Notícias
Senado aprova Dandara dos Palmares e Luísa Mahin como Heroínas da Pátria
Foi publicado nesta quinta-feira (25) no Diário Oficial da União a determinação incluir no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, os nomes de Dandara dos Palmares e Luiza Mahin.
O nome de Dandara foi proposto pelo deputado federal Valmir Assunção, que demonstra a importância da inclusão dos nomes, para a valorização da mulher, principalmente da mulher negra que foi fundamental na luta do povo negro pelo fim do período escravocrata e que pelo racismo e machismo, são pouco lembradas.
Na avaliação do senador Humberto Costa (PT-PE), a aprovação do projeto, de autoria da ex-deputada e atual secretária nacional de Política para Mulheres, Tia Eron, faz justiça a duas heroínas negras que atuaram na libertação dos escravos no Brasil.
O senado aprovou no dia 27 de março no senado o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 55/2017 que as inclui no livro que reúne homens e mulheres que se destacaram na defesa da liberdade do país. Medida que precisava da sanção presidencial.
“Os negros nunca aceitaram passivamente a escravidão, muito pelo contrário. Durante todo esse período buscaram se insurgir das mais diversas formas contra as bárbaras condições de exploração e opressão a que estavam submetidos. Uma dessas formas de resistência se deu pela formação de comunidades negras em locais escondidos e fortificados em meio às florestas, conhecidas como quilombos, onde negras e negros plantavam, produziam e buscavam viver o mais próximo possível da liberdade. No período colonial, o Brasil chegou a ter centenas de quilombos espalhados, principalmente pelos atuais estados da Bahia, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Alagoas, que constituíram uma das mais importantes formas de resistência no campo contra a dominação da elite branca e escravocrata.
No final do século XVI até meados do século XVII, formou- se, cresceu, prosperou e finalmente foi destruída a maior das comunidades de fugitivos das Américas.
Em pleno coração do Império colonial português, essa comunidade seria um dos grandes símbolos da resistência negra à escravidão: o Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, na então Capitania de Pernambuco.
GOMES, 2005a, p. 29. / GUIMARÃES, 1996, p. 160.
Dandara foi uma importante líder que ao lado de Zumbi, liderou o Quilombo dos Palmares na luta contra as invasões das expedições bandeirantes.
Não há relatos precisos sobre a história de Dandara, como seu local de nascimento. Alguns relatos dizem que ela teria nascido no Brasil e se estabelecido no Quilombo dos Palmares desde criança e que possivelmente ela pertencia à nação Nagô-jejê, do grupo dos Mahin. Dandara também era responsável por liderar o exército palmarino, sendo uma exímia lutadora de capoeira e que tinha habilidades com as armas.
Dandara respirava a ideia de liberdade, a ideia de que não bastaria apenas a liberdade dos Palmarinos, mas para todos os que ainda não eram livres. Dizem que, sob a liderança de Dandara, as senzalas eram arrombadas para libertar os negros escravizados e as plantações de cana eram queimadas, gerando prejuízos aos senhores de escravos.
Luísa Mahin era do grupo étnico de Mahin dos malês, da etnia Jejê. Assim como Dandara, há poucos dados precisos sobre sua vida, incluindo as cartas de Luís gama, seu filho, a Lucio Mendonça.
Segundo Luís Gama, Mahin teria vindo da Costa da Mina, na condição de escravizada, mas ela teria sido uma rainha antes de chegar ao Brasil. Sabia ler e escrever muito bem e era mais inteligente do que seus senhores.
Luíza Mahin foi uma importante liderança na guerra dos Malês. Trabalhava nas ruas e no comércio como quituteira, o que dava a ela a condição de conversar com pessoas na cidade, fazer circular informações essenciais na articulação para a revolta dos escravizados.
Mahin dedicou sua vida à luta pela liberdade, e após a Revolta da Sabinada ela teria desaparecido, deixando à Luís Gama, apenas o imaginário de sua mãe. “Depois da Revolução do doutor Sabino, na Bahia, veio ela ao Rio de Janeiro e nunca mais voltou. Procurei-a em 1847, em 1856, em 1861, na corte, sem que a pudesse encontrar. Em 1862, soube, por uns pretos minas que a conheciam e que me deram sinais certos de que ela, acompanhada por malungos desordeiros em uma “casa de dar fortuna”, em 1838 fora posta em prisão; e que tanto ela como os seus companheiros desapareceram.”
Éramos dois — seus cuidados, Sonhos de sua alma bela;
Ela a palmeira singela, Na fulva areia nascida.
Nos roliços braços de ébano. De amor o fruto apertava,
E à nossa boca juntava
Um beijo seu, que era a vida.
Quando o prazer entreabria Seus lábios de roixo lírio, Ela fingia o martírio
Nas trevas da solidão.
Os alvos dentes, nevados. Da liberdade eram mito, No rosto a dor do aflito, Negra a cor da escravidão.
POEMA “MINHA MÃE”, ESCRITO POR LUÍS CAMA EM 1861
Embora haja esse histórico de luta, a história oficial dificilmente traz a resistência protagonizada pelo povo negro, principalmente as mulheres negras.
O Livro dos Heróis da Pátria encontra-se depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
23 de abril de 1897: Nascia o mestre Pixinguinha
23 de abril de 1897, nascia Pixinguinha: músico, arranjador, instrumentista, compositor e uns dos principais representantes do “Choro” brasileiro.
Natural do Rio de Janeiro, Alfredo da Rocha Vianna Filho – Pixinguinha, nasceu em 23 de abril de 1897. Cresceu no bairro do Catumbi, Santa Teresa e, desde criança, esteve em contato direto com a música. Aos 11 anos Pixinguinha iniciou no cavaquinho, instrumento no qual tocou os seus primeiros acordes; aos 13 anos ganhou sua primeira flauta e passou a acompanhar o pai nos saraus da cidade e a estudar música. O menino começou a tocar em bailes e festas sempre acompanhado de sua flauta e do cavaquinho, momento em que compôs o seu primeiro choro intitulado “Lata de Leite”, que revolucionou a música naquela época.
O apelido Pixinguinha teve algumas variações até se tornar oficial. Desde muito novo ele era chamado pela sua avó africana de “Pinzindim”, apelido que significa “menino bom” numa língua étnica africana.
Pixinguinha estudou música com Irineu de Almeida que o iniciou num dos instrumentos mais marcantes do choro, o Oficleide – instrumento de sopro da família dos metais. Em 1911, Irineu incorporou Pixinguinha ao disco ‘‘Choro Carioca’’ e começou a tocar flauta na orquestra do rancho carnavalesco Filhas de Jardineiras, onde conheceu os amigos João da Baiana e Ernesto dos Santos, o Donga. Neste mesmo ano, Pixinguinha tocou pela primeira vez no prestigiado Teatro Rio Branco.
Em 1917, gravou o disco com o choro “Sofres” e a valsa “Rosa” e começou a se apresentar como flautista no Cine Palais, formando uma pequena orquestra na sala de projeção do cinema. Nessa época, a temporada de apresentações no Cine Palais foi interrompida após um surto de gripe espanhola e voltou anos depois com a apresentação do grupo os ‘‘Oito Batutas’’ com Pixinguinha (flauta), Donga (violão), China (violão e voz) Nelson Alves (cavaquinho) Jacob Palmieri (bandola e reco-reco) e Zezé (bandolim e ganzá). A banda se apresentava na sala de espera e surpreendia no repertório popular com maxixes, lundus,
canções sertanejas e batuques. O grupo os Oito Batutas fez turnê pelas cidades do Brasil e em Paris. O mais famoso choro instrumental de duas partes “Carinhoso”, que se tornou um dos maiores clássicos da Música Popular Brasileira, com mais de 400 regravações, foi lançado também em 1917 por Pixinguinha, com letra de João de Barro. A composição de duas partes só chegou ao disco em 1928, interpretado pela
Orquestra Típica Pixinguinha-Donga.
“Eu fiz o ‘Carinhoso’ em 1917. Naquele tempo, o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes, choro tinha que ter três partes. Então, eu fiz o ‘Carinhoso’ e encostei. Tocar o ‘Carinhoso’ naquele meio, eu não tocava… ninguém ia aceitar!”
Em 1926, a orquestra regida por Pixinguinha participou da primeira peça encenada com elenco majoritariamente formado por negros, intitulada de “Tudo Preto”. O ano também marcou o início do relacionamento do músico com a vedete Jandira Aimoré, com quem casou anos mais tarde.
Em meados de 1940, Pixinguinha é contratado para trabalhar na Rádio Mayrink Veiga como flautista, arranjador e, em 1942, o músico lança seu último disco como flautista, com dois choros de sua autoria “Chorei” e “Cinco Companheiros”.
Pixinguinha era um músico versátil e adotou o saxofone como instrumento após ficar impossibilitado de tocar flauta e, neste período, formou dupla com o flautista Benedito Lacerda. A habilidade e a sensibilidade que o mestre possuía ao diversificar nos instrumentos tornaram-o uma história viva e consagrada na Música Popular Brasileira.
