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Palmares 37 anos: resistência, memória e futuro da cultura negra no Brasil
Foto: Victor Vec/ MinC
Por: Marcela Ribeiro, coordenadora de Comunicação da Fundação Cultural Palmares
A Fundação Cultural Palmares completou 37 anos em uma celebração marcada por conquistas institucionais, homenagens e fortes manifestações culturais. Realizado em Brasília, o evento reuniu autoridades, lideranças quilombolas, representantes de comunidades tradicionais, artistas, intelectuais e religiosos, e reafirmou o papel da Fundação como guardiã da memória e promotora da cultura negra no Brasil.
A cerimônia apresentou 37 ações da atual gestão, em alusão aos 37 anos da instituição, e simbolizou um novo ciclo de fortalecimento. Entre as principais entregas estiveram a assinatura do Acordo de Cooperação com a Fundação Banco do Brasil, que abre espaço para novos projetos de valorização da memória e da ancestralidade afro-brasileira, e o Termo de Execução Descentralizada firmado com a Universidade de Brasília (UnB), destinado à criação do Sistema Nacional de Informações Quilombolas e de Povos de Terreiro.
Na abertura, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, ressaltou que a Palmares é a casa da memória e da luta do povo negro brasileiro, destacando que celebrar o aniversário da instituição é também celebrar a força de quem nunca desistiu de sonhar, criar e resistir. O presidente da Fundação, João Jorge Rodrigues, frisou a reconstrução institucional e política da entidade, afirmando que os 37 anos marcam uma nova fase, mais vigorosa e conectada ao futuro, dedicada a quilombolas, povos de terreiro e às expressões negras que moldaram o Brasil.
O presidente da Fundação Banco do Brasil, Kleyton Morais, reforçou a convergência histórica entre as instituições, que compartilham o mesmo espírito democrático e a missão de ampliar a cidadania em todas as dimensões. O embaixador da República de Camarões e decano do corpo diplomático africano no Brasil, Martin A. Mbeng, destacou o simbolismo de Palmares para os países africanos, afirmando que a história da instituição estabelece uma ponte viva entre África e Brasil.
O primeiro presidente da Fundação, Carlos Moura, relembrou a origem do órgão, nascido da luta do movimento negro no contexto da Constituição de 1988, e sublinhou a resistência da instituição diante de tentativas de apagamento. A ialorixá Mãe Ana de Xangô exaltou o reconhecimento da dignidade do povo de Axé e a valorização das tradições religiosas afro-brasileiras. Representando a Universidade de Brasília, a decana Janaína Soares de Oliveira Alves celebrou a parceria firmada para a construção do Sistema Nacional de Informações Quilombolas e dos Povos de Terreiro, afirmando que é pela educação que se faz a revolução.
O diretor da Fundação, Nelson Mendes, destacou a relevância do relançamento da Lista de Personalidades Negras Notáveis, que havia sido banida do site da instituição em anos anteriores. Ele lembrou que a atual gestão assumiu o compromisso político de restaurar esse instrumento de memória, agora legitimado por mecanismos de participação social, com representantes da sociedade civil, direito a voto e processos de indicação e homologação presenciais e remotos. Mendes ressaltou que a edição de agosto de 2025 reafirma o compromisso da Fundação com a memória afro-brasileira e simboliza um legado que se renova.
A diretora Fernanda Thomaz apresentou o eixo AfroDigital, lançado em Salvador no dia 8 de agosto em parceria com o Ministério das Comunicações e o Ministério da Cultura, dentro do programa Culturas Conectadas, e informou que as inscrições para participar do programa estão abertas. Clique aqui. O eixo amplia o acesso às tecnologias digitais para comunidades quilombolas, povos de terreiro e demais fazedores de cultura, promovendo inclusão tecnológica e educação digital. A iniciativa prevê doação de computadores, mapeamento da conectividade e programas de formação digital, fortalecendo redes de saber e ampliando a presença da cultura afro-brasileira no espaço virtual.
A programação incluiu ainda a certificação de comunidades quilombolas, que emocionou o público ao reconhecer a luta de famílias, matriarcas e griôs, além do lançamento de livros sobre espiritualidade, resistência e comunicação antirracista. O relançamento da lista de personalidades, as parcerias institucionais e o AfroDigital se somaram às 37 ações apresentadas, compondo um retrato de reconstrução e inovação.
O encerramento trouxe a música afro-brasileira, com apresentações de Ana Mametto, Banda Adão Negro e Grupo Cultural Obará, que transformaram o teatro em uma grande celebração coletiva de resistência e alegria.
Ao completar 37 anos, a Fundação Cultural Palmares reafirma sua missão de preservar a memória, valorizar as expressões culturais afro-brasileiras e projetar o futuro. Entre legados restaurados e programas inovadores, a instituição se consolida como referência na luta contra o racismo e na construção de um Brasil em sintonia com as demandas contemporâneas e com a força ancestral que a sustenta.

