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Ministra Margareth Menezes visita o Armazém Docas André Rebouças e reforça a valorização da memória afro-brasileira
Margareth Menezes visita Armazém Docas André Rebouças
Por: Marcela Ribeiro, coordenadora de Comunicação da Fundação Cultural Palmares
Nesta sexta-feira (10), o entardecer na Pequena África, região portuária do Rio de Janeiro, ganhou novos significados com a visita da ministra da Cultura, Margareth Menezes, às Docas André Rebouças. O espaço, que antes se chamava Armazém Dom Pedro II, recebeu novo nome em homenagem ao engenheiro e abolicionista negro André Rebouças, figura central na história do país e símbolo da luta por liberdade, ciência e justiça social.
A ministra esteve acompanhada do presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, da superintendente do Iphan-RJ, Patrícia Regina Corrêa Wanzeller, e de representantes do Ministério da Cultura. O encontro contou ainda com a presença do grupo Filhos de Gandhi, da pesquisadora e doutoranda Nanci, especialista na obra de Rebouças, além de gestores da Casa de Rui Barbosa e da equipe da Fundação Cultural Palmares.
O cortejo dos Filhos de Gandhi percorreu o trajeto até as Docas com cantos, tambores e vestes azuis e brancas, transformando a chegada da comitiva em um ato de celebração da herança africana. No local, Margareth Menezes visitou o museu, conheceu o acervo histórico e as salas que hoje abrigam a sede regional da Fundação Cultural Palmares no Rio de Janeiro, instalada no edifício como símbolo de permanência e resistência negra na cidade.
A mudança do nome do prédio, de Armazém Dom Pedro II para Docas André Rebouças, tornou-se realidade graças à articulação da Fundação Cultural Palmares junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O órgão foi decisivo para transformar o pleito da Palmares em ato institucional, reconhecendo o valor histórico, simbólico e reparador do novo nome. A parceria entre as duas instituições uniu técnica e sensibilidade, consolidando um gesto de Estado em favor da memória afro-brasileira.
Para o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, a homenagem devolve ao engenheiro o reconhecimento histórico que lhe foi negado. “Renomear este espaço é devolver a André Rebouças o lugar de honra que sempre lhe pertenceu. É um marco da reconstrução institucional da Fundação e do fortalecimento da nossa memória coletiva”, afirmou.
A pesquisadora Nanci, que há anos se dedica ao estudo da trajetória do engenheiro, destacou que a homenagem transcende o gesto simbólico. “Rebouças acreditava na ciência, na educação e na liberdade como pilares da emancipação. Ver seu nome associado a este espaço é reconhecer a importância da sua contribuição para o Brasil”, disse.
O representante da Fundação no Rio de Janeiro, Eliel, também ressaltou o significado do momento. “As Docas André Rebouças unem história, arte e resistência. Cada detalhe deste espaço expressa o legado de um povo que construiu o Brasil com trabalho, fé e cultura”, afirmou.
Nascido em 1838, André Rebouças foi o primeiro engenheiro negro de projeção no Brasil Imperial. Filho de um advogado baiano também negro, destacou-se pela competência técnica e pela defesa incansável da abolição da escravatura. Atuou em grandes obras de infraestrutura, como o sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro e a construção de portos e ferrovias, além de ter sido conselheiro e amigo de Dom Pedro II. Intelectual refinado e patriota convicto, acreditava no progresso aliado à justiça social e foi exilado após a Proclamação da República, morrendo na Ilha da Madeira em 1898. Sua trajetória sintetiza a inteligência, o rigor ético e a dignidade de uma geração que lutou pela emancipação do povo negro.
A visita ocorreu em um clima de celebração. Margareth Menezes dançou com os Filhos de Gandhi, cercada pelo povo negro e a vitalidade da cultura afro-brasileira. O ato marcou um novo capítulo na consolidação das Docas André Rebouças como espaço de memória, cultura e afirmação da identidade negra no país, um lugar onde a história resiste, floresce e se reescreve com orgulho.