Em 17 de fevereiro de 1973, Pixinguinha faleceu aos 75 anos, dentro da igreja Nossa Senhora da Paz.
Fontes:
De Rodésia do Sul ao atual Zimbábue: 18 de abril, dia da Independência do Zimbábue
Antes da chegada dos europeus, portugueses (século XV) e colonos ingleses (XIX) liderados por Cecil Rhodes, a região onde hoje é o Zimbábue era habitada pelos povos shona e ndebeles (zulus). Entre os séculos XIII e XVI, ali floresceu o Reino do Zimbábue, tendo como capital Grande Zimbábue. Desde 1986, as ruínas desta cidade de pedras que deu nome ao país, é Patrimônio Mundial.
A colonização efetiva dos ingleses teve início no século XIX. Atraídos pela riqueza da terra e pela mineração, muitos europeus para lá se dirigiram, exercendo, posteriormente, domínio sobre a maioria negra. Evidentemente, a colonização não se deu sem resistência da população local. Na região, ocorreram entre 1894 e 1897 duas guerras entre a população local e os invasores europeus.
A colônia sempre gozou de relativa autonomia e, em 1965, Ian Smith, primeiro ministro, rompe com o Reino Unido e proclama a independência unilateral, a fim de evitar a ascensão política da maioria negra, considerando que desde os anos de 1960 movimentos políticos e guerrilheiros nacionalistas negros estavam em franca expansão. Ademais, foi promulgada uma nova constituição através da qual o país adotava o nome de República da Rodésia. No entanto, a independência não foi reconhecida pela comunidade internacional, a exceção de Portugal e da África do Sul.
Implantou-se então um regime segregacionista branco, onde a maioria negra, sobretudo nacionalistas, eram perseguidos e não possuíam direitos políticos (votar e ser votado). Entre as décadas de 1970 e 1980 foram intensificadas as ações guerrilheiras lideradas pelos braços armados do Zimbabwe African National Union (ZANU) e Zimbabwe African People’s Union (ZAPU), liderados, respectivamente por Robert Mugabe e Joshua Nkomo; foi a Guerra de Libertação do Zimbábue, entre o governo de minoria branca liderado por Smith e os nacionalistas negros.
A guerra civil só foi finalizada em 18 de abril 1980, a partir de um acordo de paz e a realização de eleições universais que foram vencidas por Robert Mugabe. Rodésia do Sul se converte em Zimbábue, em homenagem ao reino poderoso existente ao sul da África, durante a idade média.
Após 37 anos no poder, Robert Mugabe renunciou ao cargo de presidente em 21 de novembro de 2017.
12 de abril – Hoje nascia Esmeraldo Tarquínio, primeiro e único negro eleito prefeito de Santos
Hoje (12), completa 92 anos do nascimento de Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos Filho. Um grande político que deixou registrado na história sua defesa pelos direitos da comunidade negra de Santos/SP como vereador, prefeito e deputado estadual. Além da política, se formou em direito, foi despachante aduaneiro e jornalista.
Esmeraldo Tarquínio nasceu em São Vicente, no dia 12 de abril de 1927. Seu pai, Esmeraldo Soares, veio da Bahia com 14 anos para morar em São Vicente, onde conseguiu trabalhar como gráfico no jornal “O Progresso”. Anos após, mudou-se para Santos para trabalhar no Jornal da Noite, Diário da Manhã e Praça dos Santos. No mesmo ano conheceu Iracy Campos e se casaram.
Em 1934, seu pai, Esmeraldo Soares, veio a falecer devido à tuberculose e com apenas 7 anos de idade, Esmeraldo Tarquínio mudou-se pra São Paulo, capital, para tentar uma nova vida. Dois anos após, o jovem com 9 anos, se tornou marceneiro e com o tempo que lhe sobrava, estudava no grupo escolar Eduardo Prado. Seu segundo emprego foi como aprendiz de gráfico, mas acabou ficando pouco tempo, pois ele e sua mãe tiveram que voltar para Santos.
De volta a Santos, o jovem passou a trabalhar no Jornal da Noite, como redator, mas ficou por pouco tempo. Depois, conseguiu emprego no escritório do advogado Cléobulo Amazonas Duarte como office-boy e na época tinha apenas 10 anos de idade.
No ano seguinte, em 1938, o jovem foi convidado a trabalhar na livraria do senhor João Antônio Mendes, vendendo livros e fazendo entregas. Segundo Esmeraldo, esse foi uns dos principais e mais importantes empregos da sua vida, pois com os livros aprendeu diversas coisas, como o inglês. No ano seguinte, Esmeraldo tentou a vida como cantor, participando da orquestra de “Nardi e os seus rapazes” que estreou no baile do Jabaquara.
Já em 1950, favorecido por uma lei que beneficiava quem se formava em contabilidade neste ano, Esmeraldo Tarquínio fez um cursinho e prestou vestibular para faculdade de Direito em Niterói. Depois de se formar, ele abandonou todos os empregos, dedicando-se exclusivamente à advocacia.
A carreira política de Esmeraldo começou quando ele tinha 18 anos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a queda do governo de Getúlio Vargas, novos partidos políticos começaram a se formar. O jovem ingressou no Partido Social Sindicalista através de Álvaro Parente, líder do partido. Na mesma época, surgiram outros partidos políticos com os mesmos ideais, que acabaram se fundindo, formando o PSP. Em 1954, Esmeraldo Tarquínio, membro do PSP, trabalhou na campanha de Jânio Quadros para governador de São Paulo.
Anos após, em 1959, Tarquínio candidatou-se a vereador pelo PSB, sendo eleito com 689 votos, tomando posso em janeiro do ano seguinte em Santos. No mesmo ano, José Gomes ganhou as eleições para prefeito, colocando o novo vereador como seu líder na Câmara. Em 1962, Esmeraldo se candidatou a Deputado Estadual, sendo eleito com 7.192 votos. Na reeleição obteve 32.520 votos.
Eleito prefeito de Santos em 1968 com cerca de 45 mil votos, chegou a ser diplomado, mas em 14 de março de 1969 o Governo Militar cassou seu mandato, antes mesmo de sua posse. Anos depois, com os direitos políticos recuperados, Esmeraldo candidatou-se em nova campanha para deputado estadual, mas sofreu aneurisma cerebral e após 20 dias de internação hospitalar, faleceu em 10 de novembro de 1982.
Em todos esses anos de governo, Esmeraldo tinha uma visão diferenciada da questão social, pois lutava pelo reconhecimento de que Santos era uma cidade formada por pessoas pobres e que deveriam ser criados novos setores de mercado de trabalho. Propôs diversas vezes, que além do emprego à população, que as empresas pagassem um salário digno, para que todos tivessem condições de construir uma moradia digna; realizou vários projetos para o esgotamento da periferia da cidade e como homem negro no meio politico, numericamente pouco expressivo, acreditava que a classe social mais pobre era economicamente mais poderosa, pois no atual momento o governo alegava a condição de democracia racial única.
Quase 50 anos depois de ter sido eleito e 35 anos após sua morte, Esmeraldo Tarquínio Soares de Campos Filho foi, oficialmente, declarado Prefeito Municipal de Santos no dia 17 de Julho de 2017. Ato de reparação histórica ao primeiro e único negro eleito prefeito de Santos.
Fontes:
Estátua em homenagem a Mãe Stella de Oxóssi é inaugurada
Na última terça feira (9) foi inaugurada, em Salvador, duas esculturas em homenagem a Mãe Stella de Oxóssi, importante líder espiritual e defensora da igualdade racial, que faleceu há quatro meses. As esculturas são de Oxóssi a quem, segundo o povo de santo, pertencia a cabeça da Iyalorixá e de Mãe Stella.
Iniciada no Candomblé em 1939, no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá (Salvador – BA), pela Yalorixá Mãe Senhora (Oxum Muiwá), tendo por ela todas as obrigações completadas, ocupou o posto de Kolabá, assim designada no ano de 1964. Foi eleita Iyalorixá (Mãe de Santo), em 1976, sucedendo Mãe Ondina (Iwin Tonan). Em 1999, Mãe Stella, após anos de luta, conseguiu o tombamento do Ilê Axé Opô Afonjá pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão ligado ao Ministério da Cultura (MinC).
Redigiu diversos artigos em jornais e revistas sobre as questões atinentes às comunidades de terreiro; foi convidada a participar em congressos acadêmicos voltados à questão da religiosidade. Recebeu vários prêmios de destaque, como a Medalha de Ordem ao Mérito da Cultura, do MinC, na classe Comendador, no ano de 1999. Publicou dois livros: Òwe – Provérbios (2007) e Epé Laiyé – Terra Viva (2009).
Em 2015, a Iyalorixá foi nomeada membro do Conselho Curador da Fundação Cultural Palmares. No ano de 2017, aos 92 anos de idade, lançou um aplicativo repleto de orientações da Yalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. Mais uma das tantas realizações de Mãe Stella. O aplicativo está disponível para celulares com o sistema operacional “Android” e pode ser feito o download pelo Google Play. Para encontrar o aplicativo é só ir nos sites de busca é só digitar: Orientações de Mãe Stella.
