Notícias
Novos espaços de comunicação para a cultura afro-brasileira são destaque de Seminário em Maceió
Por Jacqueline Freitas
A efetiva ocupação dos espaços de comunicação pela população afro-brasileira e suas manifestações culturais foi o ponto alto do Seminário Fomento à Cultura Afro-Brasileira e Saúde da População Negra , que aconteceu na última sexta-feira (14), como parte da programação da Fundação Cultural Palmares – MinC para a Semana da Consciência Negra em Maceió/AL.
Um importante passo para consolidar esse objetivo foi anunciado pelo presidente da FCP/MinC, Hilton Cobra: a parceria firmada com a EBC – Empresa Brasil de Comunicação, órgão gestor dos canais públicos de comunicação – para o lançamento de “Windeck”, primeira novela africana exibida no Brasil.
Representando a EBC, o superintendente da Regional Nordeste, Ebenezer Nascimento, revelou novidades estruturais importantes na programação, referentes aos conteúdos religiosos. Segundo ele, a produção de programas desse teor passa a ser responsabilidade dos interessados e não mais dos canais oficiais de TV. Nascimento destacou que essa iniciativa representa o reconhecimento da diversidade religiosa, e aproveitou para conclamar as religiões de matriz africana a participarem das grades oficiais de programação.
Políticas públicas para a cultura negra – Dois assuntos que atravessam o país em debates controversos também foram abordados: a regulamentação da mídia e a criminalização da cultura negra, apontadas como alvos de medidas urgentes de solução por Mãe Beth de Oxum, representante de Pernambuco no Conselho Nacional de Políticas Culturais.
Além disso, surgiu o consenso de que há uma grande lacuna a ser preenchida nos meios de comunicação, que é a divulgação dos conteúdos – vale dizer, bastante necessários no âmbito da Educação formal – produzidos pelos Pontos de Cultura espalhados pelo Brasil. “O resultado de ações afirmativas como esta são cidadãos empoderados e protagonistas de sua cultura e identidade”, afirmou Amaurício de Jesus, do Ponto de Cultura Quilombo dos Orixás, de Alagoas.
O diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-brasileira da FCP, Lindivaldo Junior, frisou nos debates a importância da adesão maciça de estados e municípios brasileiros ao Sistema Nacional de Cultura, como forma de assegurar a reivindicação de demandas. Ele informou ainda que o segmento afro-brasileiro ganhou mais representatividade no Conselho Nacional de Cultura, ocupando atualmente cinco assentos, e que a proximidade da eleição de novos membros requer uma mobilização expressiva de todas as expressões culturais negras.
Também se concluiu que as práticas religiosas de matriz africana são os verdadeiros núcleos das diferentes manifestações culturais brasileiras. “É patente a necessidade de manutenção e preservação das tradições, com especial atenção e incentivo à participação da juventude”, destacou o babalorixá alagoano Pai Célio, do Conselho Nacional de Igualdade Racial.
O presidente da Fundação Cultural Palmares encerrou a primeira parte do seminário incentivando o protagonismo negro na discussão de políticas públicas de cultura, a fim de combater, também, o racismo institucional.
Saúde da população negra – Convergindo para o conceito plural de cultura – que engloba a cultura da saúde – apresentado pela professora Nadir Nóbrega, foram apresentadas no seminário diversas iniciativas desenvolvidas no âmbito tanto dos templos religiosos de matriz africana como no das comunidades remanescentes de quilombos, isoladamente ou em parcerias com órgãos das três esferas governamentais.
Desde ações específicas, como distribuição de preservativos, conhecimento e utilização de rezas e ervas medicinais, às mais abrangentes, como palestras sobre prevenção de doenças ou segurança alimentar e nutricional, acolhimento, orientação e encaminhamento a serviços médicos, os espaços dos terreiros são aproveitados, quando não há atividade religiosa, na promoção de projetos voltados às comunidades locais.
Possíveis hiatos entre os saberes de saúde produzidos por pesquisadores acadêmicos e os praticados pelas comunidades tradicionais são objeto de estudo de uma pesquisa que vem sendo realizada em Alagoas. A pesquisa tem por objetivo implementar e fortalecer um diálogo sem ruídos e integrar esses dois campos e seus atores: os profissionais de saúde e o chamado “povo de santo”, detentor de rico conhecimento herdado dos ancestrais.