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Morreu o genial Naná Vasconcelos, o maior percussionista de todos os tempos
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A música brasileira e mundial amanheceu hoje órfã do gênio Naná Vasconcelos. Juvenal de Holanda Vasconcelos morreu na mesma cidade que o viu nascer, Recife, aos 71 anos, vítima de uma parada respiratória, consequência de um câncer de pulmão.
Naná foi um verdadeiro revolucionário. A partir dos batuques dos tambores das nações de maracatu e dos toques da capoeira, conferiu erudição a instrumentos de origem popular, chegando a gravar consertos para berimbau e orquestra, ainda na década de 1970. Trouxe para frente dos palcos os instrumentos de percussão e empenhou-se em mostrar ao mundo as inúmeras possibilidades musicais deles.
A música chegou até ele exatamente pelos tambores dos maracatus. Contudo, Naná começou sua vida artística, ainda criança, tocando bateria na noite de Recife. Era autodidata, aprendera tudo sozinho, de ouvido. Segundo ele, quando se aprende música com o corpo, não é preciso consultar livros de teoria, pois é como andar de bicicleta. “Seu corpo lembra”, afirmava.
Mudou-se para o Rio de Janeiro no ano de 1966. Seu modo peculiar de mesclar percussão e voz atraiu a atenção de outros grandes artistas brasileiros, que logo passaram a convidá-lo para gravações e shows, a exemplo de Milton Nascimento, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Marisa Monte. Outros, consequentemente, tornaram-se seus parceiros, como Nelson Ângelo, Joyce, Egberto Gismonti e Itamar Assumpção.
O teor experimental de suas obras e a expressividade de suas apresentações deixavam entrever, ao mesmo tempo, a influência da música clássica e a energia do rock‘n roll.
A genialidade e a transgressão de Naná Vasconcelos foi notada ao redor de todo o planeta, o que fez com que ele também gravasse com grandes nomes da música internacional, entre os quais BB King, Jean-Luc Ponty, Miles Davis, Talking Heads, Oliver Nelson, Tony Williams e Art Blakey. Entre os anos de 1978 e 1983, formou o grupo de jazz e world music Codona, ao lado do trompetista Don Cherry e do multi-instrumentista Collin Walcott.
O reconhecimento internacional materializou-se não apenas em aclamadas turnês, mas também por meio dos oito prêmios Grammy que conquistou e de sua eleição como o melhor percussionista do mundo em oito ocasiões, todas pela revista americana Down Beat (publicação, especializada em jazz, de maior prestígio no mundo, existente desde 1934).
Naná também produziu trilhas sonoras para filmes, entre os quais se destacam: Procura-se Susan Deseseradamente, estrelado por Madonna, e Down by law, do cultuado diretor Jim Jamursh. Recentemente, participou da trilha sonora do premiado filme brasileiro de animação O menino e o mundo, de Alê Abreu.
Em 2010, Naná Vasconcelos realizou outro grande projeto: o Língua Mãe. Por ocasião do aniversário de 50 anos de fundação de Brasília, ele teve a ideia de reunir crianças de três países, de três continentes diferentes, que tivessem o português como língua mater. O projeto juntou, então, crianças do Brasil, de Portugal e de Angola, que participaram de oficinas com Naná. Ao fim, foi montado um grande espetáculo na Sala Villa Lobos, do Teatro Nacional Cláudio Santoro, com a participação de sua Orquestra, acompanhando o grande mestre e o coral infantil. O projeto foi registrado e lançado em DVD.
Incansável, no ano seguinte, inovou mais uma vez e lançou o disco Sinfonia e Batuques, contendo ritmos tocados na superfície da água. Ao longo da carreira, Naná gravou 21 álbuns solos, além de três com o grupo Codona e vários outros em parceria.
Como um nobre griô, Naná Vasconcelos regeu por 15 anos o encontro de mais de 500 batuqueiros, de 12 nações de maracatu, nas noites de abertura do carnaval da capital pernambucana, tendo sido um de seus homenageados no ano de 2013. Nesse mesmo ano, o músico recebeu a Ordem do Mérito Cultural (OMC), na categoria Grã Cruz, maior condecoração do Ministério da Cultura.
Naná tinha a dimensão de sua obra e de sua contribuição para a música mundial. Certa vez, em entrevista concedida ao jornal Diário de Pernambuco, afirmou: “Minha maneira de pensar a percussão vai continuar viva depois de mim.”
Seu último show foi em Salvador, no dia 27 de fevereiro, quando se apresentou ao lado do violoncelista Lui Coimbra.