As obras inauguradas em Salvador são do escultor Tatti Moreno, que revelou seu cuidado ao confeccionar a obra. Confeccionadas em resina de poliéster e fibra de vidro. Consistem em duas esculturas, sendo uma de Mãe Stella de Oxóssi, com 2 metros e do Orixá Oxóssi, com 6,50 metros. A obra mostra Mãe Stella sentada em um trono com aspecto sereno e regida por Oxóssi. A estátua em homenagem à Mãe Stella foi posta na via que também leva o nome da Iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonja, que liga a avenida Luiz Viana Filho à Orla de Stella Maris.
A escultura possui uma placa QR CODE, iniciativa do projeto #Reconectar e, com isso, a população poderá acessar informações sobre o monumento com leitor para código ao aproximar um celular ou tablet.
Vicente Ferreira Pastinha, mestre de capoeira e filósofo popular
Em 5 de abril de 1889, nascia Vicente Ferreira Pastinha, responsável pela difusão da Capoeira Angola , bem como pela reunião e organização dos princípios e fundamentos de um dos maiores símbolos da cultura brasileira.
Filho do espanhol José Señor Pastinha e da baiana Eugênia Maria de Carvalho, nasceu na Rua do Tijolo em Salvador, Bahia.
Na virada do século XIX para o século XX, Pastinha foi apresentado à capoeira, segundo ele próprio, por pura sorte. Quando tinha em torno de 10 anos, em consequência de um arenga de garotos, da qual sempre saía perdendo, conheceu Benedito, preto africano que se tornaria seu mestre.
“A minha vida de criança foi um pouquinho amarga. Encontrei um rival, um menino que era rival meu. Então, nós entrávamos em luta. E, na janela de uma casa, tinha um africano apreciando a minha luta com esse menino. Então quando acabava de brigar, que eu passava, o velho me chamava : ‘Meu filho, vem cá!’ Eu cheguei na janela e ele, então, me disse: ‘Você não pode brigar com aquele menino. Aquele menino é mais ativo do que você. Aquele menino é malandro! Você quer brigar com o menino na raça, mas não pode. O tempo que você vai pra casa empinar raia, você vem aqui pro meu cazuá.’ Então, aceitei o convite do velho, que pegava a me ensinar capoeira. Ginga pr’aqui, ginga pra lá, ginga pr’aqui, ginga pra lá, cai, levanta. Quando ele viu que eu já estava em condições pra corresponder com o menino, ele disse: ‘Você já pode brigar com o menino’ . Então, eu saí. Quando eu vinha, a mãe dele via que eu ia passar, gritava: ‘Honorato, aí vem seu, camarada.’ O menino puca. De dentro de casa o menino pulava no meio da rua com o satanás. Aí, pegou a insistir e na hora que eu insisti, pum , passou a mão. Eu saí debaixo. Ele tornou a passar a mão em mim, eu tornei a sair debaixo. Ele disse : ‘Ah, você tá vivo, hein?!’ Ele insistiu a terceira vez, eu aqui rebati a mão dele e sentei-lhe os pés. Ele recebeu, caiu. Tornei a sentar o pé nele, ele tornou a cair. A mãe dele foi e disse: ‘Vê se não vai apanhar!’ Aí eu disse: ‘Vai ver ele apanhar agora!’ .”
Tornou-se discípulo de Benedito e passou a frequentar sua casa todos os dias dado o grande interesse que a capoeira tinha conseguido despertar nele. Pastinha aprendeu além das técnicas, a mandinga. Benedito ensinou-lhe tudo o que sabia.
Durante esse período, o menino Pastinha também frequentava o Liceu de Artes e Ofício, onde aprendeu entre outras coisas a arte da pintura. Em 1902, Pastinha entrou para e escola de aprendizes marinheiros, onde passaria oito anos de sua vida. Na Marinha, praticou esgrima (treinou com espada e florete) e estudou música (violão), ao mesmo tempo em que ensinava capoeira a seus companheiros.
Em 1910, aos 21 anos, pede baixa da corporação. De lá já sai como professor de capoeira, atividade a qual decide se dedicar. Nesse período, tinha que ministrar suas aulas às escondidas na sua própria casa, pois a capoeira figurava no Código Penal como atividade proibida, com sujeição a pena de prisão de dois a seis meses, sendo esse período dobrado no caso dos “chefes ou cabeças”.
Foi exatamente o endurecimento da repressão à capoeira que levou Mestre Pastinha a interromper suas aulas. Entre os 1913 e 1934, teve que trabalhar de pintor, pedreiro, entregador de jornais e até tomou conta de casa de jogos.
Em 1941, Pastinha foi convidado por seu antigo aluno, Raimundo Aberrê, a assisti-lo na roda de capoeira da Jinjibirra (Gengibirra). Lá, de acordo com o próprio Pastinha, lhe aguardava uma surpresa:
“No Jinjibirra, tinha um grupo de capoeirista, só tinha mestre, os maiores mestres daqui da Bahia. O Aberrê me convidou pra eu ir assistir a ele jogar, num dia de domingo. Quando eu cheguei lá, ele procurou o dono da capoeira, que era o Amorzinho, que era um guarda civil. Chamou o Amorzinho, o Amorzinho no aperto da minha mão foi e entregou a capoeira pra eu tomar conta, dizendo:
‘Há muito que o esperava para lhe entregar esta capoeira para o senhor mestrar’.
Eu ainda tentei me esquivar, me desculpando, porém, tomando a palavra o Sr. Antônio Maré disse-me:
‘Não há jeito, não, Pastinha, é você mesmo quem vai mestrar isto aqui’.
Como os camaradas deram-me o seu apoio, aceitei.”
Assumindo a missão de organizar a Capoeira Angola e de devolver a ela seu valor e visibilidade, enfraquecidas pela emergência e popularização da Capoeira Regional , Mestre Pastinha funda o Centro Esportivo Capoeira Angola (CECA) , localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco, a primeira escola de Capoeira Angola. Em sua academia, Pastinha adotou um uniforme com as cores de seu time do coração, onde treinou quando rapaz, o preto e o amarelo do Esporte Clube Ypiranga .
Em 1952, o CECA foi oficializado e três anos depois sua sede muda para seu endereço mais famoso: o casarão da Praça do Pelourinho, nº 19. Neste período, Pastinha já estava com 66 anos de idade.
Neste endereço, reuniam-se capoeiristas consagrados como Valdemar da Paixão, Noronha, Maré, Divino, Traíra. O CECA era uma escola de mestres, que transmitia a tradição dos angoleiros. Lá formaram-se outros grandes nomes da capoeira, como Curió, Albertino, Gildo Alfinete, Valdomiro, João Grande e João Pequeno.
Mestre Pastinha sempre prezou pela cordialidade entre seus alunos e pregava que os capoeiristas não deveriam apelar para a violência quando estivessem vadiando (jogando). Ao contrário, sustentava que a calma era a maior aliada do capoeira.
“É o controle do jogo que protege aqueles que o praticam para que não descambe no excesso do vale tudo. Note bem, estou falando em sentido de demonstração, e não de desafio, porque sempre traz consequências às vezes desastrosas. Tira toda a beleza e o brilho da capoeira […]”
Para o Mestre, as pessoas costumam se admirar com a capoeira ao percebem que se trata de uma luta em que
“dois camaradas jogam sem egoísmo, sem vaidade. É maravilhosa e educada.”
Mestre João Pequeno, aluno que recebeu do próprio Pastinha a missão de dar continuidade ao CECA e ao seu trabalho, resumiu bem os ensinamentos do maior de todos os angoleiros:
“O capoeirista para bater não precisa encostar o pé. Ele deve ter seu corpo freado, manejado para quando ele levar o pé e vir que o adversário não se defendeu, ele frear antes do pé encostar. Porque quem tá de parte vê que não bateu porque ele não quis. Então para bater não precisa dar pancada no adversário.”
Como reconhecimento por sua contribuição à cultura afro-brasileira, em 1966, Mestre Pastinha realizou o seu sonho de conhecer a África ao representar o Brasil por meio da Capoeira Angola , no 1º Festival Mundial das Artes Negras , em Dacar/Senegal. Como ele já não estava enxergando bem, consequência de uma trombose que atingiu sua visão, não chegou a vadiar em terras africanas.
Apesar desse raro momento de reconhecimento do Estado brasileiro da importância de Pastinha, o Velho Mestre trabalhou e empenhou-se pelo crescimento da Capoeira Angola quase sempre sem qualquer apoio ou incentivo dos órgãos públicos. Ao contrário disso, em 1971, foi vítima do processo de gentrificação (higienização social) que se deu no Pelourinho, local que começava a ser visado pela especulação imobiliária dado o forte apelo turístico do lugar.
Obrigado pela Prefeitura de Salvador a se retirar do casarão, que entraria em processo de restauração, sob a promessa de retornar ao fim desse, Pastinha viu-se forçado a se mudar e nunca mais pôde voltar à famosa sede do CECA, que deu lugar a um restaurante do SENAC.
