Muniz e a escritora Sawan Alves, autora de Menina de Oiá, emocionaram crianças e jovens com música, poesia e narrativas que destacam a potência da infância e da juventude negra. “É por esses jovens que seguimos fortalecendo a arte afro-brasileira”, afirmou o diretor do DFP, Nelson Mendes. No campo da literatura e do pensamento, obras que dialogam com ancestralidade, resistência e identidade afro-diaspórica ocuparam o centro da cena. Menina de Oiá, de Sawan Alves, Guetos: O Apartheid Urbano, de Sérgio Carvalho Santos, e Pedagogia Olodum: Epistemologia do Samba-Reggae, de Mara Felipe, ressoaram como referências que iluminam trajetórias, territórios e saberes.
A programação avançou com vigor no segundo dia, reservado a lançamentos de livros e a uma apresentação musical especial, e atingiu um ápice sensorial nas duas noites seguintes. No dia 30, Ane Êoketu conduziu o público com voz e balanço precisos. No dia 31, o Grupo Tambouyè e o guineense Ramiro Naka tomaram o palco; ao violão de doze cordas e em língua crioula, Ramiro Naka incendiou a plateia com carisma e técnica. O público rompeu o protocolo, levantou-se e dançou ao lado dos artistas. Do tambor à palavra, da arte ao saber, a experiência uniu ritmo, memória e orgulho.
A homenagem às línguas crioulas consolidou um marco. O presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, registrou a dimensão histórica do gesto ao afirmar que, pela primeira vez em 525 anos, cultura e línguas crioulas receberam homenagem em um espaço público no Brasil. Ele também lembrou que expressões de origem crioula circulam no cotidiano de diversas regiões do país. A iniciativa cumpre a proposta institucional de preservar e difundir a cultura e a língua crioula com rigor e alcance.
A diplomacia cultural reforçou a envergadura do encontro. A roda de conversa Abdias do Nascimento, no dia 31, reuniu a embaixadora do Haiti, Rachel Coupaud, o embaixador de Cabo Verde, José Pedro Chantre de Oliveira, o embaixador da Guiné-Bissau, M’Bala Alfredo Fernandes, e o embaixador da África do Sul, Vusi Mavimbela, com mediação de Boaz Mavoungou. O diálogo evidenciou convergências históricas, desafios contemporâneos e caminhos de reconexão entre Brasil e África, em sintonia com a programação que uniu literatura, música, dança, fotografia e troca de experiências para fortalecer expressões culturais negras de diferentes países.
O lançamento do livro A África no Brasil. Apagamentos, Resistência e Reconexões Possíveis, do embaixador sul-africano Vusi Mavimbela, acrescentou densidade intelectual ao panorama. Em sua fala, o autor destacou o rigor da pesquisa histórico-cultural que sustenta a obra e citou parcerias com o Presidente Lula e com o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, como alicerces para novas cooperações.
Como desfecho, o grupo de dança do Haiti, Tambouyè, e o canto de Ramiro Naka em língua crioula sintetizaram o espírito do projeto. A plateia correspondeu com alegria e respeito, selou o encerramento da terceira edição e confirmou o Palmares Canta, Conta e Dança como referência de excelência na celebração da cultura crioula. Três dias de encontros, vozes e livros fixaram uma mensagem nítida: a ancestralidade que forma o Brasil segue viva, criativa e capaz de abrir reconexões possíveis entre territórios, pessoas e futuros.