Segundo Mestre Curió, aluno de Pastinha, com muita resistência deram um espaço para a academia na Ladeira do Ferrão , conhecida como Ladeira do Mijo .
Com esse ato de destrato e desconsideração, Mestre Pastinha entrou em depressão e teve uma forte piora de sua saúde física. Pastinha viveu seus últimos dias morando num quarto escuro e úmido, na Rua Alfredo Brito n° 14, no Pelourinho. Além da terceira esposa, Maria Romélia, poucos foram os que ajudaram o Mestre.
Após esse período foi enviado para o abrigo para idosos Dom Pedro II , onde permaneceu até a sua morte. Mestre Pastinha morreu cego, quase paralítico e abandonado, no dia 13 de novembro de 1981, aos 92 anos. O Brasil perdia um dos seus maiores mestres. Não só o mestre da Capoeira Angola , mas o mestre da filosofia popular.
O grande escritor Jorge Amado, admirador de Mestre Pastinha e também um dos que lhe deram suporte em momentos difíceis de sua vida, dizia que ele não era apenas um praticante da capoeira, mas um teórico dela. Em seu livro Capoeira Angola (1965), Pastinha defendia a natureza não violenta do jogo e afirmava que a capoeira conferia dignidade, honradez e decência aos seus praticantes.
Capoeira, patrimônio cultural
A história de vida e os ensinamentos de Mestre Pastinha, junto com a de outros mestres, que tenham sido seus alunos ou não, da
Capoeira Angola
ou
Regional
, motivou outras pessoas a praticar a capoeira, que se disseminou pelo país e pelo mundo, tornando-se um dos maiores símbolos da cultura brasileira.
A complexidade e expressividade da capoeira levaram o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a registrar a Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira como patrimônios culturais imateriais brasileiros, em 2008, estando inscritos, no Livro de Registro das Formas de Expressão e no Livro de Registro dos Saberes , respectivamente.
Seis anos depois, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) conferiu à Roda de Capoeira o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade .
Até os dias de hoje, o nome de Mestre Pastinha é reverenciado onde quer que haja uma roda de capoeira.
Fontes:
Nasce Donga
Ernesto Joaquim Maria dos Santos – conhecido como Donga, nasceu no Estado do Rio de Janeiro em 1890, filho de Amélia Silva dos Santos e do pedreiro Pedro Joaquim Maria dos Santos. Desde sua infância mostrou-se habilidoso com o dom de compor e, no avançar de sua carreira, se consagrou como um dos principais instrumentistas e autor de sambas que foram imortalizados e são reproduzidos nas rodas de samba atualmente.
Tia Amélia, mãe de Donga, como era conhecida por todos do bairro da Cidade Nova, área portuária da Zona Norte do Rio de Janeiro, intitulada como Pequena África, foi peça fundamental para sua formação musical. Amélia, juntamente com Tia Ciata , são reconhecidas como grandes lideranças religiosas da pequena África. Elas foram fundadoras do grupo Baianas do Bairro da Cidade Nova ; por intermédio delas se organizavam as manifestações religiosas, rodas de música e foram peças fundamentais na criação dos blocos carnavalescos daquela época, frequentados por Donga, ainda menino.
Por está cercado de musicistas diariamente e em um ambiente repleto de referências culturais, Donga, aos 14 anos de idade começou a tocar cavaquinho e, com o passar do tempo, sua admiração e apreço por instrumentos de cordas foram aumentando e, logo apendeu a tocar violão. Pelas cordas de seu violão, nas periódicas manifestações culturais que aconteciam na casa de Tia Ciata, em parceria com Mauro de Almeida, nasceu em 27 de novembro de 1916 a canção Pelo Telefone, o primeiro samba a ser gravado no Brasil. Este samba foi o maior sucesso do carnaval de 1917.
Donga, sempre esteve rodeado de músicos, formando assim, várias parcerias em suas composições. Em 1919, participou do grupo que era liderado por Pixinguinha, os
Oito Batutas
, que findou após uma turnê pela Europa em 1922; em 1926 retornou à Europa com o grupo Carlito Jazz e, nessa mesma década, em 1928, criou com seu parceiro Pixinguinha, a orquestra Pinxinguinha-Donga, que acompanhou e gravou com vários intérpretes naquele período.
Em 1932, Donga se casou com a também musicista, Zaira de Oliveira e desta união nasceu a sua única filha, Lígia. Ao ficar viúvo em 1951, casou-se novamente, agora com Maria das Dores dos Santos. Já em 1954, um tanto esquecido na década de 1950, com o intuito de resgatar e manter viva as obras e memórias dos compositores e intérpretes mais antigo, fundou em parceria com a radialista Almirante e seu companheiro de décadas, Pixinguinha, o conjunto Vela Guarda .
Doente e quase cego, viveu seus últimos dias no Retiro dos Artistas , falecendo em 1974.
As criações mais conhecidas de Donga, além de Pelo telefone são Passarinho bateu asas , Bambo-bamba , Cantiga de festa , Macumba de Oxóssi , Macumba de Iansã , Seu Mané Luís e Ranchinho desfeito .
Fontes:
Museu Afro Brasil comemora seus 15 anos de atuação
No ano de 2019 o Museu Afro Brasil comemora seus 15 anos de atuação. E em comemoração, a partir de sábado (6), às 11h terá a abertura da exposição “Museu Afro Brasil, nos seus 15 anos, celebra São Paulo: uma iconografia urbana”.
A exibição destaca, a partir de uma série de elementos artísticos e culturais, a transformação da cidade de São Paulo de um povoado em megametrópole cosmopolita.
Nela, o curador e diretor do museu, Emanoel Araújo, reúne mais de 500 itens históricos entre pinturas, fotografias, cartazes, objetos, vestimentas, recortes de jornais e revistas, mapas, brinquedos e porcelanas que traçam uma cronologia da cidade.
“É aqui que todas as diferenças se encontram e se confrontam, que todas as sínteses se tornam possíveis, todos os choques visíveis, mais que em qualquer outra parte do país. Aqui é o lugar onde um Afro Brasil nos oferece o desafio de uma herança a resgatar”, ressalta Araújo.
A exposição está dividida em alguns núcleos:
“São Paulo, uma metrópole industrial” – Onde são exibidas placas de propaganda, louças, brinquedos, objetos de decoração, mobiliário do Liceu de Artes e Ofícios, embalagens de diversos produtos alimentícios, entre outros itens que indiciam tanto a indústria paulistana quanto sua relação com a economia mundial.
“Belle Époque Paulistana” – Apresentação de objetos ligados aos costumes dos anos 1920, destacando vestidos e croquis da Maison Marnah, da celebrada modista Madame Maria Adelaide da Silva, além adereços como bolsas, leques, artigos de beleza e dois raros tecidos da pintora e decoradora brasileira Regina Gomide Graz (1897-1973).
“Revolução Constitucionalista de 1932” – Com uma vasta iconografia que inclui mapas, esculturas em bronze, flâmulas, porcelanas, bandeiras que referenciam o movimento armado ocorrido entre julho e outubro de 1932, quando o estado de São Paulo entro em conflito com o governo de Getúlio Vargas.
“Carnaval Paulistano” – Reproduções e fotografias originais que resgatam a importância da presença negra na festa popular na cidade.
“IV Centenário” – Sendo o núcleo de maior diversidade de suportes. Nele, filatelia, numismática, discos, copos, louças, bandejas, revistas, pôsteres e mapas rememoram as festividades e celebrações que marcaram a efeméride dos 400 anos da cidade no ano de 1954, data em que foi inaugurado o Parque Ibirapuera.
Localizado no mais famoso parque de São Paulo, o Parque Ibirapuera, no Pavilhão Padre Manuel de Nobrega, o Museu Afro Brasil É aberto ao público de terça a domingo, das 10h às 17h os ingressos variam entre R$3 a R$6 e aos sábados a entrada é gratuita. As visitas mediadas devem ser agendadas.
Serviço
Exposição: “Museu Afro Brasil, nos seus 15 anos, celebra São Paulo – Uma iconografia urbana”
Data da exposição: de 06 de abril a 07 de julho de 2019
Reinos e Impérios Africanos
A jornada da humanidade começou no continente africano. O ser humano é um animal histórico. A África tem história! Antes de escrevermos qualquer texto sobre o continente africano ainda é relevante fazermos estas afirmações, em vista que a história da África foi negligenciada até os anos 50. A África tem história e esta história não começa com o colonialismo europeu, no século XIX. O fato é que a invasão europeia falseou os conhecimentos históricos, em favor de uma concepção eurocêntrica da história mundial e, esta concepção, ainda perdura.
Durante o mês de abril, estaremos lançando uma série apresentando diversos reinos e impérios africanos, que existiram mesmo antes da chegada dos europeus. Ao longo do tempo, sacralizou-se a ideia de que a história é contada pelos vencedores e, após a invasão europeia, estes contaram a história do continente, até então transmitida pela tradição oral, a partir do ponto de vista deles. Excluiu-se da história oficial os feitos dos grandes reinos, dos grandes imperadores, as riquezas arquitetônicas, os grandes centros de ensino, entre outras coisas. Durante este mês, a nossa missão será contar um pouco mais dessas histórias milenares. Acompanhe conosco!
Vanderlei Lourenço é o novo presidente da Fundação Cultural Palmares
Natural de Alvinópolis, em Minas Gerais, o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Vanderlei Lourenço, é advogado, graduado em 2003 pela PUC-MG. De 2015 a 2018, foi coordenador-geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra da FCP. Possui ampla experiência de gestão na Administração Pública, tendo exercido funções executivas nas áreas do Meio Ambiente, Saneamento, Controladoria, Recursos Humanos e Cultura.
É autor de cinco livros: Visão de Adolescente (poesia), Primavera em Dezembro (poesia), Lírios para Maria (poesia), A casa do silêncio (poesia) e Quarador (poesia). Participou de diversas antologias e foi premiado em concursos literários.
Membro da Federação de ex-alunos Salesianos, atuou na Pastoral Afro de Belo Horizonte e coordenou atemática étnico-racial durante a elaboração de Programas de Governo nos níveis municipal, estadual e federal. De 1997 a 2012, trabalhou na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, onde ocupou diversos cargos. De 2014 a 2015, foi coordenador geral de Administração de Pessoas do Ministério da Agricultura. Antes de se unir à equipe do Ministério da Cidadania, era chefe da Assessoria Parlamentar do Ministério dos Direitos Humanos.
Salvador, 470 anos: Diáspora, Religiosidade e Resistência
Conhecida como a ‘‘cidade mais negra do Brasil’’ por concentrar a maior comunidade de negros e negras fora do continente africano, Salvador – Cidade da Bahia, comemora neste 29 de março, 470 anos da sua fundação.
Nesta data, uma frota trazendo Thomé de Souza, o primeiro governador geral do Brasil, desembarcou na Praia do Porto da Barra, em 1549. Ali foi fundada uma cidade-fortaleza, São Salvador, capital do Brasil até 1763, ano em que a sede do Vice-Reino foi transferida para o Rio de Janeiro.
Salvador teve sua negritude construída a partir do trabalho de escravizados nos engenhos de açúcar do Recôncavo Baiano, chegados a partir do final do século XVI. A cidade prosperou por influência econômica das atividades portuárias e da produção do açúcar do Recôncavo.
Segundo Pierre Verger, o tráfico de escravizados na Bahia foi dividido em quatro períodos: Ciclo da Guiné; Angola e Congo; Costa da Mina e Baía do Benin e, durante toda vigência da escravidão, a cidade foi palco de inúmeras revoltas, entre as mais conhecidas: Revolta dos Búzios ou Conjuração Baiana (1798), Revolta dos Malês (1835) e a Independência da Bahia, o 2 de Julho (1823), que consolidou a Independência do Brasil.
Nesse processo de diáspora africana, de construção de um riquíssimo patrimônio histórico, cultural, econômico e arquitetônico, mas também de luta e resistência, a população negra sobreviveu e fez de Salvador um verdadeiro ‘‘território africano’’, a cidade mais negra fora da África, perdendo este título para Lagos, capital da Nigéria. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (PNAD Contínua, 2017), em Salvador, os negros (pretos e pardos) somavam 2,425 milhões, ou 82,1% das 2.954 milhões de pessoas que lá vivem. No Brasil, a média de negros é de 54%.
Não há campo do pensar, do fazer, do viver em Salvador que não apresente as marcas, os ritmos, os saberes da negritude. Os Afoxés e blocos afro, símbolos da cidade, foram fundados como instrumentos de organização e luta da população contra o racismo. O Afoxé Filhos de Gandhy, que em fevereiro deste ano completou 70 anos, Ilê Ayê, Olodum, Araketu, Malê Debalê, Muzenza, Cortejo Afro, ao longo do tempo buscaram resgatar e influenciar na afirmação da identidade e autoestima da população.
Na culinária, na arquitetura, nos rostos dos soteropolitanos, onde 8 em cada 10 moradores são negros, a marca da afrodescendência está em todos os lugares. No entanto, esta cidade é marcada também pelo racismo estrutural e pela desigualdade racial.
Na média dos três trimestres de 2018, o rendimento dos trabalhadores que se declaravam de cor preta ficou em R$ 1.640 na capital baiana, o equivalente a 1/3 do que ganhavam os trabalhadores que se declaravam brancos (R$ 4.969), segundo dados da PNAD. Era a maior diferença salarial entre brancos e pretos dentre as capitais brasileiras, resquícios de um passado recente e de uma história riquíssima, porém construída com bases escravocratas e exploratórias.
Apesar do simbolismo e do apelo cultural expressos nas ideias de Salvador enquanto ‘‘Meca Negra’’, ‘‘Roma Negra’’ e do percentual de pretos e pardos, Salvador ainda não foi capaz de efetivamente eleger um prefeito ou prefeita negros, apesar de em momentos específicos ter tido à frente da prefeitura dois políticos negros.
STF Retoma Julgamento Referente ao Sacrifício de Animais em Cultos Afro-Religiosos
Hoje, 28 de março, o Supremo Tribunal Federal (STF) dará continuidade ao julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 494601. Datado de 29 de setembro de 2006, o Recurso foi apresentado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul contra a decisão do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS), que validou, por meio de uma lei, o sacrifício de animais em rituais religiosos.
Em 9 de agosto de 2018, os ministros do (STF) Marcos Aurélio e Luiz Edson Fachin, no decorrer do julgamento, foram favoráveis à manutenção do rito religioso praticado pelas religiões tradicionais de matriz africana. O julgamento, no entanto, foi interrompido quando Alexandre de Moraes pediu vista, ou seja, mais tempo para analisar o caso.
A intolerância religiosa e o ataque constante contra os povos de terreiro já vêm acontecendo há muito tempo, porém, o exemplo de resistência desse povo se fortalece. E nessa ocasião, lideranças religiosas estão se mobilizando para acompanhar o julgamento na Praça dos Três Poderes.
A Fundação Cultural Palmares (FCP), unifica forças com os povos de terreiro em sua luta pelo reconhecimento legal de seus ritos sagrados. Os povos de terreiro apresentam um forte envolvimento com a natureza e com a preservação do meio ambiente. “A Constituição Brasileira é muito clara quanto à liberdade de culto (Art.5 Constituição Federal de 1988). Eu tenho certeza que a Suprema Corte Federal será favorável às religiões de matriz africana, até porque muitas religiões possuem um ritual de oferendas, a exemplo das religiões judaico-cristãs que no antigo testamento, no livro de Gênesis, Deus diz a Abraão para sacrificar seu filho a fim de provar a sua fidelidade. No entanto, o sacrifício é consumado com uma ovelha”, afirmou o presidente da (FCP), Erivaldo Oliveira da Silva.
AfroGames é um Projeto Idealizado pelo Grupo Cultural Afro Reggae com o Objetivo de Incluir Jovens Periféricos no Mercado de Games
O projeto AfroGames é uma grande ferramenta de inclusão social voltado para os jovens do estado do Rio de Janeiro e idealizado pelo Grupo Cultural Afro Reggae, em parceria com Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Grupo Globo e Oi. O objetivo principal desta ação é formar e incluir jovens periféricos no mercado de games, mercado este que movimentou, no ano de 2018, US$ 1,5 bilhão, segundo os dados da Newzoo.
José Junior, fundador do Afro Reggae, instituição não governamental fundada em 1993 e que tem como missão, promover a inclusão e a justiça social por meio da arte, da cultura afro-brasileira e da educação, ao visualizar o material de apresentação do esporte eletrônico, logo identificou a ausência de pessoas negras e de periferia, “Pensei: Maneiro, mas não tem um preto, né? Não tem um pobre! ’’, afirmou José Júnior. Esse cenário foi um dos principais estímulos para que José Junior, juntamente com o empresário Ricardo Chantilly, pudessem viabilizar o projeto para a inclusão de adolescentes que por uma questão social e financeira, ainda não ocupam estes espaços, considerando, sobretudo, que os equipamentos chegam a custar R$130.000,00, a exemplo do X5 Servidor.
A fim de proporcionar um ambiente de formação qualificado, o programa contará com o primeiro centro de treinamento de ponta deste esporte dentro de uma comunidade. O centro de treinamento do Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral, zona norte do Rio de Janeiro, deve ser entregue em abril e segundo Ricardo Chantilly, a ideia é expandir o projeto para outras comunidades do Rio de Janeiro e até mesmo para outros estados.
Com isso, o acesso dos adolescentes se tona mais prático, possibilitando ainda mais o desenvolvimento de suas habilidades. A princípio serão disponibilizadas 100 vagas a serem distribuídas em 3 cursos: League of Legends (60 postos), Programação de computadores (20 chances) e Introdução à trilha sonora para games (20 oportunidades). Para lecionar, os cursos de capacitação vão contar com professores altamente qualificados, sendo eles profissionais do esporte.
O programa requer alguns requisitos para que o jovem possa fazer parte: é necessário que o adolescente esteja matriculado na rede pública de ensino e ter entre 12 e 18 anos. A seleção presencial está marcada para 8 a 12 de abril, com a apresentação de documentos. O resultado dos selecionados será disponibilizado no dia 17 de abril, nas redes sociais do AfroGames. O início das aulas está previsto para o dia 23 de abril, por tanto, não perca tempo e aproveite esta oportunidade.
Clique aqui e acesse o painel de pré-inscrição do programa: https://bit.ly/2OqL5h6
Conheça a história da estudante que defendeu em seu TCC o reconhecimento da beleza da mulher negra, em uma comunidade quilombola do Pará
Em fevereiro deste ano, a estudante de artes visuais da Universidade Federal do Pará (UFPA), Edna Monteiro , apresentou o Trabalho de Conclusão de Curso na comunidade quilombola do América, no município de Bragança – PA.
Edna nasceu no estado do Maranhão, mas seus pais se mudaram para o município de Bragança quando ela ainda era jovem. Criada em uma família humilde, com 12 irmãos, seu pai era pescador descendente de indígenas e sua mãe, dona de casa descendente de escravizados africanos. Mesmo sem estudos os chefes da casa sempre incentivaram os filhos a estudarem.
A jovem iniciou seus estudos em uma escola pequena da região onde passou por muitas dificuldades . “Lembro que eu costurava meus cadernos, as folhas que sobravam de um ano escolar, eu arrancava e costurava e criava um novo caderno para estudar no próximo ano” , relembra a estudante. Apesar da situação precária, sua vontade de aprender dava forças pra continuar. No ensino médio, Edna casou, engravidou e teve os estudos interrompidos para cuidar da nova família. Anos após, a jovem deu continuidade. “Não foi fácil continuar, tive que enfrentar o autoritarismo e o machismo do meu marido, mas consegui vencer” .
Em 2004, divorciada e com dois filhos, a jovem conseguiu passar em um processo seletivo para cursar pedagogia na Universidade Estadual do Vale do Acaraú , uma instituição privada. Quatro anos depois, Edna se formou e, em 2009, iniciou sua pós-graduação em psicopedagogia.
Já em 2014, Edna entrou no curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará (UFPA) pelo sistema de seleção do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR). Nessa nova jornada, a estudante aprendeu a se olhar de uma forma diferente. “Quando cheguei nesse curso, eu estava cheia de preconceitos acumulados dentro de mim, eu mesma não me aceitava como cidadã negra, sempre alisei meus cabelos, pois os conceitos de beleza que aprendi eram outros. Minha mãe sempre me dizia para eu me casar com um homem branco para meus filhos não nascerem pretos” . Em artes visuais, a estudante passou a ser estimulada pelos professores a se aceitar como mulher negra.
Ao cursar a disciplina “Sociedade e cultura” onde foram abordados temas como o corpo negro político, culturas africanas, racismo e violência contra a população afro brasileira. E foi nessas aulas que Edna conheceu o quilombo
América
. “
Quando descobri que tinha um quilombo tão perto, decidi conhecer e lá encontrei pessoas iguais a mim”
, relata a estudante.
Ao conhecer a comunidade mais a fundo, Edna percebeu que ali havia mulheres como ela, que sofriam com o racismo, por terem cabelo crespo, por carregarem os traços africanos. Então, a estudante observando estes fatos, decidiu ajudar essas mulheres, assim como ela foi ajudada. Com apoio das representantes da Associação do América , a estudante realizou durante dois anos, através do seu estagio supervisionado, trabalhos com essas mulheres: oficinas de pintura, escultura em argila e produção de artesanatos com materiais recicláveis.
Com o tema do TCC – Corpo e beleza da mulher negra e quilombola: experiência de cuidado, amor e reconhecimento de si, Edna Monteiro teve o objetivo principal de levar a esse grupo de mulheres quilombolas do América uma proposta de visibilizar o processo de auto reconhecimento da mulher negra adquirida no processo de ensino e aprendizagem. Com seu relato de vida, as mulheres se reconhecerem como quilombolas e negras, passaram a ter orgulho da sua história e da sua beleza no conjunto de valores estéticos. O trabalho foi produzido através de entrevistas, coletas de dados, registros fotográficos. Foram realizados encontros nos fins de semana, com oficinas de corte de cabelos, aulas sobre a estética do cabelo feminino e cuidados.
Segundo Edna, os resultados foram visíveis nas mulheres da comunidade, mas seu trabalho por lá vai além do TCC. A estudante passará a realizar as oficinas voluntariamente duas vezes por mês e passará a trabalhar com a educação infantil em América, ensinando a história e cultura africana para desenvolver as relações étnico-raciais e promover a igualdade racial na escola quilombola.
O quilombo América se localiza no município de Bragança, possui mais de 200 anos de existência. Iniciou com a chegada do escravizado Américo, primeiro morador que veio fugido das senzalas do Maranhão. A comunidade foi certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2015 e possui uma associação (Associação Remanescente Quilombola do América), tendo a frente 13 mulheres quilombolas.
Moçambique, Zimbábue, Malawi. A comoção seletiva e o silêncio que ensurdece
Essa não é a primeira tragédia que atingiu países africanos e que não houve comoção em massa. E é triste ver que não há uma movimentação em massa para ajudar esses países, não há campanhas na internet e outros veículos de mídia.
Malawi, Moçambique e Zimbábue são os países atingidos pelo ciclone Idai. Na data de hoje (25) já são computados 761 mortos, sendo 446 pessoas em Moçambique, 259 no Zimbábue e 56 no Malawi. Mais de 100 mil pessoas encontram-se desabrigadas e outras várias desaparecidas.
Autoridades e agências que prestam ajuda informam que temem que haja mais mortes em decorrência do risco das pessoas contraírem cólera e outras doenças transmitidas pela água contaminada. A inundação criou um lago de 125 quilômetros de largura, devastando uma área antes ocupada por centenas de milhares de pessoas.
Abaixo segue uma lista com algumas organizações internacionais e entidades filantrópicas que estão recebendo ajuda para as áreas afetadas:
ONU – Um comitê internacional de ajuda humanitária a crises das Nações Unidas aceita doações para fornecer alimentação medicamentos e abrigo para os três países atingidos pelo ciclone;
Unicef – Outro organismo da ONU iniciou campanha de emergência para coletar novas doações. Segundo estimativa da organização, há mais de 600 mil crianças desabrigadas;
Médicos sem Fronteiras – O fundo de emergência da organização humanitária reúne doações em dinheiro para arcar com equipamentos como filtro de transfusão, soro e purificadores de água;
Caritas – A organização católica internacional também aceita doações em dinheiro pela internet para custear alimentos, medicamentos, abrigo e outros itens de ajuda humanitária;
Centro de Excelência contra a Fome nos EUA – A entidade se dedica a entregar alimentos em regiões atingidas por desastres;
Save the Children – Organização destinada a ajudar crianças pelo mundo coleta ajuda para o desastre causado pelo ciclone Idai e outras tragédias humanitárias;
SOS Children’s Villages – Entidade que ajuda crianças e comunidades atingidas por tragédias humanitárias faz campanha por doações para oferecer cuidados a vítimas do ciclone Idai;
Oxfam – Entidade internacional de combate à pobreza que reúne 19 organizações e milhares de parceiros. A Oxfam está na região afetada e procura assegurar aos sobreviventes acesso à água tratada e comida. O objetivo é ajudar 500 mil pessoas;
Comitê Judaico-Americano de Distribuição Conjunta – A organização filantrópica judaica dos EUA aceita doações em reais brasileiros para reforçar a ajuda com itens médicos aos países atingidos pelo ciclone;
ASEM Mozambique – Organização filantrópica sediada em Moçambique sofreu com os danos do ciclone na região de Beira e pede ajuda;
Humanity & Inclusion – Há integrantes desse grupo em Moçambique, e eles pedem doações para fornecerem alimentos, água e abrigo aos atingidos pelo ciclone;
ActionAid – Neste momento, as necessidades mais imediatas incluem água potável, alimentos, combustível, kits de higiene, mosquiteiros, barracas e outros suprimentos. O fundo de emergência recebe doações em dinheiro, no valor mínimo de R$ 35. A meta é arrecadar R$ 50 mil.
21 de março – Independência da Namíbia
“Nós não entregamos as nossas terras. O que não foi dado pelo proprietário não pode ser tomado por outra pessoa’’ – Hendrik Witbooi
No último 21 de março, além de fazermos memória aos manifestantes mortos e feridos no massacre de Sharpeville, na África do Sul, em 1960, por meio do Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, nesta data comemora-se também a Independência da Namíbia. Por isso, hoje, iremos passear pela história deste belo e árido país localizado na parte austral do continente africano e que também precisou lutar contra o regime racista do apartheid.
Antes da ocupação alemã (1884), as terras do que hoje são a Namíbia eram habitadas por povos bantus (hereros, ovambos) e pelos khoisans (khoikhoi e san). Com a Conferência de Berlin (1884/85), a região esteve sob ocupação alemã até o final da 1ª Guerra Mundial, quando foi estabelecido que com a dissolução dos impérios turco-otomano e alemão, as antigas regiões de ocupação destes ficariam sob mandato da Liga das Nações. No caso específico do ‘‘Sudoeste Africano’’, como foi chamada a região, o apoio à administração do território pela Liga das Nações foi delegado à União da África do Sul. No entanto, em 1921, a União da África do Sul ocupou militarmente e politicamente, o teritório.
Desde o imperialismo alemão, a população da Namíbia se organizou para combater as forças estrangeiras. Exemplo foi a luta do líder khoikhoi Hendrik Witbooi que ao perceber a ameaça que o colonialismo representava para o seu povo, negociou a paz entre grupos étnicos da região, para que se unissem e lutassem contra o colonialismo alemão. Como resposta à resistência dos povos nama e hereros, os alemães praticamente os exterminaram, o que é considerado o primeiro genocídio do século XX.
A ocupação da África do Sul, onde a partir de 1948 foi institucionalizado o apartheid, foi marcada por políticas segregacionistas, opressão e exploração econômica da população do Sudoeste Africano. Com o fim da Segunda Guerra, o nacionalismo na África, especificamente na Namíbia cresceu, no entanto, por ser um país de localização estratégica, em um contexto de Guerra Fria e possuir importantes fontes de diamante e urânio, as lutas contra a ocupação da África do Sul perduraram até 1988, quando houve um acordo entre as duas partes para tornar a Namíbia independente.
Desde a década de 1960, a luta pela libertação foi protagonizada pela Organização do Povo da África do Sudoeste (SWAPO), grupo político construído a partir dos povos ovambos, mas que rompeu com o essencialismo étnico e ampliou o sentimento nacional do povo Namibe. Por décadas, lançou uma guerra de guerrilha contra as forças sul africanas, unificando a luta pela independência da região.
Quando a Namíbia se tornou de fato um Estado soberano, Sam Nujoma, líder da SWAPO, foi eleito presidente do país. Em uma nova assembleia constituinte, o país declarou-se totalmente independente, em 21 de março de 1990.
A Namíbia é um dos países mais jovens da África, onde uma das principais atividades econômicas da região é a extração de minerais e metais preciosos – o país é um dos principais produtores mundiais de urânio e diamante. É um país eminentemente desértico – seu nome, na verdade, deriva do deserto homônimo que atravessa o território, Deserto do Namibe.
Namíbia é também considerada o segundo país independente com menor densidade demográfica, ou seja, há poucos núcleos de concentrações populacionais. A grande parte da população desta região é formada pelos ovambos, que somam mais de 50%, os outros 50% são divididos entre os povos; herero, himba, damaras e namas. 7% da população é formada por pessoas brancas descendentes de alemães, britânicos e portugueses, a segunda maior população de ascendência europeia no continente. Um dos grandes problemas enfrentados é a distribuição desigual de renda, pois a maioria das riquezas estão concentrados nas mãos da população não negra presente no país.
Desde 1991, o inglês vem sendo utilizado como única língua oficial do país, mas o idioma mais falado é o oshiwambo. Até 1990, o alemão e o africâner eram considerados línguas oficiais, mas no ano posterior o inglês foi oficializado e passou a ser ensinado obrigatoriamente nas escolas. Outros idiomas têm recibo de semi oficial, por serem instrumentos de instrução nas escolas primárias.
Com clima semi-úmido, banhado pelo oceano atlântico, o território de Namíbia é composto na unificação de paisagens formadas por desertos arenosos e cânions de pedras. Sua fauna é formada por animais de várias espécies, que podem ser vistos em vários safaris e parques ecológicos. Os grandes monumentos geográficos naturais existentes na região é o deserto do Kalahari, deserto de Namibe e o Canyon Fish River. O deserto de Namibe é uma vasta área de planaltos que contém cascalhos áridos e dunas de areia que se estende pela costa do país.
Fontes:
Fundação Cultural Palmares Sedia Evento Alusivo ao dia de combate a à Discriminação Racial
Ontem, 21 de março, no auditório da Fundação Cultural Palmares (FCP), foi realizada uma atividade em alusão ao dia Internacional Contra a Discriminação Racial que teve como tema “O combate ao racismo contemporâneo e a busca pelo respeito”.
O evento foi uma realização da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (SEJUS) e contou com o apoio da Fundação Cultural Palmares. A palestra foi direcionada à sociedade civil e aos jovens adolescentes do programa Jovem Candango; o objetivo principal desta ação foi de conscientização e a não reprodução do racismo por parte, sobretudo, dos jovens presentes no evento.
O dispositivo de honra contou com autoridades da esfera federal, estadual e membros da sociedade civil. O Subsecretário de Direitos Humanos, Juvenal Araújo, que compôs o dispositivo afirmou que, “o combate ao racismo é uma obrigação de toda a sociedade e não apenas dos negros”. Para a presidente do Centro de Referência do Negro (CERNEGRO), Lucimar Martins, o encontro foi uma grande oportunidade que os jovens tiveram para debater e se apropriar de informações para combater o racismo, relatou também que sua educação teve como base um programa semelhante ao do Jovem Candango.
Os alunos do programa Jovem Candango e os demais convidados contaram também com informações referente às diversas formas de denunciar, combater e identificar atitudes racistas, relatadas na fala da Delegada Chefe Adjunta da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (DECRIN), Cyntia Cristina de Carvalho e Silva. A delegada trouxe em sua fala a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 – Planalto, que define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Erivaldo Oliveira da Silva, falou sobre a importância de levar para as salas de aulas os estudos referentes ao continente africano, trazer à tona a verdadeira história dos heróis e heroínas negras, príncipes e princesas, com o intuito de combater o racismo na raiz, “A mão de obra mais qualificada que o nosso pais já possuiu é negra, chega de afirmar que o negro ajudou a construir a historia, nós construímos a história do nosso país. O conhecimento é a mola propulsora da humanidade; é preciso saber de fato qual foi o protagonismo que os negros tiveram na construção da história do nosso país’, afirmou Erivaldo.
A organização das Nações Unidas (ONU) definiu essa data em memória às vítimas do massacre de Shaperville, ocorrido durante o apartheid na África do Sul (CLIQUE AQUI) e leia mais sobre a data.
Zumbi herói nacional
Em 21 de março de 1997, Zumbi dos Palmares teve seu nome inserido como herói nacional no Livro de Aço dos Heróis e Heroínas Nacionais. Localizado na Praça dos Três Poderes em Brasília, o memorial Panteão da Pátria Tancredo Neves abriga o livro de aço que homenageia personalidades de grande destaque nacional.
Atualmente o livro é composto por 62 nomes de personalidades consideradas fundamentais na construção histórica do Brasil. Para ter o nome incluso nas páginas de aço é necessário que a Câmara Legislativa e o Senado Federal aprovem um projeto de lei com pedido de inclusão no livro.
Através da Lei n° 9.315 de 20 de novembro de 1996, data da consciência negra, o projeto de lei sancionou em comemoração ao tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares a inscrição de seu nome no Livro dos Heróis da Pátria. Além de Zumbi, nomes como Francisco Jose do Nascimento também conhecido como Dragão do Mar, líder abolicionista no Ceará; Luiz Gama escritor, advogado e jornalista que batalhou pelo fim da escravidão e Maria Felipa de Oliveira, guerreira negra e símbolo da resistência que lutou pela independência da Bahia, compõe o livro de aço.
A participação de heróis e heroínas negras no livro de aço salienta a importância da notoriedade para essas personalidades que contribuíram para a luta contra a escravidão em prol da resistência e emancipação do Brasil.
Zumbi dos Palmares
De filho da Serra da Barriga a Herói Nacional
Por: Tiago Cantalice – Coordenador de Proteção do Patrimônio Afro brasileiros FCP
Há 320 anos morria Zumbi, assassinado após uma longa batalha contra os bandeirantes, enviados para desfazer o Quilombo dos Palmares e recapturar as mulheres e homens negros que haviam encontrado, na Serra da Barriga, um território de liberdade, distante daquele que, talvez, seja o maior crime de lesa-humanidade já registrado na história: a escravidão colonial.
Zumbi era neto de Aqualtune, princesa congolesa, trazida ao Brasil como escrava após ser derrotada pelos Wachagas na Batalha de Mbwila. Após um período trabalhando em uma fazenda em Recife, toma conhecimento da existência de um mocambo formado por negros fugidos. O desejo de liberdade e a coragem de Aqualtune a leva a, juntamente com outros escravizados, se insurgir contra a casa-grande e fugir em direção à Palmares.
Já na Serra da Barriga, sua ascendência real é reconhecida e ela torna-se uma liderança do quilombo. Aqualtune tem, então, três filhos: Zumba, Zona e Sabina. Zumba assumiu a posição de herdeiro do reino de Palmares e o título de Ganga Zumba.
Ele governava o maior dos quilombos de Palmares, o Cerro dos Macacos, presidia o conselho de chefes dos mocambos e era considerado o Rei de Palmares, que nessa época reunia um conjunto de quilombos, formando uma espécie de Confederação. Os outros nove assentamentos eram comandados por seus irmãos, filhos ou sobrinhos.
Seu reinado começou a declinar em 1677 quando, após ataque liderado por Fernão Carrilho, dezenas de pessoas foram presas, inclusive dois de seus filhos, Zambi e Acaiene, e outro deles, Toculo, foi morto. Nesse confronto, Ganga Zumba também saiu ferido.
No ano seguinte, Ganga Zumba aceita selar um acordo com o Governador da Capitania de Pernambuco, Aires Sousa e Castro. Por esse tratado, o governo pernambucano reconhecia a liberdade de todos os negros nascidos em Palmares e concedia a utilização dos terrenos localizados na região norte de Alagoas, no Vale Cucuá. Este tratado não foi bem visto por vários integrantes do quilombo, incluindo Zumbi. A disputa interna, então, se acirrou e Ganga Zumba morreu envenenado.
Zumbi, que tinha se insurgido contra esse acordo, não aceitava negociar com as autoridades e preferia sustentar a situação de conflito. Tornou-se, então, o novo e último líder do quilombo dos Palmares, que já reunia mais de 20 mil pessoas.
Durante 17 anos, Zumbi comandou o maior quilombo de todo o período colonial da América Latina, do mesmo local que o viu nascer e crescer. Substituiu a estratégia de defesa passiva por um tipo de estratégia de guerrilha, com a prática de ataques de surpresa a engenhos, libertando escravizados e apoderando-se de armas, munições e suprimentos, o que passou a incomodar não só aos senhores de engenho, mas o próprio governo colonial.
Em fevereiro de 1694, o mocambo dos Macacos foi atacado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, que liderava um agrupamento constituído por cerca de seis mil homens fortemente municiados. Nesta ofensiva, Zumbi foi ferido, mas conseguiu escapar, juntamente com outros palmarinos, se refugiar (provavelmente na Serra Dois Irmãos) e continuar lutando. Após quase dois anos do ataque sofrido, Zumbi é traído e surpreendido pelo Capitão Furtado de Mendonça, sendo morto em 20 de novembro de 1695.
O Quilombo dos Palmares resiste ainda algum tempo, mas é completamente destruído no ano de 1696, quase um século após a data de sua fundação, firmando-se na história como o primeiro grande espaço de luta contra a colonização e a escravidão.
A data da morte de Zumbi, descoberta por historiadores, no início da década de 1970, foi alçada como símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que seus descendentes reivindicam, durante um congresso do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978.
Durante a Constituinte que resultou em nossa atual Carta Magna, as organizações do movimento negro se fortaleceram e conquistaram reconhecimento e espaço nos âmbitos de discussão e decisão política, o que se percebe pelos marcos legais que foram promulgados, não sem constante luta, desde então, como:
- A Lei n.º 716/1989, que ficou conhecida como Lei Caó em homenagem ao seu autor, o deputado Carlos Alberto de Oliveira, e define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor;
- O Decreto n.º 228/ 2002, que institui, no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa Nacional de Ações Afirmativas;
- O Decreto n.º 886/2003, que institui a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR);
- O Decreto n.º 887/2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias;
- A Lei nº 639/2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio; e
- A Lei n.º 288/2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial.
- A Lei nº 711/2012, que determina a reserva de cotas para o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio a pessoas autodeclaradas pretas, pardas ou indígenas.
A história e a figura de Zumbi serviram de inspiração e atuam como símbolos de todas essas conquistas. A Fundação Cultural Palmares (FCP), criada pela Lei n°. 7.668/1988 e cuja finalidade é promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira, também se sente herdeira de seu legado.
O Dia da Consciência Negra, criado em 2003 e instituído oficialmente em 2011, pela Lei 12.519, e declarado feriado em mais de mil municípios brasileiros, é uma data a ser celebrada ininterruptamente e a memória de Zumbi dos Palmares algo a ser expandido continuamente.
Fontes:
Nota de Pesar – Makota Valdina
Faleceu nesta terça feira, 19 de março de 2019, aos 75 anos, Valdina Pinto de Oliveira, a Makota Valdina. Líder religiosa, educadora e ativista do movimento negro e da luta contra a intolerância religiosa, nasceu em 15 de outubro de 1943, no bairro do Engenho Velho da Federação, periferia de Salvador. Na comunidade do Engenho Velho, onde sempre viveu, aprendeu ainda garota, como nas palavras da Makota ‘‘a fazer política não partidária’’, por meio de trabalhos sociais na associação de moradores, junto com o seu pai Paulo de Oliveira Pinto – Mestre Paulo e sua mãe, Eneclides de Oliveira Pinto, Dona Neca.
Após formar-se educadora, ensinou na sede da Associação de Moradores, em Barracão de Terreiro de Candomblé, escolas, na própria casa e também nas Ilhas Virgens, quando foi convidada para lecionar português a um grupo de estrangeiros que viria para o Brasil.
Em 1975 foi iniciada no Candomblé, no Terreiro Tanuri-Junçara e confirmada para o cargo de Makota. ‘‘A partir de minha entrada no Candomblé, empunhei uma bandeira. Entendi que deveria começar a ser uma voz do Candomblé’’, pontuou em entrevista à Revista Palmares. E assim o fez. Em 2013, lançou o livro de memórias intitulado ‘‘Meu Caminho, Meu Viver’’.
Makota Valdina teve sua vida retratada no documentário ‘‘Makota Valdina – Um jeito Negro de Ser e Viver’’, que recebeu o primeiro Prêmio Palmares de Comunicação, da Fundação Cultural Palmares, na categoria Programas de Rádio e Vídeo.
O povo de Nkisi não morre! Que a vida e os ensinamentos de Makota Valdina sejam sempre referência na luta contra o racismo e intolerância religiosa e na valorização da cultura afro-brasileira.
(CLIQUE AQUI) e assista aqui o documentário “Makota Valdina – Um jeito Negro de Ser e Viver”
A Voz da Raça – A voz da população negra excluída pós-abolição
Hoje, 18 de março, completam 86 anos da criação do periódico “A voz da Raça”, meio de comunicação jornalístico que revolucionou o início do século XX; uma voz da população negra excluída da sociedade pós-abolição.
Criado em 1933 pelo membro da Frente Negra Brasileira (FNB), Fernando Costa, o jornal se tornou um documento oficial do grupo. Ele expandia a militância política da luta pelos direitos da população negra na época. “Em São Paulo, há uma infinidade de negros desempregados. Os lugares são ocupados por estrangeiros. Há patrões e chefes de obras que não contratam operários Brasileiros, sobretudo negros” (A VOZ DA RAÇA, n.44,1934, p.2).
A Voz da Raça foi uma publicação inovadora para o século XX: contava com sistema de assinaturas, impressão em grande escala e distribuição feita para outros estados brasileiros. Seu formato era composto por quatro páginas preenchidas por artigos, notícias, notas e chamadas intituladas pela frase de Isaltino Veigas dos Santos “O preconceito de cor no Brasil, só nós os negros, podemos sentir”.
Além da finalidade informativa, o periódico tinha como objetivo dar voz à população negra. O combate ao racismo, preconceito de cor e a marginalização da população negra eram denunciados em suas páginas. A discursão sobre etnicidade também tinha seu espaço no jornal.
Os temas abordavam a arte, cultura, poesias e colunas escritas por mulheres negras. A religiosidade afro-brasileira, samba, capoeira e outros eram abordados como elementos culturais presentes na sociedade que não eram devidamente respeitados. Divulgação de notícias esportista era outra pauta, dando destaque a atletas negros, como Josse Owens.
Outro papel importante do jornal era trazer ao público o conhecimento sobre os abolicionistas negros José do Patrocínio e Luiz Gama, grandes nomes que eram referencias para o ativismo da época. Zumbi do Palmares também era enaltecido pela criação do Quilombo do Palmares, que se tornou referencia de estado formado e comandado por negros.
Após 45 anos da abolição, a população negra ainda se encontrava escravizada pelo preconceito e racismo e não estava inserida de forma digna na sociedade. A criação de veículos de informações voltadas a esse grupo étnico resultou no fortalecimento de vários movimentos sociais e políticos de combate ao preconceito racial. Dessa forma, a imprensa negra passou a ter relevância na construção do pensamento político, apesar do índice de analfabetismo ainda estar concentrado entre a população afro-brasileira, no inicio do século XX.
Com o golpe instaurado em 1937, na gestão de Getúlio Vargas, todos os partidos políticos, incluindo a FNB, foram extintos. Os veículos de comunicação, A Voz da Raça e outros, sofreram censura e logo foram extintos também. Ao todo, A Voz da Raça teve 70 edições publicadas e, no início do lançamento eram distribuídos semanalmente ao passo que no ano de sua extinção, passou a ser distribuído mensalmente.
Fontes: